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Wilton Alves Ferreira (Orizona/GO, 7/9/1946 – Imperatriz/MA, 29/10/2023)*

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O jornalista, escritor, poeta, apresentador de TV e ex-microempresário imperatrizense Wilton Alves Ferreira, 77 anos, faleceu próximo às 4h da madrugada desse domingo, 29 de outubro de 2023, em Imperatriz (MA). Estava internado no Hospital Estadual Macrorregional. Afora outras ocorrências ou intercorrências, em abril de 2023 já estivera hospitalizado. Problemas de coração, pneumonia, diabetes, entre outros males, contribuíram para o padecimento e falecimento de um dos mais combativos jornalistas de Imperatriz e região. Durante sua longa vida, Wilton fumara muuuuito. Somente há cerca de quatro anos, ele deixara de ser tabagista. Seu corpo está sendo velado na Igreja Assembleia de Deus, Congregação Jardim das Oliveiras, na Rua Bom Futuro, entre as ruas Glauber Rocha e Professor José Queiroz, em Imperatriz. Wilton convertera-se ao protestantismo, tornando-se assembleiano.

Wilton (como eu o chamava) era mais conhecido como “Coquinho” (como todos o chamavam). O apelido foi uma herança do pai, Benedito Coco, e a alcunha migrou de Orizona, município goiano onde Wilton nasceu, para Anápolis, onde Wilton cresceu e estudou, tendo sido aluno do Colégio Estadual José Ludovico de Almeida, no Bairro Vila Brasil. Seu Benedito e Dona Maria da Conceição tiveram quatro filhos – duas mulheres e dois homens: Wilma, Wanda, Watson e Wilton. Além desses três irmãos, Wilton teve outros quatro, por parte de pai: Wilson, Pedro, Violeta e Wassica.

Por sua vez, Wilton Alves Ferreira teve três filhos. Com Vandira, primeira esposa, residente em Anápolis, teve o primeiro filho, Wilton Alves Ferreira Júnior, que é professor universitário, gestor e consultor de negócios. Com Linda de Fátima Dias, mineira de Araguari, que estudou no Instituto Federal do Maranhão (IFMA) de Imperatriz, hoje residente em Brasília (DF), teve Daisy Fabiane, microempresária na capital federal, e Wesley, servidor público, do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal. De sua última união, com Ana Cleide, não resultou filho.

Os filhos de Wilton Alves Ferreira, até agora, lhe haviam dado quatro netos: a primeira neta, Mariana, atualmente com 24 anos, graduada em Biblioteconomia, Tecnologia da Informação e Português/Espanhol, e Bianca, ambas filhas de Daisy Fabiane; e, filhos de Wilton Júnior, os meninos Miguel e Gabriel, este o mais novo, de menos de um ano, nascido em 30 de dezembro de 2022. O espírito do avô coruja Wilton se revela e também se regozija no contato com amigos, como, por exemplo, em mensagem escrita no início da noite de 31 de maio de 2016 ao amigo e colega jornalista e escritor goiano Iron Junqueira: “[...]  o mais velho [Wilton Júnior] e a Daisy já me presentearam com três netos, verdadeiras bênçãos de Deus”.

Wilton deixou também três “filhos” de papel e tinta. São os livros:

– “Maranhão do Sul: O Estado da Integração Nacional” (140 páginas; Imperatriz: Ética Editora, 2007). O livro foi apoiado pelo Comitê Pró-Maranhão do Sul e traz texto, fotos, mapas, estatísticas e potencialidades de 49 municípios que integram o território do desejado Estado do Maranhão do Sul. A obra também transcreve documentos ligados à luta pelo novo Estado. Wilton Alves integrava, com Élson Araújo, a assessoria de imprensa do Comitê Pró-Maranhão do Sul, que era presidido pelo empresário e líder maçônico Fernando Teles Antunes e tinha como demais membros da diretoria Ubirajara Pereira da Silva (vice-presidente), José Roberto Fernandes (secretário), Benedito Lopes Serra (tesoureiro), Luílton Pio de Almeida e Antônio Teixeira Resende (assessores jurídicos). Trechos do livro: “Historicamente o Maranhão do Sul sempre falou por si mesmo. Suas belezas naturais e contrastes harmônicos da natureza evidenciam suas potencialidades em todas as áreas” (página 9). “Em qualquer lugar que o viajante percorra pelas terras sul-maranhenses, seus olhos sempre poderão desfrutar de paisagens raras e harmoniosas belezas, notadamente em relação às imagens quase que selvagens dos cerrados, que fazem parte de todo o sertão, ora em contraste com verdejantes matas, ora com vegetações típicas e inexploradas desse imenso paraíso constituído por todas as dádivas de Deus a esta terra destinada a trabalhar e construir o seu próprio futuro” (página 43). Quando em junho de 2001 foi lançada a primeira edição desse livro do Wilton, escrevi matéria na Imprensa com o título: “O MARANHÃO DO SUL JÁ TEM A SUA ‘BÍBLIA’”;

– “Pelas Ruas e Avenidas da Cidade – A História de Imperatriz”. Livro lançado na noite de 10 de outubro de 2015, no 13º Salão do Livro de Imperatriz, o Salimp, evento criado em meu segundo mandato de presidente da Academia Imperatrizense de Letras, proprietária da marca e realizadora do evento;

– e “Ramalhete de Flores”, 163 páginas, de 2016. Neste seu último livro, Wilton imprime sua veia poética e seu gosto clássico, como cultor de sonetos. Ele me dizia ser admirador dos trabalhos do poeta e exímio sonetista Paulo Bonfim (1926-2019), da Academia Paulista de Letras.

Os livros do Wilton são citados em colunas de mídia impressa e/ou digital e também em textos acadêmicos. A obra “Maranhão do Sul” é mencionada e está na bibliografia de diversos trabalhos:

– a dissertação de mestrado em História “O Grão e o Casco: Representações e Práticas da Colonização no Sul do Maranhão na Primeira Metade do Século XIX”, de Edimilson Rosa Bezerra (Goiânia: Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2010);

– a tese de doutorado em História “Fronteira Cultural: A Alteridade Maranhense no Sudeste do Pará – 1970-2008”, de Idelma Santiago da Silva (Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2010);

– o texto “A Construção do Discurso do Maranhão do Sul na Mídia Impressa de Imperatriz – MA”, do professor doutor Marcos Fábio Belo Matos e da aluna Kellen Nilceya dos Santos Almeida, do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFMA-Imperatriz. O texto foi publicado em 2011, no número 04 da revista “Littera Online” (Departamento de Letras/UFMA);

– o trabalho de conclusão de curso “Memórias da Vila: A Ponte Juscelino Kubitschek e o Processo de Emancipação da Vila Paranaidji (1961/1982)”, de Joelia Bezerra de Morais (São Luís: Universidade Estadual do Maranhão, 2012). Paranaidji era o nome de antigo distrito de Carolina (MA) até 27 de dezembro de 1954, quando foi transformado em município com a denominação Presidente Vargas, teve a emancipação cassada pelo Supremo Tribunal Federal, até que, em 12 de maio de 1982, o município teve novamente, e definitivamente, sua autonomia, agora com o nome de Estreito, em razão da existência de uma parte pouco larga do Rio Tocantins, local em que foram construídas duas pontes que unem os Estados Tocantins e Maranhão;

– o trabalho “As Dificuldades dos Autores Imperatrizenses na Publicação dos seus Livros Impressos”, de 2019, faz menção aos livros sobre o Maranhão do Sul e sobre as ruas de Imperatriz. Os autores, os universitários André Luís Zimbawer Claudino Pinto da Silva, Ana Catharina Ramos Valle e Izani Mustafá, eram, à época, alunos do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Campus Imperatriz, e apresentaram o trabalho no 21º Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), em São Luís (MA), de 30 de maio a 5 de junho de 2019;

– o artigo “Divisão Territorial: As Construções Discursivas Sobre a Proposta de Criação do Estado Maranhão do Sul”, de Janilene de Macedo Sousa, graduada em História (UEMA) e pós-graduanda em Gestão de Políticas Públicas em Gêneros e Raças (UFMA).

