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Kitesurfista número 1 do Brasil, o maranhense Bruno Lobo, que é patrocinado pelo Grupo Audiolar e pelo governo do Estado por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, além de contar com os patrocínios do Bolsa-Atleta e da Revista Kitley, participou da Semana Olímpica Francesa, entre os dias 22 e 29 de abril, em Hyères, na França. Em fase de preparação para a disputa da tão sonhada vaga nos Jogos Olímpicos, Bruno teve algumas dificuldades nas regatas na Semana Olímpica e não conseguiu avançar para a fase final da competição em águas francesas, mas valorizou o aprendizado para a sequência da temporada.

Logo nos primeiros dias da Semana Olímpica Francesa, Bruno Lobo teve que lidar com fortes ventos em Hyères, que atrapalharam o seu desempenho e fizeram com que o número de regatas da competição fosse reduzido. Além disso, o kitesurfista maranhense se feriu e teve o equipamento danificado após outro competidor se jogar em sua direção durante uma regata. Bruno ainda garantiu uma vitória e uma terceira colocação nas regatas seguintes da Semana Olímpica, entretanto, esses resultados não foram suficientes para avançar à flotilha de ouro, que reuniu os 25 atletas de melhor campanha no evento.

“Foi uma competição com alguns dias complicados, de poucas regatas por causa das rajadas fortes de vento. No meio dessa condição extrema, ainda tive esse acidente nos primeiros dias, as linhas feriram meu rosto, poderia ter sido muito mais grave, mas, graças a Deus, tive esse livramento. Isso me prejudicou muito durante a competição, não pude me classificar para a flotilha de ouro, mas faz parte, segue o aprendizado, dias ruins também fazem parte do nosso esporte e de qualquer atleta. Agora, é voltar para casa, continuar treinando e pensar na próxima competição. Vou voltar com tudo e fazer uma boa preparação para representar o Maranhão e o Brasil da melhor forma possível”, afirmou Bruno Lobo, que terá pela frente o Evento Teste dos Jogos Olímpicos entre os dias 7 e 16 de julho, em Marselha, na França.

Foco em Paris 2024

Antes da Semana Olímpica Francesa, Bruno Lobo teve um grande desempenho na 52ª edição do Troféu Princesa Sofia, um dos eventos mais tradicionais da vela, que foi realizado entre os dias 4 e 8 de abril, em Palma de Mallorca, na Espanha. O atleta maranhense foi o melhor kitesurfista das Américas, ficou em sétimo lugar entre os países e também garantiu a 11ª posição na classificação geral da competição, que contou com a participação dos 115 melhores kitesurfistas do mundo.

A temporada de 2023 é a mais importante da carreira de Bruno Lobo, que terá duas oportunidades para carimbar a vaga nos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, na França. O primeiro seletivo olímpico para o kitesurfista número 1 do Brasil será o Campeonato Mundial de Vela, entre os dias 10 e 20 de agosto, na cidade de Haia, na Holanda.

Depois do Campeonato Mundial, Bruno Lobo ainda terá outro evento classificatório para os Jogos Olímpicos pela frente. Entre os dias 25 de outubro e 5 de novembro, o kitesurfista maranhense vai competir nos Jogos Pan-Americanos, em Santiago, no Chile. O Pan traz ótimas recordações para Bruno, que teve um desempenho histórico e faturou a medalha de ouro na competição de 2019, em Lima, no Peru.

Conquistas em 2022

Antes de se destacar no Troféu Princesa Sofia, Bruno Lobo fez história em duas competições disputadas em novembro, em São Luís. O kitesurfista maranhense faturou pela terceira vez o Campeonato Pan-Americano de Fórmula Kite e garantiu o sexto título brasileiro de Fórmula Kite, mostrando mais uma vez porque é um dos principais nomes da modalidade no continente.

Também em 2022, Bruno Lobo foi campeão da Copa Brasil de Vela, que foi válida como segunda etapa do Campeonato Brasileiro de Fórmula Kite e disputada em Ilhabela-SP, com vitórias em todas as 13 regatas da competição, garantiu a 18ª colocação e foi o melhor das Américas no Mundial de Fórmula Kite, em Cagliari, na Itália, ficou com a nona colocação no Circuito Europeu, realizado entre setembro e outubro, em Lepanto, na Grécia, faturou o título da categoria Hydrofoil na Copa Brasil de Vela de Praia, com vitórias nas 10 regatas da competição disputada no mês de agosto, em Fortaleza, e conquistou a sétima posição no Circuito Mundial de Kitesurf, que ocorreu no fim de julho, em Gizzeria, na Itália.

No primeiro semestre de 2022, Bruno Lobo ficou em sétimo lugar na disputa da Fórmula Kite na Copa do Mundo de Vela, que ocorreu em junho, na Holanda, e sagrou-se campeão da etapa do Campeonato Espanhol na cidade de Palamós, vencendo 10 das 12 regatas disputadas. O maranhense também garantiu a quarta colocação no Campeonato Asiático de Kitesurf na Tailândia e acabou ficando no Top 20 na disputa da Semana Olímpica Francesa em Hyères, na França.

Referência no Brasil e nas Américas

Nos últimos anos, o maranhense Bruno Lobo tornou-se a principal referência no kitesurf tanto no Brasil quanto nas Américas. Hexacampeão brasileiro de Hydrofoil, o atleta é dono de uma vasta coleção de títulos: foi campeão dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, tricampeão das Américas (2020-2021-2022), octacampeão maranhense, entre outros.

“Só tenho a agradecer aos patrocínios do Grupo Audiolar, do governo do Estado, do Bolsa-Atleta federal e da Revista Kitley por estarem ao meu lado nesse sonho de representar o Maranhão e o Brasil nas Olimpíadas de Paris. A cada competição, buscamos evoluir para conquistar a vaga olímpica. Muito obrigado pelo apoio e incentivo”, concluiu Bruno Lobo.

(Fonte: Assessoria de imprensa)

Mostrando mais uma vez porque é uma das maiores revelações do esporte do Maranhão, a nadadora Sofia Duailibe teve um desempenho histórico na Copa Norte de Natação / Troféu Leônidas Marques, que foi realizada entre quinta-feira (27) e domingo (30), em São Luís. A jovem atleta da DM Aquatic, que conta com os patrocínios do governo do Estado e da Potiguar por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, conquistou 10 medalhas na categoria Infantil I, durante a competição regional, sendo cinco de ouro, quatro de prata e uma de bronze.

Sofia Duailibe iniciou a sua participação na Copa Norte de Natação com nove medalhas em três dias de provas na piscina da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal no Maranhão (Apcef). A jovem atleta foi medalha de ouro nas disputas dos 200m costas, 400m livre, 800m livre e 1.500m livre, ficou com a prata nos 50m costas, 100m costas, 200m livre e 200m medley e, ainda, garantiu um bronze no revezamento 4x50m livre misto. Já no domingo (30), Sofia foi a campeã da categoria Infantil I na prova de 2,5km (águas abertas), realizada no Espigão Costeiro.

Bons resultados

Antes de brilhar na Copa Norte, Sofia Duailibe colecionou resultados expressivos em etapas da Copa Brasil de Águas Abertas, competição organizada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Na etapa de Porto Seguro, realizada entre os dias 14 e 16 de abril, a atleta da DM Aquatic garantiu dois títulos da categoria Infantil 1 e um vice-campeonato geral com ótimos desempenhos nas provas dos 2,5km e 5km.

Em março, Sofia Duailibe sagrou-se campeã geral feminino na prova de 1,5km e ficou com o vice-campeonato geral feminino nos 2,5km da etapa de Porto Alegre (RS) da Copa Brasil, além de faturar os títulos das categorias Geral e Infantil 1 nas provas de 1,5km e 2,5km da etapa de Petrolina (PE).

