Municípios interessados em aderir à Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (Pnab) têm até quinta-feira (28) para assinar o termo de adesão ao programa. A manifestação deve ser feita por meio da plataforma Transferegov.
Segundo o Ministério da Cultura, a Pnab é considerada uma ação estruturante porque a legislação é voltada à consolidação do Sistema Nacional de Cultura (SNC) e tem como beneficiários trabalhadores da cultura, entidades e pessoas físicas e jurídicas que atuem na produção, difusão, promoção, preservação e aquisição de bens, produtos ou serviços artísticos e culturais, incluindo o patrimônio cultural material e imaterial.
Em nota, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, disse que a Política Nacional Aldir Blanc representa uma grande oportunidade para se nacionalizar o fomento da cultura no país. “Os municípios e Estados irão receber, durante 5 anos, recursos para que promovam ações e programas culturais. Com isso, iremos transformar a vida dos trabalhadores do setor. Portanto, é fundamental que as cidades assinem o termo de adesão para assegurar os recursos dessa política pública”.
De acordo com o Painel de Dados da Pnab, até terça-feira (26) 91,2% dos municípios brasileiros e 100% das unidades federativas cumpriram os requisitos para o programa. Há, segundo o ministério, recursos previstos para até 2027.
“Diferentemente das ações da Lei Aldir Blanc (LAB 1) e da Lei Paulo Gustavo (LPG), que tinham caráter emergencial, projetos e programas que integrem a Polícia Nacional Aldir Blanc receberão investimentos regulares. Fomento que será repassado a ações culturais por meio de editais para trabalhadoras e trabalhadores da área cultural, bem como pela execução dos recursos de maneira direta”, detalhou o ministério.
Estão previstos recursos para chamamentos públicos, prêmios, aquisição de bens e serviços vinculados ao setor e suas áreas técnicas. Eles serão destinados à manutenção, formação, desenvolvimento técnico e estrutural de agentes, espaços, iniciativas, cursos, oficinas, intervenções, performances e produções; ao desenvolvimento de atividades de economia criativa e economia solidária; bem como a produções audiovisuais, manifestações culturais, ações, projetos, programas e atividades artísticas, do patrimônio cultural e de memória.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) informou que iniciou, nessa terça-feira (26), a antecipação do pagamento das bolsas de pós-graduação no país e dos programas de formação de professores da educação básica. Todos os depósitos serão feitos até a próxima sexta-feira (29). O prazo normal é o quinto dia útil de cada mês, que, neste caso, seria em 8 de janeiro.
Estão sendo atendidos com a antecipação todos os bolsistas no Brasil, que somam cerca de 180 mil estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado, e de programas como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), Residência Pedagógica e Universidade Aberta do Brasil.
A Capes informou que, desde o início do ano, tem adotado várias medidas para melhorar as condições dos bolsistas ao reajustar os valores das bolsas, o que não ocorria há 10 anos, e ampliar o número de benefícios.
Os resultados individuais do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) 2023 já estão disponíveis no Sistema Encceja. A prova é uma forma de jovens e adultos que não concluíram os estudos na idade adequada receberem certificado de conclusão do ensino fundamental e do ensino médio
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC), também divulgou os resultados do Encceja Exterior e da versão do exame para jovens e adultos submetidos a penas privativas de liberdade (PPL) no exterior. Em 2023, o Instituto Federal Fluminense certificará os candidatos à conclusão do ensino médio, e o Colégio Pedro II, o ensino fundamental.
Encceja
Realizado pelo Inep desde 2002, de forma voluntária e gratuita, o Encceja avalia competências, habilidades e saberes adquiridos no processo escolar ou extraescolar. O exame tem quatro aplicações, com editais e cronogramas distintos:
Encceja Nacional para residentes no Brasil;
Encceja Nacional PPL, para residentes no Brasil privados de liberdade ou que cumprem medidas socioeducativas;
Encceja Exterior, para brasileiros residentes no exterior;
Encceja Exterior PPL, para residentes no exterior privados de liberdade ou que cumprem medidas socioeducativas.
Provas
As aplicações fora do Brasil são feitas em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE). As provas são aplicadas em um único dia, nos turnos matutino e vespertino. Em 2023, a aplicação ocorreu no mês de agosto.
Este exame é composto por quatro provas objetivas, cada uma com 30 questões de múltipla escolha, além de uma redação. As provas objetivas avaliam áreas de conhecimento e respectivos componentes curriculares dos ensinos fundamental e médio.
O Encceja ainda serve para orientar a implementação de políticas para melhorar a qualidade da educação de jovens e adultos, além de viabilizar o desenvolvimento de estudos e indicadores sobre o sistema educacional brasileiro.
Os editais do exame de 2023 estão disponíveis no site do Encceja. O número 0800 616161 está disponível para mais informações.
Revelação do esporte maranhense, o beachtenista Augusto Neto, de apenas 15 anos, teve uma temporada de 2023 com vários resultados expressivos em competições estaduais, nacionais e internacionais. Augusto, que conta com os patrocínios do governo do Estado e do Mateus Supermercados por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, além dos apoios da Maniacs e da Adidas, precisou de apenas 10 torneios internacionais para colocar seu nome entre os 500 melhores atletas de beach tennis no ranking da Federação Internacional de Tênis (ITF) e se consolidar como um dos principais expoentes da modalidade no Estado.
“Estou muito feliz com os resultados conquistados em 2023 e pela minha evolução durante toda a temporada. Vou me dedicar ao máximo para que o ano de 2024 seja ainda melhor, com títulos para o Maranhão nos torneios nacionais e internacionais de beach tennis. Agradeço ao governo do Estado, ao Mateus Supermercados e aos meus apoiadores por todo o suporte para que eu possa competir em alto nível”, destaca Augusto Neto.
