
Na tarde dessa quarta-feira, 24/11/2020, os Correios entregaram-me – finalmente! – o exemplar da mais recente obra do zeloso professor, pesquisador, historiador, escritor e acadêmico maranhense Antonio Guimarães de Oliveira. A gentil dedicatória, em letra redonda e firme, é datada de 11 de novembro, o que sugere imediatidade do Autor em me enviar sua obra desde o instante em que recebeu os exemplares impressos, prontos e acabados, sob o selo editorial da Viegas Editora, de São Luís (MA).
Para quem tem sensibilidade livreira, bibliológica, bibliofílica, o livro é o mais charmoso e simbólico produto de documentação e disseminação de conteúdos, de formação de pessoas e fixação de identidade cultural de uma dada sociedade. Além do mais, para um autor, é mágico o momento do receber, apalpar e manusear os livros que tão suada e sacrificadamente escreveu e lhes contratou a impressão. Assim, compreendo, empática e enfaticamente, a entusiasmada manifestação do Antonio Guimarães de Oliveira quando, em mensagem de áudio, disse repetidamente o quanto seu livro era “lindo”.
Sim, o conteúdo efetivamente recebeu adequada forma. As mais de 320 páginas do livro “Pêndulos & Fiéis” respeitaram a contenção, a “claridade”, o aspecto “clean” dos pequenos e reflexivos textos em prosa. As características físicas da obra são de uma sofisticada simplicidade, a partir da capa, da imagem que a ilustra à família tipológica com que se escreveu/inscreveu o título, além do igualmente contido e fino traço da fonte de letras com que o Autor, discretamente, assina esse seu décimo-segundo filho de papel e tinta.
Conheci o Antonio Guimarães em São Luís, há uns cinco anos. Encontramo-nos em espaçosa e rica livraria de um “shopping” ludovicense, para onde eu fora convidado a fazer uma palestra. Por saudável coincidência, também estava por lá um dos mais renomados professores salvadorenses, o historiador, pesquisador, pedagogo e escritor Luiz Américo Ribeiro Júnior, o primeiro baiano a ministrar aulas sobre Música Popular Brasileira em universidade, autor de “Marchas Brasileiras”, obra monumental em dois volumes, compreendendo o período 1927 a 1940, acompanhada de dois CDs resultado de um apurado e acurado trabalho de resgate, recuperação e replicação de áudios musicais originais. (Após retornar para Salvador, Luiz Américo enviou-me esse esmero bibliográfico-histórico-musical, com dedicatória e tudo).
Em São Luís, Antonio Guimarães, Luiz Américo e eu deitamos conversas(s) como se fôssemos velhos amigos velhos - coisa que só a Cultura (e a cachaça...) podem fazer.
Quem lê e vê os livros de Antonio Guimarães de Oliveira (pois que ele tem livros de grande formato, que, além dos textos, reproduzem grandes e históricas ilustrações, imagens, fotos) já pode intuir, fazer um bosquejo da figura intelectual desse Autor: o homem educado, o professor dedicado, o historiador preocupado, o pesquisador aplicado, o escritor abnegado, o maranhense devotado às causas e cousas de sua terra.
Se esta terra que é dele e nossa lhe oferecer ao menos as mínimas condições (perdoe-se a ênfase), verá brotar do horto antoniano muitos e bons frutos bibliográficos - os originais dos livros estão prontos e/ou praticamente prontos na mesa e na mente desse produtivo arqueólogo do saber histórico-cultural maranhense.
Para os anteriores trabalhos de, digamos, mais fôlego de Antonio Guimarães, esse “Pêndulos & Fiéis” parece “divertissement”, com seus textos de contadas e contidas palavras e inumeráveis e incontidas dimensões.
Convidado pelo Autor escrevi um “compte rendu”, um breve relato do lido e sentido, algumas palavras às quais Antonio Guimarães emprestou valor, a ponto de considerá-las apropriadas para um prefácio - tal é a lhaneza e fidalguia desse colega escritor e meu confrade no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.
