O Ministério da Educação (MEC) ofertará 243.850 bolsas no processo seletivo do Programa Universidade para Todos (Prouni). As inscrições para o segundo semestre deste ano começam terça-feira (23) e vão até sexta-feira (26). Desse total, 170.319 bolsas são integrais (100%) e 73.531, parciais (50%), e vão ser distribuídas em 367 cursos de 901 instituições participantes do programa.
Os cinco Estados com o maior número de bolsas são São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná e Amazonas. Os interessados em participar do processo seletivo do Prouni já podem consultar os detalhes das bolsas: curso, turno, instituição e local de oferta. As informações foram disponibilizadas, nessa quinta-feira (18), pelo MEC no Portal Único de Acesso ao Ensino Superior.
Por Unidade Federativa, as bolsas estão assim distribuídas: São Paulo (44.631); Minas Gerais (28.258); Bahia (16.204); Paraná (15.469); Amazonas (13.816); Goiás (13.604); Rio Grande do Sul (13.495); Rio de Janeiro (10.978); Maranhão (10.031); Pará (9.241); Pernambuco (9.213); Mato Grosso (8.322); Santa Catarina (8.064); Ceará (7.060); Mato Grosso do Sul (6.687); Distrito Federal (6.511); Espírito Santo (3.443); Piauí (2.898); Rondônia (2.394); Paraíba (2.346); Tocantins (2.316); Sergipe (2.267); Alagoas (2.179); Rio Grande do Norte (1.776); Roraima (835); Acre (813) e Amapá (729).
O curso de administração é o que oferece o maior número de bolsas: 9.782 integrais e 5.333 parciais. Na sequência, vêm direito, com 14.231 bolsas (6.320 integrais e 7.911 parciais); pedagogia, com 13.890 (10.298 integrais e 3.592 parciais) e ciências contábeis, com 9.599 (5.643 integrais e 3.956 parciais).
Na última quarta-feira (17), foi divulgado o edital do Prouni. A divulgação do resultado ocorrerá em duas chamadas: 31 de julho e 20 de agosto.
As bolsas integrais são destinadas aos candidatos com renda familiar bruta mensal per capita abaixo do valor de um salário mínimo e meio e as parciais, àqueles com renda familiar bruta mensal per capita até três salários mínimos.
Estão abertas, até o próximo dia 28, as inscrições para fazedores de cultura do Estado do Rio de Janeiro que queiram participar, gratuitamente, da Casa da Leitura e do Conhecimento, promovida pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (Secec RJ) na 22ª Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), programada para o período de 9 a 13 de outubro, naquele município da Costa Verde fluminense. As inscrições podem ser feitas pelo site.
Este é o terceiro ano consecutivo que a Flip contará com a presença confirmada da Secec RJ, nesse espaço. “Não tenho dúvidas, tal como foram os outros anos, que vai ser muito bonito e muito emocionante, sobretudo. Tem gente que comparece à Flip pela primeira vez como artista e isso tem um poder simbólico gigante. No ano passado, por exemplo, apresentou-se, no evento, a Camerata de Violões de Areal. Foi lindo ver aqueles meninos lá, as pessoas que passavam diante da casa se deparando com aquilo. Foi muito emocionante”, disse, nesta quinta-feira (18), à Agência Brasilo superintendente de Leitura e Conhecimento da Secec RJ, Yke Leon.
A Casa da Leitura e do Conhecimento é o espaço que a Secec RJ desenvolve na Flip em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e o Poder Legislativo de Paraty, “já que, nos outros dias do ano, funciona, no local, o Memorial do Paço, um museu que celebra o legado do Poder Legislativo municipal”. Durante a Flip, o museu se transforma na Casa da Leitura e do Conhecimento.
A convocatória objetiva permitir que os produtores do Estado possam participar do evento de forma democrática e garantir visibilidade às diferentes manifestações culturais dos territórios do Rio de Janeiro. No momento da inscrição, os proponentes deverão preencher em qual dia e turno pretendem realizar a atividade.
Dois eixos
Yke Leon informou que a convocatória tem dois eixos. Um é ligado a apresentações artísticas, englobando contadores de histórias, apresentações musicais. “Independente da linguagem, são atividades ligadas à literatura que podem ser teatrais, musicais, contação de histórias”. O outro eixo envolve palestras, mesas-redondas, lançamento de livros, roda de conversa com autor. “Uma coisa mais íntima”. A Casa da Leitura e do Conhecimento ocorre em dois ambientes, sendo um aberto, com palco, onde ocorrem as apresentações artísticas, e um fechado que acolhe outro tipo de programação, com palestras, oficinas, que precisam de um local mais silencioso, disse o superintendente.
A perspectiva é divulgar os projetos selecionados até dez dias após o encerramento das inscrições, mas pode ser antes, destacou Leon. “Para artistas que nunca foram à Flip, essa é uma oportunidade incrível, sobretudo para estabelecer grandes vínculos e grandes conexões. Porque a Casa da Leitura e do Conhecimento é que nem coração de mãe: acolhe todo mundo e sempre cabe mais um”.
