O documentário baiano Açucena, dirigido por Isaac Donato, foi o longa-metragem vencedor da categoria de maior destaque da Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais. O evento, que terminou nesse fim de semana, distribuiu ainda prêmios a mais três filmes.
Açucena traz, para as telas, a vida de uma senhora que, anualmente, celebra seu aniversário de sete anos e que, para tanto, conta com o envolvimento de sua comunidade. A obra disputava com mais seis filmes o prêmio da Mostra Aurora, ponto alto do festival por abrir espaço para diretores que lançam o primeiro ou o segundo longa-metragem. Um júri formado por críticos, pesquisadores e profissionais do audiovisual deu a vitória do trabalho de Isaac Donato.
Na cerimônia on-line em que foram anunciados os premiados, uma das juradas, a cineasta Graciela Guarani, disse que Açucena evoca uma infância ou maternidade coletiva. “Com dissonância misteriosa, estimulada a partir do cotidiano de sorrisos, gestos e falas de uma comunidade envolta numa festa ritual, premiamos um filme de partilha de sensibilidades”, afirmou.
Em entrevista à Agência Brasil no mês passado, o coordenador curatorial do evento, Francis Vogner, já havia destacado a força do cinema baiano nesta edição. Além do documentário vencedor, estavam na disputa duas obras dirigidas por cineastas da Bahia. Vogner observou, porém, que eram trabalhos diferentes.
"Estão olhando para coisas muito diferentes. Se você me perguntar se todos os filmes estão focados nos traumas deste momento histórico, eu respondo que não. Cada um olha para um lado e se relaciona de forma diferente com esse contexto, inclusive pelo humor. A sensação de que o mundo está acabando, por exemplo, não é compartilhada por todas as obras. Os filmes poderiam estar monotemáticos, mas felizmente isso não tem acontecido. Eles oferecem diferentes perspectivas e mostram que o universo vai além de nossas obsessões mais pontuais. O olhar não ignora este momento, mas alcança um horizonte mais longe", disse, na ocasião.
Criada pela Universo Produções em 1998 e consolidada como responsável pela abertura anual do calendário audiovisual brasileiro, a Mostra de Cinema de Tiradentes chegou à 24ª edição com um modelo inédito. Devido à pandemia de covid-19, a programação entre 22 e 30 de janeiro foi predominantemente virtual, com apenas ações pontuais na cidade histórica mineira. As atividades foram totalmente gratuitas. Filmes, shows e outras atrações puderam ser assistidos por meio do site do evento.
Outros prêmios
Além de Açucena, foram premiados mais um longa-metragem e dois curtas. Na Mostra Olhos Livres, dedicada a filmes que apostam em linguagem mais autoral e menos convencional um júri formado por estudantes declarou vencedor o longa-metragem mineiro Nũhũ yãg mũ yõg hãm: Essa Terra é Nossa!, dirigido por Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu e Roberto Romero. Foi a segunda vez consecutiva que os indígenas Isael e Sueli foram premiados no festival de Tiradentes. Com o filme Yamiyhex – As Mulheres-Espírito, eles venceram em 2020 na mesma categoria.
Entre os curtas-metragens, o principal ganhador foi uma produção sergipana. Abjetas 288, dirigido por Júlia da Costa e Renata Mourão, venceu na categoria Mostra Foco. Os patrocinadores da Mostra de Cinema de Tiradentes oferecem aos ganhadores estrutura e recursos para futuros trabalhos, tais como locação gratuita de câmeras e equipamentos de iluminação, cessão de maquinário e serviços de pós-produção e de correção de cor. O Canal Brasil, apoiador do evento, organizou um júri próprio que escolheu mais um curta-metragem, rodado em Minas Gerais: 4 Bilhões de Infinitos, dirigido por Marco Antônio Pereira, que receberá prêmio em dinheiro.
Além dos filmes, a Mostra de Cinema de Tiradentes promove o Prêmio Helena Ignez, oferecido a mulheres que se destacam em qualquer função na produção dos filmes em disputa. Nesta edição, ele foi concedido à diretora e roteirista Ana Johann, que assinou o filme de ficção paranaense A Mesma Parte de um Homem.
A 24ª edição da Mostra de Tiradentes foi organizada em torno da temática Vertentes da Criação e homenageou ainda o trabalho da cineasta e artista plástica Paula Gaitán. Ao todo, foram exibidos 114 filmes, sendo 79 curtas-metragens e os demais longas e médias-metragens. Houve ainda shows musicais de Arrigo Barnabé, Chico César, Adriana Araújo, Sérgio Pererê, Fernanda Abreu e Johnny Hooker.
(Fonte: Agência Brasil)