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Você devia querer, sim! Claro, diabos! Você chega a minha casa, diz que leu, na revista, minha nota curtísssima (Minha Nossa, você é belíssima!) e me prova que também é fanática por fenômenos paranormais. E, no momento em que agora a provo neste feno, observo que seu corpo não é normal, olha só: Acaso são essas pernas pernas de mulher comum? Aliso espremo tremo martirizo gemo, já estou no recôncavo baiano, carne de mão contra carne de pernas, nervo de Touro em carnes de Virgem, você delira, quer, não quer... E este busto farto, macio, carnudo, é de mocinha qualquer? Não, não é. É tudo. Acoplo minhas mãos em concha sobre o contorno destas mamas, viro criança, menino do buchão, neném. E choro – quem não chora, não mama. E mamo. E beijo. Você quer, não quer, se treme, se torce, se mexe, se se, se sem, só céu, só cio, sacio, silêncio. Silencio. Como, provo (e como provo!), comprovo: seu corpo é paranormal. Precisa ser estudado, em minúcias. Cada parte. Cada órgão. Talhado. Retalhado. Desfraldado. Por um especialista. Por mim – que tanto gosto das coisas fenomenais, paranormais. Você quer, não quer.
Você veio, de revista na mão, rostinho lindo na cabeça, muitos recortes de jornais na bolsinha pontuda. Você veio. De blusinha. E de bermuda. Veio da capital. Férias. Familiares. Leu a revista. Me viu. Sobre tapetes e travesseiros – o “feno” de sonos e sonhos meus – espalhamos enigmas, discos voadores, fim do mundo. Sobre o tapete nos espojamos. Nos despojamos. Trocamos de roupa. Adão e Eva. Você quer, não quer. Aqui estamos. Nós. Nus. Recortes revoam e pousam, descansando as letras que cochicham incertezas. Pedaços de papel grudados nos corpos suados. Um deles sobre o Triângulo das Bermudas. Ele, como todos os mistérios, apenas um jogo de palavras. E de amor. Você vibra. Você quer.
Um homem. Uma mulher.
* EDMILSON SANCHES