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Déo Silva

(DAS LEMBRANÇAS DE UM POETA CAXIENSE E SEU POEMA)

No último domingo, 27 de setembro, o poeta caxiense Raymundo Nonato da Silva completou 37 anos de morte (ou encantamento, segundo a máxima de que escritores, em especial poetas, não morrem – encantam-se).

Em 27 de setembro de 1983, com apenas 46 anos, morreu Raymundo e para sempre ficou Déo. Déo Silva. Um dos mais representativos poetas da contemporânea literatura brasileira, maranhense, caxiense.

Rapazote ainda, eu era frequentador assíduo do “Recanto dos Poetas”, o famoso Bar do Artur Cunha, ali na Rua São Benedito, frente para a praça da Igreja de mesmo nome, em Caxias. Naquele “agradavelmente anti-higiêncio bar”, como uma vez o defini, reuniam-se nomes como Déo Silva, Vítor Gonçalves Neto, Arias Marinho, João Leitão e seu irmão José Leitão, Rodrigo Octavio Teixeira de Abreu (o Tavico), o próprio Artur Cunha (que assobiava e chupava cana, isto é, atendia a freguesia e participava do jogo de “impugna” e das conversas e altas discussões), Cid Teixeira de Abreu, e Edmilson Sanches, o único menor de idade em um grupo de homens que eram jovens há mais tempo – bem mais tempo – que eu.

Todos nos reuníamos em torno de uma mesa, alguns copos e diversos dicionários. Além de conversa fora, jogávamos a tal “impugna”, um jogo de palavras que consistia em ir acrescentando (“jogando”) letras a uma letra inicial jogada, sem deixar que se formassem palavras (não valiam monossílabos). No jogador em que terminasse a palavra, aquele levaria um ponto negativo – e poderia pagar a “rodada” de bebidas. Se alguém “apelasse” para uma palavra “difícil” ou inexistente, os diversos dicionários – possivelmente os mais úteis ou mais consultados de Caxias, de propriedade do Artur) – estavam ali, sendo manuseados, mãos e dedos ágeis, sôfregos e perspicazes à cata do termo, do nome, do verbete.

(Exceto por gozação, era difícil apelar para palavras não formalmente existentes, sobretudo porque ali era um ambiente de “feras” das letras, jornalistas, escritores e leitores vorazes, diversos deles professores). O Artur Cunha cunhou uma expressão que se tornou axiomática: ser o jogador depois de Edmilson Sanches era “levar uma de quati”, querendo dizer que o jogador que fosse o próximo depois de mim pegaria um “osso” (numa referência ao ossinho, chamado báculo, no genital do bichinho). Isso porque eu jogava “duro”, frequentemente colocando uma letra que deixava o próximo jogador sem opção, a não ser encerrar a jogada, seja porque a palavra forçosamente terminaria nele, seja porque, por ser "difícil", não havia como continuar a palavra.

Com efeito, na adolescência, eu era cultor de livros, inclusive dicionários, e memorizara alguma coisa, além do recurso de decorar sem esforço os morfemas e afixos, elementos de formação de palavras (prefixos, infixos, sufixos etc.), o que funcionava como recurso dentro das “estratégias” do jogo.

Foi nesse ambiente nublado de cigarros, fluido de álcool e letras em suspensão que conheci Déo Silva. O bigode, o cigarro, o corpo descansando folgada e naturalmente, derreado numa cadeira.

Afora os da geração dele, que conheceram a pessoa, não são muitos os que conhecem o poeta, o escritor, que viveu meros 46 anos e deixou uma obra para séculos, marcante, consistente – embora não a ponto de sensibilizar, de despertar o interesse de muitas mentes dos dias de hoje e dos muitos anos dos ontens, e, parece, infelizmente, dos muitos amanhãs que hão de vir.

Da vida de Déo Silva sei de seus livros “Ângulo Noturno”, de 1959, e o famoso “Equação do Verbo”, de 1980, além de, pelo menos, uns oito inéditos, listados pelo poeta Wybson Carvalho.

Por enquanto, de memória, sem consultar ou conferir livros e amigos, falo do episódio que teria sido a gênese de um dos seus mais belos poemas (igualmente transcrito aqui de memória, sem saber as exatas palavras e sua disposição na arquitetura poemática. Prometo redimir-me tão logo esteja com o original em mão.

Todo poema tem sua história, ou dá uma. Pois bem. Conta-se que estava Déo Silva em São Luís. Situação difícil. Liso. Sem dinheiro. Já o último cigarro prensado aos lábios. Precisava ir para a rodoviária. “Arriscar” uma passagem com eventual passageiro conhecido que por lá também estivesse.

A rodoviária, do ponto em que Déo estava, era longe. A pé. Muito longe. Chuva. A pé. Muita chuva. Começa a cair a noite. Então, aparece do nada o bandido, mal-amado e bem-armado.

Do encontro do ladrão e do poeta surge o poema:

_Na rua,
a escuridão.
Eu
e um ladrão.
“– A bolsa ou a vida”.
Ambas vazias._

* EDMILSON SANCHES

Projeto desenvolvido por professores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) foi selecionado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para integrar o programa Explorando o impacto da covid-19 e a resposta política na América Latina e no Caribe, por meio de dados de mobilidade.

Desde que a covid-19 chegou ao Brasil, o Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ se colocou à disposição do governo fluminense para ajudar no que fosse necessário e vem realizando estudos sobre a relação da doença com a mobilidade, disse o professor Romulo Orrico, coordenador do programa. Foi feita pesquisa também sobre a influência do urbanismo e dos transportes públicos para a covid-19, tomando por base dados disponíveis e as características diversas das cidades norte-americanas de Los Angeles e Nova York, embora essas localidades tenham tomado decisões semelhantes para conter a disseminação do novo coronavírus.