Assim, sem mais delonga, eis o prefácio ao livro “Pêndulos & Fiéis”, de Antonio Guimarães de Oliveira, 324 páginas, primorosa obra impressa em setembro de 2020, em papel-pólen, com texto de orelha de Kalynna Dacol e preâmbulo de José Kleber Neves Sobrinho, ambos professores.
Êxito, Antonio.
EDMILSON SANCHES
(Escrito em 26/11/2020)
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PÊNDULOS & FIÉIS
(Prefácio ao livro de mesmo título, de Antonio Guimarães de Oliveira)
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Textos filosóficos, reflexivos, meditativos, não vêm de um apertar de botão. Exigem tempo, renúncia – longo pensar, longo penar. Querem o autor só pra si, pois a escrita é amante exigente.
Não se engane o leitor: os textos deste livro são curtos, mas seu alcance é extenso. Poucas palavras, muitas “ideias”.
Não sei o porquê, ou sei, mas à medida que lia “Pêndulos & Fiéis” sinapses ocorriam e faziam pontos de contato com leituras anteriores, como “A Arte da Prudência”, de Baltasar Gracián, e “A Fuga do Perfume”, obra do próprio Antonio Guimarães de Oliveira, publicada em 2008. Claro, não há nos textos do autor maranhense a pletora de elipses do (re)conhecido escritor e jesuíta espanhol do século 17.
E do que trata este livro? À maneira da divisa do Conde de Mirandola, arriscaríamos que aqui se cuida de todas as coisas sabíveis, sentíveis... e mais algumas.
Este mais recente trabalho do infatigável Antonio Guimarães de Oliveira (já são onze obras de porte publicadas e mais de vinte a saírem) passeia pensamentos, pendular e fielmente, pelos caminhos da vida e da morte, do saber e da ignorância, privilégios e carências, luz e trevas, verdade(s) e mentira(s) “y otras cositas más” – o absinto e o absurdo, os diálogos com borboletas e mariposas, morcegos e lagartas (em seus nomes científicos latinos, dados por Lineu)...
Os títulos dos textos antonianos têm aparência e consistência de títulos de livros. Neles sobressai o uso dos substantivos “poeta”, “poesia” – pelo menos 66 dos 134 textos têm essas palavras no título. Em grego, de onde se origina, “poeta” significa “autor”, aquele que faz, que cria, constrói.
Criar é fazer um pouco o papel de Deus. Os antigos helenos punham o ato da composição poética no mesmo grau de dificuldade da construção de um navio, do levantamento de um prédio, da elaboração de um perfume. Antonio Guimarães de Oliveira, não importa se com afago ou puxão de orelha, bem que considera os engenheiros da palavra, construtores do verbo e, em essência, perfumistas de (novos) sentidos. Como escreve ele aqui, clara e popularmente: “Quem não gosta de poesia, não tem alma”, ou “A vida sem poesia perde a graça”.
A economia vocabular, a concisão frasal, a concentração semântica em textos breves é o que está posto para o leitor, que terá de, com seus conteúdos, fazer nascer o significado do texto a partir do sentido com que ele, leitor, o engravidou.
Eis aqui, portanto, um livro de - e para - muitas leituras. Ora uma coisa, ora outra - pêndulo. Ora um sentido preciso, um ponto fixo - fiel.
Para os que adoram escritas cartesianas, lineares, retilíneas, autoexplicáveis, unidimensionais, advirta-se: os textos de “Pêndulos & Fiéis” nem sempre desabrocharão seu(s) sentido(s) ao primeiro ataque dos olhos. Nem sempre se desvelarão ao primeiro roçar dos dedos pelas páginas. Não haverá amor à primeira vista...
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“Pêndulos & Fiéis”, décima-segunda obra de Antonio Guimarães de Oliveira.
Aqui, rediga-se, nem sempre a leitura será fácil...
... mas, por outro lado, ela sempre será útil.
* EDMILSON SANCHES
Foto:
O autor e sua obra.