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Estudantes convocados na chamada regular do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2020 têm somente até hoje (21) para fazer a matrícula na instituição para a qual foi selecionado. Hoje também termina o prazo para os candidatos que não foram convocados para nenhuma das duas opções de curso selecionadas declararem interesse na lista de espera das vagas remanescentes. Para a lista de espera, serão adotados os mesmos critérios anteriores de classificação da primeira chamada. O resultado dessa etapa será divulgado pelas instituições na próxima sexta-feira (24). A segunda edição do Sisu recebeu 814.476 inscritos.

Esta é a primeira vez que há vagas pelo programa em cursos de graduação e ofertados na modalidade de ensino a distância. Os candidatos que participaram da edição de 2019 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e se cadastraram no sistema disputaram 51.924 vagas ofertadas em 57 instituições públicas de educação superior do país.

Lista de espera

Para participar, o processo é simples, mas não automático. O estudante interessado deve acessar o Boletim do Candidato, no “site” do Sisu, e na tela da primeira opção de curso, clicar em “participar da lista de espera”. Em seguida, uma mensagem de confirmação será emitida pelo sistema. A partir daí, os selecionados devem ficar atentos aos prazos, procedimentos e documentos exigidos para não perderem o prazo de matrícula.

(Fonte: Agência Brasil)

Este livro de Waldemiro Viana, “A tara e a toga” é realmente um romance imaginativo que gira fundamentalmente em termos das relações humanas. Mas não é só isso. O livro é ainda, ao mesmo tempo, um romance histórico, a contar uma tragédia real, vivida por um velho magistrado, que no século XIX, em São Luís do Maranhão, sob o surto de uma violenta paixão senil e de um ciúme incontido, matou, com resquícios de crueldade e volúpia, uma jovem moça dos arrabaldes da Ilha, por quem sentia satânicos desejos.

É ainda o livro, uma história romanceada, em que Waldemiro Viana adverte o leitor que o texto não se prende à verdade exata dos fatos, sugerindo cautela aos “puristas da História em sua santa Ira”. E por que diz isso? Por que “em prosa clara, viva e saborosa, arquitetada com magistral competência técnica”, ele conduz a urdidura real e romanesca, a seu modo, levando-a por caminhos e temperanças ficcionais, sem, no entanto, arredar-se do objeto maior, que é a própria história, daí sua grandeza!

José Cândido de Pontes de Visgueiro era um desembargador de alto respeito na Casa da Súplica [antigo Tribunal de Justiça] e de elevado prestígio no Império.

Era ele de índole má e tático maquiavélico, matreiro, e dizem, estupidamente feio, de natureza casmurra e circunspecta, a tratar a todos com habituais e mal-humorados monossílabos, quase inaudíveis.

O velho magistrado era alagoano e vivia em um luxuoso sobrado à Rua de São João, onde era servido e paparicado por seus empregados e por mais doutos da sociedade ludovicense que frequentavam seus umbrais em noites de banquetes e que privavam de sua austera e incômoda companhia.

O desembargador Pontes Visgueiro conheceu Maria da Conceição, alcunhada por Mariquinha, uma moçoila do subúrbio de São Luís, e com ela, em troca de presentes e mimos, conquistou sua atenção, a ter assim, o que outros tinham de graça. O velho idolatrou-se pelo corpo da jovem, e a jovem enamorou-se pelas algibeiras do velho... E assim começou como não poderia ser diferente, um complicado ‘romance’ entre a doce Mariquinha e o azedo magistrado, que, depois, passou a escandalizar a sociedade de São Luís com cenas patéticas, a ponto de o desembargador ajoelhar-se para beijar os pés da adolescente nas ruas movimentadas da cidade.

Numa bela tarde, daquelas que em São Luís são servidos ótimos crepúsculos, Pontes Visgueiro a sentir incômodos calos a lhes nascerem nas têmporas, resolveu dar uma volta de bonde lá pelas bandas do Largo dos Amores, o bastante para ver o que seus amargurados olhos não queriam ver: Mariquinha a conversar alegremente com um jovem Alferes da Polícia, o bastante para que Pontes Visgueiro premeditasse uma ação diabólica. Numa noite, em seu sobrado, a forjar um banquete para a amada, levou-a para seu quarto e dopou-a com a ajuda física de um seu escravo por nome Guilhermino, matando-a de forma tão cruel que não deve ser descrita aqui, enterrando-a depois de esquartejá-la no vão das escadas de entrada do aristocrático solar, transladando-a, por precaução, para o quintal e enterrando-a, por fim, em um canteiro florido por jasmins e rosas...

Corria o ano de 1873, e como não há crime perfeito, logo o macabro homicídio foi descoberto e Pontes de Visgueiro preso e levado para a Corte, perdeu o cargo de desembargador e foi condenado pelo Supremo Tribunal de Justiça a prisão perpétua a ser cumprida na Casa de Correção do Rio de Janeiro. O infeliz magistrado não resistiu, vindo a falecer dois anos depois, em 1875.

Os despojos de Mariquinha, separados, cabeça, tronco e membros, foram postos em um caixão de madeira, sobreposto a outro de zinco. O marceneiro Boaventura Andrade ganhou a absolvição, porque foi provado que ele fizera o caixão atendendo a uma encomenda do desembargador; o funileiro Amâncio da Paixão Cearense, que construiu o caixão de zinco, teve um agravante por ser compadre de Pontes Visgueiro, e foi condenado juntamente com o escravo Guilhermino a oito anos de serviços forçados.

