31 de outubro, Dia Nacional da Poesia
“(...) A escola enche o menino de matemática, de geografia, de linguagem, sem, via de regra, fazê-lo através da poesia da matemática, da geografia, da linguagem. A escola não repara em seu ser poético, não o atende em sua capacidade de viver poeticamente o conhecimento e o mundo. (...)” (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, em “A Educação do Ser Poético”, 20/7/1974)
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Nascemos poesia e morremos pó. E entre um e outro momento nos perdemos daquilo que, bebê, criança, viam em nós: emoção, inspiração, razão de ser.
É isso mesmo: Por que retiram ou retiramos de nós o encanto de nascença e, como vítimas de Medusa, tornamo-nos pedras, calcificamos os sentidos, endurecemos a sensibilidade?
Estamos sempre em busca de TORNAR SONHOS EM OBRAS CONCRETAS quando deveríamos TRANSFORMAR A CONCRETUDE EM OBRA DE SONHOS.
A escola, como espaço de alimentação de cérebros, de formação de pessoas, poderia ser esse espaço de sensações... sentimentos... sensibilidades. Um espaço com/sentido, com/sentimento.
A escola não deveria se envergonhar de seguir uma “receita”: aplicar “injeções” de poesia, por via intraneural, diariamente, no início de cada aula. Uma leitura de texto poético, selecionado pelos próprios alunos... e pronto.
Não é para “descobrir” poetas no meio deles – É PARA NÃO ENCOBRIR A HUMANIDADE DENTRO DELES.
Não é, muito menos, para formar escritores – é para não deformar gentes.
A poesia não faz milagres – o milagre somos nós. Somos poesia, somos “poiésis” – “criação”, “obra poética”, em grego.
O mundo precisa de médicos, de engenheiros, de advogados...
O “mercado” precisa de trabalhadores, de profissionais, de consumidores...
A escola não precisa ser só fábrica de doutores. A “schole” significa “lazer”, não “fazer”. Escola, portanto, é espaço de libertação, imaginação... De MAIS poesia.
Mas o que se vê são conteúdos demais, formalistas demais – não é à toa que eles se chamam “disciplina”).
O que se vê são conteúdos duros demais – não é à toa que eles também se chamam... “matéria”.
Claro que quase sempre não é fácil a “leitura” poética. Aí, bem... aí vai depender da formação/informação/afirmação de cada leitor da poesia. Vai depender de seu cardápio de conteúdos, seu “menu” de sensibilidade.
Cada aluno, em fases etárias diversas, tem seu próprio “apanhado” de coisas – o que lê, o que ouve, o que conversa, o que sonha, o que faz, o que reflete...
O caldeirão de saberes , fazeres e pensares poderá conter algo mais denso ou, por enquanto, ainda ralo, mas existente. Todos temos algo a dizer de tudo. Pode faltar vontade ou oportunidade para expressar isso, mas que temos, temos!
Há, sim, espaço para a poesia.
Dentro das pessoas.
Dentro das escolas.
* EDMILSON SANCHES