Os troféus conquistados nas três etapas da Copa Brasil em 2023 reforçam o excelente momento de Sofia Duailibe no cenário nacional da natação. No ano passado, ao disputar a etapa de Brasília da Copa Brasil de Águas Abertas, Sofia foi campeã da categoria Petiz 2 nas provas dos 1,5km e 2,5km e ficou na terceira posição da categoria Geral nos 1,5km.

A nadadora Sofia Duailibe é patrocinada pelo governo do Estado e pela Potiguar, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte. Ela ainda conta com os apoios da DM Aquatic e do Colégio Literato.

(Fonte: Assessoria de imprensa)

A Festa Literária das Periferias (Flup) anunciou a programação da edição deste ano, que ocorre no dia 13 de maio. A data foi escolhida por ser o dia de abolição da escravidão no Brasil, o dia dos pretos e pretas-velhas na Umbanda e o dia do nascimento do escritor Lima Barreto. Esse último é um dos destaques do evento por ser a inspiração do livro Quilombo do Lima, que reúne contos de 22 autores negros, e vai ser lançado na ocasião.

A programação da Flup 23, no dia 13, terá concentração na Ladeira do Livramento, região da Providência, considerada berço da favela, do samba, da literatura e das culturas afro-brasileiras no geral. É, também, o local de nascimento de Machado de Assis. Na edição deste ano, ele é homenageado ao lado da Mãe Beata de Iemanjá com o tema Mundo da palavra, palavra do mundo. Os organizadores explicam que “mundo da palavra” é uma referência ao fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL) e um dos maiores escritores do país. E que “palavra do mundo” lembra da Iyalorixá, escritora que, além dos terreiros de Candomblé, atuou na luta pelos direitos humanos, com foco nas questões raciais, de gênero e LGBTQIA+.

“Vamos fazer esta celebração para evocar os pretos e pretas-velhas ancestrais, pedindo licença para incluir Lima e Machado, e festejar também os mais velhos e mais velhas que com sua obra e genialidade continuam hoje a nos ensinar o que é o Brasil”, destaca Julio Ludemir, diretor-fundador da Flup.

“Com Mãe Beata, a Flup quer chamar atenção para a força da cultura oral afro-brasileira, que se desdobra em outras escritas e literaturas e chega até aos slams, a poesia falada. Com Mãe Beata, queremos dar a importância devida ao modo como iyalorixás e babalorixás passam conhecimento e sabedoria para seus filhos e filhas”, explica Daniele Salles, porta-voz da Flup.

Música e debates

A lista completa de eventos do dia inclui, ainda, cortejos carnavalescos, atividades infantis, feijoada, mesa de debate, homenagem à Mãe Beata de Iemanjá e show de Leci Brandão. A programação começa às 10h, na Praça do Cais do Valongo, com o Afoxé Filhos de Gandhy. Às 11h, o Bloco Prata Preta segue do local até a Ladeira do Livramento, parando na Arena Samol. Lá, haverá a apresentação de Axé da sacerdotisa do Candomblé Mãe Glória, com lavagem das escadarias. Ao meio-dia, é hora da feijoada dedicada aos pretos e pretas-velhas. 

Uma mesa de debates especial às 17h vai reunir o músico e escritor Gilberto Gil, eleito em 2022, para a ABL, e o sambista e escritor Haroldo Costa, com mediação da escritora Eliana Alves Cruz. Às 19h, é o momento do samba de roda, com Dona Zélia do Prato, uma das mestras sambadeiras do Recôncavo Baiano. A escola de samba Vizinha Faladeira, campeã do Carnaval do Grupo B da Liga Independente Verdadeiras Raízes das Escolas de Samba (Livres), se apresenta em seguida. Para fechar o dia de espetáculos, Leci Brandão comanda um show às 21h. 

Programação infantil

A Flup também tem uma programação para as crianças. No dia 13 de maio, às 10h, ocorre o Cortejo de Leitura na Ladeira do Livramento. A atividade é comandada pelas Pretinhas Leitoras, Duda e Helena Ferreira, com a participação de um grupo de 13 autoras negras de livros infantis. Elas vão ler as próprias histórias. A ciranda de histórias homenageia o escritor Machado de Assis, que vai emprestar o nome a uma nova Sala de Leitura na Arena Samol.

As Pretinhas Leitoras, Duda e Helena, entrevistam, às 12h15, o escritor Henrique Rodrigues, autor do livro infantil “Machado de Assis menino”. A história fala do garoto que sonhava frequentar uma biblioteca escolar no Morro do Livramento. Das 15h às 19h, as crianças vão poder aproveitar um parque de brinquedos infláveis na Rua do Monte. E a partir das 18h30, Elis MC estará à frente do Bailinho dos Crespinhos, com hiphop, passinho e coreografias. 

(Fonte: Agência Brasil)

Depois de um intervalo de três anos, em razão da pandemia de covid-19, a 20ª Mostra do Filme Livre (MFL 2023), considerada a maior de cinema independente do Brasil, retorna à capital fluminense em setembro, com premiações de R$ 10 mil em dinheiro para os melhores filmes. As inscrições estão abertas e podem ser feitas até 31 de maio pelo site da mostra.

Até a última segunda-feira (24), 820 filmes já haviam sido inscritos. A perspectiva é que o número de inscrições passe de mil, disse o idealizador do evento, Guilherme Whitaker. Na sessão Mundo Livre, podem se inscrever filmes feitos por brasileiros no exterior e estrangeiros rodados no Brasil.

A mostra tem característica singular, destacou Whitaker. “É a única no Brasil que aceita filmes de todos os gêneros, formatos, durações e época. Ou seja, qualquer filme, feito há dez, 15 anos, de qualquer gênero, qualquer duração (curta, média ou longa-metragem) é bem-vindo. O normal é que os festivais aceitem filmes de dois anos, no máximo, filmes recentes. A gente não tem essa restrição de idade”, garantiu o idealizador.

Depois que se encerrarem as inscrições, será feita uma seleção para definir os trabalhos que participarão da mostra competitiva. Em média, anualmente, são selecionados 15% dos filmes inscritos. Ao todo, incluindo os filmes convidados e os classificados como fora de competição, serão exibidos, no festival, cerca de 200 películas. Somente os filmes da mostra competitiva concorrerão aos prêmios em dinheiro para exibições presencial e on-line.

Características

A originalidade é uma das principais características que os filmes inscritos devem mostrar. “O filme ser original é uma das características fundamentais para que ele chame a atenção a ponto de motivar a curadoria a indicá-lo para a premiação”. Whitaker disse que interessa também que o filme fuja do lugar-comum, não repita o que já está acontecendo. O filme candidato pode até ter uma narrativa convencional, mas o tema tratado deve ter alguma nuance, como som, edição, música, interpretação, entre outros elementos, que busquem trazer questões para serem desenvolvidas. “Ao assistir a esses filmes para a seleção, a gente tenta prestar atenção nessa potência que seria ser original, em consonância com temas importantes de serem trazidos à tona”.

Whitaker argumentou que não necessariamente os filmes candidatos precisam ter a melhor câmera ou o melhor equipamento. Mesmo improvisando, com a ajuda de amigos, o cineasta pode conseguir se expressar visualmente. “Mesmo sem dinheiro, sem patrocínio, se ali tiver, na nossa visão, um teor, uma vontade, uma busca até com defeitos, não tem problema. Isso desde que a obra em si seja mais impactante e superior a qualquer erro técnico ou falta de uma boa câmera. Acreditamos que temos feito um bom trabalho nos últimos anos nessa identificação do material que chega do Brasil inteiro. Em geral, são filmes mais caseiros que conseguem, mesmo com dificuldade de recursos, se expressar audiovisualmente de uma forma que quebre o esperado”.