Orrico informou que, em parceria com a empresa Grandata, sediada em São Francisco, nos Estados Unidos, o Pnud obteve dados sobre mobilidade de oito a dez países da América Latina e abriu um edital para pesquisadores que se habilitassem a utilizar aqueles dados para conseguir informações positivas no auxílio ao combate à doença.

Movimentação

O projeto da Coppe e Cefet-MG, intitulado “Mensuração da eficácia da política de isolamento social da covid-19 a partir de modelos de demanda de transporte”, coordenado pelo professor Romulo Orrico, vai usar não só os dados sobre mobilidade que serão disponibilizados em uma plataforma criada pelo Pnud e Grandata, mas também dados georreferenciados disponíveis no Brasil. A plataforma visa a facilitar a análise dos movimentos da população durante a pandemia do novo coronavírus, fora de suas residências. “Nós temos que entender exatamente aqueles dados”, disse Orrico.

Aproximadamente, dez instituições participam do programa do Pnud, sendo uma por país, informou o professor da Coppe/UFRJ. Ele disse que a missão apresenta dificuldades, uma vez que o Brasil tem mais de 5 mil municípios, com grande variedade de comportamento frente à pandemia. O programa do Pnud estabeleceu prazo de meados de novembro, para as instituições fazerem uma versão preliminar da pesquisa, até metade de dezembro para apresentarem um relatório definitivo do que for conseguido.

A meta do Pnud é compreender melhor os impactos socioeconômicos da pandemia nos países e, assim, poder planejar uma resposta política na região que engloba América Latina e o Caribe. “Eles esperam que se extraia alguma informação positiva para ajudá-los em uma política para a América Latina e o Caribe, em relação à mobilidade no combate à covid”, afirmou Romulo Orrico.

Importância

O coordenador do projeto da Coppe e do Cefet-MG destacou que a iniciativa do Pnud demonstra que é importante estudar esse tema da mobilidade e sua eventual ligação com a pandemia. Disse que se a pesquisa chegar à conclusão de que o transporte público não infecta ninguém, "será muito bom e vai ficar feliz”. Advertiu, entretanto, que a mobilidade trouxe à tona essa relação com a doença. O estudo pode, então, comprovar que o transporte público contribui para infectar as pessoas, mas também concluir que não tem nada a ver. “Ou, ainda, que não foi possível encontrar uma relação”. Em ciência, tudo é possível, observou Orrico.

A plataforma criada pela Grandata e pelo Pnud tem uma ferramenta que permite destacar as diferenças percentuais de deslocamentos realizados por usuários em um dia-base e em cada dia anterior e posterior. Isso torna possível determinar o grau de cumprimento do isolamento social de uma população em localidades específicas, como um município, cidade ou país, informou a Coppe/UFRJ, por meio de sua assessoria de imprensa.

O grupo de pesquisadores da Coppe e do Cefet-MG é integrado por cinco professores, além de alunos de graduação, mestrado e doutorado das duas instituições. O Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ realiza pesquisas sobre mobilidade desde 1979. Em andamento, o programa tem sondagens sobre cidades sustentáveis e veículos elétricos, entre outras.

(Fonte: Agência Brasil)

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Na última quarta-feira, 23 de setembro de 2020, completaram-se 22 anos de morte do ex-prefeito e ex-deputado Davi Alves Silva. Naquele dia, em 1998, produzi o seguinte texto:

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Em 23/9/1998, ocorreu um homicídio seguido de um aparente suicídio. Poderia ser mais um registro policial se a vítima não fosse um deputado federal, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Imperatriz.

Davi Alves Silva foi morto por Abraão Ribeiro da Silva. Além dos sobrenomes coincidentes, a relação de parentesco: Abraão era cunhado de Davi, isto é, uma das duas irmãs de Davi (que tinha outros dois irmãos) fora mulher de Abraão.

Conheci Davi Alves Silva nos primeiros anos da década de 80, quando ele ainda não era candidato a nada, a não ser a um financiamento – que não chegou a ser formalizado – na agência do banco em que eu trabalhava. No cadastro dele, o apelido, de muitos conhecido: “Manoel Goiano”. A assinatura lhe saía com muito esforço.

Pouco tempo depois, Imperatriz e região seriam testemunhas (e avalistas) de um dos mais espetaculares “cases” da história política do Estado do Maranhão e, quiçá, do país.

Davi era símbolo, no imaginário popular, da pessoa que, saindo da marginalidade (social e legal, mesmo) ascendia à legitimidade política. De acusado de transgredir leis, passou a fazê-las, e, como legislador, assinou a maior de todas elas: a Constituição Federal.

Com ele ou sobre ele, não havia meio-termo: as paixões que despertava eram antípodas – ou eram inteiramente favoráveis ou eram francamente contrárias.

Com a mesma facilidade, formou amigos e gerou inimigos. Mais que isso, inventou estilo: em Imperatriz, foi o primeiro a usar a 3ª pessoa do singular (“ele”) ao se referir a si mesmo. Conta-se que, para se tornar conhecido no Congresso Nacional, no seu primeiro mandato, encaminhava um aviso para o serviço de som da Câmara dos Deputados. No aviso, pedia-se ao deputado Davi Alves Silva para comparecer com urgência ao gabinete. Isso repetido por diversas vezes em vários dias teria fixado seu nome na mente de seus colegas e dos servidores federais.

Em termos de comunicação, seu nome era fácil de ser trabalhado: três palavras de duas sílabas e cada uma delas com os mesmos três sons de “A”, “V” e “I” (em “Alves” o “e” tem som de “i”). Ou seja, era (é) fácil pronunciar, de um jato só, sem maior esforço vocal, o nome completo do ex-deputado.