Em um novo julgamento, Amâncio provou sua inocência, porque, também como o marceneiro, atendeu a uma encomenda do velho juiz, apesar do compadrio com ele... Depois desse episódio, juntou seus filhos menores dando adeus a São Luís em rumo de Fortaleza... Lembra-nos Waldemiro Viana que, dentre essas crianças, filhos de Amâncio, estava o belo poeta, teatrólogo, músico, compositor e seresteiro, o imortal autor de “Luar do Sertão” Catulo da Paixão Cearense, o qual, depois de algum tempo, ao lado do pai e dos irmãos, na “Terra de Iracema”, viajou para o Rio de Janeiro, e nunca mais voltou a São Luís, seu chão natal, o qual fora palco dessa tragédia histórica que envolveu seu pai, e quase, para sempre, pelos impulsos da senilidade de um magistrado emocionalmente instável e de uma personalidade torpe e psicopata, nodoaria com o sangue da injustiça os seus belos e brejeiros cantos e contos de amor.

* Fernando Braga

As escolas particulares do município do Rio de Janeiro pretendem retomar as aulas presenciais no dia 3 de agosto, de acordo com o prefeito, Marcelo Crivella. O retorno da rede privada de ensino, segundo a prefeitura, será facultativo a professores, funcionários e pais de alunos que assim desejarem e será “sob regras rígidas da Vigilância Sanitária”.

“(...), tive encontro com representantes das escolas privadas, que querem voltar de maneira voluntária no dia 3 de agosto. Voltar de maneira voluntária, seguindo todas as regras da Vigilância Sanitária”, afirmou nessa segunda-feira (20), Crivella. A prefeitura diz que irá detalhar esse anúncio à imprensa hoje (21).

Já as aulas nas escolas públicas municipais ainda não têm data de retorno definida. “A volta das escolas municipais, sem data ainda definida, será debatida nesta semana”, disse o prefeito. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, um plano de retomada está sendo debatido.

No último dia 4 de julho, os professores das escolas da rede particular do município do Rio de Janeiro decidiram realizar uma greve contra o retorno às aulas presenciais neste momento de pandemia. A decisão foi tomada em uma assembleia virtual da categoria com mais de 500 docentes. De acordo com o Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (Sinpro-Rio), uma nova assembleia será realizada no dia 1º de agosto.

“Não tem nenhum tipo de fato novo que permita que voltemos agora em segurança”, diz o vice-presidente do Sinpro-Rio, Afonso Celso Teixeira. Ele questiona como seria aplicada uma medida facultativa no setor privado. “Na iniciativa particular, vale a vontade do empregador. Nós trabalhadores ficaríamos à mercê disso”.

Segundo o último boletim da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, divulgado no último domingo (19), havia em todo o Estado 138.524 casos confirmados e 12.114 óbitos por coronavírus. Havia, ainda, 1.172 óbitos em investigação. Somente na capital, eram 66.909 casos confirmados e 7.703 mortes pela doença.

A Agência Brasil entrou em contato com o Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro (Sinepe Rio), mas não obteve o posicionamento da entidade até o fechamento da matéria. Em nota publicada no último dia 30, a entidade afirma que o retorno de cada instituição depende de sua própria conveniência, assim como do posicionamento de sua clientela. Diz ainda que não há nenhuma imposição para essa volta, respeitada a autonomia de cada uma das escolas acerca do momento oportuno e da metodologia que irá adotar.

“Voltar às aulas, com os devidos cuidados, zelando pela vida, mantendo a segurança dos alunos, dos professores e dos funcionários ajuda a amenizar os danos irremediáveis que a quebra das relações sócio-afetiva-cognitivas está trazendo a centenas de milhares de crianças e jovens, privados do contato com seus amigos e ambiente de ensino comum”, diz o texto.

De acordo com o Monitoramento de Reabertura das Escolas Particulares no Brasil, elaborado, diariamente, pela Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), até o momento, há, no país, um Estado com escola reaberta, Amazonas. Outros nove Estados e o Distrito Federal com data sinalizada para retornar às atividades presenciais. São eles: Acre, Pará, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio Grande do Sul). As demais unidades da Federação estão sem data definida.

(Fonte: Agência Brasil)

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) abriu inscrições para três cursos de aprimoramento profissional – português, matemática e Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), todos na modalidade ensino a distância (EaD). São 75 mil vagas disponíveis e as inscrições vão até sexta-feira (24).

O curso pode ser feito por estudantes de graduação, concluintes do ensino médio e alunos matriculados na Universidade Aberta do Brasil (UAB). As inscrições são feitas pela plataforma virtual da Capes. Nessa plataforma, o estudante deverá preencher um formulário para, em seguida, acessar o sistema de matrícula.

O curso de matemática é voltado para quem pretende complementar a formação básica, potencializar a compreensão das habilidades e características relativas à linguagem matemática. O curso também estimula no estudante reflexões fundamentais para aprendizagens posteriores e para o desenvolvimento de pesquisas, ensino, extensão e/ou inovação.

O curso de português aborda conceitos básicos de redação, interpretação, variedade linguística, concordância nominal, pontuação, além de orientações para a produção textual no meio acadêmico.

O curso de TICs aprofunda o conhecimento sobre o cenário atual dos recursos tecnológicos e potencializa a qualificação na área da tecnologia digital.

(Fonte: Agência Brasil)

Termina, nesta terça-feira (21), o período de matrícula dos candidatos selecionados na chamada regular do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2020.2. Amanhã, também é o último dia para os candidatos que não foram convocados para nenhuma das duas opções de curso selecionadas declararem interesse na lista de espera das vagas remanescentes. Para a lista de espera serão adotados os mesmos critérios anteriores de classificação da primeira chamada. O resultado será no dia 24 de julho. A segunda edição do Sisu recebeu 814.476 inscritos.

