Uma vida laboriosa, profundamente humana, integrada na vida da cidade. Uma vida em encantamento, em espírito, em inteligência, em fraternidade, em amor e em renúncias, em sacrifícios, em libertação dos sentimentos mais puros e mais dignos. Uma existência, toda ela em serviço da boa causa, uma “utilidade pública” extraordinária. Uma unidade de princípios restauradores. Uma força moral impressionante. Uma grandeza de alma. Uma resistência no exercício de várias atividades públicas. E, com ele, sempre, inflexível, a firmeza de suas atitudes, estas que não se abatêm, estas que não se curvam, estas que não aceitam a acomodação comprometedora.
Tudo nele a participação válida. A coragem que não se abate. A insistência que não desanima. A luta que não declina. A vontade que não vacila. A amizade que não atraiçoa. O companheirismo que não fere, que não insulta, que não humilha. A palavra que aconselha, a palavra que orienta. A esperança que não engana. O diagnóstico que não atemoriza, que não desespera, que não aflige, que não recua, mas que insiste, que busca um pouco ou um muito para continuar, para sentir instantes e momentos de felicidade.
Uma vida que sempre esteve no lar de muitos. Um cristo realizando milagres, curando, promovendo o bem-estar de muitos. Era assim, sempre foi assim, em toda a sua vida. A medicina, seu campo de ação, sua constante vibração de inteligência, de cultura, de humanismo. Da profissão um sacerdócio. Da vida um laboratório de realizações magnânimas e magníficas. Da sua vida, a vida de muitos, de seus clientes, do povo, da gente humilde, da gente simples, simples como ele, pobre como ele.
Muitos anos na vida da cidade. Muitos anos no seu consultório. Muitos anos atendendo a consultas, escrevendo receitas, ouvindo doentes, salvando vidas. Muitos anos assim, assim com a sua vida, assim com a vida trabalho e luta da cidade, desta São Luís que sempre amou, desta São Luís que sempre o teve nas lutas políticas da época, na luta oposicionista, na luta democrática, na luta pelas reivindicações populares. Na luta maior: recuperando vidas.
Esteve nos jornais. Sustentou polêmicas. Esteve na vida intelectual da cidade. A vida em espiritualidade. A vida em amor. A vida em poesia esta que não se escreve, mas que se sente. Esta que vive dentro de nós, trancada em nós, no nosso mundo interior. Poeta. Sim. Poeta de todas as tristezas, de todas as alegrias. E a sua poesia, pura, humana, simples, declamava-a a seus doentes: “Dr. Djalma me salvou”. E, dentro dele, o cântico destes versos.Rimas soltas a registrar belezas, mensagens de paz e de tranquilidade.
Sim, estava na vida. A vida em distribuição de afetos, a vida em tudo que é vida. E, dele, a sua presença na casa de um rico. Na casa de um pobre. Na casa onde estivesse uma DOR CHORANDO. Sempre assim o dr. Djalma Marques, um amigo do meu Pai, do Nascimento Moraes, um amigo da família. Amigos de todas as horas. De todos os instantes. De todos os momentos. Uma lembrança vivendo dentro da gente, da alma da gente, da vida da gente.
Hoje, temo-lo na velhice. Hoje, temo-lo na moldura da vida tradição da cidade. Hoje, temo-lo na festa dos seus 50 anos de casado. E, junto dele, a esposa, a amiga, a companheira. E junto dos dois, de ambos os dois, os filhos e os netos. Com todos, a família que ele construiu, que ele preservou, que ele sempre amou.
Sua vida na extensão da vida. Sua vida no poente Iluminado do Sol. Sol vida. Sol luz. Sol sombra, irradiação de luz. E, com ele, a sua velhice, a sua resistência. Com ele, quantas lembranças, quantas saudades. Com ele, seu mundo de recordações. Com ele, a poesia da sua alma na libertação de todos os seus sonhos, de todas as realizações.
E, aqui, esta página do Paulo Augusto. O Paulo Augusto que ele viu criança e o tem agora com seus cabelos brancos dizendo para ele e para a sua família: Felicidades, dr. Djalma Marques! Felicidades!
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 15 de setembro de 1968 (domingo).