Em novembro, Augusto Neto teve um desempenho de alto nível na disputa da ITF Niterói, com um título e um vice-campeonato em dois torneios BT10, onde competiu com o catarinense Gui Lima, além de chegar às oitavas de final do BT50 no evento niteroiense. No mesmo mês, o jovem atleta conseguiu um feito inédito para o beach tennis maranhense após se sagrar campeão, também ao lado de Gui Lima, da categoria de Duplas Masculinas do BT10 – Open de Beach Tennis, evento realizado em Belo Horizonte. Com essa conquista, Augusto se tornou o primeiro beachtenista do Maranhão a chegar ao lugar mais alto do pódio em um torneio da ITF.
Já em julho, Augusto Neto se destacou nas etapas do Circuito Nacional de Beach Tennis, ocorridas no interior de São Paulo. Em Valinhos, o jovem maranhense sagrou-se campeão nas Duplas Mistas Sub-16 e foi 3º colocado nas disputas das Simples Sub-16. Já em Campinas, Augusto foi campeão na Simples Sub-16 e 3º colocado nas Duplas Masculinas Sub-16.
Augusto Neto também conquistou três pódios na etapa de Ribeirão Preto do Circuito Nacional de Beach Tennis: além de faturar o título nas Duplas Masculinas Sub-16, o atleta maranhense ficou em terceiro lugar nas Duplas Mistas Sub-16 e Simples Sub-16. A nível estadual, Augusto Neto venceu as duas primeiras etapas do Maranhense de Beach Tennis.
Próximas competições
A temporada de 2024 vai começar já no mês de janeiro. No próximo dia 22/1, Augusto Neto embarca para São Paulo para uma sequência de três torneios nacionais na categoria Infantojuvenil (Sub-16). Entre os dias 23 e 25, o beachtenista maranhense disputa a etapa do Circuito Nacional de Beach Tennis Copa São Paulo.
Após esse torneio, Augusto Neto competirá a etapa de Ribeirão Preto entre os dias 26 e 28. E, finalizando sua passagem por São Paulo, o maranhense terá a etapa em Casa Branca de 29 a 31 de janeiro.
Uma competição marcada pelo sucesso de público e disputas emocionantes. É dessa maneira que a primeira edição da Copa Alto Alegre do Pindaré de Beach-Soccer chegou ao fim no último fim de semana. O torneio, realizado na Arena Beira-Rio, em Alto Alegre do Pindaré, reuniu 22 equipes que proporcionaram bons duelos. No encerramento, os times do Sport, no feminino, e do Mutirão, no masculino, sagram-se campeões.
Ao longo da última semana, a Arena Beira-Rio esteve sempre lotada para as disputas diárias da Copa Alto Alegre do Pindaré de Beach-Soccer. Na decisão, realizada na noite do último sábado (23), quem compareceu à arena viu duas grandes finais.
Pelo torneio feminino, o Sport se impôs e levou a melhor sobre o time do Maria Veloso. A vitória por 3 a 0 na decisão foi construída com gols de Francisca, Juaneide e Luciane. O detalhe é que, na fase classificatória, as duas equipes haviam se enfrentado e, na ocasião, o Maria Veloso tinha vencido por 4 a 2.
Já na final masculina da Copa Alto Alegre do Pindaré de Beach-Soccer, o título ficou com a equipe do Mutirão que bateu o Coritiba por 4 a 2. Os gols que decretaram a conquista do Mutirão foram assinalados por Francisco (2) e Carlos Henrique (2). Pelo Coritiba, Felipe e Adriano foram às redes, mas não evitaram a derrota.
A primeira edição da Copa Alto Alegre do Pindaré de Beach-Soccer é uma ação da Prefeitura de Alto Alegre do Pindaré em parceria com o ministro dos Esportes, André Fufuca, e conta com o apoio da Confederação de Beach-Soccer do Brasil (CBSB) e da Federação Maranhense de Beach-Soccer (FMBS). Todas as informações da competição estão disponíveis no Instagram da FMBS (@beachsoccerma).
– O filho do professor de Gonçalves Dias, em Caxias, Maranhão, foi decisivo para a existência desse que é o principal endereço de São Paulo e referência do mundo financeiro internacional.
*
Há exatos quinze dias, em 8 de dezembro, a Avenida Paulista, em São Paulo (SP), completou 132 anos de sua inauguração (8 de dezembro de 1891). Em 1909, recebeu asfalto, vindo da Alemanha – foi a primeira via pública a receber essa pavimentação na capital paulista.
Já tentaram dar outros nomes à Paulista: Avenida das Acácias, Prado de São Paulo e até Avenida Carlos de Campos, em homenagem a um ex-presidente da antiga província de São Paulo. Não colou.
A Avenida Paulista, sozinha, é um mundo. Um microcosmo. E a sensibilidade do olhar de quem a olha e a sente encarrega-se de torná-la ainda maior.
Já foi tema de novela. Daria muitos romances.
*
I
gual a São Paulo, sou dos que madrugam, ou quase não dormem. Caminho entre seis e sete da manhã pela Paulista e vou observando e absorvendo o sono, o silêncio e a imobilidade das pessoas que formam a população de rua e que àquela hora ainda dormem, encolhidas, sob o frio de nove graus (sem contar o vento), distribuídas espaçada e pontualmente sob agasalhos, próximas aos grandes edifícios, gigantescos totens do mundo tribal dos negócios, do dinheiro.
De volta, no cair da tarde, clima mais ameno (mais ou menos), não há piano, mas ouço música. Aqui um violino; adiante, um violão. Violino e violão que tocam sem pedir, mas são pedintes. Aquele toca “La Vie en Rose”; este, “Hallellujah” (no dia seguinte, o violonista toca meus passos e sentidos com “Killing Me Softly With This Song”).
