Estamos pensando neste “fanático” que saiu de casa, seu lar, que deixou por momentos a sua progenitora para comparecer no comício da praça da Belira e, “armado duma peixeira”, investiu contra o governador Sarney, vibrando a “arma branca” com a intenção de matar o líder popular, matá-lo diante da esposa, dos filhos, do povo, dos amigos e dos correligionários do governador do Estado.
Pensando neste Antônio Araújo, este moço estranho, para muitos, que sem uma razão, sem um motivo, resolveu afastar da vida, afastar do Executivo maranhense o governador eleito pela vontade livre do povo para governar a terra, para arrancar o Maranhão do aprisionamento duma política pessedista, política de “cangalhas”, política de corrupção, política de grupos, política estacionária, realizando na noite, à sombra das irresponsabilidades, o enriquecimento fácil de seus apaniguados, de seus preferidos, dum grupo die políticos desarmados do bom senso, mas dominados pela pressão dum egoísmo criminoso.
Pensando neste “débil mental”, neste infeliz rapaz que preferiu arrastar para si o desprezo público, a reprovação maciça do povo, que dominado por uma “raiva concentrada”, um “ódio de muitos anos”, abandonou seus familiares, a mãe, para, “louco”, “desvairado”, ir “caçar” Sarney, o governador do Estado e esgrimindo uma faca, gritar para Sarney: “Vais morrer, desgraçado!”
Com o grito, a explosão dos instintos, avançou, decidido para cumprir a sua ameaça terrível. E isto diante de um povo que se comprimia numa praça pública para ouvir o seu líder, para ouvir do governador o relato da sua administração, do que o governo vem fazendo, vai fazer.
Sim, pensando neste rapaz, neste matador “possesso”, neste matador “enfurecido” que resolveu, que caminhou resoluto para matar Sarney, para, a golpes de faca, ferir de morte o homem ilustre, o maranhense digno que é Sarney. Sarney que afirma que não tem inimigos, que tem apenas na área da política maranhense, adversários! Que teria se passado com Antônio Araújo para ter tomado tão terrível deliberação?
Estranha a conduta deste rapaz. Um “débil mental”? Mas poderá se acreditar que um “débil mental”, andando por aí, saindo de sua casa, trouxesse consigo, na sua inconsciência, o desejo, este único desejo de matar o governador Sarney? O chefe do Executivo estadual? Por que Antônio Araújo não pensou noutro? Diante de uma multidão, por que teria desprezado tantos para visar apenas um, um que era maior autoridade do Estado? Um que era o dr. José Sarney? Que teria se passado com este infeliz rapaz?
Estaria sob o efeito da “erva maldita”? Mas mesmo assim, os efeitos, perigosos, às vezes, do tóxico, só se fez atuar neste sentido: “matar Sarney”, “matar o governador do Estado”? Não. Confessamos que não acreditamos nisto. Em nada disto. Em nenhuma dessas suposições.
Para nós, há “dente de coelho”, há a marca duma trama criminosa. O rapaz, para nós, teria sido “preparado”. Teria sido “animado” a cometer o crime monstruoso, covarde. Um mandante hábil deve estar envolvido nesta tentativa de morte de que Sarney ia sendo vítima. E, aliás, este pensamento “é voz corrente”.
Ninguém está acreditando nessa história de débil mental. Não. Ninguém aceitando a “fúria”. Mas aceitando o fato calculado, animado, preparado. O rapaz foi o elemento aproveitado para representar a personagem: o matador furioso! Mas pensamos que deve estar em tudo isto a presença duma responsabilidade intelectual, deve estar, na trama, a identificação dum matador calculista, o cérebro que armou o “jogo perigoso”. Que armou o braço, o espírito, deste infeliz Antônio Araújo. Uma “cultura de ódio” na germinação perigosa!
Pensamos assim, muita gente pensando assim. O povo pensando assim. Mas está, com a polícia, as investigações. Cabe a ela esclarecer BEM o caso. Com os médicos, o diagnóstico sobre a debilidade do criminoso. O que é preciso agora é que haja a explicação certa. Nítida. É preciso, de fato, que tudo fique devidamente esclarecido.
Não será possível o resultado confuso e impreciso. Acreditamos que haverá, em profundidade, a execução dum trabalho policial especializado para que nada fique confuso!
E é preciso acabar com esta cultura de ódios que há por aí!
Mas estamos pensando neste infeliz Antônio Araújo, este “débil mental” que tentou matar o governador José Sarney. Pensando...
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 12 de novembro de 1966 (sábado).