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Rio de Janeiro - Escola municipal Levy Miranda na ilha de Marambaia, baia de Sepetiba, sul do estado (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Entre 2017 e 2025, mais de 300 mil crianças e adolescentes brasileiros que estavam fora da escola ou em risco de evasão voltaram ao estudo, segundo dados inéditos, divulgados nesta segunda-feira (28) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

A Busca Ativa Escolar foi a principal estratégia usada para esse retorno. Desenvolvida pelo Unicef e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), ela ajuda estados e municípios a desenvolver políticas de combate ao abandono escolar.

De acordo com o Unicef, apesar do resultado e avanço do país na educação nas últimas décadas, o Brasil ainda tem 993 mil crianças e adolescentes, entre 4 e 17 anos, fora da sala de aula, de acordo com a PNAD Contínua 2024. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nessa faixa etária, a educação é obrigatória e deve ser oferecida pelo Estado.

Do total, 55% são meninos e 67% pretas, pardas ou indígenas. Mais da metade do total vivem nas famílias 20% mais pobres do país. A faixa etária mais afetada é de 15 a 17 anos, com 440 mil adolescentes fora da escola. 

"Esse fenômeno de exclusão escolar está presente na zona rural quanto nas zonas urbanas por diferentes motivos. Mas sempre nos preocupa que as barreiras estão relacionadas às questões de violência, de dificuldade de acesso e de transporte", explica a chefe de Educação do Unicef no Brasil, Mônica Dias Pinto, à Rádio Nacional.

O Unicef também aponta que os meninos deixam a escola por causa do trabalho infantil, reprovações acumuladas e falta de vínculo com a aprendizagem. Já entre as meninas, os motivos são gravidez e trabalho doméstico.

"Para meninos e meninas, o racismo é um fator que contribui significativamente para a evasão escolar. Esses dados reforçam a importância de políticas públicas com abordagem sensível a gênero e território, capazes de responder às diferentes causas da exclusão”, ressalta a organização, em nota.

Acesso à creche

Em relação aos bebês e crianças de zero a três anos de idade, quase 7 milhões estão fora da creche (60% do total). A matrícula nessa fase não é obrigatória, mas é um direito garantido em lei (se a família desejar, o Estado deve garantir a oferta de vaga) e o acesso à creche é considerado importante para o desenvolvimento da criança. O Plano Nacional de Educação previa 50% dos bebês matriculados em creches até 2024.

"Esse dado evidencia a necessidade urgente de ampliar a oferta de Educação Infantil, especialmente em comunidades vulneráveis, e realizar ações de busca ativa, para que bebês e crianças bem pequenas tenham o direito à educação garantido desde os primeiros anos de vida", informa o Unicef.

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília (DF), 19/02/2025 - Programa Pé-de-Meia. Alunos da escola CED619 da Samambaia. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O Ministério da Educação (MEC) iniciou, nesta segunda-feira (28), o pagamento da quinta parcela aos participantes do programa Pé-de-Meia de 2025.

Os estudantes do ensino médio da rede pública beneficiados pelo programa federal nascidos nos meses de janeiro e fevereiro são os primeiros a receber o valor de R$ 200 correspondente ao incentivo-frequência às aulas.

O programa é destinado aos alunos da rede pública que estão matriculados no ensino médio regular ou na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Para ter direito ao benefício, eles devem ter presença mínima de 80% nas aulas.

Pagamento escalonado

Os pagamentos do incentivo-frequência ocorrem até o dia 4 de agosto, conforme o mês de nascimento dos alunos que estão matriculados em uma das três séries do ensino médio na rede pública de ensino.

Confira o calendário

- nascidos em janeiro e fevereiro recebem em 28 de julho;

- nascidos em março e abril, em 29 de julho;

- nascidos em maio e junho, em 30 de julho;

- nascidos em julho e agosto, em 31 de julho;

- nascidos em setembro e outubro recebem 1º de agosto;

- nascidos em novembro e dezembro, em 4º de agosto.

Depósitos

A quinta parcela da “poupança do ensino médio” de 2025 está sendo depositada em uma conta poupança da Caixa Econômica, aberta automaticamente em nome dos estudantes.

O valor pode ser movimentado ou sacado imediatamente, se o participante desejar. Basta acessar o aplicativo Caixa Tem, se o aluno tiver 18 anos ou mais.

No caso de menor de idade, será necessário que o responsável legal autorize a movimentação da conta. O consentimento poderá ser feito no próprio aplicativo ou em uma agência da Caixa.

O participante poderá consultar no aplicativo Jornada do Estudante, do MEC, o status de pagamentos (rejeitados ou aprovados), as informações escolares e regras do programa.

As informações relativas ao pagamento também podem ser consultadas no aplicativo Caixa Tem ou no aplicativo Benefícios Sociais.

Confira os prazos do calendário do Pé-de-Meia 2025 para o ensino regular:

Brasília (DF), 28/03/2025 - Programa Pé-De-Meia. Foto: Caixa/Divulgação

Confira os demais prazos do calendário do Pé-de-Meia para o EJA relativo ao primeiro semestre:

Calendário pé-de-meia - EJA - primeiro semestre

Incentivos

A chamada Poupança do Ensino Médio tem quatro tipos de incentivos:

- por matrícula registrada no início do ano letivo, valor pago uma vez por ano, no valor de R$ 200;

- por frequência mínima escolar de 80% do total de horas letivas. Para o ensino regular, são nove parcelas durante o ano de R$ 200.

- por conclusão e com aprovação em cada um dos três anos letivos do ensino médio e participação em avaliações educacionais, no valor total de R$ 3 mil. O saque depende da obtenção de certificado de conclusão do ensino médio;

- paga após a participação nos dois dias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), assim que o estudante conclui o 3º ano do ensino médio. Os R$ 200 são pagos em parcela única.

A soma do incentivo financeiro-educacional pode alcançar R$ 9,2 mil por aluno, no fim do ensino médio.

Pé-de-Meia

O programa do governo federal é voltado a estudantes de baixa renda do ensino médio da rede pública.  A iniciativa funciona como uma poupança para promover a permanência e a conclusão escolar nessa etapa de ensino.

Saiba aqui quais são os requisitos para ser inserido no programa

O MEC esclarece que não há necessidade de inscrição. Todo aluno que se encaixa nos critérios do programa é incluído automaticamente.

(Fonte: Agência Brasil)

Destaque Concurso Unificado. Foto: Arte/EBC

A segunda edição do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU 2) registrou 761.528 inscrições confirmadas. A primeira edição do concurso unificado, realizada em agosto de 2024, registrou um total de 2.114.145 candidatos inscritos confirmados.

O CPNU 2 oferece 3.652 vagas em 32 órgãos do governo federal. As vagas são para cargos distintos da primeira edição do CNU.

Abrangência nacional

As provas serão aplicadas em 228 cidades de todas as unidades da federação. As regiões Sudeste (247.838) e Nordeste (229.436) tiveram o maior número de inscritos, seguidas por Centro-Oeste (150.870), Norte (84.651) e Sul (48.733).

De acordo com o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), o panorama “reflete a abrangência do modelo unificado, que busca garantir igualdade de acesso ao serviço público federal em todo o território nacional, valorizando a diversidade regional”.

O estado do Rio de Janeiro lidera o número de inscrições homologadas, com 108.838 candidatos, seguido pelo Distrito Federal, com 102.940 inscrições. Em terceiro lugar, São Paulo registrou 77.682 inscritos. Bahia e Minas Gerais se destacam com 65.602 e 51.142 inscrições homologadas, respectivamente.

Mulheres

No chamado Enem dos concursos, as mulheres representam 60% dos inscritos. Um aumento de 3,8%, em relação à edição anterior, quando correspondiam a 56,2% do total de candidatos.

Para esta edição, o governo federal anunciou a implementação de medidas específicas para incentivar a participação feminina no certame.