Esta é a primeira vez que há vagas pelo programa em cursos de graduação na modalidade de ensino a distância (EaD). Os candidatos que participaram da edição de 2019 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e se cadastraram no sistema disputaram 51.924 vagas, ofertadas em 57 instituições públicas de educação superior do país.

Lista de espera

Para participar, o processo é simples, mas não automático. O estudante interessado deve acessar o Boletim do Candidato, no “site” do Sisu, e na tela da primeira opção de curso, clicar em “participar da lista de espera”. Em seguida, uma mensagem de confirmação será emitida pelo sistema. A partir daí, basta acompanhar as convocações feitas pelas universidades para preenchimento das vagas restantes, observando prazos, procedimentos e documentos exigidos para matrícula ou para registro acadêmico estabelecidos no próprio edital da instituição.

(Fonte: Agência Brasil)

O plenário da Câmara dos Deputados deve iniciar, nesta segunda-feira (20), a votação da proposta de emenda à Constituição que torna o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) permanente (PEC 15/15). A sessão virtual que analisará a matéria está prevista para começar às 15h.

Em discussão há cinco anos, a proposta prevê 12,5% de complementação em 2021, 15% em 2022, 16,5% em 2023, 18% em 2024, 19% em 2025 e 20% em 2026. Atualmente, o governo federal aporta no Fundeb 10% da contribuição total dos Estados e municípios.

Inicialmente, discutia-se a elevação do índice para 15% a partir de 2021 e o aumento de forma escalonada, até 2026, a 20%. No entanto, o percentual foi alterado em razão da diminuição das receitas de Estados e municípios provocada pela pandemia de covid-19.

De acordo com a relatora, deputada Professora Dorinha (DEM-TO), em 2019, os recursos do Fundeb equivaleram a cerca de R$ 156,3 bilhões, provenientes, predominantemente do tesouro dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, que contribuem com 90% desse valor.

A proposta também modifica a destinação dos recursos “carimbados” para pagamento dos profissionais da educação, de 60% dos recursos do fundo para, no mínimo, 70%. Pelo texto da relatora, esse recurso não poderá ser usado para o pagamento de aposentadorias e pensões de profissionais do magistério.

A matéria conta com o apoio do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e é defendida por parlamentares da bancada da educação, já que o fundo criado em 2006 tem validade até 31 de dezembro e ainda não há financiamento alternativo para a educação brasileira caso a proposta não seja aprovada.

Composição

Segundo Professora Dorinha, o aumento da participação da União para 20% escalonado pelos próximos seis anos é uma forma de garantir o equilíbrio de “oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade”.

O Fundeb é a principal fonte de recursos da educação básica, respondendo por mais de 60% do financiamento de todo o ensino básico do país, etapa que vai do infantil ao ensino médio. O fundo é composto por percentuais das receitas de vários impostos. Atualmente, cerca de 40 milhões de estudantes da rede pública são atendidos pelos recursos do financiamento. “O Fundeb é a expressão do Pacto Federativo na educação”, afirma a relatora.

A distribuição é feita levando em consideração o desenvolvimento social e econômico das regiões - a complementação do recurso aplicado pela União é direcionada às regiões nas quais o investimento por aluno seja inferior ao valor mínimo fixado para cada ano.

A destinação do orçamento é feita de acordo com o número de alunos da educação básica, com base em dados do censo escolar do ano anterior. O acompanhamento e o controle social sobre a distribuição, a transferência e a aplicação dos recursos do programa são realizados em escalas federal, estadual e municipal por conselhos específicos.

Pandemia

De acordo com o presidente da comissão especial do Fundeb, deputado Bacelar (Podemos-BA), consultoria da Câmara dos Deputados calcula que, com a pandemia, as perdas da educação em 2020 podem ser de R$ 7 bilhões a R$ 31 bilhões. “As receitas estão caindo. De 2016 a 2018, nós perdemos na educação R$ 18 bilhões. Em 2019, já no governo Bolsonaro, o Ministério da Educação só conseguiu aplicar 45% do seu orçamento”, afirmou.

“Isso, paralelamente aos choques educacionais que essa pandemia traz. O primeiro é o aumento das desigualdades educacionais – o filho de classe média tem o seu computador, o filho do trabalhador não tem acesso às aulas remotas e ensino a distância. Um está aprendendo, o outro não. Vai aumentar a taxa de abandono escolar – esse adolescente que não queria ir à escola e foi, por muito esforço dos pais, da sociedade e da escola, agora está há 120 dias sem aula, nunca mais vai voltar”, completou.

Para a relatora da proposta, deputada Dorinha, o valor por aluno que o Brasil gasta para escola pública ainda é muito pequeno. De acordo com o relatório, com a complementação de 20% da União, os recursos podem chegar a 23 Estados. Atualmente, apenas nove são atendidos: Amazonas, Pará, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Piauí.

“Nós queremos garantir que os municípios mais pobres possam receber mais recursos. A complementação da União que nunca chegou a mais de nove Estados – sete Estados no Nordeste e dois da Região Norte – possa olhar agora o Brasil como um todo e chegar aos municípios mais pobres”, avalia a deputada.

Segundo ela, os recursos do Fundeb estabilizaram-se em torno de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) e a complementação da União em 0,2% do PIB. Para o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a aprovação é urgente para equilibrar o orçamento da educação em Estados e municípios.

