– O advogado, escritor, editor, pesquisador e gestor cultural nasceu em Guimarães (6 de maio de 1940) e faleceu em São Luís (14 de agosto de 2016)
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Quem não teve acesso à enormidade da produção literária, sobretudo de pesquisa, crítica e historiografia de Jomar Moraes, não atina quanto, com a morte do ilustre vimaranense, perdeu o Maranhão – sobretudo sua História, sua Literatura.
Quem não soube da capacidade gestora, criadora, inovadora de Jomar Moraes à frente de entidades como o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (Sioge), já extinto e a Academia Maranhense de Letras (AML), sequer intui o que o nosso Estado ainda poderia ganhar se o grande intelectual não tivesse morrido em 14/8/2016 e se mantivesse vivo e em plena saúde nos tempos seguintes.
Conheci Jomar Moraes eu ainda menino, metido a jornalista e escritor. Fui com o jornalista caxiense Vítor Gonçalves Neto a São Luís, e na capital maranhense estivemos com Erasmo Dias (escritor, ex-deputado estadual), Antônio Almeida (escultor, pintor), o jornalista José Ribamar Bogéa (o Zé Pequeno, fundador do “Jornal Pequeno”) e, claro, o Jomar Moraes, à época diretor do Sioge, que com Jomar recebera novo impulso e publicava livros de autores maranhenses.
O Vítor queria publicar um seu livro de crônicas (que teria o título “Sem Compromisso – Cem Crônicas” – “Sem Compromisso” era o título da coluna que o Vítor mantinha no jornal “O Pioneiro”, que ele dirigia em Caxias). Recordo-me de o Jomar perguntar ao Vítor se este ainda (man)tinha um livro de poesias dele, Jomar, o primeiro que publicara, parece-me de título “Seara em Flor”. “– Queime-o!”, foi o pedido-ordem de Jomar, entre sorrisos de todos.
Passaram-se os anos, as décadas e alguns contatos à distância foram mantendo Jomar e a mim pertos um do outro, em especial quando o assunto era a pesquisa e a historiografia, a qualidade da produção literária, os novos autores...
Fundei a Academia Imperatrizense de Letras em abril de 1991 e pouco tempo depois, poucas semanas depois, trouxe o Jomar e o cronista e poeta José Chagas de São Luís à “Princesa do Tocantins”, Imperatriz. No auditório da Associação Médica de Imperatriz, realizamos uma sessão solene. Jomar e José Chagas (este também já falecido) se esbaldaram, ante a excepcional receptividade dos imperatrizenses que foram ao evento. Jomar se impressionou vivamente por todos os exemplares de diversas de suas obras terem se esgotado, rapidamente. Todos vendidos. Imperatriz impressionou o Zé Chagas, que escreveu sobre a cidade o que viu, o que sentiu, o que achou. Jomar igualmente se referiu a Imperatriz em crônica.
Estive várias vezes na residência de Jomar Moraes, no Bairro Renascença, em São Luís. Praticamente, após cumprimentar Dona Aldenir, eu ia direto para o segundo pavimento, onde a majestosa e rica biblioteca de Jomar o abraçava, ele ali sentado à frente da mesa e em frente a livros, muitos livros. Em uma dessas vezes, enquanto conversávamos Jomar e eu, chegou e enriqueceu o ambiente e a conversa a Ceres Fernandes, também da AML.
Em 2015, estive mais uma vez com ele. Conversamos. Entreguei-lhe diversos livros produzidos em Imperatriz, a maioria publicada pela Ética Editora, do Adalberto Franklin. Jomar também me repassou diversas obras, algumas resultado de seu incansável trabalho de pesquisador.
Quando, em 2002/2003, escrevi a “Enciclopédia de Imperatriz” e passei um exemplar ao Jomar, ele a recebeu com surpresa e carinho, ante a grandiosidade do projeto. Carinhosamente, apelidou a “Enciclopédia” de “A Bruta”, pelo tamanho, pelo peso, pelo enorme trabalho que ele, Jomar, mais do que ninguém, sabia o quanto consumia uma realização editorial daquela.
Ao publicar seu trabalho hercúleo, monumental, que foi a novíssima, atualizada, comentada, anotada, enriquecida edição do “Dicionário” de César Marques, para minha surpresa e satisfação, Jomar ali incluiu meu nome e o da “Enciclopédia de Imperatriz” – e não foi na referência bibliográfica, não...
Conversamos, Jomar e eu, diversas vezes, e longamente, ao telefone. Falávamos de projetos. Falávamos das Academias. Uma vez, em São Luís, aonde eu fora para assistir à posse do Benedito Buzar na Academia Maranhense de Letras (AML), Jomar provocou-me, pedindo ou sugerindo que eu me transferisse para a capital, para que eu pudesse, de São Luís, auxiliar a ele e ao Maranhão na dinamização de nossa Arte Literária e de nossa Cultura em geral. Benedito Bogéa Buzar, que também foi presidente da Academia Maranhense, em foto que me enviou após sua posse como acadêmico, escreveu que aquela foto já seria considerada uma antecipação de seu voto em mim, caso algum dia eu concorresse a uma vaga na AML.
O pesquisador exigente, o administrador diligente, o escritor competente se foi. Ficou a sensação de que, por mais que Jomar Moraes tenha feito por seu Estado e pelas Letras, pela História, pela Cultura, mais ele poderia fazer, tal era a vontade e o amor que ele transpirava e que, nos últimos tempos, não encontravam rima em sua saúde.
Jomar Moraes não morreu sozinho: com ele, foram enterrados inúmeros projetos, desejos, vontades, esperanças, sonhos, deles insabidos e que só ele, ao jeito dele, poderia tornar ricas realidades em um Estado que ainda não valoriza adequadamente talentos imensos como este cuja morte, em 14 de agosto de 2016, enlutou o Maranhão, o Maranhão das Letras – ...e cuja profícua vida, iniciada exatamente há 84 anos, no dia 6 de maio de 1940, não é lembrada como deveria.
Você não queria, Jomar, mas a hora de descansar chegou.
Você o fez em paz.
Saudações e saudades, Amigo.
* EDMILSON SANCHES
Fotos:
Jomar Moraes, com o colar acadêmico e em sua residência, entre livros.