Ele deveria estar aqui no dia 10 para realizar uma conferência na Casa de Antônio Lobo. E todos esperavam o Mestre, o Cientista, uma fortíssima expressão das tradições de cultura de nossa Terra, este Maranhão que ele amava pelo espírito e que queria pelo coração.
Membro da Academia Maranhense de Letras estaria de volta ao Maranhão para rever os amigos, os parentes e, mais uma vez, falar aos intelectuais maranhenses, ao povo, aos estudantes.
E estávamos nos lembrando dele quando da sua recepção na Academia, preenchendo a vaga do poeta Ribamar Pereira que tinha como patrono Inácio Xavier de Carvalho. E o velho professor de História Natural, catedrático do velho Liceu Maranhense, jornalista, ligado ao grupo intelectual chefiado por Antônio Lobo, com brilhantismo, deu a seu trabalho páginas de talento, de cultura. Um trabalho que recebeu da grande assistência a vibração das palmas, o registro dos mais destacados elogios.
Da tribuna acadêmica fez, viveu, naquelas horas, seus momentos de professor, do homem cátedra dando a sua aula, defendendo a sua tese. Foi assim. Uma lembrança viva enchendo uma noite de emoções. Enchendo as horas de lembranças. Foi uma das mais encantadoras noites da Academia Maranhense de Letras.
Luís Viana na imortalidade das letras, na galeria dos que souberam defender as tradições de cultura da ATENAS BRASILEIRA. Nele, a grandiosidade dum Passado de lutas memoráveis. Aluno pobre, menino pobre, Luís Viana semeou riquezas: educou gerações. Nele, não só o professor. Não. Nele, o intelectual. O crítico, o ensaísta, o jornalista. Uma vida toda aqui e no Sul, entregue ao magistério. Aí, o seu campo preferido. Aí, a sua CASA. Aí, a realização de seus sonhos. Aí, a grandiosidade de sua vida, sua vida em amor, em trabalho, em dedicação.
Era, assim, o médico maranhense que faleceu às 6 horas da manhã de sábado p. passado, no Rio de Janeiro, onde residia há muitos anos. Na Guanabara, era catedrático do Colégio Santo Inácio e funcionário aposentado do Ministério da Viação.
Estava na Vida. Pensava na Academia. Preparava-se para, mais uma vez, visitar a terra, o Maranhão que foi seu berço, a cidade que foi o palco dos primeiros anos de sua existência. A cidade, a sua trincheira de luta. A cidade onde ele se demorou muitos anos, onde sentiu a carícia dos primeiros cabelos brancos.
Sim, estava para vir. Para pisar o asfalto. Olhar os sobradões antigos. Abraçar seus amigos, seus companheiros. ONTEM, seus alunos de ONTEM, poetas e jornalistas de HOJE, professores de HOJE. Estava na vida. Olhar a João Lisboa e ouvir e aplaudir o poeta Fernando Viana, seu irmão, o menino de ontem que tinha nele não só o irmão, mas o amigo, Fernando Viana que o admirava, que exaltava o tamanho do gigante!
Estava de volta. Mas tudo mudou de momento. O enfarte separou-o da Vida no momento em que ele se preparava para vir ao Maranhão. E a notícia chegou até nós bruscamente. Sentimos o impacto. Mas, diante de nós, a dura realidade. E, como a cidade, sentimos tristezas. O Maranhão no golpe da fatalidade. Na Academia Maranhense de Letras, sua presença continuará viva, iluminada pela saudade, sentida pela lembrança. Seu trabalho sobre Inácio Xavier de Carvalho, o patrono da cadeira que ele ocupava, deve ser publicado. Uma homenagem que deve ser feita, uma delas, promovida pela Academia Maranhense de Letras.
Mas Luís Viana deixou de viver na Terra. Mas, na Terra, ficará indelével, inconfundível a sua passagem, sua presença nas páginas de cultura e de inteligência do Maranhão.
Nesta coluna, a nossa homenagem numa mensagem de o sentir mais vivo na Terra, na cidade, na lembrança do seu velho Liceu Maranhense.
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 23 de julho de 1968 (terça-feira).