O largo passeio da Avenida Paulista abriga passos. Passadas. Passado. Tem em sua história gente de sangue maranhense: Horácio Sabino, que morou ali e foi decisivo no desenvolvimento urbanístico e imobiliário daquela área. Ele era filho de Ricardo Leão Sabino, maranhense de São Luís, um homem de mais de sete instrumentos (militar, filósofo, cirurgião-dentista, empresário, espadachim, arquiteto, poliglota, escritor, estatuário, tabelião, desenhista, músico, aventureiro, carpinteiro etc.).
Ricardo Leão Sabino morava em Caxias (MA), onde foi professor do futuro poeta Antônio Gonçalves Dias, a quem incentivou. Gonçalves Dias morava na Rua do Cisco (ou Rua Benedito leite), a um quarteirão de onde, na mesma rua e muitas décadas depois, eu também menino iria morar. Ricardo Sabino formou um grupo de amigos para juntar dinheiro e mandar o menino Antônio para Coimbra, tal era o talento que ele, professor, percebera no jovem marçano.
Anos depois, antes de completar os 20, Gonçalves Dias iria compor a "Canção do Exílio" e conquistaria as mentes brasílicas até hoje, com a onipresença, na memória dos brasileiros, dos dois primeiros versos da “Canção do Exílio” (“Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá”) e com a presença de outros dois versos do mesmo poema (os dois últimos do segundo quarteto) no “Hino Nacional Brasileiro” – “Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida mais amores”.
Penso nisso tudo enquanto caminho pelas largas calçadas da Paulista. Há décadas, tenho marcado passos nessa avenida. Aqui perto da capital, no chamado ABC paulista, fiz estudos de pós-graduação, em São Bernardo do Campo. Aqui perto, no Memorial da América Latina, fiz palestra. E, na marginal do Tietê e no Colégio Rio Branco, em Higienópolis, fiz discursos.
Sobretudo, aqui perto e de coração apertado, alma dilacerada, garganta entupida, olhos aguados, mantive vigília, fui escoteiro, “sempre alerta” em antessala de UTI em grande hospital da cidade paulistana que acolheu diversas vezes minha mãe, que lutava contra doença raríssima, autoimune, de nome tão complicado quanto o próprio mal.
*
Em termos demográficos, a Avenida Paulista, em seus quase três quilômetros, reproduz um pouco dos quinhentos milhões de quilômetros quadrados do nosso planeta. Sua população residente, somente ela, a tornaria uma das 150 maiores cidades brasileiras, em meio às 5.570 existentes.
Pela Paulista soam, silentes ou ruidosos, os passos de pessoas de todas as unidades federativas do continente Brasil e de todos os continentes do mundo.
Por ela ecoam surdamente os sonhos de tantos esperançosos e desesperados, loucos para verem seus desejos transformarem-se em obra tão concreta quanto os pétreos prédios, petrificados como moais nas margens da avenida.
Encosto-me em um canto e tento radiografar semblantes e sentimentos – na verdade, intuir o que querem tantos corações, os duzentos mil deles que moram na avenida e os milhões que, ao longo dos dias, fazem um caminho sem rastro nas calçadas. Qual o destino de tanta gente? Qual a forma de seus sonhos, a fórmula de seus desejos? Em que fôrma cabem suas vontades?
Não há resposta. O que me chega é apenas o odor vagabundo de um cigarro, o chacoalhar incansável da caneca de moedas de um mendigo, o som esmoler de um violino e de um violão que soltam notas que poucos notam...
E, acima de tudo, o que me chega, o que vem ao meu encontro na Avenida Paulista é a saudade de minha mãe, que, entubada e mudamente, lutava em leito ali perto e terminaria, aos 49 anos, por não poder, abraçada a mim, dividir comigo mais passos ao longo das avenidas da vida...
Faz frio na avenida...
E chove – chove muito – dentro de mim...
*
Para Você, bom Natal, Boas Festas, Bom 2024.
* EDMILSON SANCHES
Fotos:
A Avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo (SP). A antiga mansão de Horácio Sabino, filho de Ricardo Leão Sabino, na Avenida Paulista com a Rua Augusta. O autor desta crônica, com votos de Boas Festas e Bom 2024.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, nessa quinta-feira (21), o projeto de lei que declara o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra como feriado em todo o país. O texto havia sido aprovado pelo Congresso Nacional no fim do mês passado.
Celebrada em 20 de novembro, a data remete ao marco da morte do líder do Quilombo dos Palmares, um dos maiores do Brasil durante o período colonial, de resistência contra a escravização negra no país. Atualmente, a data é feriado apenas em seis Estados – Mato Grosso, Rio de Janeiro, Alagoas, Amazonas, Amapá e São Paulo - e em mais de 1,2 mil cidades por meio de leis municipais e estaduais, mas, a partir de 2024, deverá ser observada em todo o território nacional.
Desde 2003, as escolas passaram a ser obrigadas a incluir o ensino de história e cultura afro-brasileira no currículo. Em 2011, a então presidente Dilma Rousseff oficializou o 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.
A revista científica Scientific Reports publicou, nessa quinta-feira (21), artigo que revela uma nova espécie de pterossauro, o Meilifeilong youhao, que pertence ao grupo Chaoyangopteridade. Ele viveu no período Cretáceo, no nordeste da China. O artigo é elaborado por 14 pesquisadores chineses e brasileiros, representando nove instituições.
A espécie – assim como todos os outros integrantes do grupo – não tinha dentes e ultrapassava dois metros de envergadura. A publicação marca os 20 anos de parceria entre pesquisadores chineses e brasileiros na área da paleontologia.