De acordo com a Secec RJ, será considerado um mínimo de 20 propostas para serem selecionadas mas, dependendo do que será inscrito, esse número poderá se elevar para 30 projetos, em média. “Mas pode ser que esse número aumente”, comentou Yke Leon. Os selecionados ganharão um ‘template’ (documento de conteúdo) para divulgação em suas redes e um certificado de participação, que irá somar-se ao seu portfólio.
A secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa, Danielle Barros, lembrou que o evento faz parte do calendário cultural fluminense. Após o sucesso registrado em 2022 e 2023, reforçou que a ideia é continuar com a tradição de oferecer aos visitantes o espaço mais democrático da Flip, “oportunizando o acesso à cultura através do nosso estande. Nossa intenção é construir a programação de forma que promova a classe cultural e artística do Estado. A Flip é uma vitrine muito grande para quem trabalha com literatura e, por isso, queremos alcançar o maior número de pessoas possível", disse Danielle.
Flip
Este ano, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) tem como curadora Ana Lima Cecilio. Com 20 anos de trabalho no universo editorial, Ana Lima traz, em sua bagagem, vasta experiência que visa um olhar atento e direto ao público leitor, englobando o que as pessoas andam lendo, que autores e obras têm mobilizado encontros e discussões. A 22ª Flip terá espaço também para abordar temas contemporâneos em sua programação, como a emergência climática.
A edição 2024 da Flip trará ao Brasil, pela primeira vez, um dos grandes sucessos literários internacionais recentes, que é o francês Édouard Louis. Com seis romances publicados e celebrado como uma importante voz da literatura contemporânea francesa, Édouard Louis aborda questões atuais, como masculinidade, homofobia, lutas de classe, anti-intelectualismo e a posição da mulher na sociedade patriarcal.
A Flip é realizada pelo Ministério da Cultura e governo federal, com concepção da Associação Casa Azul, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) publicou, nesta quinta-feira (18), um edital de convocação para consulta pública para que as comunidades escolares opinem sobre a implementação do modelo de escolas cívico-militares a partir de 2025, na rede pública estadual. As unidades de ensino deverão organizar reuniões com pais ou responsáveis até o dia 31 de julho para discutir o novo modelo. A opinião das comunidades escolares deve ser registrada entre os dias 1º e 15 de agosto, por meio da Secretaria Escolar Digital (SED)
Segundo a Seduc-SP, as outras duas rodadas de consulta estão previstas para unidades que não atingirem a quantidade de votos válidos. Em 19 de agosto, as escolas deverão informar sobre quórum insuficiente. A segunda consulta está prevista para o período de 20 a 22 de agosto. No dia 26 do mesmo mês, as escolas avisam se for necessária a terceira rodada, que deve ocorrer entre 27 e 29 de agosto, também pela SED.
Podem participar da consulta pública mãe, pai ou responsável pelos alunos menores de 16 anos de idade, estudantes dessa faixa etária ou seus parentes em caso da abstenção dos alunos e professores e outros profissionais da equipe escolar. Se mais do que 45 comunidades escolares manifestarem interesse no programa, o desempate será feito com base na distância de até 2 quilômetros de outra unidade que não optou pelo programa, em caso de mais de uma escola interessada na mesma cidade e número de votos válidos a favor da instalação.
Para que a votação a favor seja válida, é preciso que 50% dos votantes mais 1 optem pelo sim; escolas com mais níveis de ensino, ou seja, que ofertam o ensino fundamental e o médio.
As escolas selecionadas para integrar o programa serão conhecidas até o fim de agosto. O período coincide com a primeira etapa do processo de matrículas e transferências na rede estadual de ensino. Até o início de setembro, estudantes poderão registrar intenção de transferência para essas unidades ou para outras escolas da rede.
Esta é a segunda etapa do processo de escuta que a Seduc está promovendo sobre o tema. Entre os dias 21 e 28 de junho, os diretores de todas as unidades da rede pública paulista opinaram sobre a adesão ao novo modelo. Nesse período, 302 diretores manifestaram interesse em atuar no modelo das escolas cívico-militares.
A expectativa da secretaria é iniciar o projeto em 2025 com 45 unidades educacionais da rede, permitindo um acompanhamento detalhado da instalação do modelo e a avaliação da possibilidade de ampliação nos próximos anos.
Tudo pronto para o início de mais uma etapa do Campeonato Maranhense Oficial de Beach Tennis, competição chancelada pela Federação de Beach Tennis do Maranhão (FBTM), instituição que representa, oficialmente, a modalidade no Estado do Maranhão. A partir desta sexta-feira (19) até domingo (21), o CT Vila Beach, na cidade de Santa Inês, recebe as disputas do Santa Inês Open de Beach Tennis, evento válido pela sétima etapa da competição estadual.
“Vai ser mais um grande evento da FBTM. O beach tennis é um esporte que tem crescido muito em nosso Estado. Nosso objetivo é que a modalidade tenha cada vez mais praticantes e, para isso, a FBTM tem se esforçado em levar o esporte para mais cidades maranhenses. Tanto que esta etapa será em Santa Inês, um local que abraçou o beach tennis. Nesta temporada, já realizamos eventos do Maranhense Oficial em São Luís, Imperatriz, Codó e Bacabal e, em agosto, vamos estar na bela cidade de Santo Amaro”, afirmou Menezes Júnior, presidente da FBTM.
