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Há dois anos… JOTÔNIO MOREIRA VIANA (29/6/1957- 29/7/2022)*

Manhã de 29 de julho de 2022. Jotônio Moreira Viana, 65 anos, jornalista e artista plástico caxiense, deixa as páginas e telas desta Vida. Coincidentemente, sua morte deu-se exatamente um mês após seu aniversário, em 29 de junho.

Jotônio havia sido internado em 27 de julho, dois dias antes de seu falecimento, no Hospital Estadual Macrorregional de Caxias. Problemas pulmonares e debilitação em razão de um câncer foram dificuldades que não deram descanso nos últimos tempos ao talentoso homem de Comunicação e Cultura. E embora mantivesse o sorriso no rosto, outras forças – físicas – lhe iam faltando, minando-lhe homeopaticamente as energias vitais. Em 2021, foi diagnosticado com covid-19, que ele superou.

Jotônio veio adolescente para Caxias. Era filho de Grajaú, município maranhense “neto” de Caxias e “filho” de Pastos Bons, este cujas terras foram desmembradas em 1820 da área territorial caxiense e, em 1881, Grajaú é elevado à categoria de cidade, deixando a condição de distrito pastos-bonense.

Além de nossa convivência em minha terra natal, Caxias; além de momentos comuns na época escolar e na Academia Caxiense de Letras e em um ou outro encontro pelas ruas da “Princesa do Sertão”, soube do Jotônio quando ele estava em Imperatriz, segunda maior cidade maranhense, como revisor do jornal diário “O Progresso”, na segunda metade da década de 1970. Depois, em conversa pessoal, ele me confirmou, entre risos, os distintos momentos vividos na “Princesa do Tocantins”.

Bom jornalista, Jotônio sabia que lugar do profissional de Imprensa é escrevendo a notícia, e não sendo ela. Mas, algumas vezes, ocorreu de sua atividade o levar ao destaque jornalístico, em razão de, intimorato, Jotônio não arredar de convicções e de seu caráter e publicar o que ele julgava ser publicável, ainda que gente “ofendida” e sobretudo ofensora tentasse vez ou outras ameaçá-lo (fisicamente) ou enodoá-lo (moralmente). (Em tabela anexa à sua dissertação de mestrado de 2021, a acadêmica Aline Pereira Rios anotou sobre Jotônio Viana: “Citado em artigo assinado por ex-deputado sob o título ‘Cavando a própria sepultura’”. Assim mesmo...).

Jotônio sofreu, suportou e superou esses embates, espécie de corolário das verdades e versões que ele coletava nas fontes e publicava nos espaços noticiosos que criou ou que ocupava. Entre esses espaços, em Caxias, Jotônio foi colunista do Portal Noca;

... foi um dos organizadores da enciclopédia “Cartografias Invisíveis –Saberes e Sentires de Caxias” (2015), publicação da Academia Caxiense de Letras, entidade de que era membro fundador;

... foi membro do conselho editorial da publicação eletrônica “Itapicuru – Suplemento Cultura da Academia Caxiense de Letras” (2019);

... integrou a equipe de pesquisadores do grande livro “Por Ruas e Becos de Caxias”, de autoria do arquiteto, urbanista e professor universitário Ezíquio Barros Neto, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e atual presidente da Academia Caxiense de Letras.

A coluna “Caxias em Off”, que ele mantinha desde 1997, no “Jornal Pequeno”, de São Luís, era um indescartável termômetro e tabelionato para se aferirem temperaturas e registros acerca da vida política e da cultura e sociedade caxienses. Com certa frequência, as notas dessa coluna eram base para menções em discursos de deputados da Assembleia Legislativa do Maranhão e vereadores da Câmara Municipal de Caxias.

Em 2006, seu trabalho foi tema de texto universitário: “Representações jornalísticas de Jotônio Viana sobre  a  política  de  Caxias  (2005)”, de Filomena Áurea M. M. Simão (Centro de Estudos Superiores de Caxias da Universidade Estadual do Maranhão).

Sua coluna era alvo do serviço de “clipping” (recortes de jornais e outros veículos de Comunicação) de instituições como o Tribunal de Justiça do Maranhão.

Jotônio foi eleito presidente da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (1998). Foi diretor da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, quando esta foi dirigida por Renato Meneses, escritor e ex-presidente da Academia Caxiense de Letras. Foi tesoureiro da Academia Caxiense de Letras, na gestão de Wybson Carvalho, biênio 2012/2014.

O trabalho jornalístico jotoniano foi multiplicado por diversos modos e meios, desde o simples compartilhamento em “blogs”, “sites” e grupos sociais a até citações em trabalhos acadêmicos de graduação e pós-graduação. Seu nome é citado em textos em prosa e poesia.

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Creio que conheci Jotônio nos tempos da Escola Coelho Netto, na Rua Libânio Lobo, onde estudamos. Depois, ele foi para o Diocesano; eu fui para o Duque de Caxias (Bandeirantes) e, em seguida, fiz todo o Ensino Médio no Colégio São José, das Irmãs Missionárias Capuchinhas, até hoje no mesmo endereço, em frente à Praça do Panteon (poucos a conhecem pelo nome oficial: Praça Dias Carneiro)..

Nascido em 29 de junho de 1957, em Grajaú, filho de José e Antônia Viana, Jotônio tinha outros irmãos – Éden, Edgar, Fátima e Lúcia, falecidos, e Graciene e Mábio. O Edgar, que morreu há cerca de nove anos, e eu costumávamos visitar a residência um do outro, para ver livros, revistas e outras curiosidades (coleções de moedas, chaveiros etc.). Na residência dele, o Edgar mostrou-me parte de sua coleção “Os Cientistas”, da Editora Abril, uma sofisticada publicação iniciada em 1971, de 50 números, que vinham acompanhados de um “kit” de aparelhos e acessórios científicos (inclusive microscópio) para iniciação em Biologia, Física e Química. Foi esse irmão do Jotônio, o Edgar, que me mostrou pela primeira vez alguns dos seres infinitamente pequenos nas lâminas sob as lentes de microscópio  --  seres de cuja existência sabíamos apenas pelo que o professor e os livros de Biologia diziam.

Há quase 40 anos Jotônio estava casado com Rosário Marques Teixeira, com quem formava um querido e discreto casal e a quem conhecera em Fortaleza, onde se deu a união. Na capital cearense, alencarina, o jornalista caxiense, gonçalvino, empregara seu talento a serviço de grandes órgãos de Imprensa, como os diários “O Povo”, “A Tribuna” e “Correio do Ceará”. Já aposentada, Rosário Marques esmerava-se nos cuidados com o marido.

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Há dois anos, e exatamente um mês após completar seu 65º aniversário, Jotônio Viana partiu para a descoberta do Mistério Maior. Artista das imagens e das letras, saberá muito bem pintar as nuvens de azul – ou, com o branco das nuvens, escrever belos textos nas imensas páginas cor de anil dos Céus...

... porque, aqui na Terra, embora Jotônio permaneça em nossa memória, seu jornalismo estará... em off.

Paz, Amigo.

* EDMILSON SANCHES