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Rádio MEC do Rio de Janeiro completa 98 anos no ar

Equipamentos da Rádio MEC nos estúdios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), no Rio de Janeiro.

O dia 7 de setembro não é marcado apenas pelo Dia da Independência do Brasil. Foi neste dia, em 1923, que a então Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgard Roquette-Pinto, entrou no ar definitivamente no prefixo PRA-A e tornou-se a primeira emissora oficial do país.

Ao longo dos seus 98 anos de história, a Sociedade foi doada para o governo federal, virou Rádio MEC e consolidou-se como uma das mais importantes emissoras do país, sem perder o caráter educativo e de promoção da cultura -  e agora, foca nas plataformas digitais e em novos públicos.

Reprodução de foto de 1970, Vinicius de Moraes em estúdio com a apresentadora Maria Pompeu, do acervo histórico da Rádio MEC em exposição na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), no Rio de Janeiro

A origem e a ligação com o 7 de setembro

O pontapé inicial para criação da Rádio Sociedade foi dado também na data de 7 de setembro, só que de 1922. Exatamente um ano antes da entrada definitiva no ar, o discurso do então presidente Epitácio Pessoa em uma exposição internacional em comemoração ao centenário da Independência do Brasil foi irradiada para 80 receptores no Rio de Janeiro e ficou marcada como a primeira transmissão oficial de rádio no Brasil.

Foi a partir da transmissão que Edgard Roquette-Pinto e um grupo de membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC) deram início ao projeto que resultaria na Rádio Sociedade. A ata de criação da emissora foi redigida em 20 de abril de 1923, e a primeira transmissão experimental foi feita em 1º de maio daquele ano.

De acordo com o livro Rádio MEC: Herança de um Sonho (lançado em 2006), de Liana Martinez, a mobilização ajudou na revogação, em 11 de maio daquele ano, de uma lei que proibia a aquisição de aparelhos de rádio e garantiu a autorização oficial para início das irradiações no país, na data de 20 de agosto de 1923. O caminho estava aberto para a emissora entrar no ar no Dia da Independência.

Acervo histórico da Rádio MEC em exposição na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), no Rio de Janeiro.

Liana aponta que o pioneirismo de Roquette-Pinto foi reconhecido por grandes personalidades nacionais e estrangeiras, que transformaram a rádio num ponto de encontro. “Vale destacar a visita de Albert Einstein, da Madame Curie, e do general Ferriê, cientista francês e também pioneiro da radiodifusão, que aperfeiçoou a Telefonia sem Fio (T.S.E.), entre outros, à Rádio Sociedade”, diz.

Thiago Regotto, atual gerente da Rádio MEC, conta que a data não foi um acaso: “Como Roquette-Pinto era nacionalista e bem metódico, ele faz a emissão oficial e inicial a partir de 7 de setembro de 1923. Tudo para ele era 7 de setembro. Há uma lógica por trás deste personagem”.

Acervo histórico da Rádio MEC em exposição na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), no Rio de Janeiro.

Mudança de dono, mesma missão

E foi em também em um 7 de setembro, mas de 1936, que a emissora foi doada ao Ministério da Educação e passou a se chamar Rádio Ministério da Educação e Cultura (Rádio MEC). A doação por parte de Roquette-Pinto (que continuou até 1943 à frente da emissora) foi condicionada ao dever de, a agora Rádio MEC, continuar com “atividades exclusivamente educativas”.

Apresentador da Rádio MEC Rui Vasconcellos nos estúdios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), no Rio de Janeiro.

Liana considera esse momento como um dos primordiais na história da emissora. “A sigla MEC acabou adotada como uma marca – Música, Educação e Cultura – com destaque em seu prefixo sonoro”, conta.

Com o passar dos anos, a missão educativa da rádio foi cumprida com a transmissão de programas com fins didáticos. Dois deles fizeram história: o Colégio no Ar, que durou do pós-guerra até os anos 1950 e o Projeto Minerva, criado na década de 1970. Dados do livro “Rádio MEC: Herança de um Sonho” apontam que, em duas fases, o programa atendeu mais de 545 mil alunos.

