Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, em 4 de abril de 1857, e faleceu em Buenos Aires, em 1913. Estudou as primeiras letras no Maranhão, onde também trabalhou numa casa comercial. Aos dezessete anos, foi para o Rio de Janeiro e estuda pintura na Escola de Belas-Artes. Estreou na imprensa como caricaturista, trabalhando em “O Fígaro”, “O Mequetrefe” e “A Semana Ilustrada”. De volta ao Maranhão, lá escreve o seu primeiro romance de grande êxito, “O Mulato”, criado pelo jovem Aluísio aos 26 anos de idade, no mirante de um solar revestido de azulejos portugueses, onde morava sua família, na Rua da Paz, em São Luís, hoje tombado pelo Patrimônio Histórico.
Depois, Aluísio retorna ao Rio, onde publica diversas obras e colabora em jornais e revistas. Tendo feito concurso para cônsul, serviu em Vigo, Nápoles, Tóquio e, por fim, em Buenos Aires, onde morreu. Aluísio é a figura principal do Naturalismo no Brasil. Notável observador dos costumes e ambientes da sociedade do Segundo Reinado. A sua produção ressente-se do processo de trabalho do escritor, que era o do folhetim de imprensa. Há, em seus livros, uma significação histórica ao lado da significação literária. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras e nos deixou estes preciosos títulos: “Uma Lágrima de Mulher” (1879); “O Mulato (1881); “Casa de Pensão (1884); “O Homem” (1887); “O Coruja” (1889); “O Cortiço” (1890); “O Esqueleto” (1890); “Demônios” (1893); “Livro de uma Sogra” (1895), além de outras produções espalhadas em jornais e revistas.
“O Mulato” ficou corporificado no Realismo, como o primeiro romance do Naturalismo estilizado, dentro do aspecto da “art nouveau”, exteriorizando, em suas angústias e depressões sociais, os mesmos males que oprimiam os artistas europeus, quando as misérias da crise mundial já rondavam a decadência emocional da “Belle Époque”.
Aluísio Azevedo, escritor e diplomata, foi um dos expoentes maiores da nossa ficção urbana e, em sendo “O Mulato”, o primeiro romance naturalista brasileiro – retrata, na sua estrutura, todo o nódulo social calcado no racismo do meio maranhense do tempo, onde alguns críticos dizem que, para o estigma do nosso autor, faltara aquela exigência de Emile Zola, quando normatiza a conduta dos personagens retratando o terrível comportamento da paixão, mas que, por outro lado, lhe sobrara, aqueles maneios acirrados que caracterizam a luta contra o conservantismo e as rigorosas imposições clericais que, de algum modo, entorpeciam São Luís no século XIX – servindo como pano de fundo a principal ação do romance.
Raimundo (o núcleo central romanesco), filho de escravos e recém-chegado doutor da Europa, não se deu conta de sua “mulatice” e se fez amado e amante em circunstâncias dolorosas envolvidas por terríveis preconceitos. Mas foi assim que Aluísio quis que “O Mulato” agisse, tipificando-lhe à moda das histórias de Diderot e dos romances de Tachear e Balzac, ou ainda, sob os traços dos contos de Maupassant e Tchekhov.
“O Mulato” agride o desesperado preconceito racial criado nas famílias abastadas de São Luís, talvez por isso tão bem recebido pela ferrenha crítica da Corte como exemplo e, ainda, por ter sido escrito no molde do Naturalismo bem ao jeito darwinista, causando forte irritação em seus comprovincianos, que o forçaram a voltar às pressas, para o Rio de Janeiro, e juntar-se, novamente, ao irmão, o dramaturgo, comediógrafo e também escritor Arthur Azevedo que, às gargalhadas, o esperava no cais do porto para comemorarem o que escrevia de Lisboa o crítico Valentim Magalhães: “Aluísio Azevedo é no Brasil, talvez, o único escritor que ganha o pão exclusivamente à custa da sua pena, mas note-se que apenas ganha o pão, porque as letras, no Brasil, ainda não dão para a manteiga”. E sempre será assim... A arte é um dom divino, por isso, dádiva de sacrifício!
* Fernando Braga, publicado no Jornal “O Alto Madeira”, Porto Velho (RO), em 7/9/84, e republicado por ocasião do sesquicentenário de nascimento de Aluísio Azevedo. Originais in “Conversas Vadias”, antologia de textos do autor.
Ilustrações: Foto de Aluísio Azevedo e capa do livro comentado.