“Foram 20 anos de uma parceria muito frutífera e produtiva. Estamos muito felizes em trabalhar em colaboração, o que muito contribuiu para o avanço da paleontologia, especialmente, dos pterossauros, os primeiros vertebrados a desenvolverem a capacidade de voar”, disse, em nota, o pesquisador Xiaolin Wang, do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados, que coordenou o estudo.
“Expressamos a nossa amizade a partir do nome desta nova espécie: Meilifeilong – significa lindo dragão voador e youhao significa amizade”, explicou.
“É importante saber que estamos falando de um grupo raro de pterossauros, que tem o Meilifeiling youhao como o membro mais completo. Ele apresenta uma crista craniana acima da enorme janela nasoantorbital (abertura no crânio que inclui as narinas externas) com uma extensão suave”, disse, em nota, o professor Alexander Keller, paleontólogo e diretor do Museu Nacional/UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que coordenou a participação dos brasileiros na pesquisa.
Colaboração científica
A nova descoberta é considerada um marco nos 20 anos de parceria entre pesquisadores brasileiros e chineses na paleontologia.
Diógenes de Almeida Campos que, com o professor Alexander Kellner, iniciou a colaboração, destacou a importância da parceria: “Trabalhar com colegas da China tem sido uma forma importante de promover a internacionalização da ciência”, analisou.
Ao longo de duas décadas, a colaboração sino-brasileira produziu dezenas de trabalhos, resultando em publicações nas principais revistas científicas do mundo, como a Science e a Nature.
O trabalho publicado na Scientific Reports, do grupo Nature, reuniu 14 pesquisadores de nove instituições: Instituto de Paleontologia e Paleontropologia de Vertebrados da Academia Chinesa de Ciências, Museu Nacional/UFRJ, Universidade Sun Yat-Sem, Universidade Federal do ABC, Universidade de Jilin, Universidade de Shenyang, Museu de Ciências da Terra do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Espírito Santo e Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens (Universidade Regional do Cariri).
No evento promovido pela União Brasileira de Escritores, seção Rio de Janeiro (UBE-RJ), no dia 18/12/2023, no auditório do edifício-sede da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), o maior presente para o homenageado do ano, o poeta e compositor Salgado Maranhão, foi tanto o “Troféu Rio 2023” quanto a presença de quantos ali se alegravam com a distinção anual outorgada, desta feita, a um colega, conhecido, amigo, conterrâneo.
Ousei usar a palavra, quando esta foi aberta a todos pela direção da UBE-RJ. Ousei dizer de um Salgado e de um Maranhão cheio de méritos, valores, talentos.
Ousei dizer de nomes e de conquistas de maranhenses dos quais o Brasil pouco sabe e que o Maranhão ou desconhece ou não reconhece.
Ousei dizer de um Brasil para o qual é injusta a classificação terceiro-mundista, pois, se na terra há potenciais e, nas pessoas, talento, experiência e vontade, só o desapego ao país e o apego ao Poder – ao poder do dinheiro e ao dinheiro do Poder – “justificaria” tanto atraso.
E se o Brasil estivesse localizado nos 377 mil quilômetros quadrados do Japão, com descontinuidade territorial espacejada por quase sete mil ilhas, com 80% do território imprestável para plantar e construir e, de quebra, com maremoto, terremoto e erupções vulcânicas regulares? – e nem se fale nas duas bombas atômicas que trucidaram pessoas e empestearam o solo nos meados dos aos 1940.
E como o Japão, com tudo para dar errado, torna-se o terceiro país mais rico do mundo? E como, do outro lado, uma terra 22 vezes maior, sem nenhum dos problemas geotectônicos que (co)movem os asiáticos, uma terra com a maior e melhor quantidade de água do planeta, um solo em que se produzem mais de uma, mais de duas safras anuais, como é que estepPaís ainda está no Terceiro Mundo porque não há Quarto na classificação?
Eu disse isso “y otras cositas más”. Ousei falar, cerzindo o que falava à Cultura, à Arte, à Literatura, à Poesia maiúscula – inda que com letras minúsculas – do Maranhão e do Salgado Maranhão. Pelo inusitado da fala e do que com ela se pespontou no tecido humano inteligentíssimo que lustrava e ilustrava a tarde carioca da UBE, fui cumprimentado por muitos e com diversos destes pude conversar e alguns pude rever e/ou reouvir em cumprimentos e conversas.
Na poliédrica, multifacetada coletividade de iguais em sensibilidade artístico-cultural, uma meia dúzia de rostos achegou-se mais a mim antes, durante e, sobretudo, depois da solenidade. São rostos de um País que ainda não soube mostrar a cara. De um País que ainda não se desenturmou da comunidade de nações onde atraso leva nome de “em desenvolvimento”. São rostos que, com vontade e prazer, no mundo artístico-cultural fazem o possível para que o melhor de cada um, em seu entorno, torne cada um melhor – e com estes, por sua vez, assim como os polifônicos galos cabralinos, teçam-se manhãs e amanhãs melhores.
Da pequena, exclusivíssima e multifacetada multidão, pude estar com pelo menos seis mentes que qualificam especialmente a Cultura – em um “locus” brasílico e uma loucura brasileira que regularmente a desqualificam...
Adriano Espínola
– Adriano Alcides Espínola chamou-me assim de lado e, fazendo referência ao meu pronunciamento na entrega do “Troféu Rio 2023” para Salgado Maranhão, mais ou menos disse-me que eu esquecera de lembrar, na minha fala sobre grandes maranhenses, do grande, enorme, gigantesco poeta maranhense Sousândrade, o Joaquim de Sousa Andrade (1833-1902), nascido em Guimarães, formado em Letras e em Engenharia de Minas em Sorbonne (Paris).
