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LÍNGUA PORTUGUESA: dicas e exercícios 148

Neste primeiro domingo de setembro/22, continuamos com as...

Dúvidas dos leitores

1ª dúvida:

Vamos estar depositando ou depositaremos seu pagamento hoje à tarde?

A resposta é:

Depositaremos seu pagamento hoje à tarde.

Devemos evitar o modismo de usar o gerúndio como ação futura. O gerúndio denota “continuidade de ação”: “Passamos dois dias analisando sua proposta”; “Estamos desenvolvendo um novo projeto para sua empresa”; “Passo horas lendo”.

No caso de vamos estar depositando, chego a imaginar que o pagamento vai ser feito em moedas, pois passará toda a tarde “depositando”…

O “gerundismo” é mais um vício que se propagou principalmente pelos profissionais que trabalham com teleatendimento. Nessa atividade, é tudo na base do “Quem deseja?”; “Não se encontra”; “Com certeza”; “Vamos estar providenciando”; “Vou estar retornando”…   

2ª dúvida:

O empregado tinha chego ou chegado atrasado?

A resposta é:

O empregado tinha chegado atrasado.

O particípio do verbo CHEGAR é “chegado”, assim como o particípio de TRAZER é “trazido”. A tal história do “ele tinha trago os documentos” é inaceitável. O correto é “ele tinha trazido os documentos”.

“O Sampaio tinha ganho ou tinha ganhado três partidas seguidas?” O Sampaio ganhar uma partida já é difícil. Que dirá três partidas seguidas! Quanto à língua portuguesa, entretanto, as duas frases são corretas, pois o verbo GANHAR apresenta os dois particípios: “ganho” e “ganhado”.

3ª dúvida é:

Meu avô aposentou ou se aposentou muito cedo?

A resposta é:

Meu avô se aposentou muito cedo.

O verbo APOSENTAR é pronominal (= aposentar-se), é um verbo essencialmente reflexivo: a pessoa se aposenta. É o mesmo caso de arrepender-se, esforçar-se, dignar-se e tantos outros. Observe que eu não posso “arrepender alguém” ou “esforçar outra pessoa”. Eu só posso me arrepender ou me esforçar.

No caso do verbo aposentar-se, existe a possibilidade de ser usado sem o pronome reflexivo. É quando você pratica a ação de “aposentar alguma coisa”: “Finalmente, o craque aposentou as chuteiras”; “O grande poeta aposentou a caneta”.

É um caso semelhante ao dos verbos casar e casar-se: “Ele se casou com a vizinha”; “O juiz casou os dois ontem mesmo”.

4ª dúvida:

Ela fez de tudo para vim ou vir no meu programa?

A resposta é:

Ela fez de tudo para vir no meu programa.

Não devemos confundir a forma verbal vim com o infinitivo vir. Só podemos usar a forma vim, quando o verbo estiver na 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo: “Faz mais de vinte anos que eu vim para o Rio de Janeiro”. O pretérito perfeito do indicativo do verbo VIR fica assim: eu vim, tu vieste, ele veio, nós viemos, vós viestes, eles vieram.

No português falado no Brasil, é frequente substituirmos a forma simples do futuro do indicativo (= farei, tratará, proporemos, quererão) pela forma composta, que usa o verbo IR como auxiliar (= vou fazer, vai tratar, vamos propor, vão querer). Até aí não há nada de errado. O problema ocorre quando precisamos usar o verbo VIR no futuro. Em vez de “eu vou vir”, ouvimos muito um tal de “vou vim”. Assim, não dá! A forma “vou vim” é totalmente inaceitável. Na dúvida, em vez de “eu vou vir”, prefira “eu virei”.

5ª dúvida:

Eles ainda não comporam ou compuseram o samba deste ano?

A resposta é:

Eles ainda não compuseram o samba deste ano.

O verbo COMPOR é derivado do verbo PÔR. Os verbos derivados devem seguir os verbos primitivos. Assim sendo, se o verbo PÔR é irregular, todos os derivados (compor, expor, dispor, repor, antepor, contrapor…) deverão apresentar as mesmas irregularidades do verbo primitivo. Se a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo PÔR é “eu ponho”, os derivados ficarão: eu componho, exponho, disponho, reponho, anteponho, contraponho… Se o verbo PÔR, na 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo, fica “eles puseram”, o certo será: eles compuseram, expuseram, repuseram…

O verbo REQUERER parece ser derivado do verbo querer, mas não é. “Requerer” não é “querer de novo”. Nos tempos do pretérito, o verbo REQUERER é regular. Não segue, portanto, as irregularidades do verbo querer. O pretérito perfeito do indicativo do verbo querer é: eu quis, tu quiseste, ele quis, nós quisemos, vós quisestes e eles quiseram. O verbo REQUERER, por ser regular, fica: eu requeri, tu requereste, ele requereu, nós requeremos, vós requerestese eles requereram. Isso significa que, na frase “o aluno requis isenção de matrícula”, o verbo está mal usado. O certo é “o aluno requereu isenção de matrícula”.

6ª dúvida:

O juiz não tinha intervido ou intervindo no caso?

A resposta é:

O juiz não tinha intervindo no caso.

O verbo INTERBIR é derivado do verbo vir. Deve, por isso, seguir a conjugação do verbo vir. O verbo vir é o único cuja forma do particípio é igual à do gerúndio: “Ele estava vindo às aulas” (= gerúndio) e “Ele tinha vindo às aulas” (= particípio). Assim sendo, os verbos derivados de vir (advir, convir, provir, intervir…) apresentam a mesma curiosidade: “Ele estava intervindo no caso” (= gerúndio) e “Ele tinha intervindo no caso” (= particípio).

Se o verbo INTERVIR é derivado do vir, deverá seguir a sua conjugação em todos os tempos verbais: eu venho, nós vimos – eu intervenho, nós intervimos (= presente do indicativo); eu vim, nós viemos, ele veio, eles vieram – eu intervim, nós interviemos, ele interveio, eles intervieram (= pretérito perfeito do indicativo); se ele viesse – se ele interviesse (= pretérito imperfeito do subjuntivo); se ele vier – se ele intervier (= futuro do subjuntivo)…