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Talentos maranhenses em destaque no IHG do Espírito Santo*

– O palestrante, Edmilson Sanches, foi convidado para sócio correspondente da Entidade capixaba

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Quem diria que, nos séculos XIX e XX, dois filhos de Caxias, no Maranhão, iriam prestar relevantíssimos serviços a mais de 1.700 quilômetros de distância de sua terra natal, em Vitória, capital do Espírito Santo, no Sudeste brasileiro?

Um dos caxienses, que era médico, professor, historiador, pesquisador, tradutor, escritor, escreveu, a convite do governo capixaba, o primeiro grande livro da antiga província espírito-santense. O outro, advogado, economista, escritor, artista plástico, com estudos em Sociologia e Artes na Universidade de Sorbonne, em Paris, foi advogado, vereador, presidente da Câmara e prefeito da capital, Vitória, além de professor de Direito por mais de 30 anos, na Universidade Federal do Espírito Santo.

Foram esses dois nomes e homens, os escritores caxienses César Augusto Marques (século XIX) e Ferdinand Berredo de Menezes (século XX), foram eles e seus talentos, eles e seus trabalhos pelas causas capixabas, o destaque em grande evento, com a palestra que marcou a sessão de encerramento das atividades de 2024 do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), em 11/12/2024, na sede da Entidade, em Vitória.

A convite do presidente do IHGES, o escritor, pesquisador e magistrado Getúlio Neves, o acadêmico e pesquisador caxiense Edmilson Sanches fez aplaudida palestra para parte do mundo intelectual da capital capixaba e convidados. Antes da palestra, Sanches fez a entrega de livros e fotografias de maranhenses, entre os quais a edição impressa mais recente da revista-livro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a “Obra Reunida” do escritor maranhense Adailton Medeiros (Caxias, 1938 – Rio de Janeiro, 2010) e um conjunto de dez grandes fotografias preparado especialmente pelo fotógrafo e pesquisador David Sousa, membro da Academia Caxiense de Letras.

Aos aplausos ao final da palestra, seguiu-se uma série de cumprimentos e abraços pessoais, trocas de números de telefones para mais contatos e câmbio de informações, doação de livros com dedicatórias e autógrafos, declarações de pessoas que foram conhecidas e amigas de Berredo de Menezes ou que com ele haviam trabalhado, e o convite do presidente do Getúlio Neves para Sanches integrar o quadro do IHGES, como futuro sócio correspondente. Em mensagem para Edmilson Sanches, o presidente Getúlio Neves confirmou: “Bom dia, meu amigo. Obrigado por abrilhantar nosso evento [...]. A repercussão está sendo muito positiva. Enviarei por aqui o certificado pela realização da palestra.”

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Sobre César Marques e a grande obra que escreveu, o “Dicionário Histórico, Geográfico e Estatístico do Espírito Santo”, de 1878), Sanches observou: “Sem querer fazer ‘blague’, o conhecimento do maranhense César Marques sobre o Estado espírito-santense só não foi completo porque não foi de ‘A’ a ‘Z’: terminou na letra ‘X’, de ‘Xapiranga’, um outro nome dado quem sabe ao Rio Santa Maria da Vitória, de 122 quilômetros, que nasce no município capixaba de Santa Maria de Jetibá.”

O maranhense Edmilson Sanches lembrou, antecipadamente, o primeiro meio milênio de vida do progressista Estado capixaba: “[...]  esta grande Unidade da Federação estará, daqui a dez anos, completando seus primeiros 500 anos de existência, considerada o batismo da terra com o nome de ‘Espírito Santo’, com a chegada, em 23 de maio de 1535, do donatário Vasco Fernandes Coutinho, um ano depois da concessão da área”. E recomendou: “Se o segredo do sucesso é planejamento, talento e trabalho, é cabível começar a pensar e preparar o futuro e receber o quingentésimo aniversário desta terra no melhor estilo, e com o maior orgulho”.

Edmilson Sanches lembrou as obras e a pessoa do caxiense César Marques, seus “trabalhos de grande esforço redacional e editorial que enriquecem a variada lavra do médico que assistia carentes e deles não lhes cobrava nada, nem o tempo nem os medicamentos. Dedicado à Medicina, como doutor, e à Educação, como professor, na sala de aula repassava as feridas da História, e, na sala de cirurgia, reparava a história de feridas”.

Ainda falando sobre César Marques, o palestrante de Caxias trouxe à memória o nome do poeta Gonçalves Dias, também caxiense. Disse Sanches aos capixabas: “O local onde nós caxienses acreditamos que tenha ele [César Marques] nascido é ao lado da Praça Gonçalves Dias, logradouro no centro da cidade, em homenagem ao grande poeta caxiense da ‘Canção do Exílio’ e iniciador da Literatura genuinamente brasileira em nosso país. Gonçalves Dias nasceu em 1823 e, três anos depois [1826], César Marques, que veio ao mundo quando a região da Praça Gonçalves Dias era chamada ‘Largo do Poço’. Dias e Marques são, portanto, contemporâneos no Tempo e no Espaço  – e assim, sem nada premeditado, anos depois, com a praça recebendo o nome de Gonçalves Dias, uniu-se na geografia urbana o que, anos antes, já estava unido na História. E o que nem de longe se atinaria como uma união, um vínculo, uma ligação, esta também ocorreu: os fios invisíveis do talento e da competência realizadora de César Marques chegaram até aqui, ao Espírito Santo, e chamaram a atenção do governante estadual / provincial da época, Domingos Monteiro Peixoto, e, ao final, resultou no portentoso ‘Dicionário Histórico, Geográfico e Estatístico’ de 1878. Uma vitória, considerando-se, até, que menos de oito anos antes César Marques saíra do estafante mister de entregar impresso ao seu Estado o seu próprio ‘Dicionário’ [‘Dicionário Histórico-geográfico da Província do Maranhão’], considerado desde então um marco na historiografia maranhense, nordestina e brasileira.”

