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SEMIDEUSES*

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Oi!
Vou direto ao assunto.
Hoje é sábado e...
... que tal construirmos este dia
e um domingo
diferentes?

Venhas até aqui, onde moro.
Não tragas muda de roupa
– não precisaremos dela.
(Em verdade,
não precisaremos de roupa.)

Não traga alimentos
– nós seremos eles.

Traga-te a ti
e te entregues a mim,
que já se entregou a ti
sem que tu percebesses.

E durante o dia e a noite,
e em todos os instantes
falaremos de amor
faremos amor
seremos amor.

Falarei no idioma
de minha língua
que não fala,
mas, fálica,
famélica,
te comerá,
te absorverá,
te sorverá
na intimidade
mais íntima,
mais líquida
e certa
que tens.

Minha língua
te reeducará
fazendo-te
aprender
a desprender
os sons selvagens,
irreproduzíveis,
da selvagem
que és quando,
entregando-te,
dominas-me
e domesticas
o macho – que,
se acreditando possuidor,
é possuído.

E no domingo,
enquanto o Senhor descansa,
Adão – carpindo o caule –
e Eva – regando a flor –
amassam o pão
com o suor do rosto
e do resto do corpo,
e também
com a saliva
e a seiva
e o sangue
e o sêmen,
em imitação
malfeita,
mas humanamente prazerosa,
do gesto divino
da (re)criação,
da (re)produção
de si
em si,
de mim
em ti,
de ti
em mim.

* EDMILSON SANCHES