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Posfácio ao livro “Trintologia Poética”, de Carvalho Jr.*

Nota prévia:

O professor, gestor escolar, escritor e ativista cultural Carvalho Jr., de Caxias (MA), pediu-me este posfácio em junho de 2015. Originalmente, escrevi-o nesse mês, dia 12. Daí a 114 dias, em 4 de outubro de 2015, o escritor completaria 30 anos e, para marcar a nova fase etária e, quiçá, literária, planejava lançar sua Trintologia Poética. Jovem, forte, casado, duas filhas, de bem com sua existência, tinha pela frente todo um futuro de vidas (pessoal, poética, na Educação, nos movimentos literários…)  –  como se deseja e se expressa na linha última do Posfácio. Nada na terra poderia prever que cinco anos depois, em 30 de março de 2021, sua vida física teria ponto final, pelo vírus da tal covid-19. Pouco tempo antes, estivemos juntos  –  como costumávamos fazer – ele, eu e o arquiteto, professor universitário e pesquisador Ezíquio Barros Neto, presidente da Academia Caxiense de Letras. Nós três, atulhados de ideias, ideais e inquietações sadias e apaixonados por nossa cidade natal, Caxias, andávamos a pé, vespertinos ou noctívagos, por diversas ruas da cidade, parávamos o mais das vezes no bar do Fiapu (Paulo Sérgio Barros Assunção), em frente à antiga e ancestral Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José, ou no bar do Excelsior Hotel, e falávamos nossos pensares e pesares em relação a Caxias e ao mundo.

A história literária registra que os três mosqueteiros eram quatro  –  nunca dois… (E. S.).

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Posfácio

Todos cantam sua terra. Alguns contam sua idade.

Carvalho Jr. faz os dois. Poeta e professor, canta e conta.

Ele agora conta trinta anos e, nesta sua Trintologia Poética, faz um retrospecto literário pessoal, espécie de anamnese textual de sua produção publicada até agora.

O autor não quis esperar a formação de um conjunto maior de títulos, não quis “ficar velho” para se dar ao luxo ou ao direito de organizar sua própria e primeira antologia.

Existiria um tempo certo para se proceder a uma autoantologia, uma colheita de flores poéticas no próprio horto literário, jardim de palavras?

Adrede e alhures, escrevi que, para alguns, haveria um marco etário, um mínimo cronológico, para alguém ser algo  por exemplo, ser autor de obras poéticas e constituir-se ator na cena literária.

Esquecem que  sem desprezar a importância/influência da vivência  literatura tem a ver mais com intensidade que com idade. Lembrem-se dos exemplos  muitos de escritores e artistas (deles adolescentes) que, décadas, séculos e milênios depois, continuam sendo motivo de citação e excitação. Rimbaud, francês que traficava e transgredia, poeta de rotas roupas e retos versos, escreveu obras-primas dos 15 aos 18 anos.

Castro Alves conheceu triunfo e glória literária aos 19 anos.

Mozart já compunha aos cinco anos e, aos 17, era contratado pela realeza austríaca.

Mary Shelley, britânica, nascida em 1797, tinha 18 anos quando começou a escrever Frankenstein, antropônimo que, mais que título de romance (terminado um ano depois), tornou-se sinônimo de “monstro” em todo o mundo  e é mais difícil criar pro mundo todo uma palavra do que, com palavras, criar uma história pra todo mundo.

Aos 19 anos, Clarice Lispector escrevia seu Perto do Coração Selvagem, romance de 1944.

Nesta entressafra de séculos e milênios, há muitos casos, como os do alemão Benjamin Lebert (nascido em 1982), que faz sucesso como autor de romance publicado quando tinha 16 anos.

Também o californiano Christopher Paolini, nascido em 1983, que nunca foi à escola e, aos 15 anos, escreveu Eragon, história que virou filme e que é parte de uma quadrilogia de mais de 15 milhões de livros vendidos em todo o mundo.

O americano Nick McDonell tinha 17 anos (2001) quando escreveu Doze, seu muitíssimo aclamado romance de estreia.

Raquel de Queiroz, brasileira e nordestina, tinha 18 anos quando escreveu o famosíssimo O Quinze.

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Escrevi, subsequentemente, que, em literatura, o novo não é estabelecido por certidões de nascimento (menos ainda cruz credo! por atestados de óbito). O novo é descoberto ou sentido no acento diferenciado com que um conteúdo (o sentimento) é revelado como forma.