O livro “Pelas Ruas e Avenidas da Cidade – A História de Imperatriz”, de Wilton Alves Ferreira, é citado na dissertação de mestrado em Geografia “Autossegregação Urbana em Imperatriz/MA: Um Estudo a Partir dos Condomínios Horizontais do Bairro Santa Inês”, de Sheryda Lila de Souza Carvalho (Porto Nacional: Universidade Federal do Tocantins, 2016).

Em sua tese de doutorado “Dinâmicas de Desenvolvimento, Redes e Trajetórias Migratórias no Contexto da Formação Histórica de Imperatriz – MA” (Universidade de Santa Cruz do Sul, 2018), o economista, gestor e professor universitário Edgar Oliveira Santos relaciona e qualifica Wilton Alves Ferreira em uma lista de menos de 30 “imigrantes de perfil técnico, religioso, artístico, educador, professor e outros” que vieram para Imperatriz.

Polígrafo, Wilton Alves Ferreira, além de escrever os próprios livros, participava de outros, como prefaciador convidado. É o caso da obra “Madrugada de Novembro” (2001), de Edna Ventura, que, em 100 páginas, reúne 17 textos em prosa e 32 poemas (o sumário relaciona 31 – não registrou a poesia “Falta Tempo”). No prefácio, Wilton começa já citando Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), o maior escritor do Arcadismo português.

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Wilton Alves Ferreira nasceu em 7 de setembro de 1946, em Orizona, município de Goiás, antigamente chamado Capela dos Correias e, depois, Campo Formoso (mudado para Orizona em 31/12/1943). Com território de 1.971 quilômetros quadrados, pequeno na população (16 mil habitantes – IBGE, 2022), Orizona é grande na sua História, que vem desde 1850, considerado ano de fundação. O município é terra natal de nomes de relevo estadual e nacional na Literatura, na Música, no Teatro, no Esporte, na Política e até na Religião, como o caso de Dom Antônio Ribeiro de Oliveira (1926-2017), arcebispo emérito de Goiânia, a capital do Estado.

A economia de Orizona (Produto Interno Bruto – PIB –, IBGE, 2020) é de R$ 644 milhões, quase metade advindo do Setor Primário (agropecuária), com destaque para a produção de leite e cuja bacia leiteira é a maior de Goiás. Esse destaque da agropecuária já teve outro segmento de mais relevo, o cultivo de arroz. Tanto os grãos orizonenses se sobressaíam na economia do Estado que mereceram uma homenagem maior – o nome do município. Pegaram o elemento de composição (ou antepositivo ou prefixo) grego para “arroz”, que é “orúzo”, e o juntaram ao substantivo que, em grego, significa, entre outros sentidos, “região terrestre”, que é “zóne”, e deu “Orizona”, pois, na forma latina – que é a que veio para a Língua Portuguesa –, “óruza” tornou-se “oryza” (“arroz”, no latim botânico) e “zóne” ficou quase a mesma coisa: “zona”. Foi assim que o politônimo “Orizona” preservou em si um aspecto da própria economia do município – e o que a Economia não sustentou, cedendo ao protagonismo da bacia leiteira, a História fixou e conta para os que ainda se interessam pelas coisas e causas de seu próprio lugar...

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Wilton Alves Ferreira, Wilton Coquinho ou apenas Coquinho mudou-se com a família de Orizona para Anápolis, maior município do interior goiano e, economicamente, o de número 73 em todo o Brasil, entre 5.570 cidades.