“Somente devido à crise sanitária, os Estados já investiram, aproximadamente, R$ 1,9 bilhão de recursos próprios, não previstos em ações, para garantir a continuidade do processo de aprendizagem. Além disso, terão que investir um montante considerável de recursos para a garantia da execução dos protocolos de retorno às aulas”, argumentou o Consed.

Proposta do governo

No último sábado (18), uma proposta alternativa de ajuste à PEC foi enviada pelo governo aos líderes partidários, sugerindo a modificação de trechos da proposta. O texto sugere que a PEC só entre em vigor a partir de 2022. Apesar de propor a modificação na data de início do novo fundo, não há indicação de financiamento para a educação em todo o ano de 2021.

Entre as propostas, está a mudança do trecho referente ao pagamento de professores, limitando o percentual em até 70%, incluindo pagamento de aposentadorias e pensões. A medida sugere também a transferência direta de 5% da complementação da União para famílias com crianças em idade escolar que se encontrem em situação de pobreza ou extrema pobreza, incluindo ações relacionadas à primeira infância e ao auxílio creche.

O texto ainda propõe, durante os três primeiros anos após a promulgação da PEC, usar matrículas da rede privada do ensino infantil para registro do Fundeb, com o propósito de assegurar o alcance das metas de universalização e ampliação da oferta de vagas na pré-escola e na creche.

Para o presidente da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Luiz Miguel Martins Garcia, a medida desfigura o Fundeb. “Essa proposta do governo nos pegou de absoluta surpresa. Não faltou oportunidade para que o governo pudesse contribuir com o projeto. Entendemos que é um processo que inviabiliza o funcionamento do Fundeb”, afirmou Garcia, em entrevista à Agência Brasil.

Para ele, a proposta pode tirar o foco de deputados e senadores do Fundeb permanente por trazer a discussão de questões que não são relevantes. Garcia disse considerar que a proposta pode trazer um cenário de caos para a educação ao inviabilizar os recursos para a área em 2021.

“Não há alternativa para o financiamento com uma descontinuidade abrupta. Gera um grande caos a essa altura, a menos de seis meses para o término do atual Fundeb. Não temos plano B. Dessa forma, é possível que haja a paralisação de muitos serviços e ofertas, como educação em tempo integral, por exemplo”.

Em nota, a Undime reitera que a proposta apresenta aspectos inconstitucionais, além de desconstruir a estrutura do Novo Fundeb. De acordo com a instituição, essas medidas são incompatíveis com a atual conjuntura educacional.

O Consed também se manifestou contrário à proposta do governo. Para a instituição, as mudanças ameaçam alguns dos principais pontos do texto da PEC.

“Com esse projeto, o governo federal propõe que desses 10 pontos percentuais de acréscimo, 5 sejam destinados não à educação pública, mas a programas de transferência de renda, o que representa um claro desvirtuamento do propósito do Fundeb, além de uma perda de 50% dos recursos novos a serem complementados pela União no novo Fundeb”, argumenta o Consed, também em nota.

O conselho diz que a proposta do governo permite que recursos públicos da União, dos Estados e dos municípios sejam utilizados como auxílio para pagamentos nas redes privadas.

Tramitação

Por se tratar de uma proposta de emenda à Constituição (PEC), o texto precisa ser aprovado por três quintos dos deputados, o correspondente a 308 votos favoráveis, em dois turnos de votação.

A perspectiva dos parlamentares é que a análise da matéria seja concluída amanhã (21), na Câmara. Em seguida, o texto segue para apreciação do Senado, onde também deve ser analisado em dois turnos e depende da aprovação de, pelo menos, 49 senadores.

(Fonte: Agência Brasil)

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José Erasmo Dias, na noite de sua posse na AML, em 16/9/1972

Na Quinta do Val-de-lobos, na Póvoa de Santarém, em Portugal, vivia arredio Alexandre Herculano por questões de intrigas e pirraças com alguns dos seus companheiros da Torre do Tombo. Nos Apicuns, na antiga Quinta dos Frias, que prefiro chamar de Val-de-gatos, em São Luís do Maranhão, vivia acuado, junto de “krupskaia”, sua gata de estimação, José Erasmo Dias, a figura mais extraordinária que conheci na comédia humana, nesse todo de que nos recorda Balzac, apesar de sua figura representar, irremediavelmente, um protagonista das histórias de Dostoievski e das de Edgard Allan Poe, como se ele mesmo fosse “O Corvo”, ou mais alguém envolvido nos mistérios de “Crime e Castigo” ou naqueles contos tétricos da “Rua Morgue”. Era, ao mesmo tempo, este Erasmo autor e personagem. Tinha muito também do seu “alter ego”, o de Roterdã, como se fosse uma sombra que monologava no “Elogio da Loucura” contra deuses e demônios. Nasceu José, este Erasmo, em São Luís, no dia 2 de junho de 1916, e parido no ventre da geração de 30 do Maranhão. E se fez jornalista, contista, polígrafo e panfletário, abandonando o curso de Direito no terceiro ano; exercia influência literária, por ser um homem de cultura feita, e orientava aos que lhe solicitavam ajuda artística.

É este o olhar que tenho e recordo de José Erasmo Dias, a ratificar, sem mudar uma vírgula, o que escreveu Graça Aranha, em “O Meu Próprio Romance”, sobre a figura de Tobias Barreto, quando o conheceu na Congregação da Faculdade de Direito do Recife: “O mulato feio, desgracioso, transformava-se na arguição e nos debates; os seus olhos flamejavam; da sua boca escancarada, roxa, móvel, saía uma voz maravilhosa, de múltiplos timbres, a sua gesticulação transbordante, porém sempre expressiva e completando o pensamento. O que ele dizia era novo, profundo, sugestivo”.

