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Raimundo Teixeira Mendes, gigante da cidadania brasileira*

Quem vê a Bandeira do Brasil, está vendo Teixeira Mendes.

O Estado separou-se da Igreja? Foi Teixeira Mendes.

Há liberdade de crença e culto? Teixeira Mendes.

Primeiras leis de proteção à Mulher trabalhadora? Foram redigidas por Teixeira Mendes.

Leis de proteção ao doente mental? Aos índios? Ao menor trabalhador? Teixeira Mendes...

(...)

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Às vésperas de se completarem 170 anos de nascimento de um dos nomes mais sólidos nas lutas pelas coisas e causas do Brasil, a cidade e o Estado de nascimento desse clínico geral da Cidadania pouco se tocam ou sequer se lembram, em nível oficial e de realizações, de quem foi e do que fez Teixeira Mendes por este país.

O livro que escrevi traz o mínimo dos mínimos acerca desse caxiense/maranhense. O homem era um portento. Um grande talento. Um prodígio. Um quase milagre. Escreveu mais de quinhentos livros, na forma grandes e pequenos, entre milhares de outros escritos e publicações.

O texto a seguir é a Apresentação que escrevi e que consta da obra “Teixeira Mendes – Esse Nome é uma Bandeira”, já em segunda edição. Interessados no livro, solicitem: [email protected] (E. SANCHES)

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Vem-me à mente a imagem da cebola: tira-se a primeira camada de seu bulbo e uma nova camada se apresenta. Tira-se esta, e a próxima, e a seguinte... até perceber-se que a cebola, toda ela, é um saudável constructo de camadas.

Ao ir observando e absorvendo o volumoso material histórico, informativo, bibliográfico que coligi acerca de Raimundo Teixeira Mendes, o filósofo e matemático (na família dele há dois homônimos – um, militar; o outro, engenheiro), a sensação que tive foi a de que eu estava diante de um brasileiro maranhense e caxiense formado de camadas.

Explico: Teixeira Mendes assumiu tantas causas, lutou por e contra tantas coisas e com tanto empenho que ele próprio parece ser constituído de camadas e camadas de causas, de lutas, de posições e oposições. Após a camada mais epidérmica, uma outra se lhe segue, depois outra, e outra, e outra... Teixeira Mendes parece interminável.

A bandeira brasileira... A separação Igreja-Estado... A defesa da mulher... A luta em favor dos índios... A causa dos trabalhadores, sejam os operários adultos, sejam os direitos do jovem trabalhador... A espiritualidade... E tudo isto ainda não esvazia o caudal de causas que o combativo caxiense assumiu e levou adiante quando morava na cidade do Rio de Janeiro, onde faleceu em plena atividade. Teixeira Mendes era um workaholic das causas coletivas e pelos interesses maiores da Nacionalidade.

Leia neste livro o que tanta gente boa e inteligente, o que tanta gente agradecida escreveu sobre esse maranhense-caxiense. Saiba que corajosa atitude tomou no momento de receber seu título de Bacharel. Teixeira Mendes foi um bom e grande homem, e permanece um bom e grande exemplo para aqueles que souberem dele.

É difícil disfarçar o salutar orgulho por ser conterrâneo desse competente clínico geral da Cidadania Brasileira.

Este livro é um pequeno retrato 3x4 de uma personalidade impossível de caber em única moldura. É uma palestra que proferi em 5 de janeiro de 2015, a convite da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (Asleama), sediada em Caxias e que tem como patrono esse ilustre caxiense, tanto que a entidade também é conhecida e assume-se como a “Casa de Teixeira Mendes”.

Exatamente naquela data completavam-se 160 anos de nascimento do polígrafo caxiense. A palestra foi no auditório do Memorial da Balaiada, localizado no histórico Morro do Alecrim, em Caxias, cidade maranhense que é berço de outras grandes figuras das Letras, da Música, das Ciências, da política, do Direito etc., dadas ao Maranhão, ao Brasil e ao mundo, como, por exemplo, Gonçalves Dias, Coelho Netto, Teófilo Dias, Vespasiano Ramos (escritores, poetas), César Augusto Marques (historiador), João Mendes de Almeida (advogado, jornalista, escritor, autor da Lei do Ventre Livre), Ubirajara Fidalgo da Silva (primeiro dramaturgo negro do Brasil), Armando Maranhão (a “Pedra Angular do teatro Paranaense”), Elpídio Pereira (maestro e músico internacional), Mãe Andresa (sacerdotisa de culto afro-brasileira de renome internacional), Aderson Ferro (“Glória da Odontologia Nacional”, jornalista combativo), Sinval Odorico de Moura (presidente de quatro províncias brasileiras), Cândido Ribeiro (“maior industrial do Maranhão dos séculos XIX e XX”), João Christino Cruz (criador do Ministério da Agricultura), João Lopes de Carvalho (pintor e desenhista que, ainda jovem, impressionou na Europa), Joaquim Antônio Cruz (médico, militar e político), Celso Antônio Silveira de Menezes (um dos maiores escultores do Brasil)... e por aí vão os nomes, os feitos.

São tantos e é tanto o que cada um fez... – a maioria dos nomes com trabalhos de repercussão nacional e, até, internacional.

Só mesmo a curiosidade benfazeja para fazer o leitor ir a fontes de pesquisas e saber mais sobre cada um, as coisas que fizeram, o legado que deixaram para um país, um Estado e uma cidade – entes federativos que parecem não se importar com quem investiu talento, tempo e saúde para fortalecer as bases das estruturas sociais, políticas, históricas e culturais sobre as quais nós comodamente pousamos e repousamos. Dormimos sobre o esforço de nossos antepassados, e é uma pena que muitos, senão a maioria, de nós fechemos os olhos para esses homens e mulheres.

Ao contrário do lugar-comum que diz que “o passado condena”, neste caso é ele, o passado, que liberta e fortalece, e é sobre suas fundações que se alevanta o presente – um presente que, ele sim, com seu desinteresse, sua desvontade, sentencia e condena o passado ou partes dele ao degredo, à desimportância, ao esquecimento.

Pelo menos em relação a Teixeira Mendes, este pequeno livro reaviva um mínimo de sua vida, um pouco de sua obra, algo de seus feitos.

Sejam também estas páginas um gesto de reconhecimento, um preito de gratidão.

* EDMILSON SANCHES