Adriano perguntou-me que livros eu tinha do poeta vimaranense. Falei-lhe de alguns deles e do trabalho do meu amigo Jomar Moraes (1940-2016) em parceria com o professor norte-americano Frederick G. Williams – o livro “Sousândrade: Inéditos”. Ainda chovi no molhado acerca da re/visão dos irmãos Campos (Augusto e Haroldo) em livro de 1964 e, com assentimento do Adriano, dos trabalhos de 1979 e 1986 da professora, escritora tradutora e editora carioca Luíza Leite Bruno Lobo, que, entre outras distinções, em 2018, merecidamente recebeu título de cidadã de Guimarães, terra natal de Sousândrade.
Mas o que o talentoso, produtivo, conhecido e reconhecido escritor cearense Adriano Espínola (in)tentatva era (re)lembrar o trabalho que ele organizou e que o inscreve entre os divulgadores da poesia e da pessoa do guimarantino cosmopolita: sua obra “Sousândrade”, da coleção “Melhores Poemas”, que a Editora Global publica sabe lá Deus a que custo, em um país onde se lê pouco, pouco se lê livros, menos ainda livros de poesia – e só na coleção da Global avultam, ao lado de grandes poetas brasileiros e estrangeiros, os nomes de Gonçalves Dias (por José Carlos Garbuglio), Raimundo Correia (por Telenia Hill) e Nauro Machado (por Hildeberto Barbosa Filho).
Ali mesmo, sob a curiosidade do autor da seleção e do prefácio de “Sousândrade”, reservei – e, depois, adquiri – um exemplar do livro no qual Adriano Espínola tanto investiu em tempo, esforço e talento.
A partir daí conversamos sobre nomes e fatos que nos eram comuns: Dimas Macedo e Napoleão Maia Filho, escritores e meus professores no curso de Direito da Universidade Federal do Ceará, quando morei em Fortaleza; o Luciano Maia e o irmão Virgílio Maia. Todos quatro da Academia Cearense de Letras – o que, segundo o vulgo, ante a predominância do sobrenome ”Maia”, levou alguns a fazerem um trocadilho com o Sodalício: “Academaia” Cearense de Letras...
Lembrei ao Adriano do grande intelectual cearense Nilto Maciel (1945-2014), que, de Brasília, me solicitava colaboração para a periódica “Literatura – Revista do Escritor Brasileiro”, que ele, nascido em Baturité, publicava na capital federal.
Conversamos sobre os Rogacianos Leite, pai e filho, ambos jornalistas e escritores. Conheci o Rogaciano Leite Filho, ou Roga, em Fortaleza. Trabalhamos na assessoria da presidência do Banco do Nordeste, o Rogaciano Filho antes de mim. E conheci Helena Roraima Leite, filha do Rogaciano pai, que tem se devotado à causa das obras paternas e do irmão. Helena Roraima e eu trabalhamos juntos em Brasília, na alta assessoria da presidência do Banco do Nordeste na capital federal. A convite dela, que há anos mora em Madrid (Espanha), fiz a revisão da mais recente edição de “Carne e Alma”, comemorativa do centenário de nascimento do poeta Rogaciano Bezerra Leite (1920-2020).
É quase certo que Adriano Espínola, hoje no Rio de Janeiro, tenha se encontrado com Luciano Maia e Rogaciano Filho nas muitas e (extra)ordinárias noitadas nos bares Estoril e Quina Azul, este último localizado no Benfica, o segundo e último bairro onde morei na capital alencarina, mais ou menos próximo à Faculdade de Direito e à caixa-d’água famosa. Trazendo “um mandato do tempo”, Espínola logo manda um “Aviso”:
“não há lei nem rei
que me afronte:
meu poema é liberdade
minha casa uma ponte”
*
ASCENSIÓN CHANQUÉS
–- A Ascensión Palacios Chanqués é assim como sua arte: sensível, inteligente, bela, múltipla. Artista plástica e escritora (também faz poemas), tanto pinta com letras quanto escreve com pinturas. Ela chega-se a mim, cumprimenta pelo discurso e algo mais. Pergunto-lhe sobre o Troféu Rio 2023, pois ela foi a pessoa escolhida pela UBE-RJ para pensar e materializar o objeto que foi entregue ao poeta maranhense, brasileiro e internacional Salgado Maranhão. Depois – com intervenções aqui e acolá de presentes que vinham manifestar sua (boa) impressão pela minha fala no auditório –, Ascensión e eu conversamos sobre causas e coisas, pessoais inclusive. Ela, por exemplo, quer e não quer mudar-se de vez do Brasil e retornar à sua Espanha querida, onde foi nascida e onde, aposentada, é (otimamente) assistida. Algumas “materialidades” e muitas “sentimentalidades”, o amor a pessoas e ao trabalho, ao que recebeu e ao que doou nos muitos anos no Brasil, em especial no Rio que a adotou, são “coisas” sob análise para a decisão final. Trabalhou na Funarte (a Fundação Nacional de Artes, do Governo Brasileiro), onde fez benfeito o que era para ela fazer. Foi presidente de entidade de artistas visuais no Rio e realizou um trabalho de mérito. Na troca de figurinhas que fizemos, Ascensión, é claro, era o destaque, posto que, a um mesmo tempo tímida e expansiva, sabia dizer, sorrir, analisar, intuir...
Os latinos diziam: “Nomen, omen” – no nome, a sorte, o destino. “Ascensión”, portanto, não é só seu nome, não é apenas o que ela é, mas onde ela está. É sua condição: – sempre em ascensão.