Erasmo Dias foi um homem honesto e honrado; viveu e sofreu numa pobreza franciscana. Foi diretor do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, deputado estadual e prefeito interino de São Luís. Era aposentado pela Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, no cargo de diretor de Debates.

A grandeza de Erasmo, como político, como homem de cultura e, sobretudo, como uma figura marcante e marcada que lhe emolduraram a personalidade, quer emblemática, ou estigmatizada, ficou em todos nós ao longo de uma sofrida vida que ele fingia alegre, mas que, no íntimo, interpretou-a e se autodirigiu, inegavelmente sem nenhum retoque, mas com a legitimação, por exemplo, estampada no seu à Pirandello, “O Roubo dos Personagens”, que, em síntese, é ele, por ele mesmo.

Sobre essa figura singular, atentemos para o que escreveu a pena abalizada de Lago Burnett: “Erasmo Dias era contagiante. Intimava, empolgava, comprometia. Era difícil ouvi-lo sem um arrebatamento. Suas atividades convergiam para um só mecanismo propulsor e detonador de eventos. Erasmo, o escritor engajado, o polemista, era o elemento catalisador que impulsionava toda uma geração e fazia crescer o fermento do seu entusiasmo pelos grandes temas contemporâneos. Jornalista, foi no panfleto, na folha vibrante e desaforada dos grandes duelos políticos, que encontrou as melhores oportunidades para realizar-se, dizendo, com bravura e malícia, o que a patuleia perplexa mal conseguia traduzir em sentimentos, quanto mais em palavras”.

Nessa esteira de análise, Carlos Cunha, no seu livro de memórias “Caçador da Estrela Verde”, disse sentimentalmente: “Não era do hábito de Erasmo Dias sentar-se à mesa para ensinar os iniciantes da arte. A conversa, com ele, ajudava-nos a aprender as coisas, ver uma luz no fundo do túnel. [...] Como político, alçou voo alto, tão brilhante quanto o intelectual e boêmio. Na tribuna da Assembleia Legislativa, Erasmo Dias fazia discursos brilhantes e eloquentes, arrebatando aplausos, fazendo as galerias delirarem. Com o seu dom para a ironia, conseguia, com rara sensibilidade, levar os interlocutores, deputados, ao ridículo. Sua passagem na política foi como a trajetória de um cometa, perdendo-se na vastidão de sua inteligência. Defendia as causas dos humildes e dos desvalidos. Era político oposicionista de autenticidade. Admirado pelos adversários”.

Confesso que em minhas incursões pela casa de Erasmo, direcionado sempre ao foco de curiosidades, que era uma velha cômoda de jacarandá, estilo Luís XVI, achei, certa vez, um bilhete de cunho histórico e sentimental que o ilustre médico e escritor Clarindo Santiago o presenteara pelo seu cunho jocoso e lírico. Pois bem, esse bilhete fora escrito pelo intelectual Luso Torres que era general do Exército e também tinha sido Interventor do Maranhão em tempos difíceis, e que numa noite, acometido de uma crise de hemoptise, precisou do socorro profissional de Clarindo Santiago... Eis o bilhete:

“Compadre Clarindo, estou a precisar com urgência dos teus cuidados. Vem depressa aqui em casa, pois estou botando todinho em um penico o sangue que um dia jurei derramar pela Pátria. Do teu de sempre, Luso Torres

Quis surrupiar esse pedacinho histórico de papel. Ele me flagrou e arrebatou-me das mãos. O desmazelo, sem dúvida, deve tê-lo destruído. Que pena! Eu, modéstia à parte, teria dado melhor destino àquela lembrança...

Ali, naquela cômoda, ele dizia guardar também, envolto em pano de linho cru, os originais de “O Gasômetro”, um seu romance inacabado, uma sua visão íntima de São Luís, a pedir-me que, se por ventura o olhasse com olhos de malsinar, não o tocasse; mas só achei alguns papéis anotados com tais referências; o que achei mesmo, e de arrepiar a emoção, foi “A Rapsódia das muitas Teresas”, anotações dispersas de um conto, quase novela, que acredito ter sido um dos maiores que já se escrevera pelos nossos Maranhões, tendo ficado, pela incúria e desmazelo do próprio autor, na vala do ineditismo e se perdido na inexorabilidade do tempo. Era simplesmente um monólogo, onde um feto a se contorcer, narrava, dentro do tempo devido, sua infeliz fecundação, a lembrar-nos lances de “Coração revelador”, de Edgar Allan Poe, cujas miragens de alucinação e efeitos de terror, pareciam ter transpostos uma arte diferente, em meio àquelas lâminas agitadas, a erguer-se serena e calma, numa figura de melancolia, numa atitude acabrunhada e triste.

Para minha alegria, presenciei Erasmo, na varanda de sua casa, escrever a lápis, em folhas de papel soltas e sem pautas, com sua letra firme e bem talhada, a novela “Maria Arcângela”, pausando de vez em quando, para a natural e devida leitura e para um gole reparador de aguardente. “Maria Arcângela” é uma das maiores novelas já escritas para o Cancioneiro Maranhense, onde se encontra, pela grandeza do estilo, ressonâncias de “A Peste”, de Albert Camus, vez que “Maria Arcângela” fora escrita para um cenário da epidêmica varíola que um dia assolou São Luís. O texto é digno de estar enfeixado em antologias dos melhores contos ou novelas brasileiros.

