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LÍNGUA PORTUGUESA: dicas e exercícios 158

Neste domingo, continuamos com precisão e adequação vocabular...

1. COMPROMISSADO ou COMPROMETIDO?

A frase é:

“O nosso prefeito sempre esteve compromissado com a verdade”.

O correto é:

“O nosso prefeito sempre esteve comprometido com a verdade”.

Ultimamente, os nossos políticos só andam “compromissados” com a verdade, porque comprometidos, que é bom, nem pensar… E muito menos com a língua portuguesa.

Ora, o particípio deriva do infinitivo. O particípio é “comprometido” porque deriva do verbo “comprometer”, e não do substantivo “compromisso”. É “comprometido”, da mesma forma que “remeter” é remetido, e não “remessido”; “prometer” é “prometido”, e não “promessido”; “cometer” é “cometido”, e não “comessido”.

2. CICLO ou CÍRCULO? e PORCAMENTE ou PARCAMENTE?

A frase é:

“Estamos vivendo num ciclo vicioso”.

O certo seria:

“Estamos vivendo num círculo vicioso”.

É muito frequente confundirmos “ciclo” com “círculo”. Isso se deve, provavelmente, à semelhança. O problema é que “ciclo” se refere a “período”: “ciclo do ouro”, “ciclo das grandes navegações”… No caso, estamos no referindo ao fato de os problemas não terem fim. É um “círculo” cheio de vício, porque se repete muitas vezes e não acaba nunca.

Confundir palavras parecidas é sempre perigoso. Isso me faz lembrar aquele sujeito que faz pose e afirma: “Ela fala mal e porcamente”. Pelo visto, estamos na lama… É muita sujeira!

É bom saber que esse tal “porcamente” era para ser “parcamente”. Vem de “parco”, que significa “pouco, escasso, minguado”. “Falar mal e parcamente” significa “falar mal e pouco, poupar palavras, falar moderadamente”.

3. LARGO ou COMPRIDO?

A frase é:

“Caminhava a passos largos para o título de bicampeão”.

O mais adequado seria:

“Caminhava a passos compridos (ou longos) para o título de bicampeão”.

A expressão “a passos largos” já está irreversivelmente consagrada em português. É um caminho sem volta. Mas, vale a pena lembrar que “largo”, em português, significa “amplo”. Daí, a largura. Os pés podem ser largos, mas não os passos, que podem ser “compridos ou longos”.

A expressão “a passos largos” provavelmente é de origem espanhola, pois, no espanhol, “largo” significa “comprido” e “ancho” é “largo”.

Outro caso curioso é o chavão: “Brasil perdeu em pleno Maracanã”. “Pleno” significa “cheio, completo”. Em pleno Maracanã quer dizer que o Maracanã estava lotado. Hoje em dia, porém, é frequente ouvirmos nossos jornalistas esportivos usarem “pleno” com o sentido de “em seu próprio estádio”, “em sua própria cidade”. Não há, portanto, a intenção de se fazer referência à lotação do estádio. Às vezes, a expressão “em pleno Maracanã” é usada mesmo com o estádio vazio. Isso me faz lembrar o plenário da Câmara dos Deputados, que está sempre “cheio”…

4. UM FÍGADO ou O FÍGADO? UMA FRATURA ou FRATURA?

A frase é:

“O paciente teve um fígado afetado”.

O correto é:

“O paciente teve o fígado afetado”.

Pelo visto, o tal paciente tinha mais de um fígado. Ter dois ou três fígados, certamente é uma anomalia.

O mau uso dos artigos é uma constante. Com alguma frequência, podemos observar o uso desnecessário do artigo indefinido: “O prefeito vai encaminhar um outro projeto de lei” e “Para ficar na empresa, o gerente havia exigido um aumento salarial”. Bastaria dizer que “O prefeito vai encaminhar outro projeto de lei” e que “O gerente havia exigido aumento salarial”.

Em “Exame não confirma uma fratura”, temos uma curiosidade. Se a intenção era dizer que não houvera fratura alguma, o artigo é desnecessário. Bastaria dizer: “Exame não confirma fratura”.

Por outro lado, se o exame não confirma “uma” fratura, eu poderia compreender que houve mais fraturas, ou seja, não confirmou uma única fratura, e sim duas ou mais. Nesse caso, “uma” não seria artigo indefinido, e sim numeral.

5. EPIDEMIA ou EPIZOOTIA?

A frase é:

“Os animais morreram devido à epidemia”.

O mais apropriado é:

“Os animais morreram devido à epizootia”.

É inadmissível um médico-veterinário confundir “epidemia” com “epizootia”. O elemento “demos” vem do grego e significa “povo”: democracia (= governo do povo), demagogia (= levar, conduzir o povo), demografia (= descrição do povo)…

“Epidemia” é “doença que surge rapidamente num lugar e acomete, a um tempo, grande número de pessoas”. Pessoas e não animais.

“Epizootia” é “doença, contagiosa ou não, que ataca numerosos animais ao mesmo tempo e no mesmo lugar”.

É bom não esquecer que o elemento grego para “animais” é “zoo”. Daí, a zoologia, o zoológico, o protozoário…
Você sabe qual é a diferença entre “endemia”, “epidemia” e “pandemia”?

“Endemia” é uma doença que constantemente atinge determinada região. “Epidemia” é a doença que surge rapidamente numa região e atinge um grande número de pessoas; e quando a epidemia é generalizada, espalha-se por todas (= pan) as regiões, temos uma “pandemia”. É o caso da covid-19.