A primeira prevê que, caso haja uma desproporção de mulheres classificadas na primeira fase, de provas objetivas, será feita a equiparação de gênero. Na prática, o edital do certame garante que, no mínimo, 50% das vagas da segunda etapa, de provas discursivas, sejam preenchidas por mulheres, desde que haja candidatas aprovadas nessa fase, com as notas mínimas necessárias nas provas objetivas.

Como em outros concursos do governo federal, o CPNU 2 também assegura condições apropriadas para a participação de gestantes e lactantes, incluindo tempo adicional para amamentação. Para ter direito, a candidata interessada deve ter solicitado atendimentos especializados, no prazo correto à Fundação Getulio Vargas (FGV), banca examinadora do concurso.

Tem o direito, a mãe de filho que tiver até 6 meses de idade nas datas das provas.

Inscritos por bloco

As vagas estão organizadas em nove blocos temáticos, com oportunidades para os níveis superior e intermediário.

Como na primeira edição, o modelo unificado permitiu que, no momento da inscrição, o candidato optasse por um bloco e indicasse diferentes cargos e órgãos, listados em ordem de preferência entre cargos, com base em seu desempenho.

Entre os blocos temáticos, o nono, com cargos de nível intermediário de escolaridade, registrou o maior número de inscrições, com 177.598 homologadas.

Confira o total de inscritos por bloco:

  • bloco 1 - seguridade social: saúde e assistência: 127.970;
  • bloco 2 - cultura e educação: 69.507; 
  • bloco 3 - ciências, dados e tecnologia: 35.834;
  • bloco 4 - engenharia e arquitetura: 41.245;
  • bloco 5 – administração: 173.829 
  • bloco 6 - desenvolvimento socioeconômico: 44.441;
  • bloco 7 - justiça e defesa 54.029;
  • bloco 8 - intermediário - saúde 37.075;
  • bloco 9 - intermediário - regulação 177.598.

Vagas

Do total de vagas do CNU 2025, 3.144 são de nível superior e 508 de nível intermediário. O MGI prevê a convocação imediata dos aprovados em 2.480 vagas e outras 1.172 vagas são para preenchimento no curto prazo, após a homologação dos resultados​.

O processo seletivo também reservou 25% das vagas para pessoas negras; 5% para pessoas com deficiência; 3% para indígenas e 2% para pessoas quilombolas.

A edição de 2025 do concurso unificado terá dois dias de aplicação de provas. A primeira fase ocorrerá em 5 de outubro. Os candidatos habilitados nessa primeira etapa e convocados para fazer as discursivas farão a segunda fase em 7 de dezembro.

A validade do concurso é de 12 meses, contados da data de publicação da homologação de seu resultado final, podendo ser prorrogado, uma única vez, por igual período.

Em caso de dúvidas, os interessados devem acessar a página oficial do certame, criada pelo Ministério da Gestão.

(Fonte: Agência Brasil)

*

No dia de hoje, 28 de julho, há 14 anos (2011), recebi a seguinte mensagem, creio que a primeira de uma talentosa pessoa que veio a se tornar um frequente interlocutor e grande amigo:

"Olá, Sr. Sanches.

Sou o Carvalho Junior (poeta caxiense) e um grande admirador do seu trabalho literário.

Já acompanhei palestras suas, já li alguns livros de sua autoria, e, recentemente, participei como revisor do livro "Caxienses Ilustres", sendo que o seu nome é um dos destaques da obra.

Identifico-me com sua maneira de brincar com as palavras. Ficaram gravadas na minha memória palavras que o Sr. usou em uma palestra no campus da UEMA em Caxias: "Quem não é ousado é usado".

Nota "dez pra você"!

Abração.

Carvalho Júnior, Caxias (MA)".

*

As aspas no trecho final “dez pra você” foi uma feliz apropriação do autor da mensagem, em alusão ao título de um livro meu que ele tinha – “Dez Pra Você”.

Pois é... Como se lê, a pessoa de quem aqui se cuida é o poeta, professor, gestor escolar, servidor público, ativista cultural Francisco de Assis Carvalho da Silva Junior, que completaria 40 anos neste 2025, daqui a 78 dias, em 4 de outubro. Mas, aos 35 anos, em 30 de março de 2021, Carvalho Junior foi colorir nuvens com azul de céu. Como escreveu Titus Maccius Plautus, da antiga Roma, "aquele a quem os Deuses estimam, morre jovem" (“Quem dii diligunt, adolescens moritur”).

Seria bom voltar a bater perna pela cidade o Carvalho Junior, o arquiteto e escritor Ezíquio Neto e eu. A partir do bar do Excelsior Hotel sairmos pernando pela Rua Afonso Cunha, Praça da Matriz, parada “estratégica” no minibar do Fiapu (Paulo Sérgio Assunção), continuar pela Rua Conselheiro Sinval, mirar a paisagem do lugar da antiga ponte do Porto Grande, tomar ali pertinho a Rua Bom Pastor e chegar à Praça dos Três Corações e tornar ao ponto de partida. Tanto o que se via fora quanto o que vinha de dentro de cada um dos três conterrâneos e amigos, era Caxias, sempre Caxias, prós e contras, expressos na fala tripartite, na conversa trifauce.

Acho que “desautorizei” o Carvalho Junior do emprego do “Sr.”, normal em primeiras abordagens de quem é educado (sobretudo, professor) e ainda não sabe – melhor, não tem – a exata noção de distanciamento ou proximidade, acato ou afetividade com deve ou pode se dirigir. Assim, melhor sobrar (em consideração) do que faltar (em respeito).

Neste 28 de julho pode-se dizer que a amizade com Carvalho Junior está pré-debutando. Como livros, a obra de um escritor é seu “alter ego”, avatar, clone, mimese, as conversas com o humano que morreu continuam com a obra do autor que ficou – ficou e, pelo visto, lido e comentado, vai permanecer.

Saúdo o amigo Carvalho Junior e, com palavras líquidas embora não as mais certas, brindo à sua memória.

Tim-tim!

Abaixo, transcrevo texto que (re)publiquei por aí, desde quando Carvalho Junior deixou de ser terno para tornar-se eterno.

* EDMILSON SANCHES

*

À beira do túmulo de Carvalho Junior

PALAVRAS & PENSAMENTOS, AMIZADE & VIVÊNCIAS

(Quatro anos atrás, em 30 de maio de 2021, escrevi as palavras a seguir, indispensáveis naquele momento e sempre necessárias como sadia expressão de convivência entre seres humanos).

*

Há exatamente cinco [sete] anos, em 28 de maio de 2016, era realizada a 10ª edição do sarau NA PELE DA PALAVRA, que teve início às 20h00, no Posto Leste, próximo à Praça do Pantheon, em Caxias (MA).

Para “ilustrar” aquele décimo evento, que já se incluíra no calendário informal de atividades culturais caxienses, seu criador, o poeta Carvalho Junior, convidou-me para, junto com ele, sermos os homenageados da edição. Na organização, a professora Joseneyde Lua, esposa de Carvalho Junior, e os poetas Quincas Vilaneto e Jorge Bastiani, os três amigos e conterrâneos nossos. O evento contava também com a participação do poeta Dudu Galisa e os músicos Marechal e Tim Rodrigues no emolduramento musical da noite.

Para atender meus amigos e conterrâneos – e, é claro, agradecer pessoalmente a honrosa distinção – viajei pelo menos (e mais uma vez) doze horas entre Imperatriz e Caxias. Em minha cidade, a noite foi rica de Poesia, História, Música e reencontros. Ambiente animado, bem frequentado.

Deixei livros, informações e mensagens em mãos e mentes de meus conterrâneos.

... Mas desde 30 de março deste 2021 que não há saraus periódicos para as noites caxienses (*). Um vírus, um bicho sem cérebro nem coração, levou Carvalho Junior aos 35 anos para a Eternidade. O tal agente infeccioso ousou encurtar uma vida grande, possível e provavelmente de alento e renovação poética, capacidade de criar, buscar apoios e realizar ações e inovações culturais, seja como professor ou como gestor na escola pública que dirigia, seja como ativista nos eventos que promovia.