*
JORGE VENTURA
– Percebi que um sorridente Jorge Ventura se esticava em sua cadeira e estendia, alma boa, a mão em cumprimento pela recente fala que, no Rio de Janeiro, eu dissera naquele auditório da Sociedade Nacional de Agricultura – entidade, aliás, que tem como presidente de honra um conterrâneo caxiense, o agrônomo, empresário e ex-deputado federal João Christino Cruz (1857-1914), por cujas mãos transitou o projeto de criação do Ministério da Agricultura em 1906.
O jovem sessentão Jorge Ventura, carioca da gema, não me pareceu – ainda bem... – ser “Ele” (personagem e título de um poema dele). Não é “o vilão da história”, nem “a adorável vítima”, muito menos “o miserável da tarde”, ou, dito com “Crueza”, “sou um homem / que peca e execra” (claro que Jorge Ventura é a maior autoridade em si mesmo, sabe de si mais que ninguém... [rs]). O homem de braço estendido e mão espalmada, se não era, conforme seus versos, “nenhum deus”, parecia-me o “memorável homem” “de mil glórias”.
Múltiplo e vário, Jorge Rocha Ventura é jornalista e publicitário, ativista e gestor cultural, ator e autor, roteirista e editor, palestrante e professor. Escritor premiado, textos traduzidos em meia dúzia de línguas mundo adentro. Membro efetivo de conhecidas entidades artístico-culturais, Jorge é presidente da APPERJ, siglônimo para Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro (por mais que, à primeira vista, os termos “profissional” e “poetas” não pareçam “casar-se” muito bem na mesma denominação, há, sim, no Rio de Janeiro, uma entidade assim, dinâmica, que põe, expõe e culturalmente se impõe há nada menos do que 35 anos no Estado fluminense – e não se confunda a APPERJ dos poetas com a APPERJ dos policiais penais).
Em 16 anos, ou 192 meses, de 1999 a 2014, Jorge Ventura realizou pelo menos 850 apresentações poéticas Rio adentro e afora, de janeiro a dezembro, o que, na ponta do lápis e no visor da máquina de calcular, representam mais de quatro apresentações por mês ou, ainda, em média, mais de uma por semana. No mínimo. Ventura é uma máquina de (e)levar poesia...
Jorge Ventura, enfim, com seu undécimo filho de celulose e tinta, lançado este ano – o livro “Outras Urbanas” –, espicha seu olhar de letras e visualidades sobre a realidade urbano-social da cidade da qual ele é filho, agente e usuário. Cidade que ele ama, apesar dos pesos e pesares. Cidade para a qual, como poeta de “Raízes”, certamente dirá e repetirá, linda e lidamente:
“estar aqui
é minha ausência
noutro lugar
estar por lá
não me fará
sair daqui”.
*
LUÍS TURIBA
–- Se um ator não é o papel que representa, um poeta nem sempre é o que sua poesia diz, ou o que ele diz em sua poesia. Intitulando-se “Atento”, Luís Turiba segreda-nos e define-se: “[...] sou / um poeta esforçado [...]”. O verso e a versão dele para o inglês parecem refletir melhor: “[...] I am a hard working poet [...]”, “sou um poeta trabalhador”, um “poeta que dá duro”, dir-se-ia também.
De qualquer modo, tem razão o Turiba. Ele sabe: É preciso esforço para fazer-se poesia. Ao esforço de construir uma embarcação, de edificar uma construção, de elaborar a melhor essência (na perfumaria) ou de preparar-se para a melhor aparência (na dramaturgia)... e à arte-técnica de escrever em versos – a isso e a outras coisonas mais os gregos davam o nome de “poiésis”, poesia (em grego, “criação”, “fabricação”, “construção”). O “poiétes” é o “autor”, “criador”, “fabricante”, “compositor”. Enfim, o que faz. E fazer, no mais das vezes, dá trabalho. Requer esforço. Luís Turiba se mostra até quando tenta se esconder. Não é fácil dar opacidade ao que de talento e brilho é feito.
Luiz Artur Toríbio, o Luís Turiba das assinaturas autorais, é esse “cariocano” (carioca pernambucano) que traz no (sobre)nome a inquietude (do artista) e os “ruídos” (do jornalista). Quando um bebê grego nascia e se mostrava inquieto e de choro forte, barulhento, os pais helenos pespegavam-lhe o nome de Thorybios, oriundo do verbo “thórybos”, que, substantivamente, significa “ruído”, “estrondo”, e, adjetivamente, “inquieto”. Pois não é que “colou”, deu certo! Na sua imensa riqueza de artista da palavra, sobretudo, da palavra poética, Luís Turiba expõe e confirma esse desassossego criativo impresso-expresso no mundo literal, vocabular, oracional, frasal. Já o jornalista, por sua vez, deve transformar acontecências em letras (também imagens) encarrilhadas e legíveis, levadas por veículo/meio/órgão para, de preferência, ecoar, estrondar, estrepitar, bombar e ribombar. E fica criado o verbo “turibar”...
Mas, se o Luís Turiba é ou foi esse cara “estrepitoso”, não parece. As vezes que percorremos juntos ruas do Rio, as vezes que nos topamos pelos (e)ventos cariocas, as vezes que dividimos o táxi, as vezes em que nessas vezes nossas vozes se fizeram conversa(s), dele só alcancei a contenção e comedimento (como em diversos de seus versos), a modéstia ou simplicidade... próprias de quem sabe das lonjuras que percorreu e das alturas a que chegou – como nos textos que escreve e (extra)vasa, desde os tempos do jornal “O Globo” e revista “Manchete”, no Rio, e quando pontificou em Brasília, desde 1979, no ativismo cultural-literário-poético e nos jornais “Gazeta Mercantil”, “Jornal do Brasil”, “Correio Braziliense” e Imprensa mineira, entre outros pagos e paragens, sem esquecer os livros e variadas publicações (revistas, por exemplo) cariocas e candangos que Luís Turiba ousou lançar, dirigir, editar desde 1977.