Apoio

A realização da MFL 2023 está garantida graças ao apoio da Riofilme, empresa pública municipal cuja missão é promover o desenvolvimento da indústria audiovisual carioca. Concorrem à sede da mostra o Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB RJ), o Museu de Arte Moderna (MAM) e o Espaço Cavi. Guilherme Whitaker informou que está buscando, por outro lado, parcerias que viabilizem fazer a MFL também em São Paulo e Brasília, com versão completa ou resumida.

A edição será dedicada a quatro cineastas falecidos recentemente: Maurice Capovilla, Nilson Primitivo, Clóvis Molinari e Ely Marques, todos participantes de várias edições da mostra, quando exibiram seus filmes e participaram de debates ou apresentaram sessões.

A MFL é uma realização da WSET Multimídia desde sua primeira edição, em 2002, no Rio de Janeiro. O evento ocorreu também em outros Estados, além de Lima, no Peru, em 2014, e Boston, nos Estados Unidos, em 2018.

(Fonte: Agência Brasil)

As inscrições para o programa gratuito Práticas e Técnicas para as Artes Cênicas (PTAC), do Instituto do Teatro Brasileiro (ITB), para as cidades de São Luís (MA), Paracatu (MG), Ribeirão Preto (SP) e Florianópolis (SC) foram abertas nesta segunda-feira (1º).

O programa viabiliza, por meio de cursos gratuitos, a formação nas áreas de técnico de som, de luz, de palco e de produção cultural. A escolha das formações foi feita após mapeamento de grupos, instituições e artistas, com objetivo de valorização da cultura local. As inscrições podem ser feitas pela internet até o próximo dia 18.

O projeto teve início em 2022 atingindo três cidades: Ipatinga (MG), São Paulo (SP) e Petrolina (PE) e, agora, atende um total de sete municípios: Paracatu (MG), Taubaté (SP), Ribeirão Preto (SP), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), São Luis (MA) e Florianópolis (SC). As inscrições para as outras praças serão realizadas em junho. As aulas para as quatro primeiras cidades ocorrerão em junho e, em julho, para as outras três, informou, na última quinta-feira (27), o coordenador pedagógico do ITB, André Prado.

“Essa formação de estudo tem, aproximadamente, três meses, com um mês adicional, que é um período de estágio supervisionado”. O ciclo completo, desde a seleção dos candidatos até a finalização do curso, com entrega do certificado, dura seis meses. Aí, o aluno já tem condições de obter o registro profissional. “Aqueles que obtiverem 80% de aproveitamento no curso e 80% de frequência estão aptos”, disse Prado.

Critérios

Podem participar do processo candidatos que possuam ensino médio completo e tenham mais de 18 anos. “Exatamente por conta dessa questão do registro profissional, precisam ser maiores de idade e ter o ensino médio completo”. O projeto quer atrair especialmente jovens de baixa renda que terminaram o ensino médio e querem entrar no mercado com capacitação técnica. Atende também artistas e técnicos que desejam se reciclar ou possuir uma nova formação e ter contato com professores de referência, além do registro profissional.

Segundo o coordenador pedagógico, 40% dos alunos saíram do curso com emprego, alguns dos quais com carteira assinada em produtoras, teatros e empresas.

O PACT surgiu a partir de uma percepção do ITB sobre a carência de formação qualificada nas áreas técnicas e de produção em artes cênicas, em contraponto a um mercado de trabalho com boa capacidade de absorção de mão de obra. “A gente percebe que o mercado está carente. A questão da pandemia fez com que muitos profissionais migrassem de profissão. E a carência de formação é grande”, disse Prado.

Para este ano, a expectativa do ITB é ter, pelo menos, o dobro de inscritos para as vagas, que atingem 80 para cada uma das sete cidades. “Estamos esperando, pelo menos, 160 inscritos por cidade”. Em 2022, foram ofertadas 240 vagas, com cerca de mil inscrições.

André Prado salientou que o processo seletivo não é de aptidão, mas para entender se o aluno pretende concluir o curso ou se fez a inscrição por apenas curiosidade.

Aulas híbridas

As aulas para as primeiras quatro cidades serão dadas de forma híbrida (presencial e on-line), entre 6 de junho e 18 de agosto de 2023, com práticas em equipamentos das instituições parceiras em cada cidade. Algumas aulas serão simultâneas entre todas as cidades para promover um intercâmbio de aprendizado e vivência entre os alunos. Para o segundo bloco de cidades, as aulas se estenderão de 11 de julho a 20 de outubro.

(Fonte: Agência Brasil)

A primeira obra da exposição Aqui é o fim do mundo, no Museu de Arte do Rio, lembra uma pintura clássica do século XIX sobre a fundação da cidade. Mas os personagens que participavam da cerimônia católica foram deletados da cena original, criada por Antônio Firmino Monteiro. No lugar deles, um adesivo do Canarinho Pistola, símbolos de Exu e a constelação do Cruzeiro do Sul formada por meio de tiros de espingarda. A releitura de Jaime Lauriano está entre as mais de 40 obras da mostra que estreou semana passada e celebra os 15 anos de carreira do artista.

Em comum, elas propõem repensar a história oficial do Brasil e evidenciar os processos de violência. Construir narrativas alternativas do passado é uma das marcas do trabalho de Lauriano.

De acordo com o curador da exposição, Marcelo Campos, o artista subverte as imagens oficiais, mancha pinturas e derruba monumentos. Ganham mais visibilidade os grupos sociais subalternizados, principalmente afrodescendentes e povos originários do Brasil. E, assim, as próprias instituições culturais que recebem as obras elaboram uma autocrítica.

“Os museus e as curadorias estão incluídos nesse processo de culto às imagens coloniais sem o mínimo de reflexão sobre o quê e quem está sendo retratado ali. Nesses 15 anos de trabalho, o Jaime nos ensina a lidar com isso. É muito difícil para uma coleção e para um museu no Brasil trazer na sua sala principal imagens de crueldade. E quando você tem o artista fazendo isso, o museu cumpre a função social de contar histórias e contradições”, explica o curador da exposição.

Além da já citada Invasão da cidade do Rio de Janeiro, outras três obras foram criadas especialmente para a exposição no MAR e dialogam com momentos distintos de opressão social, a colonização, a ditadura militar e ameaças à democracia nos dias atuais.

A primeira é a instalação Afirmação do valor do homem brasileiro, criada a partir de uma frase escrita pelo general Emílio Garrastazu Médici para comemorar o título da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1970. Um painel traz recortes de jornais e de propagandas da época da ditadura. Por cima delas, é colocado um símbolo de Exu, orixá da Umbanda e do Candomblé. A marca é usada de forma recorrente pelo artista em outras obras.

“As imagens constroem narrativas e, por isso, são políticas por excelência. Eu sempre tento ressignificar esses símbolos com materiais de fontes primárias, sem usar reproduções. É o caso do tridente de Exu. É uma entidade que cria o vazio. E sem vazio, não tem como ter espaço. Então, quando eu coloco o tridente de Exu sobre as imagens históricas de violência, não é para fazer um apagamento da história, mas esvaziar essa história violenta e colonial, para que a gente consiga construir outras possibilidades de história”, explica o artista Jaime Lauriano.

No vídeo Justiça e barbárie #2, Jaime aborda a invasão de Brasília em 8 de janeiro de 2023 por adeptos da extrema-direita. O artista cria uma composição audiovisual com imagens de matérias de jornal e de grupos bolsonaristas do WhatsApp. Elas são mixadas com legendas, que, por sua vez, trazem textos e comentários retirados de interações desses grupos nas redes sociais. Com isso, evidencia os discursos de ódio e propõe uma reflexão sobre o futuro da democracia no país.