Vale destacar que o Santa Inês Open de Beach Tennis valerá pontos para o ranking estadual da modalidade. É a partir dessa classificação que o Time Maranhão de Beach Tennis será formado para disputar o Campeonato Brasileiro Oficial de Beach Tennis entre os dias 20 e 24 de novembro na cidade de Vitória (ES).
Sucesso no Mandala Open
No último fim de semana, a Federação de Beach Tennis do Maranhão (FBTM) promoveu a sexta etapa do Campeonato Maranhense Oficial de Beach Tennis, que recebeu o nome de Mandala Open de Beach Tennis. A competição foi realizada na Arena Mandala, em São Luís, e distribuiu R$ 30 mil em premiação, sendo raquetes para os primeiros colocados das categorias D, C, B e A de gêneros (Masculino e Feminino).
Os campeões do Mandala Open nas disputas de duplas foram: Kaffca Kayra / Vítor Ferreira (Mista D), Tayanne Soares / Eduardo Filho (Mista C), Paty Monte / Thiago Perez (Mista B), José Hugo / Vítor Ferreira (Masculino D), Marcos Figueiredo / Mateuszin (Masculino C), Luís Vilena / Thiago Perez (Masculino B), Ari Filho / Joaquim Filho (Masculino 40+), Artur Lobão / Victor Vale (Masculino 30+), Camila Kananda / Gabriela Lopes (Feminino D), Raissa Catossi / Renata Moura (Feminino C), Paty Monte / Thaiany Pandolfo (Feminino B), Jerciane Costa / Nathalia Maluf (Feminino 40+), Andressa Coelho / Fernanda Heluy (Feminino 30+).
Outras informações sobre as etapas do Campeonato Maranhense Oficial de Beach Tennis estão disponíveis no Instagram oficial da Federação de Beach Tennis do Maranhão (@maranhaobeachtennis).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, nessa quarta-feira (17), o projeto de lei que prorroga os prazos para estudantes concluírem cursos de graduação ou programas de pós-graduação, como mestrado e doutorado, em caso do nascimento de filhos ou adoção legal de crianças. Pela nova lei, as instituições de educação superior deverão assegurar a continuidade do atendimento educacional e fazer os ajustes administrativos para prorrogar os prazos por, no mínimo, 180 dias. No caso de parentalidade atípica, a lei prevê a ampliação desse prazo. A medida abrange mães e pais.
"Chamamos esse projeto de Mães Cientistas, porque a gente sabe que, muitas mulheres, quando chegam numa determinada fase da vida, têm que decidir se seguem suas pesquisas acadêmicas ou se cuidam dos seus filhos. É uma vitória da ciência brasileira, da educação e das mulheres brasileiras", destacou a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), autora do projeto de lei na Câmara dos Deputados.
A prorrogação abrange a conclusão de disciplinas e dos trabalhos finais, como monografias, teses e dissertações, bem como o adiamento das sessões de defesa e a entrega de versões finais dos trabalhos ou realização de publicações exigidas pelos regulamentos das instituições de ensino.
Desafio
Em uma carreira competitiva, como a carreira acadêmica no Brasil, a constante cobrança por produtividade acaba expulsando as mães das universidades e da linha de frente da construção do conhecimento no país.
Segundo dados da Plataforma Sucupira, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a maioria dos estudantes de pós-graduação (54,54%) são mulheres. Mas os homens são a maioria entre os professores (57,46%), ou seja, são maioria entre os que conseguem chegar ao topo da carreira e assumir um cargo público como docente e pesquisador. As mulheres também são minoria entre os pesquisadores que recebem bolsa produtividade, concedidas no topo da carreira pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), representam 36%.
"As mulheres, quando optam por ser mães, são punidas na entrega de seus trabalhos acadêmicos e perdem pontuação", destacou a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. De acordo com a ministra, a pasta instituiu, recentemente, que a avaliação de produtividade do CNPq foi estendida por dois anos no caso da maternidade.
Presidente da Capes, Denise Pires de Carvalho saudou a sanção da lei, "que reconhece a maternidade, durante um período, que é, por si só, muito difícil na vida de qualquer um, que é o desenvolvimento de dissertações e teses". Segundo Carvalho, no último dia 12 de julho, a Capes retomou o funcionamento do Comitê Permanente sobre Equidade de Gênero. "Para que possamos discutir outras ações relacionadas ao papel da mulher na ciência brasileira e como avançar em políticas mais inclusivas".
Educação ambiental
Lula também sancionou o projeto que inclui o tema das mudanças do clima, proteção da biodiversidade e riscos e vulnerabilidades a desastres socioambientais na Política Nacional de Educação Ambiental.
"Sobretudo na questão ambiental, nós temos que ter muito cuidado com o livro didático, porque quem vai salvar o planeta não somos nós, é a juventude que vai ter que aprender na escola a importância da questão ambiental”, destacou o presidente, após assinar a sanção, que transforma o projeto em lei federal.
Segundo o governo, entre as principais diretrizes propostas, está o desenvolvimento de instrumentos e metodologias para garantir a eficácia das ações educadoras relacionadas às questões ambientais, às mudanças climáticas, desastres socioambientais e à perda de biodiversidade, além da inserção obrigatória desses temas nos projetos institucionais e pedagógicos das instituições de ensino da educação básica e superior.
