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Trilogia para o 18 de Outubro, Dia do Médico*

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CARTA A UM JOVEM MÉDICO

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Você se formou em Medicina. Desejo dos pais, importância no “mercado”, vocação pessoal, chamamento interior – o que importa, agora, não é a razão da escolha dessa carreira, mas a responsabilidade na execução dela.

Coincidentemente, quando você se formou, eu também fui diplomado  -  para um mandato político.

Portanto, iniciamos o ano seguinte com a obrigação de zelar pela saúde – saúde física e psíquica em um caso, saúde política e social em outro. Você, com certeza, se sairá melhor: é mais “fácil” receitar um medicamento para uma pessoa do que buscar “remédios” para uma comunidade. Entre você e seu receituário, apenas o acerto de seu diagnóstico. Entre um político e seu ideário, a interferência de “acertos”, a conveniência de (im)postura. (Já me darei por vencedor se me mantiver descontaminado...).

Outra coisa: os erros médicos, embora de todo indesejáveis, têm repercussão individual (quando muito, grupal, familiar); os erros políticos – e como são frequentes, Doutor!... – causam sofrimento coletivo e comprometem vidas e estruturas presentes e futuras. Os políticos desonestos fazem morrer muito mais gente em mesas de "negociações" do que os médicos não podem salvar em mesas de operações.

A frase do seu convite de formatura – “Somos médicos. Nada do que é humano nos é indiferente” – deveria caber a toda profissão. Essa frase, buscada em Terêncio quase 2.200 anos atrás (“Sou homem, e nada do que é humano me é estranho”), deveria despertar não só no médico mas em qualquer outro profissional um senso de humildade, uma sensação de alteridade, um sentido de dever, um sentimento de humanidade.

A Medicina tem poucos Patch Addams (*). Talvez não deseje ter outros... Para mim, simbolicamente, consultórios médicos não deveriam ter mesas – onde um fica frente ao outro –-, mas sofás  - onde um fica ao lado do outro. Sentimento. Sentido. Sensação. Sensibilidade. “Se toda Medicina não está na bondade, menos vale dela separada” – é Miguel Couto (1865-1934), médico e político, quem diz.

“Medicina antes de mais nada é conhecimento humano. E este está tanto nos livros de patologia e clínica como nas obras de Proust, Flaubert, Balzac, Rabelais, poetas de hoje, de ontem...”  - é a vez de Pedro Nava (1903-1984), raro caso de médico e autor que escrevia livros tão bem quanto prescrevia receitas.

O mundo está precisando de médicos humanos. Conheci um que não tinha telefone em sua sala, nem mesa, nada formal ou agressivo. Se precisava passar três horas na consulta, ele passava. Nenhum gesto ríspido, nenhuma presunção, onisciência, onipotência. Apenas fluidez, leveza, interesse real, companheirismo. Isso soma o paciente ao médico... e contra o mal.

A cura começa na conversa. Evidentemente, não se está recomendando um diálogo estimulante quando o que se precisa é de uma traqueostomia naquele instante. Poesia é rima – mas não uma indicação – para hemorragia. Há momento para fórceps, há situações de força. Mas até estas se geraram porque antes faltou humanidade à Humanidade.

Pois é, Doutor, o mundo está precisando de novos médicos. Dos que não precisam curar-se a si mesmos pois que não se deixaram / não se deixarão contaminar, adoecer, na alma sobretudo.

Não é sem razão que, quando tiveram de dar um nome a essa ciência / arte / técnica de diagnosticar / curar, foram buscar na raiz indo-europeia o nome “Medicina”: “med-” significa “pensar”, “refletir”, “meditar”.

É isso, Doutor. Antes da medicação, a meditação.

É o que lhe trago aqui. E daqui lhe desejo felicidades.

Você é jovem e, presumo, também idealista. Mas não precisa salvar o mundo. Salve seu próximo.

Que o sorriso dos clientes que você atender, dos pacientes que você tratar lhe baste como recompensa maior ao seu esforço de cuidar das pessoas  – ... para que elas, saudáveis, cuidem deste mundo doente.

Saúde, Doutor!

E neste e nos demais 364 dias, parabéns!

Feliz Dia dos Médicos.

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(*) Patch Adams (Hunter Doherty "Patch" Adams), nascido em 1945, é um médico norte-americano que se tornou famoso por seu método de atendimento / tratamento de seus pacientes. O ator Robin Williams (1951-2014) interpretou-o no filme “Patch Adams - O Amor É Contagioso”, de 1998.

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CARTA A UMA JOVEM MÉDICA

O que você vai ler não é inédito. Já falei para ouvidos em auditório, já segredei para ouvidos solitários. Já escrevi para quem precisava. Já reescrevi para quem merecia.