Já a pintura Na Bahia é São Jorge no Rio, São Sebastião parte de uma obra de Heitor dos Prazeres sobre a região da Pequena África, no Rio de Janeiro, e acrescenta um panteão em homenagem a 14 orixás. São representações de um plano transcendental que ajuda a destruir imagens de poder e de dominação que atuam sobre a vida das populações negra e periférica.

Outros trabalhos inéditos para o público são E se o apedrejado fosse você? #3 (2021), um mapa antigo da América desenhado com pemba branca (giz usado em rituais de umbanda) e lápis dermatográfico sobre algodão; e o conjunto das três obras Bandeirantes #1 (2019), Bandeirantes #2 (2019) e Bandeirantes #3 (2022). São miniaturas de 20 centímetros de monumentos dos bandeirantes, fundidas em latão e cartuchos de projéteis utilizadas pela Polícia Militar e pelas Forças Armadas, sobre base de taipa de pilão.

Parceria

O Museu de Arte do Rio e Jaime Lauriano tem uma história antiga de parcerias. Entre 2014 e 2022, o artista participou de oito exposições no museu. Uma das obras, de seis anos atrás, permanece até hoje na entrada do MAR. É a instalação A história do negro é uma felicidade guerreira, um calçamento de pedras portuguesas, gravadas com nomes das doze regiões da África de onde saíram as pessoas escravizadas para o Brasil. Por isso, um evento de celebração da trajetória do artista não faria sentido em outro lugar que não fosse o MAR.

“Uma pessoa preta completar 15 anos de carreira no Brasil é uma vitória não só minha, mas da sociedade. Isso, infelizmente, não é uma regra, ainda é uma exceção. Então, é preciso comemorar. Meu trabalho pensa o Brasil através da minha existência enquanto homem negro e periférico. As reflexões partem desse lugar, de como essa vitória é coletiva, e como para mim é muito necessário pensar o Brasil a partir do meu próprio corpo, subjetividade, identidade e fazer com que isso reverbere em outras identidades, em outras subjetividades, em outras particularidades”, disse o artista.

Serviço:

Exposição: Jaime Lauriano – Aqui é o fim do mundo

Onde: Museu de Arte do Rio, segundo andar

Abertura: 28 de abril de 2023

Encerramento: 1 º de outubro de 2023

Curadoria: Marcelo Campos e Amanda Bonan

Localização: Praça Mauá, Centro, Rio de Janeiro (RJ)

Bilheteria: funciona de quinta-feira a domingo das 10h30 às 17h, sendo possível permanecer no Pavilhão de Exposições até às 18h

Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

(Fonte: Agência Brasil)

Com objetivos de incentivar o hábito da leitura no país, ampliar o número de bibliotecas e facilitar o acesso da população aos livros, o Plano Nacional do Livro e Leitura será reestruturado.

“Vamos implementar, mais uma vez, o Plano Nacional do Livro e Leitura, no sentido de fazer com que o Brasil se torne uma sociedade leitora”, disse o diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura, Jéferson Assumção, em entrevista ao programa Brasil em Pauta, que vai ao ar neste domingo (30), na TV Brasil.

Criado em 2006, a reestruturação do plano terá a participação do governo e da sociedade, de acordo com o diretor, envolvendo os ministérios da Cultura e da Educação, além de leitores, editores, escritores, livreiros e a cadeia produtiva e distributiva do livro. “Este ano, vamos reorganizar a base dessa participação e reestruturar o plano para os próximos dez anos”, disse Jéferson Assumção.

Cinco princípios nortearão o plano de 2023 a 2033. O primeiro é fazer com que o livro esteja mais presente no cotidiano das pessoas, de forma que se tenha a sociedade pensando o livro, a leitura e a literatura. Outro é trabalhar nas escolas a formação de leitores, não apenas do ponto de vista funcional, para passar no vestibular, mas de forma cultural para que o hábito de ler seja criado e permaneça.

Os outros princípios que nortearão o plano nacional são o incentivo à leitura em família; a ampliação do número de bibliotecas no país, para facilitar o acesso aos livros, e a busca de meios para viabilizar a redução do preço do livro, para ampliar o acesso a esse bem cultural.

“Pesquisas mostram que quando o brasileiro sai da escola, deixa de ler; quando sai da universidade, deixa de ler”, disse o diretor do Ministério da Cultura.

Bibliotecas

A biblioteca é o equipamento cultural mais bem distribuído no Brasil, de acordo com Jéferson Assumção. Mas várias unidades foram fechadas no período da pandemia da covid-19 e ainda não reabriram. “Hoje, temos um cálculo, que ainda precisa ser atualizado, que é de cerca de 800 bibliotecas que fecharam durante a pandemia, e é um grande desafio reabrir essas bibliotecas”, disse.

Segundo Jéferson, em 2003, havia 1.170 municípios sem biblioteca, mas foi possível beneficiar todos os municípios. “O Brasil precisa voltar a zerar o número de municípios brasileiros sem biblioteca, vamos ter que voltar a reabrir bibliotecas pelo Brasil”, disse Jéferson Assumção.

O desafio, segundo Jéferson, é alcançar novamente essa marca de todos os municípios com bibliotecas, sob uma nova perspectiva na qual os equipamentos não sejam depósito de livros, mas centros culturais e espaços de tecnologia.

“Precisamos sempre mexer com a ideia de biblioteca, tirar uma e colocar outra, e essa outra é um centro cultural, um lugar onde as coisas acontecem de um modo articulado entre o livro e as novas tecnologias e também o presencial, o teatro, o cinema. Ou seja, a biblioteca precisa ser vista como um lugar de encontros, de composição entre tecnologias e interação entre as pessoas”.

(Fonte: Agência Brasil)

O corpo em movimento. Com ou sem música. Solo ou em grupo. Expressão de sentimentos e ideias. Passos ensaiados ou livres. Esta é a arte da dança, celebrada no dia 29 de abril.

Para celebrar o Dia Mundial da Dança, ocorre no Rio de Janeiro o festival O Corpo Negro, um dos maiores festivais de dança do país, que começou nesse sábado (28) com apresentações gratuitas de espetáculos criados e executados exclusivamente por artistas negros e negras.

O evento, realizado pelo Sesc-RJ, chega a sua terceira edição com mais de 90 apresentações, shows, mostra audiovisual, oficinas e debates, ao longo de um mês.

Selecionados por meio de um edital público e inédito de dança para todo o Brasil, o projeto O Corpo Negro tem como objetivo fortalecer o segmento, criar empregabilidade e proporcionar um espaço de visibilidade, além de ser o ponto de partida para maior protagonismo negro na cultura brasileira.

Importância

O analista-técnico de Artes Cênicas do Sesc-RJ e um dos curadores do festival, André Gracindo, explica que a atual geração de dançarinos negros leva para os palcos as questões sociais do país.

“Temos artistas de uma geração com grande relevância para a cena como Elísio Pitta, Mestre Manoel Dionísio, Carmen Luz, bem como jovens e outros profissionais de todo o país que produzem arte para os nossos tempos, com trabalhos completamente sintonizados com as questões dos nossos dias”, explicou. 

O projeto contribui com as discussões sobre o racismo estrutural e a necessária implementação de ações coletivas de outros setores da sociedade, como a educação básica. “Desde a reelaboração dos livros de história que não podem mais representar como heróis os algozes de todas as etnias escravizadas; até as ações no campo simbólico, como a representação positiva da imagem da pessoa negra na cultura e na sociedade de forma geral”, acrescenta Gracindo.

Espetáculos

O festival irá percorrer, até o dia 28 de maio, sete cidades fluminenses: Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Nova Friburgo, Petrópolis e Volta Redonda. Todos os espetáculos de dança foram criados e serão executados por artistas negros.