Luís Turiba já se doou muito à Arte e à Cultura, ao Jornalismo e à Literatura. Dezoito anos atrás, chegou a ponto de, domador de lepidópteros, ordenar, com o imperativo poético: “Borboletras, borboletrem!”
Mas, consciente de que o poeta pulsa no homem, e que este é, no máximo, terno, e aquele, no mínimo, eterno, Turiba dá voz e verso ao seu médico do coração:
“o cardiologista dá as cartas
– todo cuidado, meu chapa
ou se sinquadra ou infarta!”
*
VAL MELLO
– Você se largaria de uma cidade de clima aprazível, frio, parecendo a Suíça, com casario colonial, lindo cânion de mais de setecentos metros de altura, cachoeiras, artesanato, 170 anos de história e até Festival de Inverno? Val Mello também não – ela traz sua cidade dentro de si.
A escritora, artista plástica, artesã, administradora de empresas Val Mello saiu de Pedro 2º, sua terra natal, a “Suíça Piauiense”, município de 1.544 quilômetros quadrados e cerca de 40 mil habitantes, no Centro-Norte (mais Norte do que Centro) do Piauí.
Depois de nadar um pouco em águas maranhenses, em São Luís, veio navegar fundo e fundear em um rio maior, caudaloso, o Rio de Janeiro, que é mais de 20% menor em área que Pedro 2º e 164 vezes maior em população.
De menina ledora de cartas para o avô, da ouvidora de violeiros com o avô e fazedora de contas (“operações matemáticas”) como “castigo” do avô, dessas letras e palavras e cantos e números, desse convívio antípoda, dessa complementaridade de “contrários”, cresceu na capital carioca e circunvizinhanças a administradora formada e escritora firmada, com um fazer poético-literário consistente, comprometido, refinado. Trabalhado.
Val e eu já nos avizinhamos em uma ou outra nascente de eventos culturais deste Rio de todos os meses. Já éramos vizinhos na geografia, pelas terras – ela, Piauí; eu, Maranhão – onde enterramos umbigos e jogamos dentes de leite sobre telhados chocolate: "Mourão, Mourão, Mourão, / tome este dente podre / e me dê outro são!” (Até na cantiguinha popular de nós meninos, a perfeição inocente do terceto hexassilábico...).
Val já sabe dessa minha manha mania de querer falar bem de uma pobre rica terra, histórico-culturalmente abençoada, potencialmente agraciada e socioeconomicamente deprimida, depauperada. O fausto que se torna falto ante a egoísta mediação de infaustos políticos. Val estava ali, no auditório da SNA, e seu sorriso é acolhimento, compreensão, cumprimento. Ela também está nessa luta e, drummondianamente, luta com palavras, e com suas palavras fala dessa “Penúria”:
“Nas lacunas estomacais
sobrevive todo o erário
dos buchos abastecidos
com a esperança alheia
Toda fome vez sentida
é moeda de barganha
pra quem desconhece o vazio
de uma boca esfomeada
e de um corpo que apanha”.
Tecelã de palavras, artesã de sentidos, Val Mello sabe brincar a brincadeira de adultos que é a metapoesia, que é quando o poema conversa consigo mesmo, como está, em alguns recortes-exemplos, no seu livro “A Síntese do Grito”, deste 2023:
“Nos profetas,
além da fé,
moram os poetas.”
E também, mas não apenas:
“Poemizar a vida
é a forma mais sã de enlouquecer
e a maneira mais louca de se manter sã”.
*
STELLA LEONARDOS
– Falecida aqui no Rio de Janeiro há quatro anos, em 11 de junho de 2019, a escritora, dramaturga e tradutora Stella Leonardos, é claro, não estava presente na entrega do Troféu Rio 2023 para o Salgado Maranhão. Mas, se era ausente para os olhos, estava em lembrança e memória na mente de todos. Até porque a UBE-RJ não se descuidou e colocou nos “cards” ou convites, para o evento do dia 18/12/2023, a frase, em maiúsculas: “CEM ANOS DO NASCIMENTO DE STELLA LEONARDOS”.
Stella Leonardos da Silva Lima Cabassa nasceu onde morreu – sua cidade-capital Rio de Janeiro. Sua chegada ao mundo deu-se no mesmo dia e mês e exatos cem anos depois (1º de agosto de 1923) da data de independência de Caxias, a quadricentenária cidade maranhense, que tantos grandes nomes – Gonçalves Dias, Coelho Netto, Teixeira Mendes, João Mendes de Almeida, Ubirajara Fidalgo, Liene Teixeira, Armando Maranhão, Ferdinand Berredo de Menezes, Teófilo Dias, Elpídio Pereira, Aderson Ferro, Andressa Ramos, Francisco das Chagas Oliveira Luz, Lucy Teixeira, João Christino Cruz, Vespasiano Ramos... – deu ao Brasil, todos pessoas de muitos e enormes talentos, colocados a serviço do Brasil, na Literatura, na Antropologia, na Educação, no Cinema, na Legislação em favor dos mais vulneráveis, no Abolicionismo, no Jornalismo, no Teatro, na Administração Pública, na Música, na Odontologia, na Religião / Espiritualidade, na Farmácia-Bioquímica, na Agricultura / Agronomia, na Botânica, na Política, no Magistério e na Magistratura, na Diplomacia, na Poesia...