Não bastasse essa facilidade natural, em termos de resultados (isto é, vitória nas eleições), ele era politicamente competente, com uma fotogenia peculiar e modo de falar que se transformava em garantia de comunicação com o seu público – praticamente todo ele formado de pessoas simples, material e culturalmente falando.

Davi não tinha eleitores; tinha seguidores. Aonde ele ia, muitos iam atrás. Elegeu-se quantas vezes quis e levou e elevou ao Poder quem quis. Parecia massa de bolo: quando mais lhe “batiam”, acusando-o do cometimento de crimes mis, mais ele crescia. Elegeu-se deputado estadual, deputado federal constituinte, prefeito, deputado federal outra vez; elegeu irmão a deputado estadual, deputado federal e prefeito. Elegeu parentes e aderentes. E nas eleições de 1998 – até os adversários mais prejudicados reconheciam – iria se eleger novamente, pela terceira vez, deputado federal, possivelmente o candidato a ser novamente mais votado por estas bandas.

Se em vida ele carregava acusações, insinuações e maldições dos inimigos que fizera (lembre-se, para ficar em um só caso, o das juras de uma ex-prefeita maranhense que lhe tinha ódio letal), sua morte não lhe diminuiu o peso e, na febre do pós-morte, 11 entre 10 conversas preferem o calor das hipóteses e especulações.

Entre essas “estórias”, conta-se que o matador, Abraão, teria cometido um ilícito, seis meses antes, com o qual Davi não concordara e, daquele dia em diante, pusera o ex-cunhado “de lado”;

que Abraão, sócio ou arrendatário de um posto de gasolina, reclamara de acertos sob responsabilidade de Davi, ainda não realizados;

que Abraão (que se fizera passar por funcionário – ou ator – da Globo, usando até um crachá daquela empresa 16 dias antes, no desfile de 7 de Setembro em Imperatriz, conforme fotos e testemunhas) seria mais uma pessoa a serviço de adversários políticos e inimigos figadais;

que Abraão isso, que Davi aquilo...

Enfim, onde não há (se é que interessa haver) informação, prospera a contrainformação, a desinformação e, pior, a deformação.

Após a sua morte, em Imperatriz e adjacências, não havia canto de mesa, esquina de quarteirão onde não se falasse no nome de Davi. Do boteco mais anti-higiênico ao gabinete político mais arejado, a vida das conversas era a morte de Davi.

A diplomacia, a educação recomendaram que certas pessoas interessadas e (in)certas gentes interesseiras não soltassem fogos quando a primeira pá de terra foi posta sobre o caixão. Como se sabe, a verdade é uma busca; na terra, a vida da Humanidade se sustenta mesmo é em mentiras (ou, eufemisticamente, em não verdades). Se, em nome da verdade, fôssemos dizer tudo o que pensamos e fazer tudo o que devemos, as pessoas talvez não se tornassem melhores: simplesmente elas deixariam de existir, tal o quiproquó que daria. Na Psicanálise, chama-se de “sinceridade estúpida” àquela que diz tudo o que é (ou seria) verdade, sem relativizar/respeitar ambientes, contextos, momentos...

Em língua hebraica, Davi significa “amado”; Abraão, “deus exaltado”. O reencontro de um amado popularmente com um exaltado pessoalmente deu no que deu. Um homicídio, um suicídio. Com os dois mortos, a Terra deixou de ser o ringue em que o acerto de contas final vai se dar.

Nem na Bíblia Davi foi santo. São muitas as semelhanças entre o Davi da História Sagrada e seu homônimo de histórias sangradas.

O Davi bíblico foi amado e odiado por muitos. Tinha em volta de si 400 homens que lhe davam segurança. Ganhou popularidade matando (primeiramente, Golias). Gerou hostilidades e, durante algum tempo, tinha de viver fugindo de inimigos. Era bom com quem se mantinha fiel a ele. Foi vitorioso em inúmeras guerras. Formou um pequeno império em função das fraquezas de outros. Tratava barbaramente os inimigos.

Livros de estudos bíblicos dizem textualmente: “A característica predominante de Davi era a violência; era homem simples, ambicioso e violento e, desde a infância, habituou-se a uma vida de agressão e defesa”. A maior parte dos seguidores do Davi bíblico não o abandonava. Davi era dotado de “extraordinário grau de astúcia e habilidade”. “Ele foi hábil em identificar as ocasiões: se não podia promover positivamente as oportunidades, sabia evitar os passos que as poderia prejudicar”.

Se não bastassem essas coincidências, mais uma: o Davi sagrado criou um território seu: Israel. O Davi sangrado criou uma cidade, sua até no nome: Davinópolis.

Por último, o benefício da dúvida igualmente paira sobre os dois Davis. Sobre o Davi bíblico, os livros dizem, “ipsis verbis”, que “não devemos manipular a evidência para dar corpo às suspeitas”.

Davi está morto e, tal como Getúlio Vargas, saiu da vida para entrar na história, sem deixar de continuar nas estórias.

A História não escolhe as pessoas nem as seleciona por adjetivo ou folha corrida. Não se sabe se o porvir vai jogar um facho de luz sobre o muito que de obscuro se conta sobre Davi ou se os holofotes serão afastados de vez de sua vida.

A desvantagem é que personalidades políticas de vida atribulada sobrevivem à própria existência. Durante muito tempo, o nome de Davi ainda continuará sendo osso de ofício para muita gente: na Justiça, para a divisão da herança material; na política, para a partição ou conquista do espólio eleitoral; na imprensa, com publicação de fatos antecedentes, correlatos e consequentes. E, entre outras coisas, na boca do povo, que já gosta de tratar da vida e morte alheia...

Personagem acostumado às notícias sobre ele nada positivas da grande e da local Imprensa, Davi Alves Silva deixou, com sua morte, um espaço pessoal e político impossível de ser preenchido, pois, se alguns acreditam que votos podem ser transferidos, carisma, não.