Ao todo, 18 espaços desses municípios receberão as apresentações, entre unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc), escolas, universidades e praças públicas. Além dos grupos de dança do Rio de Janeiro, há artistas de mais três Estados brasileiros: Bahia, Ceará e São Paulo. A maioria dos espetáculos é inédita.

A abertura oficial do evento, neste domingo (30), será às 19h, no Sesc Copacabana, com entrada franca. Com a presença de alguns artistas da programação, a noite terá a performance Ará Dudu, de Aline Valentim e Valéria Monã, em homenagem ao casal Carlos Negreiros, músico e líder da Orquestra Afro-Brasileira, morto no ano passado, e Isaura de Assis, uma das primeiras bailarinas e coreógrafas de dança afro do país, integrante do balé de Mercedes Baptista. A noite será encerrada com o show Mãe África de Awuré.

Destaques

Entre os destaques da programação, está a performance de Elísio Pitta, uma homenagem a Ismael Ivo, bailarino e coreógrafo negro, morto em 2021, e que se notabilizou atuando por mais de três décadas na Europa; a estreia do espetáculo Iyamesan, de Luna Leal, numa performance só com mulheres; e Repertório nº 2, com Davi Pontes e Wallace Ferreira, que vem circulando mundo afora com esse trabalho.

O festival terá, também, uma mostra audiovisual, com dez filmes de longa e curta-metragens, de seis Estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerias, Bahia, Alagoas e Ceará.

Durante a mostra, será lançado o documentário Congar, que registrou a viagem do grupo de congada Reinado de Nossa Senhora do Jatobá, de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, para apresentação no festival do ano passado. Produzido pelo Sesc-RJ, o filme mostra diferentes gerações da irmandade, que levam consigo os seus ritos e celebram juntos a fé, a memória e o tempo.

Oficinas nas escolas

Também serão oferecidas oito oficinas de dança em espaços escolares. Destaque para as oficinas com o Mestre Manoel Dionísio, um dos maiores nomes do samba carioca, que vai ministrar aulas de mestre-sala e porta-bandeira nas unidades do Sesc em Ramos, Nova Iguaçu e Nova Friburgo. Também haverá cinco palestras com artistas e convidados, que vão discutir nas mesas pautas referentes à temática negra e a dança.

Encerramento

O cantor Xande de Pilares fechará o evento, no dia 28 de maio, às 19h, com um show na Praça Mauá, na zona portuária do Rio, e contará com as apresentações Sambando, do grupo Minas do Samba, e O corpo que habita o terno, com Jefferson Bilisco. Haverá, ainda, uma Feira de Empreendedores, que dará ênfase a empreendedores negros.

Gratuidade

Todos os eventos serão gratuitos, com a retirada antecipada dos ingressos nos espaços com lotação limitada, e a programação completa pode ser vista no site do evento.

Dia Mundial da Dança

Instituído em 1982, o Dia Mundial da Dança é voltado para a promoção dessa arte em todo o mundo, além de conscientizar as pessoas sobre o valor da dança em todas as suas formas e compartilhar a alegria que há em movimentar o corpo. 

A data foi criada pelo Comitê de Dança do Instituto Internacional do Teatro da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e escolhida por ser o nascimento do bailarino e coreógrafo francês Jean-Georges Noverre. Autor do trabalho Lettres sur La Danse (Cartas sobre a Dança), o bailarino deixou seu legado sobre a expressividade dos movimentos nas apresentações de balé do século XVIII.

(Fonte: Agência Brasil)

Se a arte serve para extravasar a criatividade e provocar reflexões, ela também tem um papel muito importante como testemunha da história. E é pensando na arte não só como uma imagem, mas também como um documento para a memória de um país, que o Centro MariAntonia da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, inaugurou, na semana passada,  a exposição: Imagem Testemunho – Experiências Artísticas de Presos Políticos na Ditadura Civil-Militar. A mostra fica em cartaz até o dia 10 de dezembro.

A exposição apresenta 41 trabalhos que foram produzidos entre as décadas de 60 e 70 por presos políticos da ditadura militar brasileira. Esses trabalhos foram realizados em diferentes presídios do Estado de São Paulo, incluindo alguns dos lugares mais violentos desse período como o Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Entre as obras, há desenhos, colagens, xilogravuras, bilhetes trocados entre os encarcerados, anotações e serigrafias que foram reunidas pelo jornalista e ex-preso político Alípio Freire e que, agora, integram o acervo do Memorial da Resistência.

“O Alípio ficou cinco anos preso. Ele foi preso em 1969. Já antes, o Alípio tinha uma atividade de artista plástico. No presídio, se juntaram outras pessoas também, como o Sérgio Ferro. Lá, eles passaram a discutir arte e a trabalhar com isso. Todas as tendências modernas, como a pop art, tudo isso era motivo de discussão dessas pessoas. E eles não ficavam em um núcleo fechado: eles ampliavam essa discussão para todos da cela. Eu digo até que a cela do Alípio era um ateliê”, contou Rita Maria de Miranda Sipahi, advogada, ex-presa política e integrante da Comissão da Anistia. Rita foi esposa de Alípio Freire (1945-2021), um dos artistas que são apresentados na mostra.

Acervo

Sabendo da importância da preservação daquela memória, Alípio começou a coletar todos esses trabalhos que eram produzidos dentro das celas da ditadura e montou um rico acervo do período com mais de 300 obras, que já foram exibidas em outras oportunidades. Uma delas, em 2013, no Memorial da Resistência, que foi chamada de Insurreições: expressões plásticas nos presídios políticos de São Paulo.

“Essa exposição é um recorte de uma coleção maior, que é uma coleção realizada pelo Alípio Freire ao longo da sua vida e que contém em torno de 300 obras, desde imagens até documentos, cartas e recortes de jornais”, disse Priscila Arantes, curadora da exposição. 

“Essa é uma exposição de arte atravessada pela questão política. É uma exposição testemunho de uma geração que viveu os anos duros da ditadura civil-militar. O que você encontra aqui são imagens produzidas por artistas ou por pessoas que só desenvolveram trabalhos artísticos ou criativos dentro do espaço carcerário. São pessoas que vêm de alas e partidos políticos diversos”, acrescentou ela.

Os trabalhos que foram produzidos nesse período retratam o cotidiano na prisão, as relações entre os presos, suas redes de apoio e a solidariedade criada dentro e fora das prisões. As obras mostram diversas técnicas e foram feitas por meio de materiais que eles conseguiam dentro do espaço prisional ou que lhes foram levadas por parentes e amigos.

Entre as obras, está uma  xilogravura que  Aldo Arantes, pai da curadora da exposição, fez enquanto esteve preso para presentear a mãe dela. “Alguns trabalhos são presentes [para parentes e amigos]. Você tem também trabalhos que eram trocados entre celas. Mas você tem também trabalhos que têm esse caráter político como, por exemplo, os trabalhos em xilogravura do Artur Scavone, em que a xilogravura servia como um dispositivo de panfletagem política, de denúncia dos maus-tratos na prisão, de divulgação da situação política no Brasil e da opressão na época da ditadura. Há, também, produções que serviam, por exemplo, para capitanear recursos financeiros para colegas e companheiros pagarem advogados. Essa não é uma exposição grande no sentido de ter excesso de trabalhos, mas potente nesse sentido de trazer essa pluralidade, essa singularidade de cada trabalho”, explicou a curadora.