São palavras para um mundo e uma profissão – a Medicina – onde tanto se avança em Tecnologia quanto se afasta em Afeto.

Muita máquina (que bom!...), pouca amizade (que pena!...).

Claro, há as exceções. Há os profissionais de Saúde que sabem que a cura  - ou ao menos a sensação de bem-estar -  começa com a conversa. Menos formalismo, mais humanismo.

A Medicina tem poucos Patch Addams. Talvez não deseje ter outros...

Para mim, simbolicamente, consultórios médicos não deveriam ter mesas - onde um fica frente ao outro –, mas sofás, cadeiras – onde um pudesse ficar ao lado do outro.

Ou, quem sabe, quando possível, o consultório pudesse ser um caminho entre árvores, flores, pássaros e água límpida caindo, escorrendo, marulhando, enquanto médico e paciente caminhassem e conversassem, calmamente, assim, como amigos. Como humanos com humanidade. Sentimento. Sentido. Sensação. Sensibilidade.

“Se toda Medicina não está na bondade, menos vale dela separada” – é Miguel Couto, médico, quem diz.

Claro, depois haveria o momento de contatos físicos –  “Diga 33”...

“Medicina antes de mais nada é conhecimento humano. E este está tanto nos livros de patologia e clínica como nas obras de Proust, Flaubert, Balzac, Rabelais, poetas de hoje, de ontem...” – é a vez de Pedro Nava, raro caso de médico e autor que escrevia livros tão bem quanto prescrevia receitas.

O mundo está precisando de médicos humanos. Conheci um que não tinha telefone em sua sala, nem mesa, nada formal ou agressivo. Nem se vestia de branco; não criava distinção mas proximidade, quase cumplicidade. Se precisava passar três horas na consulta, ele passava. Nenhum gesto ríspido, nenhuma presunção, onisciência, onipotência. Apenas fluidez, leveza, interesse real, companheirismo, afetividade. Isso soma o paciente com o médico... e ambos se multiplicam contra o mal, para diminuí-lo ou eliminá-lo.

A cura começa na conversa. Evidentemente, não se está recomendando um diálogo estimulante quando o quadro exige uma traqueotomia. Poesia é rima – mas não uma indicação – para hemorragia. Há momento para fórceps, há situações de força.

Pois é, o mundo está precisando de novos médicos. Dos que não precisam curar-se a si mesmos pois que não se deixaram/não se deixarão contaminar, adoecer - na alma sobretudo.

Não é sem razão que, quando tiveram de dar um nome a essa indispensável Ciência, a essa humana Arte, a essa delicada Técnica de diagnosticar e curar, foram buscar na raiz indo-europeia o nome “Medicina”: “med-” significa “pensar”, “refletir”, “meditar”.

É isso. Antes da medicação, a meditação.

Claro, médicos não precisam salvar o mundo. Que o sorriso dos clientes que eles atenderem, dos pacientes que eles tratarem lhes seja a principal recompensa ao esforço de cuidar das pessoas... para que elas, saudáveis, ajudem a cuidar deste mundo doente.

É o que lhe trago, aqui. E daqui lhe desejo felicidades.

Saúde.

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MEUS MÉDICOS

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"Quem é bom médico? Não é, necessariamente, aquele que cura, nem, muito menos, aquele que sabe. Bom médico é aquele em quem o paciente confia." (Walter Benevides, 1908-1981, em seu livro "Visitas de Médico").

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Graças a Deus, no correr dos tempos precisei de poucos médicos. Mas sou agradecido a todos os de que precisei, seja para consultas de clínica médica ou especializada (oftalmologia, otorrinolaringologia, gastroenterologia etc.) e, também, exames de imagem (radiografia, ultrassonografia e tomografia).

Ao passar em concurso seletivo do Banco do Brasil aos 13 anos de idade, o exame admissional levou-me ao meu primeiro médico (que eu me lembre), Humberto Ivar de Araújo Coutinho, que veio a ser prefeito de minha cidade, Caxias, e foi deputado e presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão (faleceu em 01/02/2018).

Ainda em Caxias, e já no Banco do Brasil, o subgerente Walburg Ribeiro Gonçalves Filho, grande amigo (reside atualmente em São Luís, onde está sob cuidados de profissionais da Saúde), me apresentou, a mim menino, grandes pessoas de seu círculo familiar e de amizade, entre as quais o talentosíssimo escritor e juiz de Direito piauiense Fontes Ibiapina e seu livro "Destinos de Contratempos" e um oftalmologista da sua família, a quem ele fazia questão de que me conhecesse.

