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O abandono da musa*

Com a voz enrouquecida de implorar o verso,
sinto que a Musa de há muito já me fez disperso.

Nas noites mouras ninguém me dá caso e ouve,
e não há por esta Pátria vivalma que me louve.

Deporei também o meu triste e desafinado canto,
porque me faltam engenho e arte para tanto.

Aquele outro poeta, com a deusa em terna avença,
entra solene no épico, e por pouquíssima tença,

de dez cantos e cento e quarenta e cinco estâncias,
pede que o sirvam, por seu gênio e grã constância,

já com ela prostrada a seus pés, torpe e avassalada,
o canto que abandonou Camões na Lira Destemperada!

* Fernando Braga, “Poemas do tempo comum”, São Luís, 2009.

2 thoughts on “O abandono da musa*

  1. Gracilene Pinto

    Caro, poeta!
    Nas noites mouras talvez não haja quem o louve.
    Mas, nas plagas maranhenses onde deixastes o umbigo, azulejos e cantarias ainda brotam dos alvos lençóis de mornas areias reverberando o eco de místicos cantares, as musas são sereias multicores, que para inspirar canto de amores vencem distâncias, atravessam mares.

  2. Kalil Guimarães

    Fernando meu amado, as musas não o abandonarão jamais. Sua voz, seu canto, sua poesia são protegidos por Clíope, Erato, Melpômene e todas as outras que vão estar com você dependendo da sua demanda. Não esqueça que ainda tem as deusas que podem dar uma mãozinha. Não sou nem musa e nem deusa, mas posso dar algum apoio se necessário for. Beijos.

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