– A Imperatriz Teresa Cristina morreu no dia 28/12, em 1889
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Há muito venho resistindo a considerar a alternativa de origem do nome da capital do estado do Piauí como sendo um “cruzamento” das cinco primeiras letras de “Teresa” e as três últimas de “Cristina” – uma homenagem a Teresa Cristina de Bourbon, esposa de Dom Pedro 2º e terceira imperatriz do Brasil, que morreu em 28 de dezembro de 1889, em Porto, Portugal.
Mas Teresa Cristina havia nascido, a 14 de março de 1822, em Nápoles, hoje a terceira maior cidade italiana. Naquela terceira década dos anos 1800, Nápoles integrava o Reino das Duas Sicílias, que durou até março de 1861, quando fez parte da unificação dos vários reinos em um só, o Reino da Itália. O nome completo da inteligente, humana e dedicada imperatriz, chamada “Mãe dos Brasileiros”, é: Teresa Cristina Maria Josefa Gaspar Baltasar Melchior Januária Rosalía Lúcia Francisca de Assis Isabel Francisca de Pádua Donata Bonosa Andréia de Avelino Rita Liutgarda Gertrude Venância Tadea Spiridione Roca Matilde de Bourbon-Duas Sicílias. Não estranhe; nomes nobiliárquicos eram/são assim, desse jeitinho, para “mostrar” que os nobres eram “especiais” e para incluir nomes das famílias/casas reais de que provinham e, pela proximidade dos nobres com a Igreja Católica, para destacar nomes de santos e anjos.
Quanto ao nome “Teresina” ser uma composição de sílabas, hoje talvez construções assim não se estranhassem. Vejam-se assemelhados exemplos (deles nem sempre exemplares...) como os nomes de Paragominas (de “Pará”, “Goiás” e “Minas Gerais”), Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), Piocerá (Piauí e Ceará) e Piocerão (Piauí, Ceará e Maranhão).
Na Internet, encontram-se diversos “sites” que registram, epidermicamente, a etimologia de “Teresina” ora como a junção de “Teresa” + “Cristina”, ora considerando apenas o primeiro prenome da imperatriz, “Teresa”, em sua forma diminutiva em italiano, a língua natal da nobre senhora.
À falta, por enquanto, de informação mais aprofundada, fiz a opção que afirma ser o politônimo “Teresina” uma forma diminutiva do primeiro nome de Sua Majestade Teresa Cristina, que, ao que se registra aqui e acolá, teria intercedido junto a seu marido o Imperador para que, como teria ocorrido com o município de Imperatriz, também a capital do Piauí tivesse “sacramentada” sua criação ou instalação. Lembre-se que tanto Imperatriz, no Maranhão, quanto a piauiense Teresina foram oficialmente fundadas quase ao mesmo tempo – Imperatriz em julho e Teresina em agosto de 1852.
Assim, e não é o caso, está patente que os nomes de Imperatriz (MA) e Teresina (PI) vêm, o primeiro, do título majestático de Teresa Cristina, e, o segundo, do primeiro prenome (antropônimo) “Teresa”.
E por que, salvo melhor juízo e até prova em contrário, opto por acreditar (e, como não tenho compromisso com o erro, estou pronto a admitir a alternativa, desde que fundamentada, convincente), repito, por que opto por acreditar que o nome da capital piauiense, “Teresina”, é o diminutivo italiano de Teresa e não a construção com elementos silábicos e semissilábicos dos prenomes “Teresa” e “Cristina”?
Ocorre que, para a época, o “nível” era outro; o “pessoal” (da elite) era mais clássico, senão “classudo”, mais conservador, mais refinado, essas coisas imperiais (e imperiosas)...
Não dá para se imaginar – embora imaginação possa tudo – o à época jovem Conselheiro Saraiva (27 anos), como presidente da Província do Piauí, elaborando um nome assim. Advogado, futuro primeiro-ministro, vejo-o, com possível futuro assentimento da Imperatriz, lembrando-se (ou se informando sobre isso) de que, na língua italiana, o sufixo feminino “-ina” traz, entre outros usos, o carinhoso artifício de, posposto a um antropônimo, este novo termo passar a significar “filho/filha de”.
Ora, é uma adequada / conveniente forma de agradecer e homenagear uma autoridade pela decisiva “participação” na criação e existência de uma cidade, logo uma capital – como ocorreria depois com Teresópolis (que é “cidade de Teresa” pelos dois elementos gregos do nome) e com a catarinense “Santo Amaro da Imperatriz”, onde a preposição “de”, como elemento de ligação entre dois substantivos (o hierônimo “Santo Amaro” e o título nobiliárquico “Imperatriz”), confere sentido de posse ou participação.
Originado do latim “-inus”, o sufixo feminino “-ina”, como explica Ciro Mioranza (in “Dicionário de Nomes Latinos” (vol. 1, 1997), é usado para formação de adjetivo (“divino”, “caprino”), designativo de habitante (“florentino”, “feltrino”), profissão (“postino” / carteiro; “arrotino” / amolador, afiador). Também, para comunicar que é pai/mãe de uma criança, o genitor ou a genitora dá à criança seu nome, acrescido do sufixo que demarca a ascendência ou descendência, por exemplo: “Paulino” ou “Paulina” é filho de Paulo ou Paula.
Assim, acho que esse quase latinório aí de riba parece ser a justificativa mais adequada e até mais convincente para o arguto, destemido e reconhecido administrador José Antônio Saraiva (baiano nascido em Santo Amaro, em 1º de maio de 1823, e falecido em Salvador, em 21 de julho de 1895). Seria mais conveniente dizer à Sua Majestade a Imperatriz que, com toda humildade ante a grandeza imperial, Teresina era a mais nova filha da Imperatriz...
Vale lembrar que a Imperatriz Teresa Cristina, sobretudo em seus diários, escrevia mais em italiano. Em seu livro “Teresa Cristina de Bourbon: Uma imperatriz Napolitana nos Trópicos – 1843/1889” (Rio de Janeiro, 2014), Aniello Angelo Avella escreve: “Do ponto de vista linguístico, o uso do italiano nos diários permanece dominante até os últimos anos de sua vida [da Imperatriz Teresa Cristina], ainda que alternando com o francês e o português [...]” (p. 94). Adiante, Avella sublinha: “[...] Teresa Cristina deixou na cultura de sua nova pátria [Brasil] um inconfundível e decisivo marco de italianidade” (p. 102).
Essas citações, embora “en passant”, levam circunstancialmente a acreditar em uma “solução” mais “italiana”, mais linguística que artificial, em relação à origem do nome “Teresina”. “Petrópolis” e “Teresópolis” são cidades com o nome do casal – mas Teresina, a valer a formação linguística e toponímica, é filha de Teresa. E ser filha, é outro papo... Uma honra, até mesmo para uma Majestade...
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Em relação à cidade de Teresina, comete-se o equívoco de definir que o epíteto "Cidade Verde", que para ela atribuiu o escritor caxiense Coelho Netto, seria motivado pela arborização da capital. Não. Nessa expressão o adjetivo "verde" faz referência ao tempo de existência da cidade: Teresina era uma cidade ainda jovem à época em que o grande polígrafo maranhense assim a chamou.
* EDMILSON SANCHES
Fotos:
Teresina à noite (ponte sobre o Rio Poty, por onde a cidade começou) e a Imperatriz Teresa Cristina.