Um dos destaques da exposição é uma série de trabalhos desenvolvidos por Alípio a partir de uma fotografia e que, ainda hoje, emocionam Rita Maria de Miranda Sipahi. “Nessa exposição, tem uma coisa linda e que representa o amor. Acho que hoje a amizade, o amor, esses valores todos que o Alípio preservava, estão nessa exposição também. Certa vez, o Alípio me fez um presente a partir de uma fotografia que mandei a ele. Ele pegou a fotografia e começou a trabalhar com ela, desdobrando a fotografia em vários trabalhos plásticos. Isso tem uma representação fortíssima para mim. Eu ainda não os vi colocados na exposição. Então, penso que isso ainda vai me deixar tomada por esse sentimento que ele tinha tamanho de amor”, disse em entrevista à Agência Brasil, pouco antes de visitar a mostra.

Para a advogada, essa arte produzida pelos presos políticos da ditadura dentro da celas foi também uma forma que eles encontraram para transformar aquele espaço, onde eles foram submetidos a intensas e traumáticas sessões de torturas e violências. “Essa questão é interessante porque foi uma forma de transformar aquilo que aprisiona – a prisão e o espaço da cela – em uma possibilidade de liberdade. A liberdade não era contida naquele espaço”.

Além dessas obras, a exposição também apresenta sete depoimentos em vídeos produzidos especialmente para a mostra. “Contamos aqui com sete vídeos inéditos que foram feitos para essa exposição e que foram muito importantes para esse espaço de escuta na pesquisa curatorial”, disse Priscila.

30 anos do Centro MAriAntonia

A mostra marca a celebração dos 30 anos do Centro MariAntonia, um espaço importante de luta contra a ditadura brasileira. “Essa exposição faz parte de um grupo de comemorações dos 30 anos de luta do centro MariAntonia, que é conhecido como espaço de luta contra a ditadura. Essa exposição vem para fazer parte desse coro de ações. Na verdade, ela integra uma série de programações e conta também com mesas-redondas e toda uma programação paralela, onde a discussão sobre a arte e a ditadura na América Latina serão discutidas”, detalhou Priscila Arantes.

“O MariAntonia foi um palco muito importante de resistência politica durante os anos da ditadura. Simboliza a resistência da universidade ao autoritarismo no país. É um monumento histórico, tombado justamente em função desses movimentos estudantis e que resistiram ao arbítrio instalado no país. Por outro lado, nesses 30 anos, o Centro MariAntonia se tornou um dos espaços de arte mais importantes da cidade de São Paulo. Um espaço de reflexão sobre a arte, de exposição e de educação sobre a arte. Nesse sentido, a exposição junta esses dois fios de uma maneira extremamente oportuna para comemorar esses 30 anos”, explicou José Lira, professor da USP e diretor do Centro MariAntonia.

Entre 1949 e 1968, o Centro MariAntonia abrigou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, que, atualmente, fica no Campus do Butantã. Em outubro de 1968, a Rua Maria Antonia, onde o conjunto de edifícios está abrigado, foi palco de uma das mais importantes batalhas pela democracia na ditadura militar. Esse episódio ficou conhecido como a Batalha da Maria Antonia e envolveu estudantes de posições ideológicas opostas e a polícia.

“A batalha da Rua Maria Antonia foi o ponto culminante de uma insatisfação geral dos estudantes em relação à repressão e suas manifestações e passeatas no centro de São Paulo”, contou Lira.

“Por volta de maio [de 1968], esses estudantes foram alvo de ataques violentos da polícia. Um estudante secundarista foi morto e, a partir desse episódio, eles decidiram ocupar o prédio da Faculdade de Filosofia. Para tal, montou-se um grande mutirão de estudantes, de várias faculdades da universidade de São Paulo, não só de Filosofia, Ciências e Letras, que passaram a residir e organizar manifestações a partir daqui junto com os estudantes de Arquitetura, Direito, Medicina e da Politécnica. Em outubro de 68, em função da repressão a um pedágio que eles faziam para arrecadar fundos, iniciou-se uma grande batalha entre os estudantes da USP e alguns estudantes da Universidade Mackenzie, que fica do outro lado da rua. Esse episódio terminou após dois dias de batalhas campais, com quebradeira generalizada no prédio. O prédio foi parcialmente incendiado e logo em seguida, tomado da universidade pelo governo do Estado. Durante mais de 20 anos, esse prédio foi alienado da universidade. Só em 1993, portanto há 30 anos, é que a USP finalmente ganhou de volta o prédio e decidiu criar esse espaço dedicado à memória,  à arte e à criação livre, ao pensamento livre”, explicou o diretor do centro.

Para ele, celebrar os 30 anos do espaço com essa exposição é importante não só para a construção de uma memória sobre aquele período, mas também para provocar reflexões na sociedade atual. “Ela [exposição] traz também a força, uma memória da força da mobilização social contra o arbítrio, contra o autoritarismo e contra a ditadura. No momento em que os ataques aos direitos humanos são praticados cotidianamente, em suas múltiplas formas – não mais daquelas formas típicas da ditadura mas de formas igualmente atrozes – uma exposição como essa sugere inúmeras possibilidades de reflexão para o cidadão em geral”, disse.

Mais informações sobre a exposição, que é gratuita, podem ser obtidas no site do centro

(Fonte: Agência Brasil)

Um palácio construído com a fortuna de um traficante de pessoas, que negocia vantagens para cedê-lo a uma corte colonial, que, por sua vez, dá lugar a um império que descende dela e começa a reunir objetos deslocados de diferentes culturas, entre elas, as que eram traficadas e exterminadas pela colonização. Os esqueletos no armário do Palácio de São Cristóvão não ficam de fora do musical Museu Nacional [Todas as vozes do fogo], que fará seu último fim de semana de apresentação no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro.

O palácio era tudo isso, mas também lugar de produção de pensamento sobre um novo país, de nomes como Bertha Lutz; de formação de uma multidão de pesquisadores e de apresentação da ciência a milhares de estudantes que enchiam seus corredores em excursões escolares. O musical conta a história de um palácio que era tudo isso e foi consumido pelo fogo com seu acervo de 20 milhões de itens, e do país que o ergueu com toda essa complexidade e o deixou queimar.

Quem recebe o público para essa visita guiada é Luzia, o crânio humano mais antigo do Brasil e sobrevivente do fogo que destruiu o palácio em 2 de setembro de 2018. A “primeira brasileira” é interpretada por Ana Carbatti, indicada ao Prêmio Shell de melhor atriz deste ano por Ninguém Sabe Meu Nome, em que uma mãe preta reflete sobre como deve criar seu filho em uma sociedade racista.

Ana conta, em entrevista à Agência Brasil, que em Museu Nacional sua personagem é uma ancestral, mais no sentido humano no que no sentido solene desta palavra. “A princípio, eu tinha uma preocupação de que ela tinha que ser séria, em respeito a essa ancestralidade, em respeito a esse crânio sobrevivente. Mas, depois, a gente foi entendendo que não. Que a ideia era humanizar essa ancestralidade. Então, isso fez o trabalho ficar muito divertido pra mim. E, hoje, fazer a Luzia é uma alegria, me divirto muito”.

A Luzia que conduz a narrativa da peça lança mão do humor e da perspicácia para acessar o público em lugares diferentes da comoção com a tragédia. Museu Nacional não trata apenas disso, avisa Ana Carbatti, mas também de esperança e até de utopia.

“Se a gente perder a esperança, não precisa nem subir no palco. Subir no palco só pra falar das nossas mazelas, não precisa. Não é só pra isso. Acho que o teatro tem muitas funções, não pode ser só essa. A cultura é uma esperança, em si”.

Museu Nacional [Todas as vozes do fogo] é escrito e dirigido por Vinicius Calderoni, com direção musical de Alfredo Del-Penho e Beto Lemos, com 20 músicas originais. A diretora de produção e idealizadora do espetáculo, Andréa Alves, é da Sarau Cultura Brasileira, que completa 30 anos. O elenco conta com Adrén Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios e Ricca Barros, todos da Companhia Barca dos Corações Partidos, e convida os atores e atrizes Adassa Martins, Aline Gonçalves, Felipe Frazão, Júlia Tizumba, Lucas dos Prazeres e Rosa Peixoto, além de Ana Carbatti, que concedeu entrevista exclusiva à Agência Brasil.