Walburg demonstrava verdadeiro carinho por mim, em razão do que ele acreditava ser minha inteligência, já eu leito diretor da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) ali pelos 13 ou 14 anos de idade, caso único de um menor eleito diretor daquela Entidade. Assim, fui a Teresina conhecer o médico e parente do Walburg. Tratava-se do muito reconhecido doutor João Orlando Ribeiro Gonçalves, médico oftalmologista, à época dono do Instituto de Olhos do Piauí. Fui à capital mafrense, conversei e consultei-me com o Dr. João Orlando.

Em Caxias mereci, à distância, as recomendações e orientações da médica Ana Karla Vidigal Carvalho e de sua irmã, enfermeira Juliana Barros, filhas do casal amigo Felina Vidigal e Wybson Carvalho. Em sequência, fui atendido, e muito bem, por diversos médicos em hospital público municipal de Caxias, continuando com o médico Flávio Rocha, caxiense da gema, estudioso, cavalheiro, respeitoso, versado em diversas especialidades. Dois oftalmologistas de clínica especializada em Caxias também me olharam no fundo dos olhos...  [rs].

Quando estudava o Ensino Fundamental, na Escola Coelho Neto, em Caxias, costumava ter meus conhecimentos de menino postos à prova pelo médico Marcello Thadeu de Assumpção, que visitava com certa regularidade a escola que ele fundou e mantinha. Marcello Thadeu, que foi prefeito de Caxias, formou-se em Salvador (BA), detentor de pós-graduações em diversas especialidades, além de notável professor de Línguas, tendo tido como aluno até mesmo seu colega médico, governador da Bahia e senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007).

Em décadas em Imperatriz, lembro-me de que fui atendido pelos médicos Mario Honda e José Abrantes Sarmento (clínica geral), Nailton Jorge Ferreira Lyra (gastroenterologia), Bene André Camacho Araújo (clínica geral e cardiologia), Edson e Sandra Pacheco (neurologia e ecocardiografia, respectivamente), Antônio Leite de Andrade, Ricardo Olivi Jr. e Águeda Maira Matias Olivi (exames de imagem, inclusive tomografias), Florisvaldo Pereira Pouso Alto e Mario da Rocha Cortez (oftalmologia), Ubirajara Pereira Filho (otorrinolaringologia), Cacildo Teodoro de Assunção Filho (dermatologia) e Dr. Paulo (clínico geral, hoje em Fortaleza) e os irmãos Sebastião (urologia) e Levi Torres Madeira, oftalmologista. (Aliás, do médico Levi Madeira, que também me atendeu em Fortaleza – CE, recebi, em 2016 a seguinte mensagem: "Querido amigo Edmilson Sanches, muito obrigado pela lembrança de meu nome, e saiba que é um imenso privilégio e honra ser médico oftalmologista de um dos gênios do nosso século: VOCÊ!”).

Há uns dez anos, em São Luís, estive com médico cujo nome não me recordo, mas que me atendeu exemplarmente, com diálogo bem-humorado enquanto cumpria bem o seu dever. (Dizem que a cura começa no bom atendimento...).

Na capital cearense, Fortaleza, um "mau jeito" no Beach Park levou um dos meus pés às mãos de um ortopedista, que deu bom jeito. Em Brasília e em São Paulo e em outras cidades em 19 Estados por onde passei e morei, não fui a médico, a não ser os que procurei para, na época, continuarem os cuidados com minha mãe, Dona Carlinda (falecida).

É a amizade e o conhecimento – e não a saúde – o que mais me tem levado a médicos.

Assim, cumprimentos aos amigos e conhecidos que são médicos. Médicos que tratam, curam, sabem, prescrevem, aconselham e, de seus clientes, têm merecido confiança.

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O dia 18 de outubro é o Dia do Médico em razão de ser o dia consagrado ao evangelista  - depois santo – Lucas, que era médico e, acredita-se, é autor do evangelho que tem seu nome, além do livro bíblico "Atos dos Apóstolos". Um documento, chamado Calendário Romano Geral, estabelece os dias dedicados aos santos pela Igreja Católica Romana. Lucas nasceu na Antioquia (hoje Antóquia, na Turquia), quando essa região era do Império Romano. Morreu na Grécia e teria 84 anos. Acompanhou o apóstolo Paulo em diversas viagens, evangelizando.

Sem esquecer outros profissionais de Saúde (enfermeiros e auxiliares, dentistas, protéticos, fisioterapeutas, educadores físicos), de quem já mereci amizade, atenção ou cuidados, neste 18 de outubro, aos médicos, muita saúde -  e feliz Dia.

* EDMILSON SANCHES

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