Autor do projeto de lei, o deputado federal Luciano Ducci (PSB-PR) destacou que a inclusão dessas temáticas na Política Nacional de Educação Ambiental é uma forma de mobilizar a sociedade para um problema que ameaça a vida da humanidade. “É um projeto que, por incrível que pareça, é mais atual agora do que quando foi apresentado [há nove anos]. Tem a grande motivação de buscar uma transformação da sociedade através da educação”, afirmou.
Três militares do Exército armados chegaram à casa da professora de história Eulália Maria Lobo, no Rio de Janeiro, em uma noite de junho de 1969 e pediram para falar com ela. Eles não a conheciam e perguntaram se ela era a docente procurada.
“Não digo quem sou enquanto vocês não me disserem quem são. Vocês estão uniformizados, mas podem ter assaltado um quartel e roubado as fardas. Quero saber quem são vocês”. O relato foi publicado na Revista Estudos Históricos em 1992 e costuma ser relembrado por quem conviveu com a professora. Eulália nasceu há exatos 100 anos no Rio de Janeiro e morreu em 2011.
Entre as marcas de sua pesquisa, segundo estudiosos, uma visão para além dos números da história econômica. Ela era atenta às transformações pelas quais as pessoas passavam. Entre artigos, conferência e livros, a produção dela ultrapassa 150 textos e apresentações.
E essa característica dela teria sido forjada principalmente após a ditadura militar. Naquele episódio de 1969, segundo o relato de Eulália, havia um temor que ela falasse sobre a situação do Brasil com o governador de Nova Iorque Nelson Rockefeller, que representava o presidente dos EUA, Richard Nixon, em visita ao Brasil. Eulália indicou que ficou presa uma semana.
E saiu porque o marido dela, Bruno Lobo, conseguiu contato com um cunhado almirante da Marinha. Antes de ser liberada, ainda se posicionou: “O Exército que combateu a caça aos escravos, que proclamou a República, vem agora prender os cidadãos que não estão armados. O Exército, que tem tantas tradições gloriosas, está reduzido a isso?”, reclamou Eulália.
Revoluções
O professor de história Luiz Fernando Saraiva, da Universidade Federal Fluminense, defende que Eulália Lobo fazia parte de uma geração que estava revolucionando a produção historiográfica brasileira, com novas questões e temas sociais. “Isso incomodava. Existia uma posição política progressista dessas pessoas, mas também existia uma renovação dos estudos históricos que muitos professores antigos se sentiam ameaçados. Era uma professora progressista, na medida do possível, que apoiava pautas que a gente poderia dizer mais humanistas, mesmo não tendo uma militância contra o regime”, afirma.
Ela teria defendido a tese de doutorado entre 1946 e 1953 e há quem defenda que ela foi a primeira mulher doutora em história no país. Há divergências quanto a isso porque a professora Alice Canabrava relatou que foi doutora em 1942, conforme observa o professor Luiz Saraiva. Seja como for, segundo pesquisadores da obra dela, os estudos de Eulália são marcados por pioneirismo e olhares diferenciados.
Inclusive, nesta quarta, a Universidade Federal Fluminense realiza um evento para debater o legado da professora. Na oportunidade, vai ser lançada a segunda edição do livro “História do Rio de Janeiro”, em formato eletrônico e gratuito, publicado pela primeira vez no ano de 1978, que teve originalmente mais de mil páginas. O evento pode ser acompanhado pelo YouTube.
Olhar econômico e social para o Rio
A pesquisa realizada por Eulália foi possível por uma bolsa do Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais (Ibmec). “Foi uma das primeiras obras com uso da informática e tem conteúdo grande de anexos estatísticos, salários, preços, juros e indústrias no Brasil inteiro. Até hoje, é uma obra utilizada em larga escala pelos historiadores”, diz Saraiva.
Para a professora Fania Fridman, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pesquisa de Eulália Lobo é inspiração para ela desde que era estagiária do Ibmec. “Eulália foi uma desbravadora. Ela já vinha estudando o movimento operário. No livro sobre a história do Rio de Janeiro, ela coroa a trajetória dela. É um clássico”.
Isso porque, no entender da professora da UFRJ, Eulália faz uma análise do processo econômico e social da cidade do Rio de Janeiro com detalhismo e busca olhar para o operariado brasileiro. “Ela vai ver o quanto eles ganhavam, o nível de vida. Ela vai dizer quanto que esses operários pagavam de aluguel”.
Antigo aluno da professora Eulália Lobo, o professor Carlos Gabriel Guimarães, também da UFF, considera que ela foi uma das principais historiadoras do país. “As pesquisas que ela produziu foram fundamentais para a historiografia brasileira. Não é só a história econômica, mas também a do trabalho que ela deixou de legado para nós”.
Ele também considera que o grande legado dela está na obra sobre a história do Rio de Janeiro. “É bom lembrar que a cidade do Rio de Janeiro foi o primeiro centro industrial do Brasil. Isso é algo que as pessoas esquecem”. O professor Carlos Gabriel aponta que, em outra obra, sobre operários do Rio de Janeiro, é marca de sua trajetória. “Ela gostava de entrar nos arquivos e agregar pessoas. A história quantitativa pode ficar reduzida a números. Ela foi além”.