Como está no “Mágico de Oz”, um bruxo que morre leva consigo seus feitiços.

* EDMILSON SANCHES

Ilustrações:
1) "Davi mata Golias", do pintor tcheco Anton Robert Leinweber (1845-1921);
2) "O Sacrifício de Isaac", que não chegou a se consumar, pois um anjo impede Abraão; pintura de 1635 do holandês Rembrandt (1606-1669);
3) Davi Alves Silva e seu túmulo, em Davinópolis (MA);
4) Placa de boas-vindas em rodovia que leva a Davinópolis.

Antes da pandemia, a ex-bordadeira de richelieu Dirce de Souza Rodrigues, de 64 anos, ia toda semana dançar no forró do Clube da Terceira Idade, na cidade de Muriaé, interior de Minas Gerais. Ela diz que gosta muito de dançar e se manter ativa, por isso também frequenta os passeios, as atividades do clube e ainda as aulas de ginástica cerebral em uma escola especializada em cursos para melhorar as habilidades como concentração, raciocínio e memória.

“Também faço hidroginástica e caminhada, procuro evitar carboidratos, gordura e açúcar, vou aos médicos, sempre meço minha pressão. Acho que estou sabendo administrar minha vida nessa minha idade, estou achando uma etapa maravilhosa, porque eu levo uma vida ativa. Minha expectativa de vida é que, aos 90 anos, eu quero estar bem e lúcida, se Deus quiser me dar vida e oportunidade de estar nesta terra”, disse Dirce, que é viúva, mãe de um filho e avó de três netos.

Assim como Dirce, a aposentada Neusa Pereira de Souza, de 80 anos, diz que a vida mudou muito depois dos 60 anos, mas que ela tenta se manter ativa. “Vou muito na igreja, faço caminhada todo dia de manhã, e o serviço da casa, não paro, vou fazendo devagar e acho melhor. A gente tem que ter uma coisa para fazer, se você parar acho que aí fica doente, velho não pode parar não!”, brinca.

Ela disse que, se chegar aos 90 anos, quer estar bem esperta. “Minha mãe morreu com 100 anos, e ela sempre foi esperta, não quero viver 100 anos. Mas, até os 90 anos, acho que vai dar!”, acredita a aposentada, que também é viúva, mãe de dois filhos e avó de três netos.

Dirce e Neusa fazem parte dos 28 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, número que representa 13% da população do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o IBGE, esse percentual tende a dobrar nas próximas décadas, segundo a Projeção da População, divulgada em 2018 pelo órgão.

Neste domingo, 27 de setembro, é comemorado, no Brasil, o Dia do Idoso, data criada para valorizar a vida depois dos 60 anos, uma fase em que é, cada vez mais, comum manter uma rotina ativa, com atividades físicas, intelectuais e de diversão, como fazem Neusa e Dirce.

Mas, é também nesse período da vida que surge uma das principais preocupações dos idosos e de seus parentes: como fica a capacidade de raciocínio, a memória e a clareza mental de quem já passou dos 60 anos.

Doença de Alzheimer

Aos primeiros sinais de lapso de memória ou de falha nas capacidades cognitivas, muitas pessoas passam a temer o diagnóstico da Doença de Alzheimer, um transtorno neurodegenerativo progressivo que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades diárias e alterações comportamentais.

No entanto, a confusão mental pode ter outras causas, explica o professor da disciplina de gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, o médico geriatra Rubens de Fraga Júnior. “Efeitos colaterais de medicamentos podem causar sintomas semelhantes à Doença de Alzheimer. Doenças como depressão e hipotireoidismo podem também causar confusão mental em idosos”.

O neurologista do Hospital 9 de Julho, Diogo Haddad completa que sempre é importante diferenciar entre quadros confusionais agudos ou lentos e progressivos. “Quadros agudos muitas vezes são associados ao que chamamos de ‘delirium’, e as principais causas são infecciosas e metabólicas. Já quadros como ‘deficit’ cognitivos, que se instalam lentamente, devem ser investigados para doenças neurodegenerativas, mas, sempre excluindo causas como ‘deficit’ de vitaminas (b12 principalmente), hipotireoidismo e mesmo infecções tardias como sífilis”.

Fraga Júnior explica que, para a Doença de Alzheimer, um novo exame de sangue mostra grande promessa no diagnóstico da doença. “Em pessoas com risco genético conhecido podem ser capazes de detectar a doença 20 anos antes do início da deficiência cognitiva, de acordo com um grande estudo internacional publicado no “Journal of the American Medical Association” (Jama)”.

“Estamos vivendo um novo boom de pesquisas em medicações para tratamento de Alzheimer”, completa Haddad. “A perspectiva é que, nos próximos dez anos, teremos inúmeros tratamentos voltados a própria fisiopatologia da doença, como drogas que agem nas proteínas beta amiloides e proteína tau”.

Por enquanto, a Doença de Alzheimer não tem uma forma de prevenção específica, mas um bom estilo de vida, iniciada durante a juventude, pode ajudar no tratamento dessa doença e de outras comuns para os idosos. “O jovem pode cuidar de si, assumindo um estilo de vida saudável: alimentação sadia, atividade física regular, controlar o estresse, não fumar e não beber. E, durante o confinamento, procurar ter uma rotina no seu dia a dia”, aconselha o professor.

Pandemia e terceira idade

A pandemia impôs um confinamento bem rigoroso aos idosos, já que a faixa etária após os 60 anos é classificada como grupo de risco para a covid-19, doença do novo coronavírus. Por isso, muitos idosos deixaram de procurar os atendimentos médicos, disse o neurologista do Hospital 9 de Julho, Diogo Haddad. “Idosos são um grupo de risco para a covid-19 e, por isso, necessitam de maiores cuidados, principalmente voltados ao isolamento, porém muitos deixaram de acompanhar doenças crônicas por medo e, neste momento, estão procurando atendimento de urgências por descontrole de suas doenças crônicas”.