Charles Baudelaire, o tradutor em francês do poeta Edgard Allan Poe, nos diz em um belo ensaio sobre o autor de “Histórias Extraordinárias” “... “Que as notas, os costumes, os hábitos, o físico dos artistas e dos escritores sempre suscitou uma curiosidade bem legitima”, e era essa, bem se sabe, a intenção do poeta e médico Fernando Viana em fazer a caricatura em versos do nosso Erasmo, a qual foi publicada no Jornal “A Tarde”, de Salvador, depois publicado no seu “Passarela e outros perfis”:

“Este, em São Luís, é o que se ufana / com seu timbre de voz desconcertante, / de em casa possuir toda uma estante / sobre literatura americana. / Na Imprensa Oficial, onde é mandante, / percebe, mensalmente, gorda grana, / e, ali, como num plácido nirvana, / vai meditando e lendo para diante. / Desengonçado, anêmico, disforme, / no contraste do corpo, a cara enorme / dá-lhe a ambígua aparência de boi manso... / Tem talento e cultura. É inteligente / e escreve muito bem – principalmente / quando na vida alheia dá balanço...”.

Erasmo, não o de Roterdã, mas o dos Apicuns, era um homem de apurado senso estético, orientador literário de quem o procurava nesse espinhento caminho; orador de peças memoráveis, panfletário e editorialista de artigos imorredouros, como “Boi marrequeiro”, “Algodão de capoeira”, “Areias de aluvião” e outros muitos; como escritor deixou legado à história literária do Maranhão, “Páginas de crítica”, um livro de ensaios, onde comenta com vigor e técnica extraordinários, os estilos e características de James Joyce, Romain Rolland, Ernest Hemingway, Hermann Hesse, Thomas Mann e outros gênios da Literatura Universal.

Foi eleito para a Academia Maranhense de Letras, ao suceder o professor Silvestre Fernandes na Cadeira nº 15, patroneada pelo humanista Manuel Odorico Mendes, em cujo discurso de posse transcendeu à eloquência ao falar do tradutor de Virgílio

Morreu José Erasmo [de Fontoura e Esteves] Dias, em São Luís, no dia 14 de maio de 1981, por ironia, numa segunda-feira, à luz do sol das onze horas, sem conseguir serenar-se com a madrugada, como gostaria; morreu sem aquele grito de “Quincas Berro d’água”, mas serenamente; seu corpo foi sepultado no velho cemitério do Gavião, debaixo de um cajueiro em flor, sem a cruz, como símbolo do cristianismo, mas com a Estrela de Davi, ou Signo de Salomão, já que se dizia judeu, a luzir à cabeceira de sua consciência, agora verdadeiramente imortal...

* Fernando Braga

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Nascimento Morais Filho em noite de lançamento de “Clamor da hora presente” (4ª ed.), em junho de 1992

Este ano, relembramos o aniversário do poeta maranhense Nascimento Morais Filho (1922-2009), que, se estivesse vivo, celebraria, na última quarta-feira (15/7), seus 98 anos. Durante a maior parte de sua vida, meu avô se dedicou à literatura, às lutas sociais e à pesquisa literária, realizando um movimento constante e incansável em prol da cultura maranhense. Em minha curta convivência com ele, da década de 1980 até os anos 2000, pude presenciar e absorver toda sua coerência, inteligência e ativismo político – e, quando escrevo “político”, falo no sentido de uma pessoa que sabia muito bem não só “ser” humano mas também “existir” como ser humano, não só para sua família como também para seus amigos, alunos e admiradores.

O poeta era filho de outro nome bastante conhecido das letras maranhenses, o meu bisavô José Nascimento Morais, jornalista, contista e romancista. Mas o Filho enveredou por outro caminho que não foi o do pai, o da prosa literária, pois pertenceu à geração que iniciou efetivamente o Modernismo na poesia do Maranhão chamada pelo crítico Assis Brasil** de “Geração de Bandeira Tribuzzi”. O movimento modernista, aqui no Estado, buscava desgarrar-se de um cheiro persistente da “tradição romântico-parnasiano-simbolista”, atualizando, enfim, as conquistas estéticas datadas da Semana de Arte Moderna (1922). Surgindo em fins da década de 1940 para consolidar-se em 1950, o Modernismo poético maranhense revela nomes tão importantes quanto o de Bandeira Tribuzzi, considerado o iniciador desse movimento com a publicação de seu livro “Alguma existência” (1948): ao lado de José Chagas, Nauro Machado, Bernardo Almeida, Manuel Lopes, Dagmar Desterro, Ferro do Lago, Tobias Pinheiro, Clóvis Ramos, José Sarney, Lago Burnett e Ferreira Gullar, está Nascimento Morais Filho. Todos esses poetas publicam, de uma forma ou de outra, seus escritos ao longo da década de 1950 e nas décadas posteriores, seja em livros ou em periódicos (jornais e revistas) como também testemunharão publicações de novos autores, como José Maria Nascimento, Manuel Caetano Bandeira de Melo, Lucy Teixeira, Carlos Cunha, Lauro Leite, Venúsia Neiva, Fernando Braga, Raimundo Fontenele e Ribamar Feitosa, para citar apenas alguns nomes.