Um google
Os pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil entendem que o país produziu uma geração de historiadores entre os anos de 1940 e 1950 que revolucionaram o estudo da história do Brasil varreram arquivos, levantaram dados, em uma época sem televisão ou internet. “O livro dela era uma espécie de Google sobre o Rio de Janeiro”, diz Saraiva.
No caso de Eulália, ela apresenta estudos sobre história comparativa da administração portuguesa e espanhola e, depois, por força da cassação dela enquanto professora da Faculdade Nacional de Filosofia, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela foi para os Estados Unidos. “É como se fosse uma segunda vida dela”, avalia o professor Luiz Fernando Saraiva .
Eulália passou a olhar, segundo os pesquisadores, para a história econômica com maior viés social. Para o professor Carlos Gabriel, Eulália se preocupou com o salário de trabalhadores livres. Ela tinha um olhar novo sobre essa economia. “E no final da vida dela, ela estuda bastante a questão da migração portuguesa e, principalmente, dos operários no Rio de Janeiro”.
Os professores entendem que o pioneirismo dela como mulher encorajou outras pesquisadoras a seguirem caminhos na pesquisa. “Ela teve um papel muito importante para as mulheres na história. Por isso que eu acho precisa ser lembrada. Para mim, ela foi a primeira doutora em história no Brasil. E isso é muito importante”, defende Guimarães.
A professora Ismênia Martins, amiga de uma vida inteira de Eulália e docente emérita da Universidade Federal Fluminense, não pôde atender à Agência Brasil. Mas, em artigo para a mais recente edição da obra histórica sobre o Rio de Janeiro, lembrou que Eulália andava sem medo pela cidade que pesquisou e viveu.
Ismênia recorreu a uma citação da amiga: “Eu não sinto medo de sair no Rio de Janeiro, saio tarde, frequentemente vou sozinha a lugares que as pessoas acham perigosos”. Ela andava pela cidade que conhecia pelo que havia escrito e estava na palma das mãos.
A nostalgia das canções que marcam a trajetória musical do cantor e compositor James Pierre – paulista de nascimento e maranhense de coração – integram sua nova fase, que serão celebradas em grande estilo com o show “Tudo que eu queria cantar”, que será apresentado em sessão única no próximo dia 25 de julho, no palco do Teatro Sesc “Napoleão Ewerton” (localizado no Jardim Renascença), em São Luís, a partir das 20h.
De volta aos holofotes com seu espetáculo solo, James Pierre oferece ao público maranhense um evento inesquecível, que é composto por canções que moldaram sua trajetória artística e fonográfica, mas que raramente encontraram um público – além das novas músicas, até então guardadas nas gavetas do peito e que, finalmente, ganharão vida em 2024.
“A ideia do espetáculo surgiu por conta da última fase que tenho vivido. Eu prestei atenção [no que estava fazendo] e percebi que fazia um bom tempo que não dava atenção para as minhas músicas. (...) A última vez que apresentei um show autoral acho que foi em 2014. Basicamente, fazer esse show é poder novamente trazer as pessoas pra perto e mostrar as canções que eu tenho guardado e cantar tudo que eu queria cantar em todo esse tempo que eu fiquei parado na minha carreira solo”, destacou o artista.
As novas faixas, em questão, poderão ser conhecidas muito em breve pelos novos e já fãs do cantor: as músicas do espetáculo “Tudo que eu queria cantar” farão parte do primeiro álbum de estúdio de James Pierre e será lançado, posteriormentee, pelo selo Piauí Records/Sony Music.
O compositor acrescenta que, além das faixas do novo álbum, a apresentação também contará com outras faixas “perdidas” da sua jornada musical, como canções que fazem parte do documentário caseiro “Girassóis”, disponibilizado em 2019.
“Eu vou mostrar ao público de São Luís tanto essas canções do documentário, quanto colocar algumas canções do álbum que são realmente inéditas para quem acompanha minha trajetória”, ressaltou o artista.
Para James Pierre, o espetáculo é uma jornada pelo tempo, que apresenta todo o percurso de amadurecimento do artista – além de destacar sua parceria com amigos importantes, como os artistas musicais Carlos Ernane, Gabi Marques, Matheus Pinheiro e Rômulo Marques.
“As músicas em si carregam um tom esperançoso. Eu trabalhei a narrativa de alguém que começa se perguntando sobre o amor, se foi feito para ele e se vai viver esse amor algum dia. Ao fim, termina esperançoso por viver, entendendo que, enfim, tem tanto mais coisas na vida a se viver debaixo do Sol, e o amor se apresenta de muitas formas, surpreendentemente. Em resumo, são canções com questionamentos e esperanças em, digamos, tons melancólicos (risos)”, brinca o cantor sobre o tom do espetáculo e o que o público pode aguardar das faixas.
E acrescenta: “A proposta sonora do espetáculo é acolhedora, transformando o teatro em uma grande sala de estar: uma noite para se deixar sentir, totalmente envolvente e imperdível!”, destacou.