Foi na próspera Anápolis que Wilton, lá pelos 13 ou 14 anos, se iniciou em jornal, pelas mãos e orientação e estímulo do experiente jornalista e escritor Iron Junqueira, cujo pai era dono da “Tribuna de Anápolis”. Conta Iron na deliciosa crônica “Uma rua chamada Saudade”, publicada no “Diário da Manhã”, de 21/5/2016: “O menino – aquele endiabrado devia ser um adolescente – com a idade de uns 13 a 14 anos, não sei, e se chamava Wilton Alves Ferreira, conhecido por todos pelo codinome Coquinho [...]”. Mais adiante: “Depois de ter publicado vários livros, recebi um jornal de Imperatriz, onde havia uma crônica sobre mim, muito boa, sincera, leal, escrita pelo escriba Wilton Alves Ferreira, que falava da minha pessoa evidenciando sua gratidão e amizade com seu talento de síntese, mas que me comoveu muito. // Essa crônica dele é a introdução do meu livro “Na Trilha da Esperança” já na sua 2ª edição”. E ainda: “Hoje Wilton Ferreira é figura popular – e pública – respeitável na cidade maranhense, já mencionada, onde labora na mesma profissão, está casado e tem filhos. Mas continua o mesmo fanfarrão, alegre e feliz como sempre”.

Foi de Anápolis que Wilton chegou a Imperatriz, no primeiro trimestre de 1979. Veio a convite do empresário Gerardo Marinho Lopes, à época proprietário da empresa Irial Imobiliária, para fundar e dirigir o jornal "Gazeta de Imperatriz". A “Gazeta” era semanal e começou a circular no primeiro trimestre de 1979. O número 3 é da semana de 11 a 17 de março de 1979. Tinha oito páginas e, provavelmente, foi o jornal com o formato de maior tamanho já editado na história da cidade. Media 37,5cm X 57,5cm. O expediente do número 3 registrava: Gerardo Marinho Lopes (diretor-geral), Linda de Fátima Dias (diretora-superintendente; esposa do Wilton) e W. A. Ferreira [Wilton Alves Ferreira] (secretário).

Após algum tempo, e tendo saído da “Gazeta”, Wilton criou seu próprio jornal, a “Tribuna de Imperatriz”, para a qual me convidou a escrever. A “Tribuna” foi uma reação do Wilton à sua saída da “Gazeta de Imperatriz”. Ele, que havia criado a “Gazeta”, lançou o jornal também em 1979. No início tinha o mesmo formato da “Gazeta”.

A vida da “Tribuna” foi longa, para os padrões de sobrevivência da maioria dos jornais lançados em Imperatriz. O número 301, ano 11, em formato 32cm X 45cm, oito páginas, é da semana 26 de junho a 2 de julho de 1989. No expediente, Wilton Alves Ferreira (editor) e “corpo redatorial e colaboradores” formado por Marilene Almeida, Gean Ribeiro, Lourival Fernandes (especialista em selos), Lírio do Vale (pseudônimo do Wilton), Iron Junqueira (que o iniciou em jornal, em Anápolis), Fernando Guimarães (um consultor de transportes) e Regina Braviny.

Lembro-me bem do formato das manchetes da “Tribuna”: eram frases longas, quase um “lead” (texto inicial de uma matéria jornalística, onde o assunto principal é descrito). Wilton fazia montagens com fotos de políticos e gente de outras profissões. Escrevia textos provocadores. Muitos não gostavam...  e iam tirar satisfações. A mulher de Wilton, Linda de Fátima, chegou a receber na própria casa uns e outros querendo apelar para a violência. Teve vez de ela se colocar entre o potencial agressor e o marido dela. Mas o Wilton era intimorato, destemido.

Por outro lado, sempre defensor de Imperatriz, queria que a cidade melhorasse também no aspecto cultural. Andou me contatando para criarmos uma entidade de estudos filosóficos, junto com o médico e político – e nosso amigo comum – André Paulino d’Albuquerque (falecido em novembro de 2009). Fiquei de analisar a proposta. Na edição seguinte da “Tribuna”, uma das manchetes: “Imperatriz terá Academia Sartreana de Letras Filosóficas”. Não foi dessa vez que o filósofo, escritor e crítico francês Jean-Paul Charles Aymard Sartre (1905-1980) teve substantivado seu adjetivo antroponímico como nome-homenagem de uma academia em Imperatriz...