No dia de sua morte, 30/3/2021, há exatamente dois meses, eu estava em uma pousada no bairro Meireles, em Fortaleza. Havia sido convidado para uma consultoria cultural acerca de um projeto imenso e inovador de um amigo. Era de tarde. Por forma de instrumento legal, fora decretado o tal “lockdown” e as ruas da alencarina capital mantinham-se em uma quietude quase sepulcral. Andei solitária e solidariamente por essas vias e vi crianças, mães e pais, que se abrigavam debaixo de marquises, correrem em regular vaivém para perto dos automóveis que paravam ao sinal fechado, momento em que cartazes feitos de tosco papelão de embalagens com a palavra “FOME” eram mostrados aos motoristas. E assim, ao longo das charmosas ruas, os sinais se iam abrindo, mas nem sempre as janelas dos carros e os corações e bolsos de seus ocupantes... Solidariedade também  é produto aqui e acolá faltante em tempos de pandemia...

Confirmei com meu amigo de Fortaleza – também sentido pela morte do Carvalho Junior – que retornaria naquele dia 30 para Caxias, e talvez pudesse, da forma possível, acompanhar o enterro do poeta conterrâneo. Ainda dentro do ônibus e mais de doze horas de viagem, fiquei sabendo que  corpo já fora tornado ao pó de onde biblicamente viera...

Do hotel, contatei o Ezíquio Barros Neto, arquiteto e urbanista, pesquisador e escritor da História local, amigo e confrade da Academia Caxiense de Letras, da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão e do Instituto Histórico. Carvalho Junior, Ezíquio e eu formávamos um trio que costumava reunir-se por bares de Caxias, onde conversávamos sobre problemas, soluções e situações de nossa especial cidade comum, “Princesa do Sertão” e de nossos amores e louvores. Pouco antes da morte de Carvalho Junior, estávamos novamente os três no bar do Excelsior Hotel, em sua larga calçada – como se na parisiense avenida dos Champs Elysées. A tarde e a noite foram poucas para o tanto de conversa(s) e agrado que nós três tínhamos quando nos encontrávamos. A bendita ignorância dos homens nem de longe atinaria que dois meses depois aquele encontro – pelo menos na Terra – nunca mais se repetiria...

No dia seguinte ao enterro de Carvalho Júnior fomos até seu túmulo, no Cemitério Nossa Senhora dos Remédios, em uma elevação por trás da tradicional Escola Duque de Caxias (do Projeto Bandeirantes), onde estudei quatro anos e concluí o hoje Ensino Fundamental.

Ao lado da sepultura de Carvalho Junior, praticamente à entrada, à direita, fiz uma oração muda e, depois, como se falasse com ele, lembrei-me desde os primeiros instantes em que nos conhecemos, quando ele abordou-me na Academia Caxiense de Letras e “esticamos” até um bar com tira-gostos na esquina, próximo à praça da Igreja Catedral, no sopé do afamado, histórico e poético Morro do Alecrim. À beira do túmulo, com areia ainda fresca, arrodeado de pedras, disse ao jovem amigo que, com  o Ezíquio ali perto, estávamos os três reunidos de novo, uma última vez. O cemitério está em silêncio, despido de outras gentes – apenas nós, duas almas viventes, em um dia igualmente mortiço.

Como quem pergunta, lembrei àquelas pedras e areia e quem sabe à alma circundante do Carvalho Junior das longuíssimas conversas por telefone..., das diversas mensagens acerca de dúvidas ou fatos linguísticos e/ou literários e históricos... dos projetos deles, mais ou menos recentes, acerca da “ressuscitação” literária do grande poeta Deo Silva e, mais recente ainda, seus estudos sobre a poetisa e contista Lucy Teixeira, dois enormes escritores, dos quais repassei ao Carvalho Junior, a seu pedido, alguns livros e coleções antigas do jornal caxiense “O Pioneiro”, de onde foram tiradas cópias de textos, sobretudo do Deo, ali publicados.

Ele igualmente se preocupava com aspectos biográficos do escultor e escritor caxiense Celso Antônio Silveira de Menezes, de quem o Carvalho ainda não havia visto comprovação para o sobrenome “Silveira”.   Também me questionava se estava “adequada” a expressão “emancipação política”, grafada em documento da Câmara Municipal de Caxias e relacionada a uma das datas históricas do município.

Carvalho Junior também queria publicar um livro infantil, “A Volta do Sapatinho de Ploc”, que escrevera há anos e me pedira (e recebera) o prefácio, que fiz em versos e que ele disse ter “amado”. Esse livro, dissera-me o autor, tinha de ser publicado logo, segundo ele, “antes que as meninas cresçam muito” (Carvalho Junior referia-se às duas filhas dele e de Joseneyde; mas ele sabia que, para pais, filhos parece nunca ficarem grandes...).

Ali ao lado do túmulo, relembrei a indignação cívica e sadia do Carvalho Junior e do Ezíquio Neto ante uma tentativa de movimentação religiosa de usurpação de espaço do histórico Morro do Alecrim (antigo Morro das Tabocas).

Era setembro de 2017 e eu me encontrava mais uma vez em Caxias. Carvalho foi até o hotel falar comigo, explanou toda a situação e cuidou de arregimentar alguns poetas caxienses para lavrarem poemas sobre a situação de risco iminente do eminente Morro.

Além dele mesmo e de mim, Carvalho trouxe para a “luta” (“lutar com palavras”, drummondianamente) os poetas  Isaac Sousa, Jorge Bastiani e Quincas Vilaneto. Reuniu os cinco poemas (“Balaio de soluços”, Carvalho Junior; [“Morro de saudades do Alecrim”, de Isaac Sousa], “Em guarda” (Jorge Bastiani), “São ruínas nossas” (Quincas Vilaneto) e “A terceira guerra do Alecrim”, de Edmilson Sanches.

Carvalho Junior, criativamente inquieto, deu o título de “Tabocas & versos: 5 poemas em resistência à ameaça de descaracterização do Morro do Alecrim” e falou-me que queria mandar imprimir um pequeno livro (talvez com o beneplácito do nosso amigo comum Amaro, apoiador de coisas e causas caxienses, dono de gráfica no centro da cidade). O projeto não se concretizou em livro, mas foi feita divulgação intensiva por fotocópias e especialmente em espaços digitais (“blogs” “sites”, redes e grupos sociais, como se pode ver no “link” http://www.xn--abeletristapornatrciagarrido-rrc.com/2017/09/).

Desta feita, o que não foi adiante foi a movimentação para uma indevida apropriação de um já exíguo território da História de Caxias, cidade nossa onde até as pedras têm morrido, ante a descaracterização e/ou destruição de nosso patrimônio material, com a contribuição da insensibilidade e despaixão de pessoas e autoridades  --  essa gente que é tão pobre que só tem dinheiro...

Carvalho Junior era um apaixonado pelas palavras... Perguntava-me a origem da palavra “arigatô" e sua alegada origem no português “obrigado”. Um dia, em 2020, me perguntou se eu conhecia palavra para “aquele cheiro de livro novo”. Disse-lhe que não conhecia, mas que pesquisaria e, se não localizasse, eu criaria.

Dito e feito. Engendrei novos termos relacionados aos livros. Consultei o Google e o “Dicionário Houaiss” e não há menção aos termos nem a seus significados, com essa formação léxica / lexical. As palavras são formadas a partir dos elementos de composição gregos para “novo” (NÉOS-), “livro” (BIBLION), “cheiro” / “odor” (OSMÓS) e “amigo” ou aquele que deseja, quer ou gosta (-PHILOS). Os neologismos são:

BIBLIOSMIOFILIA - Amor ao ou satisfação com o cheiro de livros;

BIBLIOSMIÓFILO - Aquele que gosta do cheiro de livros;

NEOBIBLIOSMIOFILIA - Amor ao ou satisfação com o cheiro de livros novos;

NEOBIBLIOSMIÓFILO - Aquele que gosta do cheiro de livros novos.

Eu havia perdido essas “criações”, justo quando o Carvalho queria saber delas, por também haver perdido a mensagem que as continha. Terminei por localizá-las e, em 26/06/2020, ele agradeceu a nova remessa das palavras: “Eu não conseguiria lembrar. A cachola às vezes falha”  -- escreveu ele.