Em pleno ativismo ecológico, com integrantes do Comitê de Defesa da Ilha de São Luís

Outro ponto catalisador do Modernismo no Maranhão foi a fundação do Centro Cultural Gonçalves Dias em 1945, que muito mais do que combater um determinado “passadismo literário”, como disse o autor Rossini Corrêa, pretendia tirar o cenário intelectual da época de um marasmo, retomando mesmo uma atividade literária mais pungente e atuante. Conforme Corrêa (1989)***, o CCGD foi uma sociedade cultural que agregava tanto intelectuais de outrora (como Luso Torres, Manoel Sobrinho, Bacelar Portela, Clodoaldo Cardoso e Nascimento Morais, pai) quanto a mocidade ávida por novas discussões e participações, dentre eles Nascimento Morais Filho, Vera Cruz Santana, Reginaldo Telles, Agnor Lincoln da Costa, Antônio Augusto Rodrigues, José Bento Nogueira Neves e Haroldo Lisboa Olímpio Tavares e outros nomes. Como essência, o CCGD era mais um movimento cultural do que um movimento de escola literária e, por isso, promovia discussões e leituras, chegando a editar dois números de uma revista literária do grêmio, abrindo espaço para publicações de novos autores. Tudo isso contribuiu para agitar realmente o cenário intelectual local.

Meu objeto de estudo e pesquisa é a obra de Nascimento Morais Filho, mas, como percebemos, estudar seus escritos e sua trajetória literária é também pesquisar sobre os primórdios da poesia modernista no Maranhão, sua recepção crítica e sua consolidação por meio de obras de outros grandes autores e desbravadores. Sendo assim, é importante lembrar que, como poeta, Nascimento Morais Filho escreveu três obras: “Clamor da hora presente” (1955), “Azulejos” (1963 – minha obra favorita e fruto de minha dissertação de Mestrado em 2016 intitulada “A poética modernista em Azulejos de Nascimento Morais Filho” e publicada em livro em 2019 – e “Esfinge do azul” (1972). Para o meu doutorado, o qual ainda está em curso, realizo um estudo crítico de todo esse conjunto poético, partindo do conceito de liberdade, fio condutor perceptível na escrita de Nascimento Morais Filho.

Para além de sua produção autoral, é sempre bom destacar o trabalho incansável de Nascimento Morais Filho na pesquisa literária com o sentido de resgatar nomes que, por um motivo ou outro, foram esquecidos (para não dizer excluídos) das antologias e seleções literárias, como é o caso de Estevão Rafael de Carvalho e sua “A metafísica da contabilidade comercial” (1837; reeditada em 1987) e a nossa Maria Firmina dos Reis, a primeira mulher brasileira a escrever um romance, “Úrsula” (1859; reeditado em 1975). A pesquisa que resultou na obra “Maria Firmina – fragmentos de uma vida”, publicada em 1975, até hoje serve de referência bibliográfica inicial para quem quiser realizar algum tipo de estudo de fato fundamentado sobre a autora, como foi o caso recente do sociólogo paulistano Rafael Balseiro Zin e seu livro “Maria Firmina dos Reis: a trajetória intelectual de uma escritora afrodescendente no Brasil oitocentista” (2019). Se hoje eu e tanto outros professores podem discutir com seus alunos os poemas de “Cantos à beira-mar”, os contos “A escrava” e “Gupeva” e o romance “Úrsula”, devemos, certamente, ao resgate de meu avô-pesquisador.

No canto esquerdo, ao lado de Jomar Moraes, José Sarney e do jornalista e poeta Paulo Nascimento Moraes (irmão)

Mas Nascimento Morais Filho fez muito mais: de suas viagens pelo interior do Maranhão como fiscal de Renda do Estado (sua profissão oficial) e também de suas pesquisas na Biblioteca Pública Benedito Leite, resultaram três obras cujo cerne é o folclore, quais sejam “Pé de conversa” (1957), “Esperando a Missa do Galo” (1973) e “Cancioneiro Geral do Maranhão” (1976). A primeira reúne quadras populares, comumente presentes nos falares do povo; a segunda traz contos natalinos de autores maranhenses, percorrendo um período de 150 anos; e a terceira resgata algo em torno de 2.800 trovas colhidas nos jornais do Maranhão dos séculos XIX e XX.

Com toda essa dedicação às letras e à cultura maranhenses, Nascimento Morais Filho foi homenageado e reconhecido em vida sim: integrou a Academia Maranhense de Letras (cadeira número 37) e recebeu a Medalha da Ordem dos Timbiras em 2008 – esta última a mais alta comenda ofertada pelo Poder Executivo estadual. Além disso, em vida, o poeta recebeu inúmeras visitas em sua famosa casa no Beco do Couto, 57, Centro, de pessoas das mais variadas estirpes sociais que ansiavam por suas conversas e conselhos e por absorver, assim como eu, de todo seu amplo conhecimento e de suas histórias de tempos passados.

E, ainda, havia a Ecologia, luta que ele abraçou em fins da década de 1970 e continuou até o fim de sua vida. A causa ecológica resultou na fundação do Comitê de Defesa da Ilha de São Luís em 1981 (a qual agregou personalidades representativas da vida cultural e social do Maranhão, até mesmo religiosas), em inúmeros programas veiculados pela Rádio Educadora do Maranhão, em várias trocas de correspondências com ambientalistas como Raul Ximenes Galvão, além de novas homenagens como a da ONG Greenpeace, por ter sido um dos primeiros defensores dessa causa tão nobre em nosso Estado e no Brasil. Eu vi tudo isso e vivenciei seus princípios e seu amor pelo coletivo e pelas artes em geral. É por causa de todo o legado de grande valor que Nascimento Morais Filho deixou ao Maranhão que a memória de seus feitos ainda reverbera em nós.

* Natércia Moraes Garrido é doutoranda em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP; é autora do livro “A poética modernista em Azulejos de Nascimento Morais Filho” (Goiânia, GO: Ed. Espaço Acadêmico, 2019); é professora assistente do curso de Letras da Universidade Estadual do Maranhão e do Instituto Federal do Maranhão; é crítica literária, exercendo o ofício no Blog e no canal do YouTube, ambos intitulados “A Beletrista”; é neta e pesquisadora do legado de Nascimento Morais Filho.

