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Perto de um século de vida… Rodrigo Otávio Baima Pereira, 96 anos*

Caxias deveria fazer festa.

Há 96 anos, em 12 de setembro de 1928, nascia Rodrigo Otávio Baima Pereira.

São 96 anos de um ser humano de memória e amor extraordinários quando o assunto é a cidade de Caxias – também minha terra natal.

Seu Rodrigo era casado há 67 anos com Dona Terezinha Queiroz Baima Pereira, nascida em 12 de abril de 1935 e falecida de causas naturais na madrugada de 22 de dezembro de 2023, uma sexta-feira, em São Luís. O casal teve sete filhos.

Sem ofensa a ninguém, Rodrigo Baima é daquele grupo dos mais caxienses dos caxienses. Sempre portando uma pasta debaixo do braço, com documentos e informações sobre Caxias, mas, mais ainda, com mais informações na sua grande memória, Rodrigo Baima já chegou a ser chamado de “museu vivo de Caxias” – evidentemente, pelo enorme acervo de dados, pelo conhecimento vivido e, também, pelo compartilhamento, com humildade, de seus saberes com os mais novos, estudantes, pesquisadores, escritores.

Rodrigo Baima é desses que merecem as melhores honrarias em vida.

A Academia Caxiense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias já têm a honra de tê-lo em seus quadros de membros efetivos; é, portanto, meu confrade nessas duas Casas de Cultura.

No ensino médio, no Colégio São José, em Caxias, tive como colega de turma um dos filhos do Rodrigo, o Paulo Augusto, que faleceu em 2013. Seu Rodrigo, homem da História, certamente não previa nem queria vivenciar ou escrever certos capítulos de sua vida – a perda dramática do filho, a morte silenciosa da esposa... São assim certos pais e maridos: não querem enterrar os próprios filhos... nem, também, ser um dos que carregam o caixão da própria mulher.

Em uma das visitas que fiz à residência do Rodrigo, a conversa tocou, por um momento, no nome do filho Paulo... e vi os olhos de Seu Rodrigo marejarem, o silêncio instalar-se por uns instantes, a cabeça pender à direita dele, pensativo... Era o coração ainda saudoso e dolorido ante a perda filial.

Lembro, por outro lado, uma passagem bem-humorada do seu Rodrigo Baima, na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias. Com jeito sério, ele comunica em meio a uma conversa em um pequeno grupo : "– Vamos ajudar o Edmilson Sanches a ganhar a Prefeitura de Imperatriz”. E, após breve pausa, complementou, entre risos: “Aí, ele devolve Imperatriz para Caxias..."

Claro, era só uma lembrança do processo histórico e geográfico de autonomia de municípios que tiveram como matriz, como origem, o ainda hoje grande – mas, evidentemente, não mais tão extenso – território caxiense, de onde Imperatriz saiu e se tornou o segundo mais rico de todo o Maranhão. (Primeiro, ocorreu a autonomia de Pastos Bons, que era vila de Caxias; depois, de Pastos Bons, saiu Grajaú; e, finalmente, de Grajaú, saiu Imperatriz, segundo um documento de genealogia de cidades, do IBGE. Deste modo, Caxias é “mãe” territorial de Pastos Bons, “avó” de Grajaú e “bisavó” de Caxias...).

Seu Rodrigo Baima, por várias vezes, declarou, com uma ênfase que lhe é peculiar, que quer que eu seja “herdeiro” de seus “papeis” – anotações manuscritas, registros datilografados e digitados, documentos originais, cópias, fotografias etc. Nesse conjunto, alguns “causos”, pequenas histórias e estórias de e sobre personagens e fatos caxienses. Rodrigo propõe que, ainda em vida, lancemos um livro sobre coisas, causas e “causos” caxienses, feito a quatro mãos e duas mentes.

Mas Seu Rodrigo talvez se sinta vazio de presenças e cheio de ausências na sua grande casa no centro de Caxias... A residência se tornou enorme com o voo autônomo dos filhos e a partida eterna de sua terna esposa. Sobrecarregado de lembranças na mente e com algumas tristezas na alma, Seu Rodrigo passa dias, semanas, meses em companhia de filhos e familiares na capital maranhense. Família é tudo.

*

Pelos saudáveis e lúcidos 96 anos de vida e de defesa dos mais nobres valores caxienses, receba, Rodrigo, os parabéns de todos que – talvez não tanto quanto você – aprenderam a amar com orgulho a terra que nos viu nascer.

* EDMILSON SANCHES