Carvalho fazia uma ‘festa’ com as possibilidades sem fim do mundo vocabular. Além de craque em novos usos e sentidos de palavras em seus escritos poéticos, Carvalho Junior adorava os termos mais regionais, sobretudo locais, que diziam respeito ao falar próprio do caboclismo, como a saborosa pronúncia “áruvaio” para “orvalho” e a adequação ou não do uso dos modos verbais neológicos “cangular” e “cangulando”. Acerca destes trocamos ideias, incentivei-o ao uso e Carvalho terminou por enviar-me a definição: “Cangular - ato de movimentar, com destreza, o quibano na separação dos grãos”. A forma verbal “cangula” foi utilizada pelo Carvalho em seu poema “Luna”, de junho de 2020, que termina com um neologismo por fusão  -- “cangulua” --, forma de composição bem frequente na criativa obra poética carvalhiana. Nesse poema e na definição de “cangular”, como se lê, o autor usa também a forma “quibano”, mais falada em Caxias do que a clássica “quibando”).

Doutra feita, Carvalho indagou-me sobre  aspectos linguísticos, etimológicos, da palavra “toá”, que ele queria empregar em um texto mas não vira no dicionário. Ambos tivemos na infância a presença do “toá”, um tipo de argila / barro que, meninote acostumado a nadar no rio Itapecuru, até cheguei, sem “viçar”, a dar umas mordidelas, pois contém ferro, daí sua cor amarelenta. Quanto à grafia, a “original” é “tauá” ou “taguá” (do tupi “tag’wa”) – mas, é claro, a forma “toá” é melhor, mais curta, forte e sonorosa.

Sobre palavras e coisas da infância, Carvalho certa vez me enviou alguns poemas deles. No comentário, fiz o dístico:

“Batendo asas ligeiro -- e, fora do ninho,

(re)pousando em novos galhos pelo caminho...”

Carvalho respondeu-me:

“Gracias, menino do carr(ê)go igual a mim. Nossas infâncias e cambos poéticos dialogam. Fomos meninos de meninice aproveitada ao sabor máximo. Hoje é traduzir essa poesia que vivemos.”

Na “tréplica”, versejei:

“Quem infanciou que nem nós não pede arrego,

não é fraco, molenga, e acerta até no bambo.

Trazemos energia em nosso interno carrego

– e se o vento é forte enganchamo-nos num cambo...”

Carvalho encerrou por aquele dia, escrevendo:

“Bonito. Gostei da ginga de palavras. Como diz o Cacaso: ‘Minha pátria é minha infância, por isso vivo no exílio’."

Em uma outra oportunidade, Carvalho Junior escreveu-me:

“Tá na área? Boa noite. Me ajuda a lembrar o nome da brincadeira que tem o negócio do ‘remã remã’, please...”

Era setembro de 2020. Respondi ao meu conterrâneo e confrade sobre a brincadeira de infância com o tal “remã remã”:

“Brinquei muuuuuuuito na Rua da Galiana brincadeiras como "Bombaquim", "Pegador", "Corrida do saco" (brinquei muito  -- era campeão – na Rua Bom Pastor), "Passar o anel" (em um círculo de meninos – sobretudo meninas... [rs] – colocar uma pedrinha entre as mãos da pessoa escolhida, geralmente uma meninazinha que a gente tava de olho...).... Enfim, muitas brincadeiras que nos tornavam, a nós crianças, mais lúdicos e, ao mesmo tempo, mais lúcidos.

Mas a brincadeira a que você se refere é a ‘Boca de forno’:

– Boca de forno? – Forno!

– Jacarandá – Dá!

– Se eu mandar? – Vou!

– E se não for? – Apanha!

– Farão tudo que seu mestre mandar? – Faremos todos!

– E se não fizerem? – Ganharemos bolo!

– Remã, remã….

Com esse ‘remã, remã’ era escolhido quem levaria o bolo – que, como sabemos, não era uma comida, mas uma pancada com régua, palmatória, ou com a mão na mão de outrem.

Valeu?”

Logo em seguida, eu complementava:

“Esqueci de dizer que, após o ‘mestre’ dizer ‘remã, remã’, ele completava com a tarefa, por exemplo:

– ‘Remã, remã, quero que me tragam uma pedra de cor preta’; ou ‘um caroço de manga’; ou a embalagem de uma determinada carteira de cigarros (que, em outra brincadeira, a ela era atribuído um valor de uma das cédulas de dinheiro da época; etc. etc.

Quem não trouxesse, ou quem trouxesse por último (ou outro critério) etc., levaria o ‘bolo’.

*

Inúmeras eram as ocorrências e recorrências do Carvalho Junior... Todas, até por sua formação acadêmica e prática docente, com propriedade e visível gosto pelo cuidado com e preservação do idioma Português – e, mormente, o “infanciês”, isto é, a linguagem particular da infância de vivências comuns que, mesmo separados por espaço e tempos, tivemos em nossa Caxias e que se constituiu em um “dialeto” da meninice tão presente no linguajar e no poemar de meus queridos literatos conterrâneos de agora e de outrora.

Tal era a sadia paixão de Carvalho Junior pelas palavras do vocabulário próprio dos caxienses “que tiveram infância”, e tal era o volume de sua curiosidade e consultas a mim e a algumas poucas pessoas que ele começou a escrever um dicionário com essas novas ou pouco comuns palavras. Chegou a dar nome ao dicionário: “Dicionário Sannecicanto”, um siglônimo formado por sílabas iniciais de sobrenomes das pessoas a quem mais recorria para tirar ou compartilhar dúvidas sobre palavras. Em texto e em mensagem por áudio, em junho de 2020, ele detalhou a formação do nome: “Dicionário Sannecicanto: San = Sanches; ne = Neres; ci = Cileia; can = Cantanhêde; to = Toinha”. Ele ainda explicou que “Neres” é o José Neres e “Cantanhede”, Luzia Cantanhede, ambos poetas de suas relações. “Cileia” era uma colega de trabalho e “Toinha” é Dona Antônia, sua mãe.

Tivemos debate em público, em uma página de Facebook que ele criara, onde defendemos – em alto nível... – nossos pontos de vista sobre o excessivo uso de reduções como “vc”, “rs”, “blz”, “vdd” etcétera.

Quando eu escrevia um texto sobre Caxias e/ou caxienses, eram certeiras e quase imediatas suas palavras:

“Texto maravilhoso sobre Caxias. Nós que somos afeitos aos detalhes, percebemos o que outros leitores muitas vezes não percebem. [...]. // Parabéns pelo belíssimo texto. É um presente para a cidade, para os filhos que tanto desconhecem a própria história e riqueza cultural. O teu contributo é muito grande. [...] // Um abraço, meu caro. O texto é um primor. Você é um mestre. Gostei muito.” (5/7/2020)

*

A última mensagem de Carvalho Junior para mim foi em 13 de fevereiro deste 2021,umas duas semanas depois de nosso bate-papo a três (mais o confrade de Academia Ezíquio Neto), lá na calçada do Excelsior Hotel. Naquela data eu já retornara para Imperatriz e, sobre os novos livros de autores caxienses que editei e prefaciei, Carvalho escreveu:

“Livros à mão cheia. Isso é ótimo. Produção. ’Bonjour’!!!”

Foram, para mim, suas últimas palavras. Eu não sabia que Carvalho Junior estava internado, em função da covid-19. Fiquei sabendo somente na primeira semana de março. Acreditando que o vírus estaria “só de passagem” por aquele jovem de 35 anos, forte, cheio de vida, filhas para criar, livros por fazer, projetos (muitos) para tocar, escrevi-lhe em 7/3/2021:

“Carvalho Junior, // Soube que enfrentas o vírus coroado. // Que a luta te seja leve e possas estar logo logo restabelecido, para o convívio dos teus (familiares, amigos, colegas, confrades, conterrâneos...). // Saúde e Paz, Conterrâneo! // SANCHES”.