** “A poesia maranhense no século XX: antologia”. Organização, introdução e notas de Assis Brasil. Rio de Janeiro: Imago Ed.; São Luís, MA: Sioge, 1994.

*** CORRÊA, Rossini. “O Modernismo no Maranhão”. Brasília: Corrêa e Corrêa Editores, 1989.

À memória do poeta Jamerson Lemos

 

Estás livre como um pássaro
na superfície do vento nômade.

Tens uma rosa como bússola
e um sábado árido para gastá-lo.

Estás livre como um pássaro
e sabes aonde deverás pousar
quando te faltar o fôlego.

Há um azul no teu caminho
e uma paz branca de anjo
a vaguear em tua paisagem.

Estás livre como um pássaro
entre o horizonte e o sonho
no raiar duma nova claridade
sem dor alguma por tua culpa.

Hoje terás teu pão sem agonia!...

* Fernando Braga, in “O Puro longe”, 2012.

Em uma “live”, a Rádio MEC apresentou, nesse sábado (18), as 100 músicas semifinalistas da 12ª edição do festival da emissora e também abriu para votação do público. Foram, ao todo, 1.029 trabalhos inscritos. Nas categorias de música clássica e música instrumental, 17 trabalhos se classificaram em cada uma. Entre as músicas infantis, ficaram 16 concorrentes. Na categoria de música popular, há 50 obras na disputa. O público pode ouvir as músicas e votar em cada uma das categorias: Música Popular, Música Infantil, Música Instrumental e Música Clássica.

“Live” em diferentes ritmos

Piano, violão, misturas de ritmos, expectativas e interação com o público. Até o resultado com os semifinalistas, o ritmo da “live” foi de homenagem à arte brasileira. O evento foi marcado por quatro atrações musicais, de diferentes gêneros. Eram artistas premiados em outras edições que trouxeram trabalhos já reconhecidos. Eles também explicaram que a cultura é fundamental para a convivência nesse momento de pandemia. A transmissão teve início com uma apresentação da pianista Deborah Levy com a música “Isolamento e cura”, que integra o projeto Nossa Melhor Visão de Mundo, feito sob inspiração dos tempos de pandemia.

Deborah venceu em 2018, na categoria de Melhor Intérprete de Música Instrumental com a música “Back to life”. “O meu prêmio está em local especial na minha casa, em cima do piano”. A musicista, que é produtora e realizadora do CD “Apimentada”, apresentou na “live” a música vencedora do festival.

Deborah Levy lembrou que o trabalho foi composto quando resolveu voltar ao Brasil para retomar a carreira. Ela vivia nos Estados Unidos e também trabalhava como musicista em um navio. A pianista explicou que estar em isolamento produz ansiedade e, também, reflexão. “Produzir nos ajuda a lidar com essa ansiedade. Estou fazendo ‘lives’ nesse período. Nesse projeto, temos trabalhado com esse tema”.

Na sequência, o violonista Hamilton Catette, que é especializado em música infantil, tocou “Pezinho de maracujá”, canção vencedora da edição de 2018 do festival. Na apresentação, ele recordou a felicidade de estar entre os finalistas e, depois, quando soube que havia ganhado. “Eu separei sementes de maracujá para trazer aos meus colegas músicos que também estavam concorrendo. Quando soube que eu ganhei, eu pulei muito”. O músico, que também é professor e tem cinco discos, valorizou a importância da possibilidade de difusão instantânea da arte. Catette também cantou a música “Tomatinho vermelho”, que foi gravada por uma ex-aluna dele, Luiza Possi. “Fazer música é de uma responsabilidade muito grande. Precisa ser educativa, e as crianças são verdadeiras quando ouvem uma canção”.

De norte a sul

O terceiro a se apresentar foi o músico Eduardo Camenietzki, vencedor em 2019, na categoria Música Clássica, tocou, nesse sábado, obras com inspirações de diferentes partes do país. O primeiro trabalho que ele apresentou no violão foi “Prelúdio em tempo de axé”. Camenietzki tem 37 anos de carreira e mais de 400 composições. “Eu crio desde que me entendo por gente. Vivi sempre das minhas músicas. Eu compunha antes de tocar instrumento”.

Entre as criações, o músico ressaltou que fez até músicas para aberturas de telejornais, documentários de cinema e séries de TV. Entre os trabalhos, a música “Suíte gaúcha” foi crida para “O Tempo e o Vento”, exibida pela TV Globo, em 1985, a convite do ator e diretor Paulo José. Camenietzki recorda que também ensinou para o ator Tarcísio Meira, intérprete do personagem Capitão Rodrigo, parte da música para que fosse incorporada nas cenas. A música já foi gravada também pelo músico Yamandu Costa. “Fiquei honrado que ele tocou ‘Suíte gaúcha’. Ele é um dos grandes que já surgiram no violão brasileiro”. Camenietzki explica que o instrumento de corda necessita de bastante energia. "Eu fico relaxado quando toco, mas descobri que os batimentos cardíacos aumentam bastante”.

O último a se apresentar foi o violonista Raphael Gemal. O músico trouxe a ode a misturas de ritmos (como carimbó e maracatu) em “Feira Livre”. Logo depois, ele tocou a música “Chamada”, de autoria dele e de Ricardo Szpilman. Em 2015, a canção teve interpretação premiada de Valéria Lobão, no Festival da Rádio MEC. O artista ainda tocou “Tema de Hipólita”, finalista no ano passado.

(Fonte: Agência Brasil)