A essa cidade (Caxias) essa escritora (Stella Leonardos) também se doou em seus escritos. A notável escritora carioca gostava do Maranhão. Era filha de um maranhense, o engenheiro Antônio Caetano da Silva Lima, casado com Alice Leonardos da Silva Lima, escritora, de descendência grega. Em 1945, Stella se casa com Alejandro José Cabassa Ripol, bioquímico, natural de Porto Rico, estado livre e não incorporado dos Estados Unidos.
Stella Leonardos gostava do Maranhão, repito. Não apenas por ser terra de seu pai; também porque foi argila e argamassa boas para o assentamento, o erguimento e o revestimento de excelentes obras literárias, até hoje entre as mais elevadas de seu condomínio bibliográfico. Do “Romanceiro de Bequimão” (do tido protomártir da Independência do Brasil, Manuel Beckman, 1630-1686) colhem-se estes versos:
“Se passardes por acaso
por São Luís do Maranhão,
amigos, sustai o passo:
sob o solo há um coração.”
“Lá dos antigos sobrados
de azulejo feito a mão
uma saudade em pedaços
me conta do Maranhão.”
Não é sem razão que o “Romanceiro de Bequimão”, de 1979, é dedicado por Stella Leonardos “ao Maranhão – terra de meu pai, pais de meus pais, avós de meus avós”. E ela Stella era pura “maranhensidad” no “Cancioneiro de São Luís”, de 1981, nos poemas longos “Romanceiro de Dom Sebastião” e “Caxias cancionada”, de seu livro “Memoranda”, de 2006, e também em 2013, no “Memorial de Luzia”, obra dedicada à amada de Bequimão.
Talvez Stella Leonardos gostasse de saber que pelo menos três “vultos” de seu querido Maranhão e de sua “cancionada” Caxias – João Christino Cruz, Salgado Maranhão e Edmilson Sanches – estavam, de uma forma ou de outra, em auditório ou no salão, em corpo e/ou alma, brindando ao centenário dela, Stella, e às suas palavras de canto e encanto sobre histórias e amores, glórias e dores do Maranhão – terra de seu pai, dos pais de seus pais, dos avós de seus avós.
*
Um poliedro tem muitas faces.
Um hexaedro tem só seis.
Muitas faces ou poucas, quantas histórias se lhes marcam...
... quanto quotidiano em si dissipam...
... quanto futuro assim antecipam!...
* EDMILSON SANCHES
Fotos:
Adriano Espínola, Ascensión Chanqués, Jorge Ventura, Luís Turiba, Val Mello e Stella Leonardos.
O escritor, poeta e compositor Salgado Maranhão, maranhense de Caxias, recebeu na tarde da última segunda-feira (18/12), o Troféu Rio 2023, outorgado pela Uninão Brasileira de Escritores (UBE), seção do Rio de Janeiro. A cerimônia foi realizada no auditório do edifício-sede da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), na Avenia General Justo, no centro da capital fluminense.
À solenidade compareceram diretores da UBE, escritores, jornalistas, artistas plásticos e teatrais, entre outros convidados. Antes da premiação, foi apresentada a exposição da artista plástica Lina Ponzi. Após, o grupo teatral No Palco da Vida apresentou o espetáculo “Vozes Negras”, que incluía textos poéticos de Salgado Maranhão e encerrou com nova e aplaudidíssima apresentação da música “Carcará”, do cantor e compositor maranhense João do Vale.
A entrega do troféu para Salgado Maranhão, no palco do auditório e na presença de diretores da UBE, foi precedida de pronunciamento da artista plástica espanhola, radicada no Brasil, Ascensión Chanqués, também escritora, poeta e professora de pintura e desenho. Ascensión Chanqués é artista premiada, com muitas exposições no Brasil e exterior e estúdios no Rio de Janeiro e Valência (Espanha). Ela é a artista plástica a quem a UBE confiou a tarefa de criação do Troféu Rio 2023 concedido a Salgado Maranhão.
Salgado Maranhão foi alvo de homenagens em pronunciamentos antes e depois da entrega do Troféu. Diretores da UBE-RJ revezaram-se em falas de reconhecimento e elogios à obra do grande poeta brasileiro. Em seguida, o próprio poeta falou e disse de sua arte poética, entremeando a fala com seus próprios textos poéticos, merecendo demorados aplausos. Salgado Maranhão citou seu conterrâneo caxiense e escritor Edmilson Sanches, presente no evento, lembrando que a Sociedade Nacional de Agricultura, onde se realizava a solenidade de outorga do Troféu Rio 2023, tem como presidente de honra outro caxiense, o empresário, agrônomo e ex-deputado federal João Christino Cruz (1857-1914), considerado por muitos como o responsável pela criação do Ministério da Agricultura.
A direção do evento abriu a palavra para a plateia, com diversos escritores tendo utilizado a palavra, com destaque à pessoa e à produção literária de Salgado Maranhão. O jornalista e escritor Edmilson Sanches também pronuniou-se em discurso onde mostrou que o talento de Sagado Maranhão, que se diferencia na poesia pela excelência e compromisso, continua uma saga de talentosos maranhenses, a partir do século XIX, com o poeta caxiense Gonçalves Dias e diversos outros nomes que Sanches pormenorizou para uma plateia vivamente interessada em informações e detalhes ainda de pouco acesso aos demais brasileiros e mesmo a maranhenses.
A concorrida solenidade da UBE-RJ foi encerrada com variados comes e bebes e pedidos de fotos com o homenageado da tarde, Salgado Maranhão.
Fotos:
Salgado Maranhão recebendo o troféu e, de óculos, com Edmilson Sanches, ladeado pelos escritores Jean Carlos Gomes (à esquerda), de Volta Redonda – RJ, e Edir Meirelles, do Rio de Janeiro – RJ. O edifício-sede da SNA.