Aproxima-se o 7 de Setembro, a data máxima da nossa Independência política. E haverá a solenidade das homenagens mais significativas. Com nossas Forças Armadas, o ponto alto das comemorações – as paradas, o desfile das tropas. A marcha triunfal dos nossos anseios e das nossas convicções de povo livre.
Haverá a grandiosidade duma programação toda especial. E a bandeira do Brasil estará desfraldada, na iluminação dum Sol radiante. De um Sol festivo, de um Sol idealismo, coragem, força construtiva da nacionalidade. Um Sol exuberante, fecundo. Dominador.
Nas ruas, nas praças, a concentração popular. A caminhada dos soldados de Caxias. Soldados da Ordem e da Segurança Nacional. Em todos os Estados, as mesmas homenagens de civismo, de patriotismo.
Na confluência, iluminados, decididos, os estudantes, os jovens, a juventude força, Presente e Futuro da Pátria. Mas haverá, em muitos lares, a presença duma angústia, duma revolta, duma rebeldia. Muitos lares na tormenta das íntimas aflições. Mas haverá também, no escuro dos cárceres, a presença dum jovem, dum estudante que lá, no aprisionamento, mais vigilante, mais decidido, prestará à Data Histórica a mais sentida das homenagens: seu sacrifício para que este SETE DE SETEMBRO seja uma vibração maior de civismo, de independência nesta hora difícil de decisões inabaláveis.
A História se repete. Com os jovens de hoje, a mesma bravura daqueles que estiveram na campanha civilista, que estiveram na luta pela Independência, que estiveram com Patrocínio quebrando os grilhões do servilismo, que estiveram com Deodoro na Proclamação da República e que antes, muito antes, com o alferes Tiradentes, na Inconfidência Mineira. E que, muitos anos depois, com a resistência heroica da pequena Paraíba, a terra de João Pessoa, no sacrifício de tantos mártires. Que escreveram a resistência doutros estágios de revolução, que viveram um poema de luta no Forte de Copacabana. Que sempre e sempre se fizeram pensamento, ideia e sacrifício em todos os instantes de libertação nacional. Que, em Monte Castelo, viveram a epopeia dos heróis, e seus corpos ficaram no chão da Itália, em Pisa. Que estiveram sempre, cheios de esperança, nas campanhas oposicionistas lutando pelo fortalecimento da Democracia.
Sim, haverá, nos cárceres, a presença dum jovem, dum estudante nas reflexões das lutas que vêm sustentando em favor de reivindicações justas, de reformas progressistas em bem da terra, da Pátria, do povo.
Esses não estarão na marcha da mocidade. Esses estarão sofrendo pela audácia cometida – a reação contra a estagnação, contra um processo político arcaico, antiquado sem mais condições de sobrevivência. Esses estarão na lembrança de todos os brasileiros, dos pais, operários, homens de todas as categorias sociais. Estarão vivos, vibrantes nas suas resistências, cívicos nas suas determinações. Dos cubículos desfraldarão a bandeira verde e amarela da luta democrática sustentada contra uma situação que está a reclamar reformas, desenvolvimento, um MELHOR MUNDO PARA TODOS.
Nas ruas, Sol na iluminação do patriotismo, a marcha da juventude, dos moços, dos universitários e, com eles, junto deles, na alma e no coração, marcando o passo cadenciado, a presença indelével dos que ficaram longe, no retiro da opressão, na tormenta das suas atitudes estas que dignificam, estas que indicam condutas e afirmativas desassombradas.
Sim, estamos nos lembrando dos Vlademir Palmeiras, dos líderes, dos que estão na pregação da doutrina redentora das modificações progressistas. Estamos nos lembrando dos moços, dos jovens, dos estudantes que ficaram nas prisões iluminados pelo Sol, o da liberdade, o da Luta Democrática por uma Pátria mais nossa, mais evoluída, mais crescida, mais independente.
Nesta hora, militares e civis repontam no Panteon Histórico das nossas conquistas, o exemplo dum Caxias, dum Osório, dum Tamandaré, dum “marechal de ferro”, dum moço chamado Edson Souto, uma mistura de nomes, de épocas na bravura da luta nacionalista por um Brasil inteiro, unido, indivisível e uno. Um Brasil de liberdades, de independência, de unidade viva, palpitante de renúncia e de sacrifícios, de conquistas que ficaram no mármore das suas datas imorredouras.
Sim. Estamos pensando neste Brasil de HOJE, este Brasil de Amanhã, rejuvenescido com seus líderes jovens, sua mocidade decidida, iluminada sempre pelo Sol das liberdades humanas.
Sim, pensando nos moços, que ficaram trancados, nos cubículos, mais dignos, mais valorosos, mais BRASIL. Brasil das lutas, das conquistas, dos rebeliões, do civismo. Brasil dos quartéis, das alvoradas cívicas, das fortalezas distantes, faróis na vigilância da nossa expansão geográfica.
Sim, pensando nos que ficaram impossibilitados de estarem na caminhada cívica destas comemorações de SETE DE SETEMBRO. Pensando que, com a juventude, haverá sempre esta luta democrática como contribuição válida para o nosso aperfeiçoamento político, social e econômico.
Este SETE DE SETEMBRO está vivo, está sempre se repetindo numa data ou num corpo que cai pelas liberdades constitucionais.
E a Bandeira do Brasil passará diante de todos, das mães chorosas, sóis de civismo alumiando a luta democrática de seus filhos. É o Brasil na paisagem histórica das suas conquistas valorosas, suas conquistas de independência.
É a nossa homenagem. A homenagem da nossa vida em luta pelo fortalecimento da Democracia.
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 5 de setembro de 1968 (quinta-feira).