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Há dez anos… NAURO MACHADO*

– "[...] o mundo restará o mesmo sem minha quota de angústia e sem minha parcela de nada".

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Há dez anos, em 28 de novembro de 2015, a Poesia maranhense e universal perdeu um Poeta maranhense e universal.

Na madrugada daquele dia, um sábado, Nauro Diniz Machado morreu.

Por mais que digam que poetas não morrem, isso é só uma liberdade... poética.

Poetas morrem, sim, embora possa não morrer a poesia de cada um, poesia que, paradoxalmente, com a morte de um poeta, até pode se tornar mais vívida e vivida.

Nauro Machado havia completado em 2015 seus exatos 80 anos de nascimento (em São Luís, dia 2 de agosto de 1935).

Se sua poesia era universal, o poeta era provinciano, isto é, gostava de ficar, de permanecer em sua cidade natal, dela só se afastando para raras incursões fora do estado.

Desde a década de 1970 que conheço Nauro. Conheci-o por intermédio do jornalista e escritor teresinense-caxiense Vítor Gonçalves Neto: eu escrevia, adolescente, uma página literária no jornal "O Pioneiro", de Caxias, dirigido pelo Vítor (falecido há 36 anos, em 1989). 

Em Caxias, Imperatriz e São Luís reencontrei Nauro Machado em momentos fortuitos. Apenas uma vez combinamos um encontro, um almoço, momento que juntos partilhamos em Imperatriz.

Tenho e mantenho dele boa imagem como pessoa, agradável e sem "intelectualismos" nas conversas que (man)tivemos, bem humorado, apesar da gravidade do rosto nas fotos.

Chego a dizer que, pelo menos nos momentos comuns que dividimos, Nauro Machado era um sujeito muito simples. Claro que, aqui e acolá, se a conversa descambava para algo mais, digamos, sofisticado em termos de Literatura, ali estava o literato à altura.

Sua obra, então, nem se fala: mentes mais competentes dela já falaram e vêm falando, analisando, avaliando... com as melhores notas.

Se Nauro era ou parecia ser um sujeito comum, sua obra, não.

Nauro, filho de "seu" Torquato e dona Maria de Lourdes, marido de Arlete (escritora de ótimas obras), homem versado nas Artes e na Filosofia, partiu há dez anos para o desvelamento do mistério pós-morte.

Em verso não metrificado, Nauro media-se a si mesmo, ao dizer que estava ocupando...

...  "o espaço que não é meu, mas do universo",...

... "espaço do tamanho do meu corpo aqui, enchendo inúteis quilos de um metro e setenta e dois centímetros [...]".

Nesse poema "do ofício", Nauro menciona aqueles que o...

... "mandam pro inferno, se inferno houvesse pior que este inumano existir burocrático".

Também ouve ou identifica "o escárnio da minha província" e vaticina (pois que é um vate...) que...

... "o mundo restará o mesmo sem minha quota de angústia e sem minha parcela de nada".

Liberdades poéticas e sensibilidades literárias à parte, claro que Nauro Machado era, com Ferreira Gullar e José Salgado Maranhão, a grande referência maranhense contemporânea além-Maranhão na difícil arte da grande "ars poetica".

Claro que seu espaço ia além, muito além, dos autocentimetrados 172 centímetros.

Claro que o inferno não é uma escolha nem lugar para onde se mande, se ele existir  –  como o verso nauriano se permitiu duvidar.

Claro que não há escárnio –  só ex-carne.

E claro que o mundo e a Vida continuarão sem Nauro –  pois é do mundo e da Vida continuarem, ainda que sem um ser que sabia observá-los,...

... sabia absorvê-los...

... e sabia (re)pintá-los com originais pinceladas de letras.  (EDMILSON SANCHES)

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OPINIÕES (novembro/2018)

"Nauro Machado, um gênio da poesia brasileira. O texto ficou excelente, Sanches." (PAULO RODRIGUES, professor e poeta caxiense, residente em Santa Inês-MA, 1º presidente da Academia de Letras de Santa Inês).

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"Texto excelente e, como sempre, merecida, atenta lembrança e oportuno registro do valor de honoráveis personagens da vida e história da nossa terra." (NESTOR ARAUJO MORAIS VIEIRA, advogado maranhense, residente em Boa Vista-RR).

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"O Maranhão da nossa poesia referencial pode muito bem ser batizado de NAURANHÃO. Um poeta imenso." (CARVALHO JUNIOR, professor, gestor escolar, poeta e ativista cultural maranhense, de Caxias. Falecido em 30/3/2021).

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"Perdi um irmão, e o Maranhão, o seu maior poeta do século XX". "Edmilson Sanches, Nauro, filho de Torquato e Maria, marido de Arlete e pai de Fred [o grande cineasta]". (FERNANDO BRAGA, advogado e escritor maranhense, residente em Brasília-DF. Falecido em 11/3/2022).

* EDMILSON SANCHES

Foto:

O poeta maranhense Nauro Machado

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