O espetáculo musical “Tudo que eu queria cantar” conta com duração de 60 minutos e classificação indicativa livre. Para retirada dos ingressos, basta acessar o site do Sesc-MA, no link: https://www.sescma.com.br/.
James Pierre
James Pierre é um cantor e compositor inserido no contexto musical pela família desde a infância. Levado por essa forte ligação com a música, timidamente começou suas apresentações nos púlpitos da igreja onde cresceu. Em 2009, foi convidado por Edimar Filho para interpretar algumas de suas canções. Daí, nasceu o EP “Música pra Dois”, com poucos recursos de gravação, mas com muito afeto e dedicação.
O encontro com Memel Nogueira (músico e produtor que já trabalhou com diversos artistas maranhenses, como Phill Veras, Marcos Lamy, Israel Costa, Regiane Araújo, entre outros) resultou no seu primeiro trabalho oficial, o EP homônimo "James Pierre" (2014). O álbum contém 5 faixas, sendo canções de sua autoria e de outros grandes amigos e parceiros.
O projeto “Gabi + James Duo”, ao lado de Gabriela Marques e Carlos Ernane, surgiu como uma proposta minimalista da banda onde se conheceram, a chamada "JazzEncontros", que soma participações em edições do Lençóis Jazz e Blues Festival, um dos festivais de música mais importantes do Maranhão.
Em 2020, lançou o single “Deixa”, em parceria com A Quarta Antena e foi um marco na trajetória de James Pierre: marcou um caminho para novas sonoridades a serem exploradas pelo artista, assim como o “Projeto Ys”, de 2023, feito em parceria com Carlos Ernane.
O espetáculo musical “Tudo que eu queria cantar”, do cantor e compositor James;
ONDE:
No Teatro Sesc “Napoleão Ewerton” (no Jardim Renascença, em São Luís);
QUANDO:
No dia 25 de julho, às 20h (sessão única), com duração de 60 minutos e classificação livre;
INGRESSOS:
Antecipados, no site do Sesc-MA: R$ 10 (público geral), R$ 8 (conveniado), R$ 5 (meia para estudantes) e R$ 2,50 (funcionários Fecomércio/Sesc/Senac). Acesso: https://www.sescma.com.br/.
O Maranhão no topo do pódio. O tenista maranhense Marco Nunes conquistou o título do Aberto Infantojuvenil Yacht Clube Paulista, um dos mais relevantes eventos de tênis do país na categoria Infantojuvenil, realizado em São Paulo, no último fim de semana. Promessa da nova geração do tênis maranhense, Marco Nunes – que tem apenas 14 anos – fez um torneio praticamente perfeito, mostrando evolução dentro de quadra para conseguir boas vitórias e garantir o título.
“Foi um torneio incrível. Venci todas as minhas três partidas e, graças a Deus, o título veio. Muito obrigado a todos que torcem por mim, me acompanham e apoiam. Agora, é focar nas próximas competições que vêm por aí”, disse o jovem tenista,
A participação de Marco Nunes no Aberto Infantojuvenil Yacht Clube Paulista marca o início de grandes disputas para ele no mês de julho. Em ascensão no cenário nacional do tênis, o tenista maranhense, que conta com o apoio da Hidrocenter, também está confirmado em outros eventos em São Paulo e em Minas Gerais, onde vai encarar os principais tenistas infantojuvenis do país.
Ao longo desta semana, Marco Nunes está na cidade de Uberlândia (MG). Por lá, o tenista maranhense disputa o Campeonato Brasileiro de Tênis. Ainda em julho, o jovem terá outros três desafios: Copa Play Tennis Infantojuvenil Morumbi (São Paulo), Robin Soderling Tennis Tour – Etapa 29 (Santo André) e Copa Play Tennis Infantojuvenil Granja Viana (São Paulo).
Últimos resultados
No mês passado, Marco Nunes foi um dos destaques da primeira edição do Hidrocenter Open de Tênis, evento realizado no Sports Village, em São Luís. O maranhense disputou o torneio em duas classes: na 2ª Classe, Marco chegou às semifinais e, na 1ª Classe – principal categoria do torneio –, o jovem obteve grandes vitórias, mas acabou sendo eliminado nas quartas de final.
O jovem tenista também representou o Maranhão na Copa Playtennis e nas etapas 20 e 21 do Circuito Robin Soderling, todos os eventos realizados em São Paulo, no mês de junho.
Calendário de competições em julho
- 15 a 20/7 – Campeonato Brasileiro de Tênis (Uberlândia-MG)
- 19 a 21/7 – Copa Play Tennis Infanto-Juvenil Morumbi (São Paulo-SP)
- 20 a 22/7 – Robin Soderling Tennis Tour – Etapa 29 (Santo André-SP)
- 26 a 28/7 – Copa Play Tennis Infanto-Juvenil Granja Viana (São Paulo-SP)
O Ministério da Educação (MEC) instituiu, com a publicação da Portaria nº 653, o Ensino Médio Mais, programa que pretende garantir apoio técnico e financeiro para escolas estaduais que ofereçam, pelo menos, uma turma de ensino médio noturno presencial.
A ideia é fomentar a elaboração de propostas pedagógicas que colaborem para a permanência dos estudantes na escola no período noturno. Segundo o MEC, serão investidos R$ 16,2 milhões em 2024 – valores que serão repassados por faixa de matrícula, via Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE).