Não tive resposta e, pouco mais de três semanas depois, morria meu Conterrâneo (de Caxias), Colega (de escritas), Confrade (de Academias), Amigo (de sempre) e Companheiro (de ideias e ideais  --  torcia pelo meu retorno para Caxias e ingresso na vida política local).

Ali, no Cemitério dos Remédios, ao lado do túmulo do grande e jovem poeta caxiense, falei palavras, repassei pensamentos, lembrei lembranças... É muito solitária a solidão de um cemitério vazio... Ezíquio Neto, professor de arquitetura e urbanismo, cuidadoso pesquisador da História, hábil desenhista e fotógrafo, discretamente fez a imagem de um amigo sozinho, à beira do sepulcro de Carvalho Junior, eu com o peso da ignorância de quem não sabe dos mistérios do pós-morte, da outra vida, um “estado” para nós intuído, porém ainda um completo desconhecido “modus vivendi”, que Carvalho Junior, pioneira mas involuntariamente, desde março está vivendo.

Francisco de Assis Carvalho da Silva Junior era mesmo para ser poeta  --  até no nome: completo, ele forma um “verso heroico”, assim chamados na escansão ou metrificação os famosos versos de 12 sílabas poéticas.

Lembrando o quinto ano do décimo sarau “Na Pele da Palavra”, de 28 de maio de 2016, em que Carvalho Junior me escolheu e convidou para, ao lado de seu nome, sermos homenageados naquela festa de Poesia, Arte (exposição fotográfica do Ezíquio Neto), Música e Cultura caxienses, fico me lembrando das palavras do cantor e compositor Belchior, em música de 1977, em que, com “um olhar lacrimoso”, o músico cearense falava de “engenho”, “milho verde”, “rio”, “bicho”, “pardais”, em um tempo “quando havia galos, noites e quintais”.

Agora também já não há saraus... e faltam carvalhos na floresta literária...

Talvez só reste um olhar de lágrima...

Descanse, Amigo.

*

REPERCUSSÃO

“Excelente texto. Com certeza ele estará sorrindo, dando cambalhotas de felicidades.” (JOAQUIM VILANOVA ASSUNCAO NETO, escritor, administrador / UEMA – São Luís, MA)

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“Texto memória póstumo a Carvalho, tocante e magnífico. Carvalho Vive em nosso mundo, mais ainda agora, no mundo altívolo eterno, dos seus ancestrais e do Criador Primaz das palavras. Carvalho Junior Vive!” (FRANCISCO CARLOS A MACHADO, mestre em Ciências Ambientais – São Luís, MA)

*

“FUI OLHAR MAIS UMA VEZ PARA O TEXTO BEM ELABORADO E ATÉ UMA PALAVRA DOS JAPONESES:ARIGATÔ. NO FINAL, LAMENTEI PROFUNDAMENTE A PARTIDA PRA ETERNIDADE DE UM JOVEM SENHOR, COM APENAS 35 ANOS!!! QUANTO SOFRE A FAMÍLIA QUE FICOU (Lindalva Bastos Lopes/Imperatriz, MA)

*

“Tenho tanta saudade de meu amigo: Homem Tijubina. E que belas palavras e lembranças Edmilson.” (GARDENIA LEBRE HELAL – Universidade Estadual do Maranhão – Caxias, MA)

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“Nesse tempo pandêmico estamos acumulando partidas antecipadas, deixam suas marcas e a maior é a que dilacera a alma... Saudade que abraça, que se faz!” (GRAÇA ASSUNÇÃO, psicóloga, assistente social, escritora – São Luís, MA)

*

“Ai como dói essas perdas prematuras e repentinas! Ainda bem que tem as tuas palavras tão bem ditas, eternizando essas personalidades que partem deixando um legado e muita saudade!” (Walmiria Salazar Farias, artista plástica, servidora pública – Brasília, DF)

* EDMILSON SANCHES

Foto:

O poeta Carvalho Junior – grande janela da grande poesia: com a esposa, Joseneyde, e as filhas do casal; com Ezíquio Neto 9de barba) e Edmilson Sanches; e um de seus principais livros, “O homem-tijubina”.

Médicos estrangeiros e brasileiros que se graduaram em outro país, fazem a segunda etapa da edição 2017 do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira (Revalida).

Inscrições para o novo Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed) podem ser feitas até as 23h59 (horário de Brasília) da quarta-feira (30). No último dia 18, o prazo foi prorrogado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

O prazo também vale para as solicitações de atendimento especializado e de tratamento por nome social para pessoas trans.

As provas serão aplicadas no dia 19 de outubro.

A inscrição deve ser feita, exclusivamente pela internet no Sistema Enamed.

O Enamed substitui o Enade para os cursos de medicina e passa, em 2025, a ser aplicado anualmente.

A iniciativa do MEC, conduzida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em colaboração com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), tem o objetivo de melhorar a formação médica no Brasil.

Quem participa

O Enamed é obrigatório para estudantes concluintes de medicina no Brasil, sendo requisito para a colação de grau.

O estudante deve estar habilitado como formando da graduação em medicina e inscrito no Enade 2025, pelo coordenador do curso na instituição de ensino onde estuda.

Para médicos já formados, a participação é opcional, restrita aos que desejarem concorrer a programas de residência médica de acesso direto pelo Exame Nacional de Residência (Enare).

Cronograma

De acordo com edital de retificação, o Enamed 2025 cumprirá o seguinte cronograma:

  • inscrição: 7 a 30 de julho;
  • solicitação de tratamento pelo nome social e atendimento especializado: 7 a 30 de julho;
  • resultado das solicitações: 11 de agosto;
  • recurso: 11 a 15 de agosto;
  • resultado do recurso: 20 de agosto.
  • preenchimento do questionário do estudante: 18 de agosto a 18 de outubro;
  • aplicação das provas: 19 de outubro.

Provas do Enamed

As provas do Enamed cobram dos participantes os conteúdos, habilidades e competências das seguintes áreas: clínica médica; cirurgia; ginecologia e obstetrícia; pediatria; medicina da família e comunidade; saúde coletiva e saúde mental.

A avaliação é baseada nos critérios definidos para o Enade, observados os currículos, normas e as legislações de regulamentação do exercício da profissão de médico no Brasil.

O exame terá 100 questões objetivas, de múltipla escolha, com quantidade idêntica para cada uma das áreas da medicina abordadas. Os estudantes concluintes do curso de medicina inscrito no Enade também deverão responder obrigatoriamente a um questionário.

Enare

O Exame Nacional de Residência (Enare) é um processo seletivo unificado nacional para ingresso em programas de residência médica e de residência multiprofissional e na área profissional da saúde.

Nesta edição, serão ofertadas 11.388 vagas de residência médica, uniprofissional e multiprofissional, em 237 instituições participantes.

O total de vagas representa aproximadamente 28% a mais de vagas oferecidas, comparado com a última edição.

Veja aqui as regras do Enare 2025

(Fonte: Agência Brasil)

Bonito (MS), 26/07/2025 - Artista Jonir Figueiredo. Foto: Bonito Cinesur/Divulgação

Com uma salva de palmas, o público presente ao Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito (Cinesur) se despediu do artista plástico Jonir Figueiredo, morto neste sábado (26), em Bonito (MS). Na sexta-feira à noite (25), o artista havia participado da cerimônia de abertura do Cinesur, realizado no Centro de Convenções de Bonito.

“É com pesar que o 3º Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito recebe a notícia do falecimento do artista plástico Jonir Figueiredo, que nos deixou neste sábado, 26 de julho, após ter prestigiado a noite de abertura do nosso festival. Sua presença foi motivo de honra e reafirmou seu compromisso com a arte e a cultura. Figura essencial nas artes visuais, Jonir deixa um legado de beleza, sensibilidade e inspiração. Nos solidarizamos com seus familiares, amigos e admiradores”, diz a nota que foi lida neste sábado durante a realização do festival.

“Nós, artistas e produtores culturais, temos que seguir adiante, homenageando Jonir fazendo aquilo que ele mais gostava e pelo que jamais deixou de lutar: arte e cultura. Vamos com o nosso Bonito CineSur, honrando a memória de Jonir Figueiredo. Viva a arte e a cultura, viva Jonir!”, completa a nota.