Prendendo a atenção dos ouvintes, aos quais chamou de “meus novos Amigos brasileiros no Espírito Santo”, Edmilson Sanches trouxe um pouco sobre o mais capixaba dos caxienses, Berredo de Menezes. Ressaltou Sanches: “[...] nascido mais de um século depois de César Marques – ou exatamente 104 anos, na mesma cidade de Caxias –, Ferdinand Berredo de Menezes é um homem de agora há pouco. Faleceu em Vila Velha aos 86 anos, mas foi, como a maioria de nós ainda somos, uma pessoa de dois séculos (XX e XXI) e dois milênios.”

Continuando, Sanches lamentou a curta permanência, em vida, de Berredo de Menezes em Caxias: “De Berredo de Menezes nós seus conterrâneos temos muito a saber e não tanto a informar. Ante o nomadismo profissional do pai, que era juiz de Direito e também poeta, Berredo deve de ter saído ainda criança ou menino de Caxias e, inicialmente, foi para Coroatá, município maranhense cujo nome se registra com relativa frequência nos textos de vários dos livros da bibliografia berrediana.”

Edmilson Sanches prosseguiu: “Como já escrevi, ‘esse talentosíssimo maranhense de Caxias serviu e lutou. Fez por Vitória e fez pelo Espírito Santo o que não pôde fazer por sua própria terra natal. De todo modo, fez pelo Brasil.’  ‘Foi com o poder do Conhecimento que Berredo de Menezes chegou aqui em Vitória, partindo em uma viagem que se iniciou com seu nascimento a pelo menos 1.700 quilômetros de distância, no Nordeste do país’. ‘Esse homem jogava no futebol da vida nas onze posições:  advogado, economista, professor, político, administrador público, poeta, contista, pintor, militante partidário, conselheiro, pai de família’.

"Destaco apenas uma dessas múltiplas atividades, no âmbito do Ensino, como já disse: ‘Sendo um agente da Educação, sendo um professor, Berredo de Menezes sabia que só se transmite o saber se souber, mas só se ensina se animar, isto é, colocar ânimo, vida, alma naquilo que, em doses homeopáticas, é inoculado, a partir da mente, na alma dos alunos. Ensinar não é só uma ATIVIDADE DE DOCÊNCIA. Ensinar também é uma ATITUDE DE DECÊNCIA. Pois, se conteúdos de saber são importantes, modos de ser são indispensáveis...’”

Edmilson Sanches encerrou sua fala aos capixabas convidando para uma reflexão, adequada tanto em relação ao espírito de conhecimento, vontade e realizações dos seus dois conterrâneos históricos quanto apropriada para os repensares de fim de ano. Disse Sanches:

“O invisível sustenta o visível. Qual o invisível que sustentava pessoas que nem César Marques e Berredo de Menezes em seu desiderato de, longe de sua terra natal, servir, lutar, melhorar?

“Neste final de ano, tão metido e repetido em seu querer criar clima para extrair de nós pensamentos, promessas e ações relacionados a algo melhor, quem sabe coubesse perguntar: Qual o invisível que visivelmente te sustenta e, sobretudo, te move? Fé? Ética? Amor? Capital? Não podemos estar na Vida e na Terra apenas para comer, beber, dormir, trabalhar e fornicar – e às vezes fazendo tudo isso mal... (rs). Para comer, beber, dormir e fornicar, Deus não precisava ter feito o Ser Humano; bastar-Lhe-ia parar a criação nos porcos, que com um charco de lama e um cocho de cuim já se dão por satisfeitos... Deve haver um algo a mais, não sabido pela Ciência nem intuído pela Consciência, que justifique a perfeição do funcionamento de um corpo, o mister e mistério do cérebro, a beleza de todos os cálculos astronômicos e dos infinitesimais infinitos das contas microscópicas, subatômicas... Quanto ainda nos falta conhecer!...

“Qualquer que seja a resposta que tu tenhas, que ela seja do Bem, do Bom e do Belo. Faz tu, de tua vida, uma boa História, e que ela termine em livro e valha a pena ser contada e, se possível, seguida.

“Seja livre. Se possível, seja livro. Pois uma coisa é você ter história. A outra, é a História ter você.

“Irradie, espalhe positividade. Já disseram: A vida é curta demais para ser miúda...

“Some, multiplique e divida o Bem. Lance-o em todo lugar. Quem sabe vingue, nasça, brote, floresça.

“Lance o Bem, o Bom e o Belo. Em qualquer lugar. Não importa o lugar.

"Pois não é responsabilidade da semente a fertilidade do solo.

"Apenas semeie.” (EDMILSON SANCHES)

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* EDMILSON SANCHES

Fotos:

Os caxienses César Marques e Berredo de Menezes e Edmilson Sanches na tribuna e na mesa diretora, no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, em Vitória.

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