Escolas com até 500 matrículas (faixa 1) receberão, cada uma, R$ 5.294,63. Já as com mais de 500 matrículas (faixa 2) receberão, cada unidade, R$ 7.941,55.
“Os recursos financeiros devem ser utilizados exclusivamente para despesas de custeio, como reuniões pedagógicas, encontros formativos, rodas de conversa com estudantes, visitas técnicas, grupos focais e eventos culturais com a comunidade escolar”, detalhou o ministério.
A expectativa é que a iniciativa resulte no apoio a mais de três mil escolas, impactando em mais de 379 mil alunos do ensino médio noturno presencial. O apoio será voltado principalmente às unidades localizadas em áreas com menores Índices de Nível Socioeconômico das Escolas de Educação Básica.
Adesão
A adesão é voluntária e pode ser feita por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). “Para participar do programa, secretarias de Educação e escolas elegíveis (equipe pedagógica e estudantes) devem elaborar propostas pedagógicas para melhorar seus índices de permanência e possibilitar trajetórias escolares exitosas para todos os alunos”, informou o MEC.
As propostas devem ser elaboradas levando em conta ações que assegurem o direito à aprendizagem dos estudantes; equidade no acesso e permanência com trajetórias escolares bem-sucedidas; estratégias de fortalecimento do regime de colaboração; e o aprimoramento da organização curricular e pedagógica, considerando os perfis, necessidades e expectativas dos estudantes do ensino médio noturno.
A iniciativa está alinhada com as diretrizes do Plano Nacional de Educação (PNE), especialmente com a meta de universalização do atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos.
O MEC acrescenta que, para execução da política, estão previstos dois webinários nacionais.
“O primeiro terá foco nas secretarias de Educação e escolas para a elaboração de propostas pedagógicas que contemplem as necessidades mapeadas por meio da escuta com os estudantes. Já o segundo será reservado para a apresentação, discussão e socialização das sugestões elaboradas pelas escolas. As propostas que demonstrarem, no decorrer do ano de 2025, melhorias quanto à permanência na escola e à trajetória exitosa dos estudantes do ensino médio noturno serão premiadas”.
Os banquinhos de plástico transformaram-se em poltronas para assistir à novidade. Não era um teatro, e o vento soprava na praça em que Maria Conceição Fabri, de 73 anos, trabalha todos os dias vendendo água de coco.
Diante do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, na histórica Congonhas (MG), a 80 quilômetros de Belo Horizonte, Conceição ficou encantada ao assistir a um espetáculo de ópera pela primeira vez na vida.
O espetáculo Devoção encenava, ao ar livre, na noite do último sábado (13), a saga do português Feliciano Mendes que, em pagamento a uma promessa, construiu a igreja com a venda de ouro e doações que conseguiu na cidade.
Maria Conceição e Maria Cristina
Em cena, nessa pré-estreia, os artistas contracenavam com os 12 profetas esculpidos em pedra-sabão por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, no lugar que é patrimônio cultural da humanidade. Emocionada com o espetáculo, Conceição não descuidava do seu ouro de todo dia: “Oi, família! Bora comprar água de coco?”.
“A gente sabe a história daqui da igreja e do Feliciano Mendes, mas, desse jeito, fica até mais bonito”, diz a comerciante, que já foi doméstica, cozinheira e se aposentou.
Ao lado dela, a aposentada Maria Cristina Assis, de 77, também ficou emocionada porque se lembrou da própria história, ao pagar promessas para ter saúde. Ouviu do tenor: “foi uma longa jornada…” e reagiu: “foi mesmo. A minha jornada, também”. “Que vozeirão o dele. Essas luzes ficam tão bem! Como ele lembra dessa música tão longa? É a nossa história”.
Coro
Maria Cristina sonhou em ser professora, mas precisou parar o curso de magistério. Precisava cuidar da família. “Tive 21 filhos, mas perdi oito. Já paguei promessa para melhorar de saúde. Casei nova, mas nunca fui feliz no casamento. Nunca tive tempo de sonhar nada”.
Ela não teve “qualquer ouro” para pagar a promessa, vive da aposentadoria por invalidez e reza todos os dias no santuário que era o cenário da ópera. “Vivo com uma filha que é mãe solteira e penso como ajudar 12 netos e seis bisnetos. Tenho vários problemas de saúde e sempre recorro ao Bom Jesus”.
Ela lembra que a mãe dela também orava por saúde. “O que nós temos para doar é a fé. A única coisa que a gente tinha era minhas roupas”.
A aposentada Maria Cristina recorre ao Bom Jesus como um dia pediu socorro o português Feliciano Mendes, nascido em 1726, tema da ópera que os congonhenses assistiram no último sábado.
Segundo a biografia publicada pelo escritor e pesquisador mineiro Domingos da Costa, o homem tinha formação de pedreiro e era filho de família humilde no Povoado de Santa Maria de Gêmeos, no norte português.
