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LUIZ ABDORAL SOUSA (13/12/1947-2/9/2025)*

Um dos grandes nomes do radialismo de Caxias (MA), Luiz Abdoral Sousa, também professor e desportista, morreu nessa terça-feira (2 de setembro de 2025). Estava com 77 anos (nascido em 13 de dezembro de 1947, completaria o 78º aniversário daqui a cento e dois dias).

Conheci o Luiz Abdoral na Rádio Mearim de Caxias, emissora para a qual, eu ainda “de menor”, fui convidado para ser locutor-apresentador de três programas. Quero crer que o convite veio a partir de minha atuação em “O Pioneiro”, à época o único jornal de Caxias, para onde fui a convite do escritor e jornalista Vítor Gonçalves Neto, diretor de redação. (O Vítor, por sua vez, convidou-me em razão de ter visto exemplares de “O Sabiá”, o jornalzinho da AABB que eu redigia, editava e imprimia em mimeógrafo eletrônico. A AABB é a Associação Atlética Banco do Brasil, clube sociodesportivo dos funcionários daquela instituição financeira do Governo Federal. Após passar em seletivo do Banco do Brasil aos 13 anos de idade, fui empossado como o primeiro menor estagiário da agência e, tempo depois, fui eleito diretor da AABB, considerado raro, senão único, caso de um menor ter sido eleito como um dos diretores da conhecida agremiação, à época de frequência muito seletiva em Caxias.

A Rádio Mearim ficava a pouquíssimos metros da agência do BB, em frente ao famoso “Senadinho”, lugar onde notícias, política, bebida e vida alheia corriam de boca em boca... Foi o Antônio Bezerra de Araújo, radiotécnico e diretor da Mearim, quem me convidou. Além de minha atuação em jornais, eu fui presidente eleito e reeleito nos três anos do Ensino Médio do Colégio São José, o que levou Seu Bezerra a sugerir um programa voltado para os alunos – e surgiu “A Voz do Estudante” (que nos anos 2000 virou assunto de monografia de conclusão de curso na Universidade Estadual do Maranhão; repassei cópia de cartas que os ouvintes me enviavam, as quais preservo até hoje).

Logo depois, na Rádio, fiquei responsável também pelo “Musical Mearim” e, uma terceira responsabilidade, o suplemento musical antes de a Rádio encerrar sua programação diária, que ocorria às 19 horas. Explique-se: Naqueles idos da década de 1970, a radioemissora que não retransmitisse “A Voz do Brasil” – o noticiário do Governo Federal e mais antigo do País, existente desde julho de 1935 –, obrigatoriamente, antes de “A Voz” começar, tinha de desligar-se, encerrar seu dia. Se, ao contrário, aceitasse retransmitir “A Voz do Brasil” (gratuitamente), a rádio poderia´, após o final da “A Voz”, continuar sua programação normalmente pela noite e madrugada adentro. Creio que, por questão de economia, a direção da Rádio Mearim preferia não se arriscar assumindo custos extras de manutenção de pessoal e outros encargos.

Foi assim, nesse ambiente de trabalho, que conheci o educado, cordato, Luiz Abdoral. Moreno alto. Grande voz.

Ainda no time da Mearim, entre os locutores-apresentadores, havia o J. Rodrigues, campeão de audiência; Roberto Nunes, o “Garotinho”, que se destacou nas transmissões esportivas, falecido em São Luís em 2007, após acidente vascular cerebral em Chapadinha, onde morava); o Ivalter Cardoso, o maior vozeirão da Rádio, que comandava programa onde despontavam as maiores vozes dos cantores românticos, seresteiros. Havia também o Mário Amorim, dublê de radialista e auxiliar de perícia da Polícia Civil do Maranhão, com programa de saudade chamado “Só Sucesso”, cujos quatro sons de “s” desse nome sibilavam na pronúncia característica do grande homem da Lei e da Música. (Mário Amorim morreu em Imperatriz (MA), em 27 de maio de 2012). Outro nome, que “incendiava” a política e gestão pública na época, era o do empresário e ex-vereador João Afonso Barata, que, como comentarista político, respondia na Mearim por um programa ali pelo meio-dia. Os comentários eram ouvidos com atenção pelos adversários, a ponto de um deles, o à época poderoso industrial Constantino Ferreira de Castro, sentindo-se (mais uma vez) ofendido, foi até à Rádio, ali no centro da cidade, e descarregou o tambor de dois revólveres... – felizmente, e não era intenção do atirador, sem morte, só prejuízo material. Eu morava em rua ali ao lado e vi um pouco do fuzuê e corre-corre.