Além do foco em educação, a MEC AM também foi de suma importância na história da música e cultura do país. Em 1961, foi criada a Orquestra Sinfônica da Rádio MEC e entrou no ar o programa Música e Músicos do Brasil (hoje, produzido pela MEC FM). “Os grandes maestros que dirigiram as tantas orquestras que a emissora manteve em boa parte do século passado é um ponto de destaque na história da emissora”, escreve Liana.

Até 1983, quando foi criada a MEC FM, a Rádio MEC tinha programas voltados à música brasileira, infantil, música clássica e outros ritmos como o jazz. “Quando a rádio faz 60 anos, em 1983, ela "ganha" de presente a rádio MEC FM. Aí a rádio é desmembrada, criando a rádio de música clássica do Brasil em FM”, conta Regotto.

Thiago Regotto, gerente da Rádio MEC

Tempos atuais e futuro

Hoje, o legado de Roquette-Pinto segue vivo nas ondas da Rádio MEC do Rio de Janeiro. Quase centenária, a rádio segue firme no dial 800kHz, tem boa parte da programação transmitida na “irmã” MEC FM (99.3MHz no Rio de Janeiro e 87.1MHz em Brasília) e pode ser acessada pela internet e em aplicativos de celular.

Regotto destaca que a programação da MEC continua valorizando a programação educativa e cultural. “A MEC AM trabalha com o segmento da programação educativa dentro da cultura brasileira. A programação é pensada para passar conhecimento ao ouvinte. Uma música que conta uma história, fala sobre um autor, sempre nesta perspectiva de educar pelo rádio”, diz.

A emissora mantém a produção de programas diários, como o Rádio Sociedade pela manhã, que é ligado à educação, o Arte Clube, ao meio-dia, que é uma revista cultural e o Armazém Cultural à tarde, centrado na música. “Para a gente, também é muito importante a produção infantil da rádio, que aparece desde os primórdios da Rádio Sociedade e hoje é representada pela Rádio Animada”, diz Regotto.

Ele destaca que, hoje, mesmo com uma variedade de emissoras à disposição dos ouvintes, a rádio segue ocupando um espaço que é só dela. “A rádio cumpre um papel que nem uma outra rádio cumpre. No mercado, você não tem esse espaço. Como a rádio faz no Rio de Janeiro, só a MEC AM”.

Noventa e oito anos após a fundação, a Rádio MEC mantém ouvintes fiéis. Uma delas é a artista plástica Elizabeth Salles, que mora em São Gonçalo (RJ). Ela relata que escuta a rádio em seu ateliê e que a emissora é, de certa forma, uma inspiração. “Todos os bustos de mulheres que fizeram parte da história que esculpi tem, como inspiração, músicas que ouvi na rádio. A grande maioria embalada pelo Armazém Cultural”, diz.

Equipamentos da Rádio MEC nos estúdios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), no Rio de Janeiro.

O aposentado Luiz Arlindo, de Paty do Alferes (RJ), também elege o Armazém Cultural como o seu programa favorito. “Desde sempre, ouço emissoras de rádio. São companheiras com música que gosto e informação confiável. Depois que me aposentei e com a 'peste' [pandemia] passei a ouvir mais a MEC. Pega bem onde moro e é ótima companhia pros dias em casa”, conta.

Para o futuro, a MEC planeja uma expansão para novas plataformas e uma possível migração para a faixa estendida do FM. “A gente deseja a migração para o FM, para a faixa estendida, e trabalha com o conteúdo em plataforma digitais”, diz Regotto.

Há, também, planos para algo especial para o iminente centenário. “No centenário, queremos fazer um festival de música grande, mais integrado. Ainda estão, nos planos, um livro e programas especiais na TV. O ano do centenário da Rádio MEC vai ser de desdobramento do centenário do rádio. Algo faremos, mas ainda estamos planejando”, conta Regotto.

A dupla Chay e Ivone Torres, Catucando História pra Cantar acompanhadas por Duda Serra Lima durante apresentação dos finalistas do Festival de Música Rádio MEC

Como acompanhar a Rádio MEC

Rádio - 800kHz – Rio de Janeiro

Internet – Site de Rádios EBC e da Rádio MEC

Aplicativo – Rádios EBC (iOS e Android)

(Fonte: Agência Brasil)