O senhor Newton Belo pouco antes de abandonar o Palácio dos Leões, falando num programa de televisão, fazendo um balanço da sua “operosa” administração, entre outras coisas, disse que o “senhor José Sarney não teria dificuldades no seu governo, pois deixava tudo em dia e mais de 40 bilhões e meio em caixa”.
E isto dito com ênfase. Isto dito com o “calor de uma convicção inabalável”. Um pronunciamento “valioso”. Afastava, assim, as impressões que circulavam pela cidade e que registrava o decepcionante. Mas ali estava o ex-governador com o seu secretariado afirmando uma situação financeira confortadora. E mais a afirmativa de que o novo governador não iria encontrar nenhuma dificuldade. Tudo em ordem! Tudo certo, certíssimo, e com aqueles “40 bilhões em caixa”.
Mas Sarney, no seu vibrante discurso, falando ao povo, disse: “A tarefa é difícil. Aqui, está tudo por fazer. Todo o Maranhão tem apenas 7 quilômetros de estradas asfaltadas, menos de 10 mil quilowatts de energia instalados, a mais baixa taxa de analfabetismo, de endemias de toda a ordem, e as áreas do tesouro estão vasculhadas e lambidas. O funcionalismo está atrasado, em alguns setores em mais de seis meses, e o mês de janeiro sem ser pago e sem dinheiro para pagar. A mentira e a empatia derrotados deixaram em Caixa apenas Cr$ 3.8881.383 e débitos da ordem de mais de dois bilhões de cruzeiros”.
Aí está o que foi encontrado em Caixa. Aí está a precariedade duma administração que todo um tempo não pôde sair do “cerco das conveniências” e que se fixou apenas na execução de um programa de governo muito pessoal, com as características de um “mandonismo usurpador”.
Mas o senhor Newton Belo ainda pôde registrar, com a “mentira e empatia”, um quadro administrativo reparador! Teimou em chegar ao fim com utilização da sua política de engodo. Mas, diante do povo, a dureza duma situação desastrosa, periclitante.
E, mais adiante, afirmou o governador José Sarney: “Os saldos bancários estão todos vinculados a empréstimos contraídos pelo governo e retira os outros, que não vão além de quatrocentos milhões de cruzeiros, será criar uma crise na rede bancária oficial”.
Esta a realidade tremenda. Este o quadro desolador. Esta a “herança” deixada pelo senhor Newton Belo ao seu sucessor. E pensar-se que o senhor Newton Belo teve grandes oportunidades para ter feito um bom governo. Mas preferiu fixar-se no estreitíssimo duma política fechada, uma política de grupos isolados, uma política de “partilha”, personalista.
Hoje, o senhor Newton Belo deve estar sentindo esta terrível realidade política do seu governo. E poucos os amigos que ficaram para assistir à derrocada.
Mas o senhor Newton belo já é passado. Está, com Sarney e com o seu secretariado, o grande trabalho de recuperação. Uma grande obra de construção política, social e econômica. Há ainda, junto de Sarney, a colaboração do povo, o sacrifício do povo para sentir a necessidade da ajuda de todos.
E é preciso dizer-se que todos os setores da vida administrativa do Estado está a exigir um amplo trabalho de recuperação. Há muita desordem e a marca da desonestidade administrativa. Há a marca da corrupção. Há a marca do “congestionamento”. Há, aind,a a presença da “operação perdulária”.
Mas, com Sarney, a “eterna vigilância”. Com Sarney, a força duma ação administrativa operante. Precisamos arrancar o Estado da estagnação e reconduzi-lo para o desenvolvimento.
O povo está confiante. O povo continua na luta para o restabelecimento da ordem democrática, dos princípios restauradores. O governo é de oposição. E não poderá haver instantes de indecisões. E repetimos hoje: é esta a grande esperança do povo.
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 3 de fevereiro de 1966 (quarta-feira).