Ele ainda destaca que, o isolamento aumentou os sintomas de ansiedade nessa faixa etária. “É um grupo que tende a ter poucas atividades externas e, nesse momento, o isolamento não permite essas interações e atividades sociais, o que também tem provocado um aumento importante de sintomas ansiosos nesta população”.

Apesar das inseguranças, a Dirce confia que logo uma vacina virá. “A pandemia ainda está ameaçando. Enquanto a gente não tiver uma vacina, não vamos ficar tranquilos. Tomara que venha a vacina logo e em grande quantidade para todo mundo”, disse. Ela conta ainda que a pandemia tem sido uma lição de vida para todos.

“O isolamento social foi preciso. Então, eu, na idade de risco, fiquei muito preocupada, me isolei em casa; e como moro sozinha, só saio se necessário, com máscara e álcool em gel. Por este lado, a pandemia foi boa porque mudamos os costumes de higiene e porque ajudamos muitas pessoas. Então, o incentivo da solidariedade falou mais alto ainda nessa hora da pandemia”.

Ao falar ainda um pouco mais de si, disse que gostou da própria companhia durante o isolamento. “Eu descobri uma coisa muito importante, que eu sou uma ótima companhia para mim mesma, faço minhas tarefas e até me acostumei a ficar em casa. Está sendo uma lição de vida essa pandemia, a gente está aprendendo a ter mais higiene, quantos micróbios a gente mata com este álcool em gel, com a limpeza da casa”.

Para a Dona Neusa, a pandemia está sendo horrível. “A gente fica dentro de casa. Se você não morre da doença, morre de tédio, pois não pode estar em qualquer lugar... apesar que eu vou ao médico, no mercado, mas eu me cuido, com a máscara, não fico batendo papo no meio das pessoas, mas parou né, a gente fica muito triste, não vejo a hora disso aí ir embora!”, disse se referindo à covid-19.

Saúde mental

Uma pesquisa da American Association of Geriatric Psychiatry indicou que 20% da população, acima dos 55 anos, têm algum tipo de problema de sua saúde mental. Os mais frequentes são comprometimento cognitivo severo e transtornos de humor, como depressão, ansiedade e bipolaridade.

Mas, segundo Fraga Júnior, é possível tratá-las e preveni-las. “O médico geriatra, o psiquiatra e o psicólogo são profissionais aptos a tratar as doenças mentais em idosos. A prevenção está na adoção de um estilo de vida saudável, mantendo contato social (durante a pandemia através de meios digitais como Zoom e WhatsApp) e realizando atividades ocupacionais que estimulem um propósito de vida”.

Suicídio na terceira idade

O Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio e pretende conscientizar sobre a importância de discutir o tema. Dados do Ministério da Saúde, divulgados em 2018, apontam para a alta taxa de suicídio entre idosos com mais de 70 anos. Nessa faixa etária, foi registrada a taxa média de 8,9 mortes por 100 mil nos últimos seis anos. A taxa média nacional é 5,5 por 100 mil.

“Devemos analisar que esses valores têm relação direta com o aumento de doenças como ansiedade e depressão nessa idade e que, muitas vezes, são negligenciadas por familiares e pelos próprios pacientes, que apresentam muita resistência em procurar ajuda. Fica o alerta para que alterações comportamentais e dificuldades cognitivas novas devam ser encaminhadas para a avaliação de um profissional competente e não encarnadas como parte de um envelhecimento normal”, alerta Haddad, que concorda com seu colega Fraga Júnior no que diz respeito a hábitos a juventude para um envelhecimento saudável.

“Um estilo de vida saudável para que se tenha um envelhecimento saudável deve compreender boa alimentação (com menor consumo de produtos industrializados), atividade física regular (em média 30 a 60 minutos todos os dias), boa qualidade de sono, ter momentos de relaxamento assim como objetivos e metas, além de evitar cigarro e consumo excessivo de álcool”, disse.

(Fonte: Agência Brasil)

Eu me lembro dele. Conheci-o no Rio, no Grajaú, na residência do meu amigo Neiva Moreira. E entre nós a boa amizade. Com ele, um resto de comunismo. Comigo, inteiro, o integralismo. Eu continuei. Euclides, soube depois, abandonara a ideologia subversiva. Na época da nossa apresentação, o parente de Neiva participava das lutas oposicionistas. Encontrava-me nela. E, entre nós, nasceu a camaradagem. A amizade. O companheirismo. Euclides estava integrado na luta oposicionista do Maranhão. Era, assim parecia, uma contribuição fortíssima. Homem do interior. Do sertão. Trazia consigo a força de uma convicção política: ajudar a rebentação do situacionismo maranhense. Sentia-se isto em Euclides Neiva.

Euclides regressou. Eu fiquei no Rio. Estava mos “Diários Associados”. Pertencia ao quadro redacional de “O Jornal”. Ensaiávamos a reportagem. Os anos se passaram e sempre o Neiva me falava do “parente e amigo”. Um dia, deixamos a Guanabara e voltávamos com um endereço certo: ‘trabalhar no “Jornal do Povo”, entrar na luta oposicionista. Dar um máximo da nossa contribuição. E foi, na redação do referido matutino, que me reencontrei com Euclides Neiva.

Ele estava no jornalismo. Escrevia um artigo diário. Inteligente. Escrevia bem. Um estilo próprio. Agradável. A descoberto, investia sempre criticando os erros dos maus governos que temos dito. E estávamos sempre juntos. Sempre na Redação, conversando, trocando ideias. Juntos lutando, juntos ajudando a luta do povo, a luta oposicionista.