O musical passou por São Paulo no ano passado e encerra, nesta semana, as apresentações no Rio de Janeiro. Há expectativa de novas montagens em outros Estados, ainda sem datas e locais definidos.

Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista com Ana Carbatti:

Agência Brasil:

Acredito que nós, jornalistas, na época, não conseguimos traduzir para o público a dimensão do que significou essa tragédia, a perda que tivemos como sociedade e civilização com tudo que se perdeu no incêndio no Museu Nacional. Você acha que o teatro consegue dar conta de dimensionar isso?

Ana Carbatti:

Não. Eu acho que o teatro não consegue dar conta. Eu acho que o máximo que o teatro pode fazer é abrir possibilidades, abrir um horizonte, abrir discussões. Eu acho que esse nem é o papel do teatro. Eu acho que a gente tem um papel parecido com o de vocês, de reportar e reunir diferentes depoimentos e diferentes sentimentos, para que a gente possa enxergar as coisas de diferentes pontos de vista. E eu acho que, nesse sentido, o espetáculo cumpre com esse papel, de apresentar que não é só o museu, não são só objetos, não são só essas pessoas que estão ali. É uma história que foi escrita por diferentes mãos e de diferentes formas. E o que a gente faz com isso daqui pra frente, o que tá nas nossas mãos para encaminhar um futuro possível.

Agência Brasil:

Aqui, no Rio, vocês tiveram um público que viveu o Museu Nacional, que passeou nele e o conheceu. A reação desse público foi diferente?

Ana Carbatti

A gente teve vários pesquisadores que vieram assistir ao espetáculo, estudantes, pessoas que fizeram mestrado e doutorado no museu. Essas pessoas vêm com uma energia muito diferente do geral. Elas vêm com uma energia mais difícil de explicar, porque é uma coisa muito de corpo, daquela vibração do momento, mas eu sinto, sim, que aqui a relação com o objeto que esse espetáculo trata é uma relação mais delicada, mais profunda. E tem a ver com a questão da ficha demorar para cair. E não só num lugar de “que pena que pegou fogo, que tristeza”. É mais do que isso. Aqui no Rio de Janeiro, a relação das pessoas com esse espetáculo é mais delicada, sim. É mais profunda. Mas, mesmo em São Paulo, a gente sente que, além da apreciação estética, que é a função do teatro, o espetáculo não fala só do museu, ele fala da história do Brasil, o museu é a história do Brasil. Eu acho que essa é a grande sacada nesse espetáculo. Não é só sobre o museu, é sobre como a gente constrói o nosso patrimônio, sobre como o Brasil constrói seu patrimônio. Então, eu acho que isso fala a todos os brasileiros, em qualquer lugar do país. E, quiçá, se a gente tiver um futuro internacional, eu acho que vai falar a todas as pessoas do mundo, em qualquer lugar do mundo.

Agência Brasil:

E, como carioca, você frequentou o museu e teve uma relação com o museu? O que você tinha de lembrança com esse museu que você reencontrou com a peça?

Ana Carbatti

A Quinta da Boa Vista foi, na minha infância, o lugar da reunião, de fazer piquenique com a família, e depois visitar o museu e o zoológico. E a minha família é muito grande, tanto a materna quanto a paterna, e a gente se reunia muito. Então, eu visitei muitas vezes esse museu. Também com a escola, várias vezes. Com pai, mãe, a família. Meu irmão é antropólogo e fez mestrado e doutorado lá. Tenho uma história íntima com esse espaço físico. E eu fui educada no período da ditadura. Não tive nenhum contato com as informações sobre a história da Quinta da Boa Vista que a gente traz no espetáculo. Só fui ter acesso muito mais tarde, porque na escola a gente não falava disso. Falava que era residência imperial e isso que era importante.

Agência Brasil:

E não que era um palácio construído por um traficante de gente.

Ana Carbatti

Absolutamente. Na minha época, isso não era assunto de escola. Eu fui educada no período da ditadura. Hoje, pensar nesse espaço com essa outra perspectiva é uma coisa bem marcante. 

Agência Brasil:

Como conceber a personalidade e a personagem Luzia a partir de um texto e de um fóssil? 

Ana Carbatti:

Não foi fácil. Foi, primeiro, um grande mistério, porque, como você dá corpo pra um esqueleto de uma forma que não seja óbvia, caricata. E o Vinícius é um diretor muito generoso e muito aberto, tem uma escuta incrível para qualquer movimentação dos atores. O texto foi criado em sala de ensaio, tudo foi criado nesses quatro meses de trabalho. Então, isso foi deixando de ser um mistério ao longo do processo. Como era uma construção coletiva, com o Vinícius com a função de amarrar essas ideias e passar para o público de uma maneira que comunicasse de uma forma mais efetiva, foi facilitando o processo, foi tirando o mistério. Pra mim, a palavra-chave é anfitriã. A mulher mais antiga. Essa ancestralidade que é uma coisa com a qual tenho intimidade, por causa da minha história pessoal, foi um mote pra mim. Ela é a primeira e a anfitriã que recebe e conduz as pessoas. A princípio, eu tinha uma preocupação de que ela tinha que ser séria, em respeito a essa ancestralidade, em respeito a esse crânio sobrevivente. Mas, depois, a gente foi entendendo que não. Que a ideia era humanizar essa ancestralidade. Então, isso fez o trabalho ficar muito divertido pra mim. E, hoje, fazer a Luzia é uma alegria, me divirto muito. Deixo o corpo ir falando, e o texto do Vinícius é um texto muito vivo. A história dessa peça não é uma história que se repete. Todo dia faço uma Luzia nova. É como se ela entrasse em cena para dizer que o museu é um ato.

Agência Brasil:

Você também fez a Clementina de Jesus no teatro. Queria saber como essas duas mulheres conversam e como conversam com você. 

Ana Carbatti:

São dois presentes na minha vida. Quando fiz Clementina, há 10 anos atrás, eu nem era fã, eu conhecia, mas eu não tinha todos os álbuns e ouvia diariamente em casa. Esse contato profundo com ela e com a história dela mexeu muito comigo. A Luzia e a Clementina falam muito entre si por essa questão óbvia da ancestralidade. O fato de a Clementina ter ganhado notoriedade já como uma senhora, uma anciã, foi o que deu e vai dar a ela no futuro esse caráter de que a gente pensa nela como um ser, não é só mais uma cantora que apareceu. Os ensinamentos e transformações que ela trouxe para a música brasileira, a representatividade que ela trouxe, nos mais profundos sentidos dessa palavra, para o cancioneiro brasileiro é gigantesca. Ela chega em um momento em que ela transforma a música brasileira e a pesquisa musical brasileira. E a Luzia, enfim, 12 mil anos, né? Eu acho que Luzia e Clementina falam entre si a história desse país e desse continente, sobre em que base a gente constrói as nossas vigas e os nossos pilares. E, comigo, elas são um presente. É um presente muito grande para uma atriz madura ter esses personagens que vão muito além do meu corpo físico e do meu pensamento como indivíduo. É muito engrandecedor e muito especial.

Agência Brasil:

A Luzia fala que está cansada de resistir e sobreviver. Eu acho que essa fala ecoa para os brasileiros de uma forma muito forte. Como você vê esse eco em todos nós brasileiros, e principalmente nas mulheres negras?