Bonito (MS), 26/07/2025 - 3° Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano. Foto: Elaine Cruz/Agência Brasil

Natural de Corumbá e formado em Educação Artística pela Faculdade Unidas de Marília (SP), Jonir era conhecido por suas obras com foco no Pantanal e nas belezas do Mato Grosso do Sul. Desenhista, gravador, performer, pintor e produtor cultural, Jonir Figueiredo iniciou sua carreira nos anos 1970. Inspirou a criação do Movimento Cultural Guaicuru, coletivo que buscava valorizar a identidade cultural do estado por meio da inspiração no povo indígena Guaicuru.

Em nota, a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul lamentou a morte do artista.

“Jonir Figueiredo, foi um artista ímpar, um personagem da história do nosso estado que andava por aí, entre nós, à procura de novas ideias, matéria-prima para produzir sua arte e oportunidades para divulgá-la”, diz a nota.

“Em sua obra, explorava diversas técnicas, sempre nos lembrando do Pantanal que ele amava”, finalizou.

(Fonte: Agência Brasil)

Rio de Janeiro (RJ) - 26/12/2024 - 100 fotos melhores de 2024, retrospectiva - Foto feita em 22/02/2023 - Agçomerado de casas das favelas do Complexo do Alemão, zona norte da cidade.  Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A Secretaria Municipal de Habitação do Rio de Janeiro vai construir a primeira praça musical no Complexo do Alemão. O projeto Praça Paisagem Sonora, do Programa Morar Carioca, contempla a promoção da cultura periférica no Morro do Adeus, onde será instalada a área de musicalização.

A construção terá formato de asa-delta, com três ambientes, chamados de ilhas: Harmônica e Melódica, Sensorial e Rítmica. O trajeto sonoro vai contar com orientação espacial por meio de piso tátil, materiais em braile, rampas de acesso e parapeito para a segurança, entre outros instrumentos de acessibilidade e sustentabilidade.

A praça musical atenderá aos moradores do Alemão de maneira a incentivar a interação da comunidade com a música e multiplicar o conhecimento. De acordo com o projeto, a proposta é fortalecer a “identidade territorial”, valorizar as “referências sonoras” e engajar um “urbanismo sensível” a partir da arte, educação e infraestrutura.

A Praça Paisagem Sonora, que tem design inclusivo, também promete oferecer uma série de instrumentos, tais como: amarelinha sonora, com pintura acessível para pessoas com baixa visão e rampa de acesso; tambor de tronco; cobra sem fio, um telefone sem fio em formato de cobra; circuito sensorial e tubos de vento, instrumentos de sopro que transmitem som pelo vento.

As obras começaram e a previsão é de entrega em quatro meses.

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília (DF), 26/07/2025 - Reconhecimento do Jonga. Foto: Karen Eppinghaus/Divulgação

O Jongo foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) há 20 anos e permanece uma resistência da cultura negra levada adiante por descendentes de pessoas escravizadas de origem Bantu, especialmente do Congo, Angola e Moçambique, que foram trazidas para trabalhar em lavouras de café e de cana-de-açúcar, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.

A manutenção dessa expressão cultural afro-brasileira característica da região sudeste do Brasil, que reúne ritmo com a percussão de tambores, dança e os versos dos cantos também conhecidos como pontos, se deve, e muito, pela transmissão dos saberes de geração em geração, por meio da comunicação oral ou oralidade, do gestual e da materialidade dos instrumentos musicais.

“Dos mais velhos para os mais novos. Até pouco tempo atrás, criança não podia dançar. Os mais velhos não permitiam porque muitas coisas eram tratadas nas rodas de Jongo através do canto, coisas sérias de busca da liberdade. As crianças não participavam, mas hoje em dia, nós trabalhamos com as crianças, justamente para não perder a nossa raiz e a tradição”, revelou à Agência Brasil, a Mestra Fatinha, 69 anos, uma das lideranças e matriarcas do Jongo do Pinheiral, que segundo ela foi reconhecido há seis meses foi reconhecido como patrimônio imaterial do estado do Rio de Janeiro.

“A história preta é oral. Para ser jongueiro tem que fazer vivência. A gente não aprende o Jongo em livro, por isso a gente fala que as nossas comunidades são tradicionais. A gente aprende no dia a dia. O Jongo faz parte da nossa vida”, apontou a Mestra.

“É uma expressão que tem espiritualidade também, não é religião mas tem uma força espiritual importante de união dos jongueiros e de homenagem aos seus antepassados que chegaram [ao Brasil] escravizados no século 19”, acrescentou a professora do Laboratório de História Oral da Universidade Federal Fluminense (UFF), Martha Abreu, em entrevista à Agência Brasil.

Brasília (DF), 26/07/2025 - Reconhecimento do Jonga. Foto: Karen Eppinghaus/Divulgação

Crianças

Apesar de as crianças não terem permissão para participar das rodas, Mestra Fatinha esteve presente desde cedo por causa da sua estatura física. Ela e as irmãs eram muito altas já com dez anos. “A gente foi para o Jongo muito cedo. É uma vida dentro do Jongo. As crianças que conheci criança, cresceram e hoje me chamam de vovó do Jongo”, contou, acrescentando que a mãe dela, Constância Oliveira Santos, também matriarca está com 92 anos, enquanto Deric, um menino da comunidade, aos 4 anos, já é um jongueirinho. “A família dele é descendente direta dos escravizados da fazenda. Ele está vindo aí, a mãe dança, a avó dança, a bisavó dançava e ele está vindo, uma gracinha o Deric”, comentou.

A presença dessa manifestação cultural é forte no Vale do Rio Paraíba e se mantém em cinco comunidades centenárias dos municípios de Barra do Piraí, Piraí, Valença, Pinheiral e Vassouras, no sul do Rio de Janeiro, entre elas, o tradicional Jongo do Pinheiral, que surgiu da manifestação das pessoas escravizadas da Fazenda São José dos Pinheiros, que pertencia à família Breves. O local é considerado como a origem do jongo.

Mestra Fatinha contou que o local, uma das maiores fazendas de café do Brasil, teve mais de 3 mil negros escravizados. “Uma das maiores famílias escravocratas do Vale do Café”, pontuou.

Brasília (DF), 26/07/2025 - Reconhecimento do Jonga. Foto: Karen Eppinghaus/Divulgação

Dia Estadual do Jongo

No Rio de Janeiro, se comemora neste dia 26 de julho o Dia Estadual do Jongo, não por acaso, é também o Dia de Senhora Sant’Ana, mãe de Maria e avó de Jesus Cristo, sincretizada como Nanã nas religiões de matriz afro-brasileira. “Uma homenagem à ancestralidade feminina, às pretas velhas jongueiras, avós que souberam abençoar e nutrir as novas gerações com uma forma de expressão hoje consagrada como patrimônio cultural do Brasil”, informou o site do Centro de Referência de Estudo Afro do Sul Fluminense (Creasf) do Jongo de Pinheiral.

Também chamado de congo ou caxambu, o Jongo é uma manifestação característica da região sudeste do Brasil, segundo a Mestra Fatinha, que tem mais de 40 anos de militância pela divulgação e preservação da cultura do Jongo, o nome varia conforme o local em que se desenvolveu. No Espírito Santo, por exemplo, é jongo ou congo. No Morro do Salgueiro, na zona norte do Rio de Janeiro, é Caxambu, nome dado também em Minas Gerais e no Morro da Serrinha, em Madureira, também zona norte da capital, é Jongo.

Festejos

É justamente no Dia Estadual do Jongo que começam as festividades de 2025. Neste sábado (26), mestres, mestras e jongueiros estarão reunidos no 4º Encontro de Jongos do Vale do Café, no Parque das Ruínas de Pinheiral, local onde o Jongo nasceu, durante a escravidão nos cafezais e área que pertenceu a família de Joaquim de Souza Breves, o maior senhor de escravizados da região. “A gente recebe muita gente aqui, pessoas que gostam mesmo da cultura do jongo. É um dia maravilhoso de reencontros e encontros, nossos tambores tocando o tempo todo da abertura até o final”, indicou a Mestra Fatinha.