Ao ter conhecimento do ouro que havia do outro lado do Atlântico, o rapaz conseguiu chegar ao Rio de Janeiro e, depois, em Minas Gerais. “A atividade no garimpo deixou ele gravemente enfermo. Foi quando resolveu fazer a promessa ao Bom Jesus de Matosinhos de construir a igreja”, disse o escritor
à Agência Brasil.
Primeiro ato
A obra de Domingos da Costa, Congonhas: da fé de Feliciano à genialidade de Aleijadinho, inspirou os autores da ópera, como o músico André Cardoso, que assina o libreto (texto explicativo do espetáculo). Para ele, a ópera deve ser popularizada e encenada a todos os públicos.
“Não deve haver estigmas em relação à ópera. Sempre que aberta ao povo, há encenações lotadas. Oferecer ópera à população é uma escolha que se faz. É uma honra contar a história deles para a cidade, uma história de sacrifícios em prol da devoção”.
Cardoso explica que, junto a personagens reais, a encenação também criou personagens fictícios para facilitar a dramaturgia e preencher as lacunas.
O compositor do espetáculo, João Guilherme Ripper, salienta que a ideia não era fazer um documentário sobre Feliciano, mas encenar uma ficção histórica. “Não é a devoção apenas cristã, mas a devoção mineira no seu sentido mais amplo e sincrético”.
Inclusive, há uma variação de ritmos ao término do espetáculo com o uso de tambores. Ripper explica que seu método de composição inclui imaginar as cenas na hora em que são escritas. Assim, pensou que seria um espetáculo que seria montado ao ar livre e também no teatro.
Para o diretor musical Ronaldo Zero a música é capaz de comover em todos os lugares. “É uma história muito abrangente, que fala dessa devoção desse homem sonhador, que enfrentou dificuldades. A música é acessível e tem que estar em todos os lugares”, afirmou.
O espetáculo vai ser encenado nesta semana, em ambiente fechado, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, de 19 a 23 de julho. Mas a entrada, nesse cenário, não será gratuita. Os ingressos custam a partir de R$ 30. No espetáculo, estão envolvidos, aproximadamente, 200 artistas e 400 técnicos, além de movimentar 230 figurinos e 500 adereços.
Além da ópera, para quem quer saber mais sobre a história de Feliciano Mendes e não tiver acesso ao espetáculo, pode visitar o Museu de Congonhas, que foi inaugurado há nove anos. O presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis, que é instituição responsável pela realização da ópera, entende que o maior desafio das atividades culturais é garantir a multiplicação das informações sobre a cidade.
“Das mais velhas às mais novas, as pessoas passam a ter orgulho do lugar em que vivem e ficam interessadas em preservar e se manter na cidade”.
Segundo ato
O santuário tem levado as crianças da região a conhecer mais sobre a história do lugar e também sobre Aleijadinho que, no começo do século XIX, esculpiu, em pedra-sabão, os 12 profetas que estão na frente da igreja. Feliciano Mendes havia morrido quatro décadas antes.
A história de Feliciano Mendes era pouco conhecida, inclusive entre a população de Congonhas – cerca de 52 mil habitantes. “Ele adoeceu, fez a promessa e obteve a cura. Ele fixou a cruz no alto do Morro do Maranhão, no ano de 1757”, afirma o biógrafo Domingos da Costa.
Ele explica que a igreja demorou um século para ficar na forma como está hoje. Nem Feliciano nem Aleijadinho viram o santuário pronto. “Quando Feliciano faleceu, em 1765, faltava construir as duas torres”.
Toda essa história impressionou a maestrina do espetáculo, Ligia Amadio. “É muito diferente fazer [encenar] em ambiente fechado. Mas achei muito emocionante encenar no local em que os fatos ocorreram”.
O secretário de Cultura de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, conta que a montagem custou R$ 3 milhões e que pretende levar o espetáculo inclusive para Portugal. Por reunir música, teatro e dança, a ópera é uma das manifestações mais completas. “A próxima que queremos fazer será sobre o sertão mineiro”.
Vozes
A dupla de protagonistas, o tenor mineiro Matheus Pompeu, que interpreta Feliciano Mendes, e a soprano portuguesa Carla Caramujo, que faz Mercês, uma esposa criada para a ficção, estavam emocionados. “Muito bom voltar para contar a nossa história”, disse o artista. “Eu fiquei tocada porque fala sobre um compatriota e seus sonhos”, disse a cantora.
Lúcia dos Santos
O vozeirão de ambos tocou fundo a plateia, inclusive a comerciante Lúcia dos Santos, de 66 anos, que vendia broa de milho e o cubu, uma iguaria típica da região feita com fubá. Enquanto atraía os clientes, batia palmas a cada cena completa. “Eles não vão me ouvir daqui, mas fiquei feliz”.
Os pais dela também foram para Congonhas para trabalhar nas empresas de minério. “Foi um pouco como a história do Feliciano Mendes”. Ela, que já trabalhou como cuidadora, hoje está devotada à culinárias, ou às quitandas, como prefere dizer. “Quando as pessoas conhecem nosso lugar ficam mais interessadas em cuidar e nos visitar, né? Não vou me esquecer o dia que vi uma ópera”.
Serviço
Ópera Devoção, em Belo Horizonte Data: 19 a 23 de julho, às 20h Local: Grande Teatro Cemig Palácio das Artes Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia) Informações aqui