Em 1988, Wilton interrompeu, temporariamente, a circulação da “Tribuna”. Em 1993, Wilton foi editor do “Informativo Empresarial”, um “house organ” fundado em 1991, com 12 páginas em preto & branco, formato 32,5cm X 22cm e sob a edição do jornalista, escritor, editor e gramático Tasso Assunção.

Em 2001, Wilton estava no quadro de colaboradores do jornal “A Folha”, fundado em Imperatriz, em 3 de outubro daquele ano, pelo jornalista e apresentador de TV Frederico Luiz (falecido em fevereiro de 2022).

Após sua conversão ao protestantismo (Assembleia de Deus de Imperatriz), Wilton editou, pelo menos, duas publicações religiosas: o jornal “O Caminho” e a “Revista Campos Brancos”, esta idealizada por Ediel Pessoa e produzida por Luaran Lins. O número 2 de “O Caminho” é de 30 de março de 1997. Ambos os veículos de comunicação eram ligados à Igreja Assembleia de Deus de Imperatriz.

Wilton apresentou programas de TV. Ele foi jornalista e apresentador na TV Tocantins/CNT, que tinha João Japiassu como diretor-geral, João Batista na direção de jornalismo e o apresentador e jornalista Gideljones Sena.

Wilton foi microempresário: estabeleceu a Peixaria Cocofly, que se tornou um “point” de Imperatriz, com suas serestas, já que Wilton era admirador da antiga e excelente música brasileira. Detalhe: poucos sabem, mas muitos dos peixes servidos na Cocofly eram pescados à noite no Rio Tocantins pelo próprio Wilton, que tinha gosto pela pesca.

Como já se sabe, Wilton foi um dos mais ativos defensores da criação do Estado do Maranhão do Sul, sonhada nova Unidade Federativa brasileira sobre a qual escreveu e publicou um livro e integrou o Comitê de apoio e defesa do movimento. Um "goianense" (goiano imperatrizense), Wilton era empedernido defensor das causas pró-Imperatriz e conhecedor de muitos aspectos da história do município, tendo escrito várias reportagens sobre os logradouros (ruas, avenidas etc.) de Imperatriz, reportagens que se transformaram no grande livro – “Pelas Ruas e Avenidas da Cidade: A História de Imperatriz” –, que o Wilton publicou e lançou em 2015.

Wilton teve reconhecidos muitos de seus méritos em terras imperatrizenses e maranhenses. Em outubro de 2005  foi realizado, em São Luís, o 2º Congresso de Jornalistas e Radialistas do Maranhão. Nesse evento, foram homenageados 43 pessoas, duas das quais de Imperatriz: Sebastião Negreiros, falecido, que instalou e dirigiu a sucursal imperatrizense do jornal “O Imparcial”, da capital maranhense, e Wilton Alves Ferreira, jornalista, fundador e editor da “Gazeta de Imperatriz” e da “Tribuna de Imperatriz” e apresentador do programa “Sem Fronteiras” (TV Tocantins/CNT).

Em 10 de abril de 2012, a distinção máxima de Imperatriz lhe foi concedida: o título de Cidadão Imperatrizense, proposto pelo vereador Raimundo Costa Silva e aprovado pelo plenário da Câmara de Vereadores.

O presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, o imperatrizense Giovanni Guerra, nascido em Anápolis, escreveu-me nesse 29/10/2023, expressando sua tristeza ante o falecimento do Wilton e afirmando: “Eu o tinha como Amigo e em alta consideração”. E reconhece: “[Wilton] Também colaborou muito com nosso Automobilismo, o que de certa forma contribuiu sobremaneira para que eu chegasse à Presidência da CBA”.

