Neste domingo, tirando dúvidas dos leitores...
1ª dúvida:
O rei teve um mal ou mau pressentimento?
A resposta é:
O rei teve um mau pressentimento.
Na linguagem falada, ninguém percebe a diferença entre MAL com “l” e MAU com “u”. A pronúncia é praticamente a mesma.
O problema está na hora de escrever. Você precisa saber o seguinte: MAU é um adjetivo, e MAL é um advérbio.
Isso significa que devemos escrever MAU com “u” sempre que qualificar um substantivo: “mau pressentimento”, “mau humor”, “mau profissional”, “lobo mau”…
O advérbio MAL, com “l”, deve ser usado quando se refere a um verbo, a um adjetivo ou a outro advérbio: “falava mal”, “mal-humorado”, “mal analisado”, “mal colocado”…
Existe um detalhe a ser observado:
1. o adjetivo MAU se opõe a “bom”; 2. o advérbio MAL se opõe a “bem”. Podemos, então, usar este “macete”: 1. bom pressentimento = mau pressentimento, bom humor = mau humor, bom profissional = mau profissional, lobo bom = lobo mau; 2. falava bem = falava mal, bem-humorado = mal-humorado, bem analisado = mal analisado, bem colocado = mal colocado.
Você sabia que devemos escrever MAL com “l” em mais duas outras situações?
1. Como conjunção subordinativa temporal, no sentido de “logo que, assim que, quando”: “Mal saiu de casa, foi assaltado” (= “Assim que saiu de casa, foi assaltado”), “Mal chegou à praia, começou a chover” (= “Logo que chegou à praia, começou a chover”).
2. Como substantivo, no sentido de “doença, problema, defeito”: “Está com um mal incurável” (= “…uma doença incurável”), “O seu mal é falar demais” (= “O seu defeito é falar demais”).
2ª dúvida:
Não sei porque ou por que ele não veio?
A resposta é:
Não sei por que ele não veio.
Há muito tempo, aprendemos o seguinte: 1. Nas perguntas, devemos escrever POR QUE (= separado): “Por que você não veio?” 2. Nas respostas, devemos escrever PORQUE (= junto): “Não veio porque está doente”.
Isso tudo é verdade. O problema é que a explicação está incompleta.
Existem outros casos em que devemos escrever POR QUE (= separado):
1º) Existem frases interrogativas indiretas (= sem ponto de interrogação): “Quero saber por que ele não veio”.
2º) Quando a palavra “que” for pronome relativo (por que = pelo qual, pela qual, pelos quais ou pelas quais): “Só eu sei as esquinas por que passei” (= as esquinas pelas quais passei).
3º) Sempre que tivermos a palavra “motivo” antes ou depois de POR QUE (ou mesmo subentendida): “Desconheço o motivo por que ele viajou”, “Queria saber por que motivo ele não atendeu o meu chamado”, “Não sei por que ele não veio”. Nesse último exemplo, devemos escrever POR QUE (= separado), porque a palavra “motivo” está subentendida: “Não sei por que (motivo) ele não veio”.
Existem ainda mais duas grafias possíveis: PORQUÊ (= junto, com acento circunflexo) e POR QUÊ (= separado, com acento circunflexo).
1ª) Quando a palavra “porque” estiver substantivada (= antecedida do artigo definido “o” ou do artigo indefinido “um”), devemos escrever PORQUÊ (= junto, com acento): “Não sei o porquê da sua viagem”, “Eles querem um porquê para tudo isso”;
2ª) Quando a palavra “porque” estiver antes de uma pausa (= principalmente em fim de frase interrogativa), devemos escrever POR QUÊ (= separado, com acento): “Parou por quê?”, “Eu também gostaria de saber por quê”., “Não sei por quê, nem para quê”.
3ª dúvida:
Ele mora no Caju ou Cajú e a namorada em Bangu ou Bangú?
A resposta é:
Ele mora no Caju e a namorada em Bangu.
Embora alguns insistam, Caju, Bangu, urubu, bauru e Turu não têm acento agudo. É importante lembrarmos esta regrinha de acentuação gráfica: só acentuamos as palavras oxítonas (= sílaba tônica na última sílaba) terminadas em “a”, “e” e “o”, seguidas ou não de “s”: “a(s)” = cajá, Paraná, atrás, aliás; “e(s)” = jacaré, você, através, português; “o(s)” = paletó, avô, após, compôs.
Por outro lado, não devemos esquecer que não se acentuam as oxítonas terminadas em “i” ou “u”: “i(s)” = aqui, Parati, eu dividi, anis; “u(s)” = caju, bauru, urubu, Bangu, Pacaembu, Turu.
Muita gente não compreende por que Grajaú e Anhagabaú têm acento agudo, se Caju, Bangu, Nova Iguaçu e Pacaembu, Turu não têm. Aqui, a regra é outra: acentuam-se as vogais “i” e “u” tônicas, formando hiato com as vogais anteriores e formando sílaba sozinhas ou com “s”: Gra-ja-ú, A-nha-ga-ba-ú, I-ca-ra-í, eu sa-í, eu in-flu-í, eu a-tra-í, pa-ís.
Quem faz a diferença, portanto, é a vogal anterior. Se for consoante, não haverá acento gráfico; se for vogal e formar hiato, haverá acento agudo. Observe a diferença entre o Banco I-ca-tu (sem acento) e o Banco I-ta-ú (com acento).
4ª dúvida:
O documento foi assinado pelo subsecretário ou sub-secretário?
A resposta é:
O documento foi assinado pelo subsecretário.
Com o prefixo “sub-”, só devemos usar hífen, se a palavra seguinte começar por “b” ou “r”: sub-base, sub-reino, sub-reitor, sub-raça… Com qualquer outra letra, devemos escrever “tudo junto”, como se diz popularmente: submarino, subterrâneo, subdiretor, subchefe, subeditor, suboficial, subemprego…
Cuidado com as palavras que começam com a letra “h”. Além de escrever “tudo junto” (sem hífen), a letra “h” desaparece: sub + horizontal = suborizontal, sub + humano = subumano, sub + hepático = subepático. Segundo o novo acordo ortográfico, podemos usar hífen antes de palavras iniciadas por “h”. A edição de 2009 do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da ABL, registra também as formas sub-humano e sub-hepático.
5ª dúvida:
Não há porque impedí-lo ou por que impedi-lo?
A resposta é:
Não há por que impedi-lo.
São duas dúvidas. Sempre que houver a palavra “motivo” antes da palavra “porque”, depois ou mesmo subentendida, devemos escrever POR QUE (separado): “Desconheço o motivo por que ele desistiu”; “Não sei por que motivo ele viajou”; “Não há (motivo) por que impedi-lo”.
O outro erro é o acento agudo de “impedí-lo”. Não acentuamos graficamente as palavras oxítonas terminadas em “i”: Parati, aqui, caqui (fruta), eu parti, adquiri-lo, servi-lo…
Devemos usar acento agudo sobre a vogal “i”, se ocorrer um hiato com a vogal anterior: Icaraí, aí, eu saí, eu destruí, atraí-lo, traí-la…