Soube que morreu, hoje, um pioneiro de Imperatriz, segunda maior cidade maranhense. Seu João dos Santos Viana, mais conhecido por João Viana, 92 anos, foi meu companheiro de Rotary Club por décadas – clube de que ele foi um dos fundadores em 1965. Na agricultura, na indústria e no comércio, e também na voluntária e gratuita prestação de serviços sociocomunitários, esteve presente João Viana, com seu jeito calmo, sua fala ponderada, seu fazer decidido.
João Viana -- e seu irmão Cândido – foi meu cliente quando trabalhei e fui um dos gestores de banco federal em Imperatriz. Os irmãos são filhos de Grajaú, município que, junto com Pastos Bons e Carolina, é matriz histórica e cultural do sul maranhense.
Frequentemente, eu o encontrava, com ele e sua esposa, Enilda, no concorrido restaurante do filho, Jonílson Viana, com quem igualmente eu trocava ideias. Conheço um outro filho do casal Enilda e João Viana, o Jonildo, advogado, também companheiro de Rotary International.
Certa vez, lembro-me, eu era secretário municipal de Desenvolvimento Integrado da Prefeitura de Imperatriz e recebi uma espontânea e não agendada visita do companheiro e amigo, ele e, no alto da cabeça, seu característico boné. Daquela vez, João Viana não queria falar sobre clube de serviços nem conversar “miolo de pote” – que, aliás, não parecia ser coisa da preferência de seu João. João Viana queria, a despeito de mais uma vez demonstrar sua alegria por minha indicação – e permanência... – no cargo público municipal, ele queria tratar de assuntos sérios, ideias para melhorar o município a que ambos, ele e eu, servíamos – ele, como agente econômico; eu, como estimulador da Economia. E nós ambos com a prestação de serviços espontânea, regular, por intermédio do Rotary Club e outros entidades a que ele e eu serviços no correr dos tempos, como a Associação Comercial, Industrial e Serviços de Imperatriz (ACII).
Naquela imensa sala em um andar de um imenso prédio vertical de Imperatriz, do qual a Prefeitura alugara alguns cômodos, João dos Santos Viana e eu conversamos sobre algo que nos agradava e que, de certo modo, nos competia falar e fazer: o desenvolvimento do município de Imperatriz. Sendo um apreciador e curioso da formação da sociedade imperatrizense – que, se sabia, era formada por mais de 60% de pessoas não nascidas em Imperatriz –, cheguei a perguntar a seu João Viana sobre como se deu sua ida para os chãos imperatrizenses e sua fixação neles. Do que ele me disse e das anotações que fiz, escrevi, há 25 anos, um texto sobre esse grande Amigo, que a cidade e eu hoje perdemos. Em abril de 1999, publiquei o texto no diário “O Progresso”, jornal impresso da cidade.
Portanto, fiz a João Viana homenagem a ele, à sua vida... em vida. E (re)lembrando essa grande vida, vida útil e exemplar para a sociedade imperatrizense e maranhense, republico abaixo o texto, cuja primeira divulgação deu-se quando seu João e dona Enilda estavam completando exatamente 40 anos de casados. E é lembrando-me de Dona Enilda e, por seu intermédio, do Jonílson, do Jonildo e extensivo aos demais filhos e familiares, que apresento condolências, nestes momentos de tristeza, de dor, de luto... e de saudades...
Paz e Luz em sua nova jornada, amigo João dos Santos Viana!
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HÁ 40 ANOS, UM PIONEIRO
(publicado em 30/4/1999)
O empresário JOÃO DOS SANTOS VIANA está completando 40 anos de casamento... com Imperatriz e com ENILDA ALMEIDA VIANA. Foi um dos pioneiros da indústria e comércio de Imperatriz. Filho de Grajaú, transferiu-se em 1958 para Sítio Novo e, no ano seguinte, mudou-se para Imperatriz. Enamorou-se do Rio Tocantins e de Dona Enilda, que descende de tradicional família de Marabá (PA). Não teve jeito: estava irremediavelmente fisgado.
João e seu irmão CÂNDIDO DOS SANTOS VIANA trouxeram para Imperatriz uma extensão dos empreendimentos da família — as Lojas Viana, que durante muito tempo eram exemplo e referência de sucesso nestes lados do Maranhão e nos Estados vizinhos, onde tinham filiais. João Viana também foi o pioneiro na distribuição de gás em Imperatriz — e, naturalmente, dos primeiros fogões a gás. Implantou serrarias, beneficiadoras de arroz, as lojas Baratão e o Café Viana.
O Café Viana não era para ser Café Viana. O nome escolhido fora “Café Bela Vista”, em homenagem ao município (hoje no Estado do Tocantins) onde a torrefação se instalara primeiramente. João Viana viajou pelo menos “umas 30 vezes” até Goiânia, para conseguir o nome “Bela Vista”, junto à representação do DNPI (Departamento Nacional de Propriedade Industrial). Entretanto, um registro anterior feito no mesmo nome e a sugestão para mudar para o sobrenome da família deram ao mais famoso café imperatrizense o nome que até hoje se mantém.
Com tantos empreendimentos para cuidar e localizando-se a indústria de café no outro lado do rio, no antigo Estado de Goiás (o que não raro ocasionava dificuldades de administração), o Café Viana, no dizer do próprio João, “dava prejuízo”. Além do mais, outros fatores pareciam contraindicar aos irmãos Viana a manutenção da torrefação. Entre esses fatores, a fiscalização “exagerada” do hoje extinto IBC (Instituto Brasileiro do Café), que enchia a paciência dos torrefadores da época, na “ânsia” de coibir a onda de contrabando do café cru (em semente) — delito que prosperava então, ante os limites de cota impostos pelo IBC. Também, os atrasos no fornecimento da matéria-prima, que, no caso do café semitorrado procedente de Belém (PA), chegava à indústria quase vencido.
Assim, quando, cerca de nove anos depois da instalação da indústria, o seu amigo JOSÉ DE RIBAMAR CUNHA fez proposta para adquirir o Café (em dez parcelas mensais de mil cruzeiros), João Viana realizou o negócio e vendeu a firma toda (razão social, equipamentos e estoque). Depois, a empresa foi transferida para Imperatriz.
João Viana lembra daqueles tempos, com o sadio orgulho de quem fez boas coisas. Todos os negócios que implantou em Imperatriz e que, por uma razão ou outra, repassou para terceiros, continuam até hoje, gerando riquezas para o município e para a região. Até as amizades, quatro décadas depois, continuam igualmente firmes. João Viana cita, entre outros, JOSÉ DE RIBAMAR CUNHA, JOSÉ RIBAMAR RAPOSO BEZERRA, SEBASTIÃO RÉGIS DE ALBUQUERQUE, CARLOS GOMES DE AMORIM, o falecido médico ANTÔNIO RÉGIS...
Um dos veteranos do ROTARY CLUB DE IMPERATRIZ (34 anos de “Casa”), é também um de seus mais ouvidos membros, pelo conhecimento vasto e, sobretudo, pela prática quotidiana dos princípios da Instituição, entre eles o lema rotário que diz: “MAIS SE BENEFICIA QUEM MELHOR SERVE”. João Viana foi — e é — assim. E quando a história empresarial de Imperatriz for contada, seu nome estará lá, como pioneiro que foi e testemunha ocular que é, nesses últimos 40 anos do desenvolvimento de Imperatriz.
* EDMILSON SANCHES
Fotos:
João Viana, com seu característico boné, com companheiros do Rotary Club.