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Wilton e eu estávamos sempre nos esbarrando em eventos em Imperatriz e região, como idealizadores ou participantes ou incentivadores, em ações e pregações em prol do município e de seu entorno. Em 1985, seis anos depois de o Wilton ter chegado a Imperatriz, lá estávamos ele e eu, participando das tentativas de criação de um “Clube de Imprensa” em Imperatriz, juntamente com Sérgio Macedo, Sebastião Negreiros, Marcelo Rodrigues, Osvaldo Nascimento, Nilson Santos, José Rodrigues, Jurivê de Macedo e Hélio de Alfeu, e de uma “Associação dos Profissionais de Comunicação Social”, com Jurivê Macedo, Antônio Costa, Aldeman Costa, Marcelo Rodrigues e Roberto Chaves. Anteriormente, outras reuniões haviam sido realizadas. Lembro-me de duas delas, bem frequentadas e participativas, na sede do antigo Mobral. Mas, apesar do nível de debates e envolvimento dos participantes, essas reuniões não produziram resultados efetivos maiores; nenhuma das entidades foi formalizada. Entretanto, aquelas ações provocavam sadias reações para o futuro e se iam formando e formatando novas ideias e novos esforços.

Em meados dos anos 1980, nova tentativa de criar uma entidade de jornalistas e radialistas. Era o dia 26 de julho de 1986. Wilton tentou reunir os profissionais de Imprensa, mas ainda não seria daquela vez que se fundaria a desejada Associação. No ano seguinte, 1987, fui ao cartório, pedi que pesquisassem sobre existência de alguma entidade associativa, de jornalistas, registrada. Não havia. Então, solicitei o auditório da Associação Comercial e Industrial de Imperatriz e, com muita conversa e visita aos colegas e seus órgãos de Imprensa, a casa lotou e, finalmente, criou-se a Associação de Imprensa da Região Tocantina (AIRT), de que fui primeiro presidente. Agora, o detalhe: por questão de reconhecimento, submeti à assembleia um parágrafo para constar no estatuto da Associação, parágrafo que, de certo modo, reconhecia o esforço meu e do Wilton no ano anterior, 1986. Assim, o estatuto foi para o Cartório do 1º Ofício destacando: “Por deliberação da Assembleia Geral Extraordinário, visando à preservação dos primeiros registros factuais para a criação da entidade, fica mantida, para todos os efeitos, a data de 26 de julho de 1986 como a de fundação da AIRT.” (Artigo 1º, parágrafo único, do estatuto da Associação de Imprensa da Região Tocantina, aprovado em 24/6/1987).

Há uma foto, com legenda, publicada no jornal "O Progresso", edição de 25 de janeiro de 2007. Wilton e eu estávamos concedendo entrevista à TV Bandeirantes. Diz a legenda: “O jornalista Wilton Alves Ferreira (Coquinho) observa Edmilson Sanches sendo entrevistado pela TV Bandeirantes (década de 1980). Goiano, Wilton Ferreira chegou a Imperatriz nos anos ’70. Aqui fundou e dirigiu os jornais "Gazeta de Imperatriz" e "Tribuna de Imperatriz". Responsável pelo jornal evangélico "O Caminho". Atualmente, apresenta o programa “Sem Fronteiras” (TV Tocantins/CNT, canal 21)."

Ainda nos idos dos anos 1980, à frente o advogado, ex-promotor e empresário Sérgio Antônio Nahuz Godinho, proprietário do jornal “O Progresso”, Wilton Alves Ferreira, eu e outros, fundamos a Associação dos Jornais do Interior do Maranhão (ADJORI-MA). Um dos estimuladores da causa era o jornalista Vítor Gonçalves Neto, diretor de “O Pioneiro”, de Caxias (MA), e membro do quadro diretor da entidade nacional, a  Associação Brasileira de Jornais do Interior (ABRAJORI). Com presença do presidente nacional da ABRAJORI, foi realizado encontro em Caxias, e eu e o Wilton – ele dirigindo seu pequeno Fiat 147 de cor amarela – saímos de Imperatriz, a “Princesa do Tocantins”, até Caxias, a “Princesa do Sertão”. Viajamos, participamos e voltamos.

