O longa-metragem Para’í, do diretor Vinicius Toro, teve pré-estreia nesse domingo (16), na Terra Indígena (TI) Jaraguá-Guarani, na Vila Jaraguá, zona noroeste da capital paulista. O filme, com estreia nos cinemas prevista para esta quinta-feira (20), foi exibido no início da tarde na segunda edição do Festival Yvy Porã Jaraguá é Guarani.
O longa, selecionado para diversos festivais, como o 51º Festival de Brasília, a 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes e o 20º Festival do Rio, foi gravado na TI do Jaraguá e teve participação ativa dos indígenas na produção e no roteiro.
“Tudo que passou nesse filme é a nossa vida mesmo. Nós continuamos assim dessa mesma forma, vivendo, resistindo, preservando essa floresta, cuidando desses animais”, destacou Sonia Ara Mirim, da comunidade Guarani do Jaraguá, que participou como atriz e roteirista.
O filme, que foi exibido sob uma tenda dentro de uma área de Mata Atlântica, conta a história de duas crianças indígenas que se aventuram para fazer com que algumas sementes de milho colorido guarani germinem e cresçam.
Nessa caminhada, elas se deparam com muitos dos elementos que marcam a vida da comunidade indígena do Jaraguá: a luta pela demarcação das terras e a falta de espaço para plantar; os incêndios criminosos; o contraste da religião tradicional indígena e a evangélica; e a valorização da língua guarani.
“Quando a gente faz um filme como esse, ele retrata a nossa realidade. Não adianta a gente fazer um filme aleatório. Isso aqui é verdadeiro, aconteceu. Nós temos o nosso modo de vida e precisava ser mostrado”, diz Mirim.
Ela destaca, ainda, as dificuldades para o reconhecimento do seu povo. “Nada é fácil para nós. Sempre tem algo que impede os povos indígenas aqui do Jaraguá de serem vistos como somos, nos impede de mostrar nossa cultura. Muitos falam que nós não somos indígenas, que aqui é uma favela, e a gente tinha que mostrar o contrário disso. Sempre estamos procurando mostrar quem somos”.
Temas reais
O diretor Vinicius Toro ressalta que, apesar de ser um filme encenado, o longa incorporou vários temas reais que, inclusive, ocorreram durante a produção do filme. “Um dia antes de a gente entregar o projeto, que a gente estava buscando patrocínio, teve uma queimada, e a gente foi lá registrar”, conta.
“Essa questão das igrejas [evangélicas] que estão ao redor, a gente começou a incorporar no desenvolver do filme. Tinha essa ideia inicial de ser um filme que tratava de temas reais, mas também ser um filme encenado”.
O filme é uma produção da Travessia Filmes e será lançado nos cinemas pela distribuidora Descoloniza Filmes. O trailer oficial pode ser visto no YouTube.
A Terra Indígena (TI) Jaraguá ainda enfrenta disputas judiciais para a demarcação de terra definitiva. Em 2017, a Portaria 693, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, reduziu a extensão da TI a 1,7 hectare, quando o processo de demarcação indicava que a reserva deveria ser de 512 hectares. Uma liminar, naquele mesmo ano, suspendeu a portaria.
(Fonte: Agência Brasil)