Filho de um intelectual que se notabilizou como um dos grandes literatos do Maranhão, na primeira metade do século XX, o professor José Nascimento Moraes Filho não é apenas aquela corajosa figura que, no início dos anos 80, deflagrou o movimento ecológico no Maranhão, com a criação do Comitê de Defesa da Ilha de São Luís.
Na época, ele mobilizou a opinião pública contra a instalação de grandes projetos industriais na Ilha e chegou ao fim da vida reconhecido como o poeta e cronista que sempre retratara, em sua poesia, os problemas sociais do Maranhão.
Com mais de 10 livros publicados, Nascimento Moraes Filho é dono de uma obra que muitos quiseram condenar ao ostracismo, por conta das ousadas atitudes políticas que assumiu ao longo da vida. Cioso da ascendência africana da sua família e do exemplo de vida de seu pai, o jornalista e escritor Nascimento Moraes (1882-1958), que sofreu na pele o escancarado preconceito racial que havia na sociedade maranhense, Nascimento Moraes Filho travou uma luta à sua maneira pelo respeito e pela valorização dos negros. Como parte desse esforço, ele gostava de lembrar que ficou na imprensa do Maranhão o exemplo do grande jornalista, que foi seu pai.
De fato, Nascimento Moraes, autor do livro “Vencidos e Degenerados”, deixou uma vasta colaboração sob diferentes pseudônimos nos jornais maranhenses mais importantes da primeira metade do século XX. Escritor e homem de ação, Moraes lutou contra os preconceitos de uma sociedade injusta e, até mesmo, desumana para com os escritores pobres e negros.
Polêmico, levando às últimas conseqüências as suas convicções, ele atraiu amigos e inimigos com a mesma intensidade. E jamais se intimidou ante os que negaram o valor de sua obra, opondo-se, bravamente, nos jornais da época, contra os representantes de uma cultura racista e elitista.
“Meu pai foi vítima dos preconceitos daquela época. Negro, homem de fibra, jornalista de talento, ele era tolerado pelos poderosos. Até os inimigos respeitavam meu pai. Mas ele venceu no Maranhão e essa foi, talvez, uma de suas maiores glórias, porque, até hoje, o intelectual ou então o artista maranhense precisa sair daqui para poder ser reconhecido”, afirmou Nascimento Moraes Filho pouco antes de morrer, em entrevista ao jornalista Manoel Santos Neto.
Nascido em São Luís, aos 15 dias de julho de 1923, o autor de “Clamor da Hora Presente”, desde cedo, mostrou sua forte vocação de agitador de ideias. Assumiu a liderança de um grupo de jovens e, com eles,kl fundou e dirigiu o Centro Cultural Gonçalves Dias, considerado o mais importante movimento cultural de São Luís, na década de 40.
Na condição de auditor fiscal aposentado pela Secretaria da Fazenda do Estado, Nascimento Moraes Filho preocupava-se com as novas gerações, que não contam mais com as tertúlias – as conversas noite adentro nos botecos do Largo do Carmo e na Praça Benedito Leite, nas quais jovens poetas e jornalistas falavam de literatura, amor e política.
Recolhido às memórias, Nascimento Moraes Filho não arquivou a paixão pela poesia, tampouco se esquivava da militância pública. Casado com a enfermeira Conceição Moraes, o poeta falava com orgulho de seus cinco filhos: o professor de Física José Nascimento Moraes Neto; a bacharel em Filosofia Ana Sofia Fernandes Nascimento Moraes; a enfermeira Eleuses Moraes Garrido; o médico-veterinário Renan Fernandes Moraes; e a professora Loureley Fernandes Nascimento Moraes.
Seu primeiro livro, “Clamor da Hora Presente”, publicado em 1955, foi traduzido para o francês e para o inglês por uma freira dos Estados Unidos da América do Norte. Depois, ele publicou “Pé de conversa” (1957); “Azulejos” (1963); “O que é o que é?” (1971); “Esfinge do Azul” (1972); “Esperando a Missa do Galo” (1973); “Maria Firmina – fragmentos de uma vida” (1975) e “Cancioneiro geral do Maranhão” (1976).
Nascimento Moraes Filho também promoveu a reedição fac-similar do romance “Úrsula” (1975) e do livro de versos “Cantos à beira-mar” (1976), ambos de Maria Firmina dos Reis, além de “A metafísica da contabilidade comercial” (1986), de Estevão Rafael de Carvalho, e do jornal “O Bentivi”, 1838 (1986), reimpressos na Editora Gráfica Diário do Norte, em São Luís.
(Fonte: Blog do Manoel Santos)