Ana Carbatti:

É muito profundo isso. É uma luta muito antiga. E é uma luta que tem suas transformações, mas parece que não tem fim. Acho que o cansaço é um pouco esse. Eu escuto muitas jovens negras dizendo que estão cansadas de explicar. Meninas de 20 e poucos anos, ativistas, que falam que não querem mais explicar, que esse não é o seu papel, e é muito louco se você pensar que é uma menina que acabou de começar a vida e está cansada. É uma luta ancestral e é cansativa, é muito cansativa para o povo brasileiro, para qualquer pessoa que entende o mundo para além do próprio umbigo, se você é uma pessoa que nasceu nesse país e que constrói nesse país. A gente tem esse problema, porque, além de todas as divisões no país, de raça, classe e gênero, a gente ainda tem essa divisão da produção, de que pouca gente fala. A gente tem um grupo imenso que produz nesse país e realmente gera as divisas desse país. E a gente tem um grupo que desfruta dessas divisas e não precisa produzir. Que nasceu em berço de ouro. E é uma gente que cansa muito, porque essa gente determina muito o pensamento de uma parcela da população, o modus operandi da população, e é cansativo pra caramba. Para qualquer brasileiro que produz nesse país, e que tá ocupado com o que acontece ao nosso redor, essa frase ecoa, em qualquer dessas pessoas, porque é uma luta diária. É um leão por dia para todo brasileiro. Mas é um leão e meio ou dois leões para algumas outras pessoas que ainda precisam lutar contra preconceitos.

Agência Brasil:

Você começou pensando a Luzia como uma pessoa séria e depois o humor veio chegando. O humor está presente na peça até em momentos que falam de assuntos pesados. Ele é uma forma de ajudar a processar essa crítica social e todas as camadas dessa tragédia?

Ana Carbatti:

Sem sombra de dúvida. O teatro é entretenimento, e a gente nunca pode perder de vista essa função, e também de educar, porque também é educação. O teatro é uma das ferramentas mais importantes da cultura mundial. Em vários países, é tratado como uma atividade nobre. Aqui, não. Mas é entretenimento, que vai fazer você pensar, sentir. Então, a gente nunca deve abrir mão dessa possibilidade. Eu acho que ajuda a processar, sim, mas não é só esse o papel do humor, não é só aliviar o clima para entender melhor. É para que a gente consiga abrir todos os canais possíveis de comunicação. Eu preciso, como atriz, quando estou no palco, que você, espectador, esteja com todos os canais abertos. Você precisa estar desprovido de barreiras, de ideias preconcebidas. Você precisa estar com a mente aberta para receber aquilo e responder pra mim. Se eu estou, ali, fazendo um monte de coisas com uma pessoa parada, que não ri, não chora, não tosse, não se mexe, o teatro não está acontecendo. O humor é um dos canais de acesso ao espectador para que ele possa ficar totalmente aberto, com todos os sentidos abertos. A gente sobe no palco e começa a ir escavando até chegar em você, e a gente tem que usar todas as ferramentas, e o humor é uma delas. 

Agência Brasil

Vocês se prepararam e estrearam em São Paulo em um momento em que o rumo das eleições ainda estava incerto. E agora se apresentaram no Rio, em um momento totalmente distinto. Como foi apresentar a peça nesses dois momentos?

Ana Carbatti:

No primeiro momento, em São Paulo, antes das eleições, as pessoas, todos nós, estávamos à flor da pele. Tinha um perigo iminente. Tinha um meteorito pendurado em cima da gente que podia cair a qualquer momento, e foi um período muito assustador. A primeira vez que entramos no palco e apresentamos esse espetáculo, eu fiquei muito assustada, porque é nesse momento que você reconhece que está todo mundo andando no precipício mesmo, que não sou só eu me sentindo assim, que a gente está comungando desse sentimento aqui. Era uma coisa que arrepiava a gente, e o espetáculo terminava com essa sensação de esperança, de que as coisas iam mudar, e de que a gente ia sair da beira do precipício. Já aqui no Rio de Janeiro, eu falei muito em casa, pro meu marido, que as pessoas iam questionar que importância tinha isso agora, que isso que eu estava falando já não falava com as pessoas, porque o Brasil já estava se transformando em um outro país. E eu estava completamente errada, porque esse sentimento de esperança ainda está pulsando dentro da gente. A gente está em um caminho que é diferente, mas a gente ainda não tem garantia de nada. E eu acho que ter vivido esse perigo deixou a nossa população mais atenta, então, eu sinto que a plateia desse teatro é uma plateia mais atenta e mais crítica, que sabe que ainda estamos pisando em ovos, que as coisas não mudaram ainda. 

Agência Brasil:

No meio de toda a tragédia que é apontada na peça, desde a colonização até o incêndio, vocês ainda encontram espaço para contar uma utopia. A esperança é um tom da peça de forma geral, impulsionar os brasileiros a construir a partir de escombros, como diz o texto?

Ana Carbatti:

Se a gente perder a esperança, não precisa nem subir no palco. Subir no palco só pra falar das nossas mazelas, não precisa. Não é só pra isso. Acho que o teatro tem muitas funções, e não pode ser só essa. A cultura é uma esperança, em si. E eu acho que a gente tem que fazer esse nosso papel de dizer, mesmo quando as coisas terminam em tragédia, que estamos aqui, que o presente é agora. E é muito bom essa ideia de ter um entendimento do passado para que possa viver o presente e construir o futuro. Sempre. Essa deve ser uma perspectiva de todos os indivíduos. Vamos entender o passado para que a gente possa viver o presente, olhando de verdade para o futuro. O problema da humanidade hoje é que precisa olhar para o futuro com um pouco mais de proatividade, porque ele está começando a ficar comprometido.

Agência Brasil:

A peça é muito contundente na crítica antirracista, e vocês se apresentaram em casas em que talvez a maioria da plateia fosse branca. Como essa crítica está ecoando na plateia? Ela é acolhida, ela causa contrariedade?

Ana Carbatti:

Graças a Dionísio, tudo isso. A gente tem, na plateia, as pessoas que entendem. Uma das canções que está mais relacionada a isso é sempre ovacionada. A plateia do teatro é majoritariamente não negra, apesar de que hoje, eu, que estou nessa carreira há 30 anos, vejo muito mais pessoas negras na plateia do que eu via quando eu comecei. Mas [a branca] ainda é a população que domina a cidade financeiramente, então ainda é a população que mais vai ao teatro. E eu fico muito feliz que a gente tem todas as reações. Acho que a contrariedade faz parte desse pacote. Ouvir e não gostar. Teve um dia, em uma plateia no Rio, que tinha um senhor sentado muito na frente. Quando eu falei “a cultura branquitude desapareceu”, ele fez “aaahhh”. E eu tive vontade de rir. E, quando terminou, e ele aplaudiu o espetáculo, ele era uma pessoa que estava muito feliz de ter visto. E eu associei aquele “ah” àquela pessoa que estava aplaudindo efusivamente no teatro. O “ah” dele foi de, por que estão me tirando dessa história? Eu não quero ser tirado, eu quero fazer parte. Mas tem gente que não quer fazer parte disso. E essas pessoas vão receber essa crítica da forma objetiva que ela vem: “sinto muito, mas não vai ter futuro”. Se você pensa que vai existir nesse mundo sem nós, eu lamento te informar, mas o caminho aponta o contrário. Então, abre teu olho. Acho que chega em todo mundo. Não tem como não chegar. Só se a pessoa não usa a internet, não lê jornal, não vê televisão, não é possível. Tem que estar chegando de alguma forma. É um assunto, esse [antirracismo] e todo o assunto relacionado à inclusão no seu sentido mais amplo, que faz parte do nosso cotidiano hoje. Vai ter que conviver com isso amigues, não vai ter outro jeito.

(Fonte: Agência Brasil)