Um homem bom. Bom amigo. Preocupado sempre com a família. Preocupado sempre com a política. A sua política do interior. O seu prestígio, a sua “liderança partidária”. Tinha o seu campo de ação. Tinha seus planos íntimos. Sempre agitado. Sempre criando situações difíceis para ele, para a sua política, seus interesses na “política maranhense.

Era assim. Fora disto um homem simples, um homem inteligente, mantendo a boa conversa. Sabendo fazer amigos fora da área política. Nesta, havia inimigos “perigosos”. Era um homem de luta. Lutava a seu modo, a sua maneira. Esteve algum tempo residindo em São Luís. Não nos visitávamos. Mas onde nos encontrávamos havia o registro das atenções, da amizade sincera. Muitos anos assim.

Sempre reservei para ele um especial cuidado. E foi no “Instituto Raimundo Cerveira” que vim conhecer uma de suas filhas, a poeta Venuza Neiva. Uma amizade sadia. Festa do espírito. Mas com Euclides sempre o encontro amigo. Mas teve um instante que o perdi de vista. Euclides depois surgia no cenário político do Maranhão com um diploma de deputado. Deputado estadual. Não era mais oposicionista. Fixara-se no situacionismo. Uma atitude dele. Não senti mágoas. Os homens são livres e responsáveis por si. Pensei que esta nova posição política do meu amigo Euclides Neiva o afastasse de mim, da amizade, da atenção. Entretanto, Euclides rompia com as “reservas”. Continuava a ser o mesmo. Sempre quando nos via, sempre havia o registro da camaradagem.

Mas há muito que não mantínhamos a palestra íntima. Não houve mais a oportunidade. Mas, de quando em vez, encontrava-me com ele lendo seus artigos. Era Euclides Neiva numa outra fase política de sua vida. Resolvera permanecer, não mais alterar a sua conduta política. Hoje, relembramos Euclides Neiva. A notícia de sua morte causou-nos tristeza. Euclides estava na campanha do candidato situacionista. Estava na luta, a sua luta. Estava firme. Tudo nele vida, tudo nele esperança. Tudo nele uma vontade determinada de cumprir com a sua valiosa colaboração. E justamente quando se encontrava no seu posto de combatente, eis que a fatalidade o arrasta da vida. Arranca-o da vida. Seu corpo forte, suas reações físicas foram contaminadas pelo veneno terrível de um ofídio. Euclides sentiu, certamente, o desmoronamento. E lutou como pôde para sobreviver! Não se entregou de todo. Seu temperamento não permitiu, assim pensamos, aceitar o “perigo iminente” sem que dele houvesse a reação heroica, a bravura da resistência. Mas Euclides deixou de viver. Seu coração parou em Montes Altos. Seus olhos se fecharam para a vida. Seus olhos foram se abrir depois para a Eternidade.

Nesta página, estou vendo o amigo. O jornalista. O oposicionista que foi Euclides. O idealista que foi Euclides Neiva. Não há lágrimas nos olhos. Há a névoa da incompreensão. Mas, há na VIDA, a caminhada trágica para a MORTE. Com este pensamento, a melhor maneira de sentirmos a falta de Euclides Neiva.

Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 2 de outubro de 1965 (sábado).

I / LABIODENTAIS

dentes
hábeis
em
lábios
lábeis

II / VAGINOLABIAIS

lábios
de macho
em lábios
em cacho:
acima
abaixo
a boca
encaixo

III / MASTOGRAFIA

teus
seios
sei-os:
bicos
que bico
mamas
que mamo
que nem
neném

IV / CALIPÍGIA

o desejo
que abunda
em mim
: a/bunda
em ti

V / VULVAR

vagindo
vagidos
o ventre
vestíbulo

vulva
vaga
vágil

o pênis
pênsil
vai
e
vem
vai e vem
vaivém

fenda
sulco
faz-se
suco

amor
feito
amor
perfeito
li
que
fei
to
.

* EDMILSON SANCHES

1

A vida é mais lírica em um cais
porque ele é feito
de saudade e esperas.

Estou só no tombadilho
de meu barco,
que rasga as franjas das águas
em rumo do puro longe.

Nada há em meu redor,
a não ser um rondó
de expectativas...

O puro longe, para onde vou,
não é apenas
um poema marítimo,
mas uma ode silenciosa.

Oh! Peso imenso!

Ó mar sem fundo nem margens,
onde nada acho de mim,
senão nada em tudo!

* Fernando Braga, in “O Puro Longe”, Caldas Novas, 2012.

Neste domingo, Dia de São Cosme e Damião, continuamos falando sobre...

Palavras homônimas e parônimas

...

26. CONJECTURA ou CONJUNTURA
Conjectura = hipótese, suposição:
Não me venha com essas conjecturas.

Conjuntura = situação, circunstância:
A conjuntura brasileira não permite abusos.

27. COSER ou COZER
Coser = costurar:
É necessário coser esta calça.

Cozer = cozinhar:
Gosto muito de um cozido à portuguesa.

28. COXO ou COCHO
Coxo = manco:
Mancava porque era coxo.

Cocho = carro puxado por animal:
Até o início do século passado, andava-se de cocho.

29. CUSTEAR ou COSTEAR
Custear = pagar as despesas:
O acontecimento foi custeado pelo Banco do Brasil.

Costear = navegar junto à costa:
O navio costeava o Brasil de norte a sul.

30. DECENTE ou DOCENTE / DESCENTE ou DISCENTE
Decente = honesto:
Esta diretoria é formada por pessoas decentes.

Docente = quem ensina:
O corpo docente desta escola é de alto nível.

Descente = que desce:
Foi encontrado na descente do rio.