O 4º Encontro vai reunir cerca de 400 lideranças de Jongo e mestres de mais de 18 comunidades e quilombos tradicionais dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Brasília (DF), 26/07/2025 - Reconhecimento do Jonga. Foto: Karen Eppinghaus/Divulgação

“Primeiramente tem o impacto econômico de gerar emprego, renda e trabalho com o turismo étnico. Fora isso tem o impacto simbólico extremamente importante que foi o povo preto que construiu com seus próprios braços a área do café e sustentou a economia brasileira no ciclo do café, foram milhões de escravizados que chegaram no Cais do Valongo [região portuária do Rio de Janeiro] e subiram para os cafezais, que são justamente os antepassados desses mestres de jongo que vão estar aqui”, disse o músico, pesquisador e coordenador do encontro, Marcos André Carvalho, em entrevista à Agência Brasil, acrescentando que a prefeitura de Pinheiral cedeu o Parque para que o jongo do Pinheiral realize ali as suas atividades culturais.

“Isso também é uma virada histórica de superação. Aquele espaço que escravizou os antepassados dessas mulheres negras e mestras, hoje é dirigido por elas e ali vai ser construído o parque temático sobre a história do negro no Vale do Café”, completou.

De acordo com Marcos André, o planejamento do parque temático está em andamento e o projeto executivo para a criação do espaço foi selecionado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.

“Ali vai ter o Museu do Jongo, a Escola de Jongo, um restaurante de comidas étnicas e um centro turístico de visitação. A inauguração é para 2027, mas o projeto executivo já está sendo elaborado com recursos do PAC, porque fomos selecionados pelo governo federal para este projeto do parque”, informou.

“Está na hora do Brasil devolver para o povo negro do Vale do Café toda a riqueza que construiu o Brasil através da venda do café para o mundo inteiro durante o Brasil colônia. Tantos anos depois da Abolição essas comunidades ainda não têm os seus museus, os seus centros de visitação e as suas escolas de jongo. Pinheiral já deu o primeiro passo”, pontuou.

Brasília (DF), 26/07/2025 - Reconhecimento do Jonga. Foto: Karen Eppinghaus/Divulgação

Samba

A professora Martha Abreu, disse queo Jongo é considerado um dos pais do samba carioca porque as pessoas migraram para a capital do Rio e sem recursos financeiros foram morar em periferias uma vez que “a abolição não trouxe reparação”.

“Tem grupos importantes na Serrinha em Madureira, no Salgueiro, já teve na Mangueira, no Estácio, diversos morros. Essa bagagem cultural é tão importante que esses que chegaram são fundadores das escolas de samba. Em contato com a modernidade, no Rio de Janeiro todas as escolas mais antigas têm jongueiros na sua fundação. O próprio Império Serrano, a Mangueira, a Portela e o Salgueiro nem se conta, é um Jongo incrível. É Caxambu. Lá grande parte da comunidade veio de Minas Gerais e lá eles chamam caxambu”, informou a professora da UFF.

Dentro da Semana do Patrimônio Histórico Nacional, as festas pelos 20 anos do reconhecimento dessa manifestação cultural, vão continuar entre 14 e 16 de agosto, no Encontro de Jongueiros, que promete transformar a Praça Tiradentes, no centro do Rio, em um grande quilombo, com a presença de cerca de 18 comunidades de Jongo e, aproximadamente, 400 jongueiros.

A programação inclui rodas de Jongo, shows de samba, oficinas com mestres, um seminário no Teatro Carlos Gomes, exposição fotográfica na praça e o lançamento do projeto Museu do Jongo, que será um portal com mais de 5 mil fotos e vídeos sobre comunidades de Jongo. Além disso haverá as estreias de dois curtas-metragens dirigidos por Marcos André: Jongo do Vale do Café e Mestres do Patrimônio Imaterial do Estado do Rio.

“A gente quer lotar a Praça Tiradentes. Vai ser o grande momento da celebração desses 20 anos, com as rodas de jongo, no dia 16, de graça, na Praça Tiradentes”, disse Marcos André.

(Fonte: Agência Brasil)

Bonito (MS), 26/07/2025 - 3° Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano. Foto: Diego Cardoso/Fotografando Bonito

Cineastas e profissionais do setor audiovisual brasileiro lançaram, recentemente, um manifesto pedindo a regulamentação do streaming no Brasil. Chamado de Manifesto por uma Regulamentação do Streaming à Altura do Brasil e assinado por milhares de profissionais do setor, o documento defende que “a regulamentação do vídeo sob demanda (VOD) é hoje a medida mais urgente e estratégica para garantir o futuro do audiovisual brasileiro”.

O manifesto – que já foi assinado por nomes como Joel Zito Araújo, Lúcia Murat, Matheus Nachtergaele, Karim Aïnouz, Paulo Betti, Malu Mader e Marcos Palmeira - reivindica que as plataformas de streaming sejam obrigadas a investir, no mínimo, 12% de sua receita bruta no mercado brasileiro. Desse total, a ideia é que 70% sejam destinados ao Fundo Setorial do Audiovisual, por meio da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine), um tributo que incide sobre a produção, distribuição e exibição de obras audiovisuais. Segundo o documento, isso iria fortalecer “políticas públicas transparentes e descentralizadas, com alto potencial de retorno econômico e fiscal”.

Os demais 30% seriam aplicados diretamente pelas plataformas em obras brasileiras independentes, por meio de licenciamento ou pré-licenciamento, o que poderia estimular também a produção privada.

Na noite desta sexta-feira (26), durante a cerimônia de abertura do Festival de Cinema Sul Americano de Bonito (Cinesur), realizado no Centro de Convenções de Bonito (MS), diversos atores brasileiros defenderam a regulamentação do streaming no país.

Bonito (MS), 26/07/2025 - 3° Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano. Foto: Diego Cardoso/Fotografando Bonito

Em entrevista à reportagem da Agência Brasil, o ator Antônio Pitanga, por exemplo, disse que a situação atual é preocupante. “Temos que estar acesos e ligados com essa discussão e colocar a cara na vitrine para poder discutir sobre isso e exigir do governo federal, ministros, deputados e senadores [a aprovação desse projeto]”, defendeu. “Estamos trabalhando com a proposta de taxação de 12%, mas os 6% [que estariam sendo pensados pelo governo] já nos contemplaria. Temos que defender o cinema nacional. Essa é uma discussão aberta. A política é a arte de negociar. E acho que o governo Lula teria condições de aprovar [a proposta]”, completou.

A mesma opinião tem a atriz Maeve Jinkings. “Como atriz que circula sempre entre plataformas de streaming e televisão, é muito evidente a precarização nos contratos dos profissionais que estão nessa cadeia e que são submetidos a contratos, às vezes, muito leoninos. Acho que tem uma coisa aí que é fundamental: o que é que essas plataformas têm a dar para essa cadeia local aqui? Como é que a gente pode nutrir essa cadeia a partir da nossa gente, das nossas histórias e do nosso imaginário para as plataformas que estão circulando mundialmente? A gente está dando e a gente também quer ser nutrido por isso”, disse a jornalistas durante o Cinesur.

Para ela, é preciso ampliar as discussões sobre esse tema. “O que eu sinto é uma insatisfação generalizada. E fico muito impressionada que os meus colegas, das grandes produtoras, acham que o dinheiro está com os pequenos produtores. Já os pequenos produtores acham que o dinheiro está com as grandes produtoras. Meus colegas do teatro acham que o dinheiro está todo com o cinema. Mas onde está o dinheiro? Sinto uma paralisação e insatisfação generalizada e sinto falta de a gente se encontrar mais porque existem muitas narrativas e maneiras de ver o problema. Sinto falta de a gente se reunir, com mais escuta”, acrescentou Maeve. “O debate de ideias não é fácil. Mas acho que, mais do que nunca, com as democracias em crise no mundo inteiro, precisamos aprender a organizar essas agendas”.