Em 1997, eu era o titular de duas secretarias da Prefeitura de Imperatriz: a Secretaria do Desenvolvimento Integrado (Sedin) e a Secretaria da Comunicação e da Cultura (Secom). Retornara de Brasília e estava revisitando e revendo os colegas e amigos de Imprensa. De 1º a 6 de janeiro de 1997, estive com o Wilton, em “visita oficial” minha, como titular da área de Comunicação municipal, a um dos titulares do jornalismo imperatrizense.

No fim dos anos 1990, em abril de 1999, Wilton era editor do jornal evangélico “O Caminho”. Sabendo que eu estava em luta hercúlea na Imprensa contra a retirada da autonomia operacional e financeira do banco de sangue estadual (Hemonúcleo) e sua transferência para a capital maranhense, o Wilton trouxe seu apoio e disse que o “assunto Hemonúcleo” seria objeto de matéria em seu jornal religioso. Wilton não economizou críticas à postura passiva da cidade como um todo em relação àquele caso, em que um grande município, prestador de serviços para dezenas de outras cidades de diversos Estados, praticamente ficava com seu banco de sangue limitadíssimo, por erráticas decisões vindas de São Luís.

Em 2007, Wilton e eu estávamos presentes na fundação do Instituto de Desenvolvimento Regional, que a Faculdade de Imperatriz, a maior instituição de ensino superior particular da região, almejava legar para o município e sua zona de influência. À época, no “Jornal Capital” (Imperatriz, 30/10/2007), escrevi: “INSTITUTO - A convite da direção da Facimp (Faculdade de Imperatriz), participei da reunião e assinei a folha de presença da fundação do Instituto de Desenvolvimento Regional. Compareceram ao ato João Carlos Japiaçu (diretor da Facimp), Wilton Alves Ferreira (jornalista, da equipe da TV Tocantins, canal daquela instituição de ensino superior), Agostinho Noleto (advogado e escritor, presidente da Academia Imperatrizense de Letras), o biólogo Juan (consultor da Infraero e Sebrae) e os professores Enéas Rocha e Raimundo Neres (ambos da Facimp). O Instituto pretende tornar-se a referência de uma rede de conhecimentos em desenvolvimento regional. Já dispõe de área própria (praticamente 14 mil metros quadrados), doada pela Facimp. Pretende-se que o projeto arquitetônico seja desenvolvido por Oscar Niemeyer. Para isso, há uma teia de amizades que ligam pessoas da Facimp ao escritório do famoso arquiteto, que completou cem anos de vida com muita lucidez e trabalho”. Não se pode dizer que em Imperatriz não haja sonhos, tentativas, esforços...

Na criação do Instituto Histórico e Geográfico de Imperatriz, e estando eu fora do município, fiz diversos esforços para estabelecer contato com o amigo Wilton, para convidá-lo a integrar o quadro de membros fundadores. Até às vésperas da assembleia geral que criou o IHGI, em 27 de maio de 2023, nenhum dos amigos comuns conseguiu contatá-lo e um deles comentou sobre delicado estado de saúde. Realmente, poucos dias antes, em abril, o grande jornalista encontrava-se internado. Estava em UTI. O quadro inspirava cuidados, tanto que filhos se deslocaram de outros Estados para estarem ao lado do pai doente. Foi preciso ter ocorrido um conluio de doenças para enfraquecer e finalmente abater o operoso jornalista Wilton Alves Ferreira.

O gosto de Wilton pela música, pelo escrever, pelos livros e pela leitura, pela informação e pelo conhecimento, refletiu-se em sua descendência, filhos e netos. Tanto que sua primeira neta, como já dito, tem formação em Biblioteconomia, em Línguas e em Tecnologia da Informação. Nesse 29 de outubro, Dia Nacional do Livro, não deixa de ser interessante que um escritor saia da condição de autor de livros e, quem sabe, venha a se tornar personagem de um deles.

Até ontem, como jornalista, Wilton Alves Ferreira fazia histórias.

Agora, ele é História.

Talvez, na Eternidade, ele crie e escreva a “Gazeta Divina”, ou a “Tribuna Celeste”...

Jornalistas não descansam.

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De todo modo, Paz e Luz, Amigo.

* EDMILSON SANCHES