Discente = quem aprende:
Os discentes estão informados das provas.

31. DEFERIR ou DIFERIR
Deferir = despachar, atender:
Ele deve deferir o nosso requerimento.

Diferir = fazer diferença:
É necessário diferir uma coisa da outra.

32. DEGRADAR ou DEGREDAR
Degradar = rebaixar, tomar vil:
Há muita degradação moral.

Degredar = expulsar do país:
Os traidores da pátria foram degredados.

33. DELATAR ou DILATAR
Delatar = denunciar:
O companheiro delatou o criminoso.

Dilatar = aumentar:
Solicitou-nos que dilatasse o prazo.

34. DESCRIÇÃO ou DISCRIÇÃO
Descrição = ato de descrever:
Fez a descrição do acidente.

Discrição = qualidade de quem é discreto:
Comportou-se com discrição.

35. DESCRIMINAR ou DISCRIMINAR
Descriminar = descriminalizar, inocentar, deixar de ser crime:
O objetivo da sua proposta é descriminar o aborto.

Discriminar = segregar, separar, enumerar:
Sou contra qualquer discriminação.

Teste da semana
Que opção completa, corretamente, a frase abaixo?
“Cumpre que __________ concessões quando __________ de assuntos políticos”.
(a) faça-se / se trata;
(b) se façam / se trata;
(c) se faça / trata-se;
(d) se faça / se tratam;
(e) se façam / se tratam.

Resposta do teste: letra (b).
Em “que se façam concessões”, o verbo deve concordar no plural com o sujeito “concessões”. A partícula “se” é apassivadora. É um caso de voz passiva sintética (= que concessões sejam feitas). Em “quando se trata de assuntos políticos”, como o verbo “tratar” é transitivo indireto (= tratar de), não há voz passiva. Em razão disso, o verbo deve ficar no singular.

Integrante da nova geração da comunidade surda, Maurício Massouh nasceu em 1994, é digitalizador terceirizado no TJDFT e é universitário em Brasília. Tinha apenas 6 anos quando a Lei nº 10.436, que oficializou a Língua Brasileira de Sinais, foi sancionada. Em 2008, já na adolescência, pôde presenciar a sanção da lei que estabelece o Dia Nacional do Surdo.

Mas a memória do Dia do Surdo é bem mais antiga. Vem do século XIX. Em 26 de setembro de 1857, o imperador Dom Pedro II fundou o Instituto Imperial de Surdos-Mudos por sugestão do professor francês Édouard Huet,. Mais tarde, passaria a se chamar Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines).

Para Maurício, as conquistas legislativas, históricas e tecnológicas são importantes. E ele quer mesmo é se divertir e estar incluído como os jovens da idade dele. Maurício tem surdez profunda bilateral por causa de rubéola durante a gravidez da mãe dele. Mas isso não o impede de curtir músicas, dançar e escutar: “Uso aparelho auditivo, amo escutar músicas e, claro, dançar também [Risos]. Escutar é delícia [Risos]. Escuto falas e músicas com legendas sempre”. Na lista de músicas preferidas, estão Pabllo Vitar e alguns artistas do pop nacional e internacional. “O surdo poder fazer tudo! Pode dirigir, pode cantar, pode atuar em novelas”.

Ele faz questão de reforçar que, mesmo em 2020, ainda tem gente que chama surdo de surdo-mudo. “Isso é incorreto e ofensivo, né? Surdo pode falar e cantar sim. Ser surdo é apenas uma coisa que te impede de escutar sem aparelho auditivo ou implante coclear, mas ele tem voz, sim”, enfatiza.

Mãos e outros sentidos

Quando estuda, Maurício e outros estudantes surdos contam com os tradutores-intérpretes. Parece que são apenas as mãos que se movem, em movimentos ora ligeiros, ora contemplativos. A energia dos dedos, em uma velocidade da luz dos olhares que acompanham, sai combinada com expressões que vão além dos dicionários. Os sons não estão apenas substituídos por palavras, mas por novos sentidos. Quem vê apenas mãos nessa interpretação-tradução nem imagina o que passa no esforço profissional-cidadão da pessoa nesse exercício de um código tão especial. Para a goiana Brenda Rodrigues, de 27 anos, intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras), foi o encanto pela possibilidade de incluir outras pessoas que a fez mover dedos e coração ao mesmo tempo.

Há 10 anos, ela resolveu aprender com um amigo da igreja que frequentava. “Eu fui ficando encantada pelo o que eu aprendia. Minha tia também me ensinava”. Foi uma surpresa para o professor de Brenda quando ele perguntou na sala qual era o sonho profissional de cada um, e ela disse que queria mesmo ser tradutora de libras. O professor ficou feliz e sugeriu vários cursos. O estímulo estava dado. Brenda, hoje, trabalha na Empresa Brasil de Comunicação e em um centro universitário em Brasília.

Outro grande momento dela foi quando, pela primeira vez, conseguiu traduzir uma informação para uma pessoa surda. Faltam até palavras em português para definir o que foi aquele momento. Os olhos emocionados descrevem, “Foi uma sensação de satisfação poder transmitir para pessoa algo. Eu não acho que tenha palavras para descrever isso”. Justo ela, tradutora, que sabe de uma responsabilidade que é mais do que um substantivo. “Saber que uma pessoa compreendeu é, de fato, um sentimento de dever cumprido. Ser intérprete é como fazer um juramento máximo de passar a informação a alguém”.

Para ela, a língua de sinais é um aprendizado constante. Inclusive, durante a reportagem, Brenda participou de uma conversa com o pesquisador e professor surdo Messias Ramos Costa, doutorando em linguística. “Foi uma grande emoção porque ele foi meu primeiro professor de libras há 11 anos”. Um idioma novo, uma cultura nova em que não se pode parar de pesquisar.