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Já li em algum lugar: Toda idade tem seu encanto, e não foi à toa que Balzac escreveu A Mulher de Trinta Anos.

Sendo homem e não tendo à disposição um competente escritor francês, resolveu Carvalho Jr. ele mesmo fazer sua Trintologia Poética, uma antologia  ou, como define o autor, “um álbum comemorativo”  de seus contados trinta anos.

Assegura Carvalho Jr. que sua Trintologia  “encerrará um ciclo de publicações” até ele “voltar a publicar novamente só depois de um bom tempo”.

Sei o que é essa comichão de ver os próprios textos em letra de fôrma e enfeixados em livro. Quando na década de 1970 estava com meus dois primeiros livros (Larva e Ninfa) impressos na Folha de Caxias Artes Gráficas, já com notícias do lançamento produzidas e publicadas pelo Vítor Gonçalves Neto em O Pioneiro, com direito à ilustração (tempo de clichês feitos em São Luís, no Jornal Pequeno, ou em Teresina, na Companhia Editora do Piauí (Comepi), já com isso e mais o Gentil Menezes e o Raimundo Mário Rocha prometendo-me um diploma de homenagem (eu ainda na minoridade) em festa no seleto clube social Cassino Caxiense, com tudo isso e algo mais, de repente me bateu uma repentina desvontade de lançar (os) livros… e autorizei o operador de guilhotina e hoje excepcional encadernador Aldenor Pereira de Almeida a cortar, fragmentar todos os exemplares impressos… E, para o tonel de resíduos de papel, foram as tiragens impressas dos dois livros, para incredulidade do gerente da Folha de Caxias, Pedro Sousa (o Pedro Avião), e frustração de expectativas do dono da gráfica, o industrial Alderico Silva (cuja esposa, Dinir Silva, colega na Academia Caxiense de Letras). Bem antes de minha decisão de retalhar os livros, Seu Dá (como também era chamado Alderico Silva) costumava me convidar para conversar com ele, na sua espetacular residência, na Rua 1º de Agosto, no Centro de Caxias. Além de bater bom papo e trocar ideias, Seu Alderico me cumprimentava pelos trabalhos que seriam (seriam!…) lançados. (Mesmo sem eu ter lançado os livros, fui convidado pela direção do Cassino Caxiense para receber o tal diploma, das mãos do presidente Raimundo Mário Rocha, presidente do clube, em noite de gala e destaques que contou com outros homenageados e presença do cantor Dave MacClean, sucesso à época…).

Embora prometendo a si mesmo dar-se “um bom tempo” enquanto publicador de livros, não é o caso do Carvalho Jr. mandar estraçalhar obras inteiras, como fiz em meu citado (mau?) exemplo. Porém, isto não eximiu o trintenário escritor de, para os efeitos desta antologia, assumir o ingrato ofício de verdugo de seus próprios textos, pois que, (de)limitado pelo número, ele teve de executar a pena de isolar textos do contexto físico (o livro) que os unia uns aos outros: a Trintologia, como diz o título, compõe-se de trinta textos poéticos publicados em livros até agora em sua carreira indiminuta. É um mister dorido o ser juiz e algoz das próprias crias textuais, tanto que, na hora quase derradeira, o autor teve de informar ao prefaciador e ao posfaciador que fizera troca de textos. Sei que não foi fácil para ele, nem o é para nenhum autor que verdadeiramente estime os versos e textos que comete. Por que uns e não outros? Por questão de gosto pessoal? Por que são “melhores” ou mais “representativos”? Não são respostas fáceis.

De qualquer modo, nas palavras do autor, “quem não teve a oportunidade de conhecer minhas publicações anteriores”, agora a terá, com uma seleção em um só volume, constituindo-se, os textos selecionados, o crème de la crème ou as desejadas cerejas poéticas que se colhem de sobre a massa adiposa de bolos textuais.

Parar de publicar não é parar de escrever, muito menos deixar de ser a todo instante submetido às “tentações” sem-fim, endógenas e exógenas, dos mundos extra e intracorpóreos – tentações que, com o cardápio de conteúdos e a competência (e)laboradora do autor, podem se transformar em linhas diversas, de versos.

Esta Trintologia carvalhiana, no aniversário do autor, é o seleto presente que o escritor dá a si mesmo e irmãmente o abre e o reparte com outros.

Carvalho Jr., trinta anos. E cantando…

Carvalho Jr., trinta anos. E contando… 31… 40… 50…

* Edmilson Sanches