
– 5 de novembro, Dia Nacional da Língua Portuguesa
*
Há algum tempo, leitor entrou em contato comigo para saber se eu já havia visto, na avenida principal da cidade, uma faixa com mensagem de amor que não obedeceria aos padrões da norma culta da Língua Portuguesa.
Fui conferir. Estava lá: “PARABÉNS, N., PELO O SEU ANIVERSÁRIO. ESTA HOMENAGEM É UM POUCO DO TUDO QUE POSSO TE OFERECER”.
Vou frustrar meu leitor, mas o que tem a mensagem? Não há nada errado, não. Há uma impropriedade: “pelo” seguido do artigo “o”. (“Pelo” já é aglutinação de preposição mais artigo).
Vamos fazer "vista grossa" até para a “mistura”, numa mesma mensagem, da terceira pessoa do singular (“seu”) com a segunda pessoa do singular (“te”).
Em defesa de quem escreveu a mensagem, poderíamos, "mutatis mutandis" [mudado o que deve ser mudado], repetir o professor Napoleão Mendes de Almeida:
– “Ortografia é processo de escrever a fala, e não processo de obrigar a escrever o que não se fala”.
No caso do “seu” + “te”, a mensagem reproduz um hábito dos mais arraigados no falar cotidiano – a migração espontânea do “você” para o “tu” e vice-versa.
Foi essa mesma singeleza e despreocupação, muito mais verdadeira, que o anônimo amigo/namorado/marido mandou reproduzir na mensagem.
O amor é lindo e, se ele não segue nem os trilhos da racionalidade, como iria obedecer as leis gramaticais?
Sobretudo para o amor fica valendo a observação: A gramática é muito boa para quem chega até ela, mas é ruim para quem não passa dela.
O amor vai além da gramática.
* EDMILSON SANCHES