Neste domingo, continuamos tirando...
Dúvidas dos leitores
1ª dúvida:
O diretor chegou derrepente ou de repente?
A resposta é:
O diretor chegou de repente.
A forma “derrepente” simplesmente não existe. “De repente” é uma expressão adverbial, significa “repentinamente, subitamente”, e deve ser escrita com preposição “de” separada da palavra “repente”.
Estranho mesmo é o sentido que alguns dão: “De repente a solução poderá ser essa”. É como se dissesse “talvez ou quem sabe a solução poderá ser essa”. “De repente”, em vez de indicar tempo, passa a indicar “dúvida”. É no mínimo curioso, para não dizer errado. A verdade, porém, é que “de repente” significa “repentinamente, subitamente”. Fora disso, é uma expressão totalmente dispensável: “a solução poderá ser essa” e está acabado!!!
2ª dúvida:
O governo não atendeu às reinvindicações ou reivindicações dos funcionários públicos?
A resposta é:
O governo não atendeu às reivindicações dos funcionários públicos.
Pelo visto, além de melhoria salarial, precisamos reivindicar uma atenção muito maior com o ensino da nossa língua. Às vezes, pecamos por excesso e acrescentamos um “n” a mais: “os mendingos estão reinvindicando mortandela”.
Não esqueça: o que o mendigo quer é mortadela. E o verbo correto é reivindicar.
Pior mesmo são aqueles que, para “reinvindicar” fazem “paralizações”. Pelo amor de Deus, para fazer justas reivindicações, é preciso fazer corretas paralisações.
3ª dúvida:
Compareceram à reunião deseseis ou dezesseis pessoas?
A resposta é:
Compareceram à reunião dezesseis pessoas
Escrever números por extenso é sempre uma preocupação. No caso de dezesseis, juntamos dez, que se escreve com “z”, a conjunção coordenativa aditiva “e”, mais o número seis, que se escreve com “s”: dez e seis. Devemos dobrar o “s” para manter a pronúncia, pois a letra “s” isolada entre vogais tem som de “z”. Por isso, o certo é dezesseis.
O mesmo ocorre em dezessete (dez e sete) e dezenove (dez e nove). Quanto ao dezoito, omitiu-se a conjunção “e”: dez+oito.
Chefe ordena para sua secretária: “Faça um cheque de R$ 600”. Ela pergunta: “Como se escreve 600?”. Ele dá nova ordem: “Faça dois cheques de 300”. A secretária, preocupada, faz nova pergunta: “E 300 se escreve com “s” ou com “z”? O chefe, nervoso, grita: “Se não sabe escrever 300, faça quatro cheques de 150”. E a secretária, sempre zelosa pelo bom português, faz uma definitiva pergunta: “Chefe, o trema já foi abolido?” Vencido, só lhe resta uma saída: “D. Julieta, pelo amor de Deus, mande pagar em dinheiro vivo…”
Para não haver dúvidas, é bom lembrar: seiscentos é com “sc”; trezentos se escreve com “z”; e o trema foi abolido, portanto o certo é cinquenta.
4ª dúvida:
Ele estava com dores toráxicas ou torácicas?
A resposta é:
Ele estava com dores torácicas.
Tórax se escreve com “x”, mas o adjetivo é “torácico” com “c”. Fenômeno semelhante ocorre com as palavras terminadas em “z”: feliz, voraz, feroz, veloz. Embora sejam escritas com a letra “z”, é interessante observar que o som é de “s”. E, para manter esse som de “s”, as palavras derivadas são escritas com “c”: felicidade, voracidade, ferocidade, velocidade.
5ª dúvida:
Ele fez um esforço sobre humano ou sobre-humano?
A resposta é:
Ele fez um esforço sobre-humano.
Fazer um esforço “sobre humano” só se fosse fazer esforço “em cima de um ser humano”. Como não era o caso, o hífen é necessário. Aqui, o elemento “sobre” não é preposição, e sim prefixo, pois o autor se refere a um esforço superior ao dos humanos.
Com os prefixos ANTE, ANTI, ARQUI, SOBRE…, segundo o Novo Acordo Ortográfico, devemos usar hífen sempre que a palavra seguinte começar por “h” ou “vogal igual”: ante-histórico, anti-higiênico, anti-imperialista, anti-inflamatório, arqui-inimigo, sobre-erguer…Assim sendo, o correto é sobre-humano.
6ª dúvida:
Havia no jardim lindos girassóis ou gira-sóis?
A resposta é:
Havia no jardim lindos girassóis.
Girassol e madressilva, por serem palavras compostas, deveriam ser escritas com hífen, mas são exceções citadas no Novo Acordo Ortográfico.
Quando reunimos, sem hífen, dois elementos cujo primeiro termine por vogal, se a segunda começar por “s”, devemos dobrar o “s”: foto + síntese = fotossíntese; morfo + sintaxe = morfossintaxe; tele + sexo = telessexo; mini + saia = minissaia…
Um cartão de felicitações deve desejar um “feliz ano-novo”, com hífen. Um “ano novo”, sem hífen, é o mesmo que um novo ano: “Espero que nossos desejos se realizem neste ano novo (ou novo ano)”. Quando nos referimos ao próximo ano, ao ano estreante, à meia-noite de 31 de dezembro, à virada do ano, à festa de entrada, estamos falando de um “ano-novo”. E o plural é “anos-novos”.
6ª A dúvida:
É preciso que você aja ou haja com mais atenção?
A resposta é:
É preciso que você aja com mais atenção.
Não podemos confundir “haja” do verbo “haver” com “aja” do verbo “agir”. A forma verbal “aja”, sem “h”, é do presente do subjuntivo do verbo “agir”: que eu aja, que tu ajas, que ele aja, que nós ajamos, que vós ajais, que eles ajam.
E “haja”, com “h”, é presente do subjuntivo do verbo “haver”: “É preciso que haja (= exista) mais atenção”.
Um animal herbívoro (com “h”) come ervas (sem “h”). “Erva” e as palavras derivadas em que aparece a letra “v” devem ser escritas sem “h”: ervaçal (local onde há muita erva), ervagem (conjunto de ervas), ervatário (colhedor de ervas).
Devemos escrever com “h” as palavras derivadas em que aparece a letra “b”: herbívoro (que come ervas), herbáceo (relativo à erva), herbiforme (que tem a forma de erva), herbífero (que produz erva)…