Afora essa exceção, a tranquilidade reinava no “cast” artístico da saudosa Mearim. Depois que passei a integrar a equipe, lembro-me de uma conversa de final de tarde em um dos bancos da Praça Gonçalves Dias com o colega locutor J. Rodrigues. Ele observava que os radialistas da Mearim não tinham uma identificação. Pouco depois, fui até à Folha de Caxias Artes Gráficas, bem ali na esquina, conversei com o gerente Pedro Souza, o Pedro Avião (também grande cantor), e apresentei a ele um modelo de carteira de identidade funcional, cujo desenho garatujei a lápis. A gráfica (de propriedade do industrial Alderico Jefferson da Silva) fez um belo trabalho e imprimiu a quantidade de carteiras que solicitei. Em seguida, peguei os dados e preenchi as primeiras carteiras de radialista da poderosa Mearim de Caxias. Sobre esse assunto, em uma de suas mensagens na minha página no Facebook, o Luiz Abdoral registrou que ainda mantinha consigo, como documento e saudade, sua antiga carteira que eu ousei “inventar” para os colegas todos da locução e da técnica da sua, da nossa Rádio Mearim de Caxias.

Além da Rádio Mearim, Luiz Abdoral e eu tínhamos outro ponto de contato: a Liga Esportiva Caxiense, a gloriosa LEC. Dela Abdoral foi presidente; eu, em outros tempos, fui diretor, junto com o presidente Manoel Ferreira de Araújo, o Manoel da Caçamba, falecido em julho de 2024. Abdoral foi diretor de Futebol e presidiu a liga “várias vezes” – na época, chamava-se Liga Caxiense de Futebol – , como lembra o radialista, desportista e pesquisador musical Nonato Santos, também colega do Abdoral e que manteve contato telefônico neste segundo dia de setembro com o velho diretor da Mearim, Antônio Bezerra de Araújo, que, de Brasília (DF), se dizia “incrédulo” com o falecimento do grande Luiz Abdoral.

Com a morte do Luiz Abdoral, Caxias despede-se, em pouco intervalo de tempo, só neste ano, de seu terceiro, pelo menos, nome da radiodifusão. Sinésio Santos da Silva Filho, o Sinesinho, que foi meu contemporâneo no Ensino Médio do Colégio São José e companheiro de “jiu kumite”, a luta de karatê onde aprendíamos golpes, defesas e outras técnicas, na quadra do SESC – Serviço Social do Comércio, em Caxias, faleceu em 10 de junho passado. E, agora em 29 de agosto, sexta-feira passada, o professor Nonato Ressurreição. Os três trabalharam em uma mesma emissora caxiense, a Rádio Alecrim.

Desde que retomamos contato, em 2017, Abdoral costumava enviar mensagens privadas sobre Caxias, política, história, cultura, amizade... Também comentava e aplaudia textos que eu escrevia na Internet... Em 2019 eu procurava saber dele se tinha havido radionovelas próprias na Rádio Mearim de Caxias... Ficamos nos devendo uma conversa pessoal, presencial, para rememorar tempos, ocorrências, pessoas...

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Há os que nascem em Caxias e há os que Caxias nasce neles. Luiz Abdoral Sousa era um destes, a ponto de, em sua página no Facebook, registrar Caxias como sua cidade natal. Sabe-se que Luiz Abdoral e seus outros quatro irmãos (duas mulheres, três homens) nasceram em São Luís. Abdoral veio ainda criança para Caxias, com os pais. A família foi morar no bairro Tresidela. O pai havia sido transferido para a “Princesa do Sertão Maranhense”, pois era funcionário da Rede Ferroviária Federal S. A., popularmente REFESA. Talvez por isso o talentoso Luiz Abdoral, entre outras coisas, tenha aprendido a ser telegrafista, aquele que transmitia mensagens utilizando o Código Morse, baseado em pontos e linhas.

Luiz Abdoral conheceu um telegrafista que foi grande amigo de minha família, o Seu Valdimir, que era de Itapecuru-Mirim. Também houve o telegrafista Francisco Bastos... Eu ainda menino (morando perto da Estação Ferroviária, na Rua da Galiana) auxiliava voluntariamente a colocar em ordem uma bagunçada área de documentos, livros, jornais e revistas (inclusive, claro, a “Revista REFESA”, publicada nos anos 1960 e 1970) e passava a limpo uma espécie de formulário com registros de venda de passagens ou algo assim (havia os “chefes de estação” Seu Clóvis e Seu Riva, o “chefe de trem” Seu Sousa...).

Luiz Abdoral era casado com Dª Ana Glória Santana Madalena, servidora pública, com quem teve duas filhas. Servidor público, professor concursado do Governo do Maranhão, aposentado, Luiz Abdoral dedicou-se a Caxias também como radialista, cronista e gestor desportivo. Em sua passagem terrena, deixou pegadas do bem no caminho. Na radiodifusão, além da histórica Rádio Mearim, atuou nas rádios Alecrim e Sinal Verde e na TV Paraíso.

Paz e luz, Abdoral. E, da Eternidade, continue zelando pelos Familiares e Amigos que ainda permanecem neste lado de cá, fazendo da Existência um ato de resistência.

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Condolências.

* EDMILSON SANCHES

FOTOS:

O professor e radialista Luiz Abdoral e a esposa, Ana Glória; antigos transmissores e antena da Rádio Mearim de Caxias, no Morro do Alecrim; e a “Revista REFESA”, da Rede Ferroviária Federal S. A., onde Abdoral aprendeu telegrafia.

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