Nem pesquisar nem de sentir. Brenda tem as palavras preferidas em libras. “O sinal de compaixão é muito forte porque é como se você tivesse os seus sentimentos trocados com a da outra pessoa. É como se você tivesse pegando o sentimento dela e colocando em você. O sinal de obrigada é uma mão aqui na testa e outra aqui no peito. Eu acho lindo”.

Traduzir é um trabalho puxado. Com os universitários, aprendeu, durante a pandemia aulas de diferentes disciplinas para gravar a interpretação das aulas a distância e enviar. Ela não para. Ao vivo, não é possível porque, quando o professor faz a apresentação, não sobra janela para que ela fique em destaque para alunos surdos. Por isso, a aula vira uma tarefa de casa.

Na EBC, é uma das tradutoras das entrevistas coletivas, evento e pronunciamentos de integrantes do governo federal. Para isso, fica à disposição porque a urgência pode chegar a qualquer momento. “MInhas colegas me ajudam muito a melhorar. Vamos para o estúdio, assistimos e interpretamos ao mesmo tempo. Na primeira vez, foi frio na barriga e uma tremedeira nas pernas. Ainda bem que a câmera não mostra”, sorri.

Sempre ao término de um evento, costuma assistir aos vídeos para se autocriticar. Os telespectadores também já a reconheceram depois de eventos. “ O importante é que a informação está chegando em quem precisa ser incluído. É muito gratificante ter o retorno, como de assuntos importantes para toda a Nação. Bom saber, por exemplo, que uma pessoa conquistou um direito e eu pude também participar da informação”.

Antenada

Maranhense, Karen Elysee é a primeira surda em sua família e concorda com Brenda sobre a necessidade de todos estarem conectados a uma frequência cultural. De acordo com a jovem de 22 anos, não basta ao intérprete saber os sinais, é preciso que ele esteja inserido no contexto do idioma. “Quando o intérprete tem o domínio da língua, o surdo consegue entender melhor em lugares como a escola, por exemplo”. Aliás, foi a escola que em Brasília “mudou a vida” dela. “Eu consegui evoluir. Tive mais interações, mais informação”.

Para se comunicar com os parentes mais próximos e amigos ouvintes, utiliza aplicativos de celular que trazem intérpretes voluntários. O primeiro contato, contudo, costuma ser pela escrita. “O ouvinte pensa que é normal a escrita, mas se ele quer aprender algum sinal, eu sempre busco ensinar um pouco.

Assim que se formar, planeja criar uma empresa de jornalismo e publicidade voltada para o público surdo, nos moldes da TV Ines, que considera uma inspiração. Mas também sonha em estudar fora do país, na única universidade com um programa educacional voltado especificamente para pessoas surdas, a Universidade Gallaudet, localizada em Washington, nos Estados Unidos.

“Quando tem ouvinte e surdo em grupos de WhatsApp, o ouvinte tem mania de mandar áudio. E a gente fica sem saber o que está acontecendo. Então, o ouvinte tem que estudar como funciona a comunidade surda”. Estão todos juntos, em busca de novos sentidos e sonhos, palavras universais que cabem bem nos dois idiomas.

Inclusão

Os veículos da Empresa Brasil de Comunicação procuram garantir a inclusão tanto nos conteúdos jornalísticos, nas pautas, como os de entretenimento, nos temas tratados. O programa “Repórter Visual”, por exemplo, exibido em Libras, se transformou no primeiro programa do gênero diário criado para levar informação à comunidade de surdos no país. Outra atração de referência é o Programa Especial, totalmente voltado à pessoa com deficiência.

(Fonte: Agência Brasil)

Começa oficialmente, neste domingo (27), a exposição de arte urbana “Rua Walls”, que reúne 18 artistas cujas obras foram pintadas nos muros do Porto do Rio de Janeiro, entre os armazéns 10 e 18 da Avenida Rodrigues Alves, na região central da capital fluminense. Os artistas transformaram 1,5 quilômetro dos muros dos armazéns do Porto do Rio em obras de arte.

O projeto urbanístico de arte pública “Rua Walls” pode ser apreciado por qualquer um livremente. Os murais foram pintados durante um mês, de madrugada. Os artistas que participaram do projeto são Agrade Camís, Amorinha, Bruno Lyfe, Célio, Chica Capeto, Diego Zelota, Doloroes Esos, Flora, Yumi, Igor SRC, Leandro Assis, Luna Bastos, Mariê Balbinot, Marlon Muk, Miguel Afa, Paula Cruz, Thiago Haule, Vinicius Mesquita e Ziza. O projeto de urbanismo tático foi criado pela produtora Visionartz, que, há mais de dez anos, promove ações de revitalização urbana, sempre associadas ao desenvolvimento social por meio da arte.

Segundo a assessoria de comunicação da Companhia Docas, o investimento foi custeado, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (Lei do ISS), pelas empresas arrendatárias dos terminais portuários: ICTSI Rio, Multiterminais, Terminal de Trigo do Rio de Janeiro (TTRJ) e Triunfo Logística.

Inclusão social

O projeto “Rua Walls” é considerado uma ferramenta de inclusão social, porque 90% da equipe são formados por moradores das comunidades próximas do Morro do Pinto e do Morro da Providência, que foram capacitados em diversas frentes de trabalho. Foi realizada, também, a pintura artística nos muros da Escola Municipal General Mitre, situada no Morro do Pinto.

O “Rua Walls” contribuiu ainda para a ampliação da biblioteca para jovens, idealizado pelos moradores da comunidade da Providência, bem como para a criação da primeira horta orgânica no Morro do Pinto, que será administrada pelos próprios moradores e é um projeto sustentável em toda a sua cadeia.

(Fonte: Agência Brasil)