
Há 49 anos, em 14 de novembro de 1976, falecia, em Caxias, a professora e escritora Laura Rosa, nascida em São Luís (MA).
Laura Rosa morava na casa de sua amiga Filomena Machado Teixeira, a Tia Filozinha, que foi minha professora de História no Ensino Fundamental e era minha vizinha "de quintal": sua residência ficava na Rua São Benedito e os fundos do terreno do quintal "batiam" com os do quintal da casa em que moravam minha família e eu, na Rua Afonso Pena, em Caxias.
Quando estudava o Ensino Médio, fui durante os três anos presidente eleito e reeleito do Grêmio Santa Joana d'Arc, do Colégio São José (Associação das Irmãs Missionárias Capuchinhas). Tenho forte lembrança de que vi a assinatura de Laura Rosa em algum documento – um livro de atas, talvez – que eu manuseava durante as tardes ou noites em que ficava na escola, para conhecer mais e organizar melhor as atividades do Grêmio.
Abaixo, transcrevo o que escreveu sobre Laura Rosa meu confrade da Academia Caxiense de Letras Wybson Carvalho, jornalista e poeta, referência literária em Caxias.
Laura Rosa é a patronesse de uma das cadeiras da Academia Caxiense de Letras, ocupada pela amiga e professora doutora Joseane Maia, chefe do Departamento de Letras da Universidade Estadual do Maranhão em Caxias. (EDMILSON SANCHES)
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LAURA ROSA, A VIOLETA DO CAMPO
"Laura Rosa, nascida em São Luís do Maranhão, no dia 1º de outubro de 1884. Por amor à Língua portuguesa e às letras, formou-se normalista (Magistério) e, como professora, veio para o sertão ainda na segunda década do século passado, com a finalidade de lecionar na antiga Escola Normal de Caxias.
"Em sua terra natal, durante sua escolarização, escreveu inúmeros poemas e participava, ativamente, da vida literária estudantil ludovicense, vindo a ser cognominada de ‘Violeta do Campo’, pseudônimo com o qual assinava seus poemas.
"Na Princesa do Sertão Maranhense [Caxias], a poetisa Laura Rosa foi durante muitas décadas hóspede da valorosa professora caxiense Filomena Machado Teixeira, com a qual foi das primeiras incentivadoras da criação de uma Academia Caxiense de Letras e da qual viria a ser patrona da Cadeira que pertenceu a Adaílton Medeiros [Caxias, 16/7/1938-9/2/2010], sucedido pela professora e escritora Joseane Maia, membro da Casa de Coelho Neto.
"Antes de sua partida para uma dimensão de além-vida, a poetisa realizava em procedimento espontâneo, quase que diariamente ao receber visitas, verdadeiros saraus poéticos na companhia de escritores e poetas caxienses, dentre os quais Cid Teixeira de Abreu, Déo Silva, João Vicente Leitão, Abreu Sobrinho, Vítor Gonçalves Neto, J. Cardoso e, ainda, os estudantes ginasiais àquela época Edmilson Sanches e Wybson Carvalho, bem como outros jovens poetas da cidade, quando em adolescência se intrometiam entre ela e eles para aprender a ouvir e passar a gostar de poesias. Laura Rosa se encantou, em Caxias, na data de 14 de novembro de 1976, aos 82 anos de vida dedicados ao Magistério e às Letras. Laura Rosa foi a primeira mulher maranhense a ter assento em uma Cadeira na Academia Maranhense de Letras.
"Eis, alguns trechos do discurso de posse da poetisa Laura Rosa, proferido no dia 17/4/1943, no Salão Nobre da Casa de Antônio Lobo (AML). No discurso destaco um ponto que parece comum na posse de membros homens e/ou mulheres, a referência a algum amigo mais próximo, o qual parece ser responsável pela indicação do membro para ocupar à vacância da Academia:
‘Manda a justiça que vos diga, em primeiro lugar, que me trouxeram para esta Casa de sábios ilustres as mãos amigas de Corrêa de Araújo e Nascimento de Moraes, com a benevolência de seus pares. Trouxeram-me porque, de mim mesma, nunca imaginei suficientes os meus versos para merecimento de tão honrosas credenciais’. (Laura Rosa)
“A humildade com que a escritora se apresenta frente aos seus confrades prolonga-se por algumas frases, reforçando a valorização dos membros mais antigos e, ao mesmo tempo, sutilmente reconhecendo o valor de suas poesias:
‘Eis-me, portanto, aqui, Senhores, a primeira mulher que aqui entra, porque assim o quiseram os homens ilustrados desta agremiação, guardiã fiel de nossas tradições literárias’”.
(Wybson Carvalho, jornalista e escritor, membro e ex-presidente da Academia Caxiense de Letras)
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ESQUELETO DA FOLHA
(poema de Laura Rosa – seleção de Wybson Carvalho)
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“Vede, Senhor, apodreceu na lama
Eu a vi há muito tempo entre a folhagem
Antes do vento lhe agitar a rama
E do regato sacudi-la à margem.
De vigente e de verde tinha fama
Da folha mais famosa da ramagem
Desceu nas águas e resta da viagem
O labirinto capilar da tinta.
Ninguém pode fazer igual verdade
Nem filigrana mais perfeita e linda
Nem presente melhor pode ser dado.
Guardai, Senhor, guardai este esqueleto
Todo cuidado! É uma folha ainda
Onde escrevo de leve este soneto”.
Foto:
A professora e escritora Laura Rosa.