A atriz e diretora Bárbara Paz, que vai apresentar seu novo documentário Rua do Pescador Número 6 no Cinesur, também é a favor da regulação das plataformas de streaming. “Não tem como não defender isso. Isso é urgente. Estamos muito atrasados nisso”, disse.

“Somos brasileiros, fazemos filmes, fazemos um cinema que interessa ao mundo inteiro. O cinema brasileiro, como a música brasileira e como a cultura brasileira, interessa a todo mundo. As pessoas querem se alimentar da nossa cultura. Temos um olhar e um gosto diferenciado. Então o que queremos é filme brasileiro no streaming. E isso tem que ser pago”, defendeu.

Bonito (MS), 26/07/2025 - 3° Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano. Foto: Diego Cardoso/Fotografando Bonito

Discussões

O tema da regulamentação do streaming vem sendo amplamente discutido dentro do Ministério da Cultura. Em janeiro deste ano, na abertura da Mostra de Cinema de Tiradentes, a secretária nacional do audiovisual, Joelma Gonzaga, disse que é “urgente que se resolva nesse ano a regulação do VOD”.

Uma das principais questões, segundo ela, é garantir a proteção do conteúdo nacional. Em outras palavras, significa que plataformas como Netflix e Amazon Prime Video, por exemplo, teriam que garantir no catálogo disponibilizado para o público brasileiro um percentual mínimo de produções nacionais.

Atualmente, o Ministério da Cultura tem defendido as propostas presentes no projeto substitutivo apresentado pela deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ), relatora do PL 2.331/22, na Câmara dos Deputados. O texto propõe uma cota de 10% de conteúdo brasileiro nos catálogos do streaming e uma alíquota de 6% de Condecine sobre o faturamento bruto anual.

Em reunião realizada no mês passado com representantes do Movimento VOD12 pelo Audiovisual Brasileiro, a ministra Margareth Menezes disse que a regulação da plataformas representará não apenas um marco legal, mas um passo simbólico para o Brasil no cenário internacional. “Essa não é apenas uma pauta econômica ou técnica; é uma afirmação de soberania cultural. A regulamentação das plataformas de streaming vai fortalecer a produção independente e gerar novas oportunidades para criadores de todo o país”, disse, na ocasião.

Bonito (MS), 26/07/2025 - 3° Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano. Foto: Diego Cardoso/Fotografando Bonito

Cinesur

O Cinesur teve início na noite de ontem, com uma homenagem à atriz paraguaia Ana Brun e a apresentação do filme As Herdeiras, pelo qual venceu o Urso de Prata de melhor interpretação feminina no Festival de Berlim em 2018.

Na edição deste ano, o festival reúne 63 filmes de nove países da América do Sul. “O Festival Sul-Americano proporciona esse espaço de discussão e de interação entre o velho e o novo, o jovem e o velho. E dessa discussão é que nasce a luz”, comentou o ator Antônio Pitanga, que apresentou a cerimônia de abertura do festival. “Cinema é a tribuna acesa para que a gente possa interagir, discutir e também consagrar, homenagear e celebrar”, acrescentou o ator.

Segundo Nilson Rodrigues, criador e diretor do festival, além da exibição de filmes, o Cinesur tem uma grande missão que é “contribuir com o processo de integração da América do Sul”.

“Somos mais de 400 milhões de sul-americanos. E nós queremos ajudar nesse processo de integração”, disse, durante a abertura do evento.

“A gente tem tanto para dizer e para aprender um com o outro. Então, esse lugar aqui nos alimenta e acho que a gente tem que aproveitar desses momentos”, completou a atriz Maeve Jinkings, que também apresentou a cerimônia.

Todas as atividades promovidas pelo CineSur são gratuitas. Mais informações sobre o festival, que será realizado até o dia 2 de agosto, podem ser obtidas no site do evento

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília (DF) 20/11/2024 -  Lélia Gonzalez
Foto: wikipedia.org

O Festival Latinidades homenageou, nessa sexta-feira (25), Lelia González, filósofa, antropóloga, professora universitária e ativista nos movimentos negros e feministas. Com o auditório II do Museu Nacional, em Brasília, lotado, o pensamento e a trajetória intelectual de Lélia foram lembrados.

O evento realizado na Capital Federal, no Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, começou com um recital poético feito pela atriz e poeta Elisa Lucinda e seguiu com falas emocionadas que reafirmaram a atualidade e a força da contribuição de Lélia para os debates sobre conquista de direitos e a luta contra o racismo e o sexismo.

Lelia é conhecida por ser autora dos termos "amefricanidade" e "pretuguês" ao se referir a nossa língua com termos de origem africana e indígena, e também foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU). Ela partiu cedo, em 1994 aos 59 anos.

A homenagem no festival teve ainda um debate com a presença da ministra de Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, da professora da Universidade Federal de Ouro Preto, Dulce Pereira e de Melina Lima, do Instituto Memorial Lelia González.

Brasília (DF), 24/07/2025 - 18º Festival Latinidades celebra protagonismo das mulheres negras até 31 de julho
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Afrolatinas

No mês em que se celebra o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o pensamento e a trajetória de Lélia Gonzalez foram homenageados por mulheres negras influentes de diferentes áreas do Brasil. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, relembrou como Lélia influenciou o caminho de sua irmã, Marielle Franco, e a sua própria trajetória.

“Eu me orgulho muito de conseguir, em vida, homenagear mulheres que caminham conosco. Defender mulheres negras, para mim, é o que me move. Seja por aquelas que estão conosco, seja por aquelas que, infelizmente, não estão mais”, celebrou a ministra.

Já Macaé Evaristo destacou a importância da construção teórica e política de Lélia, especialmente no que diz respeito à criação de conceitos que nomeiam experiências vividas pela população negra. “A Lélia nos convidou e ela mobilizou a construção de um pensamento afro-latino-americano, mas ela estava sempre ligada na nossa condição e na nossa potência e na nossa capacidade de poder construir uma revolução a partir da nossa própria inventividade”, disse.

Para a ministra, é necessário honrar esse legado de Lélia e manter vivos os ensinamentos dela. "Uma das coisas mais cruéis do racismo é o apagamento e o silenciamento”.

A atriz e escritora Elisa Lucinda ressaltou a coragem de Lélia Gonzalez em desafiar as estruturas do pensamento acadêmico eurocêntrico e racista. 

“Ou se é racista, ou se é sofisticado. Lélia teve a coragem de desvelar o escândalo intelectual que é o preconceito, apontando que não se pode oprimir quem promete liberdade”.

Já a professora e ex-presidente da Fundação Palmares, Dulce Pereira, enfatizou a contribuição teórica de Lélia ao formular o conceito de "amefricanidade", que unifica a identidade afrodescendente no continente.

“Ela ofereceu uma identidade para um grupo que, até então, era definido por fragmentações. Lélia nos deu ferramentas para pensar a resistência com consistência e sofisticação teórica”.

Dulce também destacou a importância do conceito de pretoguês, cunhado por Lélia como uma crítica ao apagamento da linguagem negra nos espaços formais e acadêmicos. Para a professora, reconhecer o pretoguês é reconhecer uma identidade cultural e linguística própria da população afro-brasileira. “Lélia defendia o pretoguês como uma referência nacional legítima, e não como um desvio da norma. Era, para ela, um instrumento de afirmação política, de pertencimento e de enfrentamento ao racismo estrutural.”

A diretora do Instituto Memorial Lélia Gonzalez, Melina de Lima, neta de Lélia, ressaltou a emoção de ver o legado de sua avó sendo celebrado por tantas pessoas. “Somos o coração desse país. Lélia vive. Mesmo tendo partido há 31 anos, ela continua extremamente atual. Foi emocionante ver a sede de conhecimento que ela ainda inspira”.

Os depoimentos reafirmaram que o pensamento de Lélia Gonzalez não apenas segue vivo, como também é farol para a luta antirracista, feminista e popular no Brasil e na América Latina.

(Fonte: Agência Brasil)