No evento promovido pela União Brasileira de Escritores, seção Rio de Janeiro (UBE-RJ), no dia 18/12/2023, no auditório do edifício-sede da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), o maior presente para o homenageado do ano, o poeta e compositor Salgado Maranhão, foi tanto o “Troféu Rio 2023” quanto a presença de quantos ali se alegravam com a distinção anual outorgada, desta feita, a um colega, conhecido, amigo, conterrâneo.
Ousei usar a palavra, quando esta foi aberta a todos pela direção da UBE-RJ. Ousei dizer de um Salgado e de um Maranhão cheio de méritos, valores, talentos.
Ousei dizer de nomes e de conquistas de maranhenses dos quais o Brasil pouco sabe e que o Maranhão ou desconhece ou não reconhece.
Ousei dizer de um Brasil para o qual é injusta a classificação terceiro-mundista, pois, se na terra há potenciais e, nas pessoas, talento, experiência e vontade, só o desapego ao país e o apego ao Poder – ao poder do dinheiro e ao dinheiro do Poder – “justificaria” tanto atraso.
E se o Brasil estivesse localizado nos 377 mil quilômetros quadrados do Japão, com descontinuidade territorial espacejada por quase sete mil ilhas, com 80% do território imprestável para plantar e construir e, de quebra, com maremoto, terremoto e erupções vulcânicas regulares? – e nem se fale nas duas bombas atômicas que trucidaram pessoas e empestearam o solo nos meados dos aos 1940.
E como o Japão, com tudo para dar errado, torna-se o terceiro país mais rico do mundo? E como, do outro lado, uma terra 22 vezes maior, sem nenhum dos problemas geotectônicos que (co)movem os asiáticos, uma terra com a maior e melhor quantidade de água do planeta, um solo em que se produzem mais de uma, mais de duas safras anuais, como é que estepPaís ainda está no Terceiro Mundo porque não há Quarto na classificação?
Eu disse isso “y otras cositas más”. Ousei falar, cerzindo o que falava à Cultura, à Arte, à Literatura, à Poesia maiúscula – inda que com letras minúsculas – do Maranhão e do Salgado Maranhão. Pelo inusitado da fala e do que com ela se pespontou no tecido humano inteligentíssimo que lustrava e ilustrava a tarde carioca da UBE, fui cumprimentado por muitos e com diversos destes pude conversar e alguns pude rever e/ou reouvir em cumprimentos e conversas.
Na poliédrica, multifacetada coletividade de iguais em sensibilidade artístico-cultural, uma meia dúzia de rostos achegou-se mais a mim antes, durante e, sobretudo, depois da solenidade. São rostos de um País que ainda não soube mostrar a cara. De um País que ainda não se desenturmou da comunidade de nações onde atraso leva nome de “em desenvolvimento”. São rostos que, com vontade e prazer, no mundo artístico-cultural fazem o possível para que o melhor de cada um, em seu entorno, torne cada um melhor – e com estes, por sua vez, assim como os polifônicos galos cabralinos, teçam-se manhãs e amanhãs melhores.
Da pequena, exclusivíssima e multifacetada multidão, pude estar com pelo menos seis mentes que qualificam especialmente a Cultura – em um “locus” brasílico e uma loucura brasileira que regularmente a desqualificam...
Adriano Espínola
– Adriano Alcides Espínola chamou-me assim de lado e, fazendo referência ao meu pronunciamento na entrega do “Troféu Rio 2023” para Salgado Maranhão, mais ou menos disse-me que eu esquecera de lembrar, na minha fala sobre grandes maranhenses, do grande, enorme, gigantesco poeta maranhense Sousândrade, o Joaquim de Sousa Andrade (1833-1902), nascido em Guimarães, formado em Letras e em Engenharia de Minas em Sorbonne (Paris).
Adriano perguntou-me que livros eu tinha do poeta vimaranense. Falei-lhe de alguns deles e do trabalho do meu amigo Jomar Moraes (1940-2016) em parceria com o professor norte-americano Frederick G. Williams – o livro “Sousândrade: Inéditos”. Ainda chovi no molhado acerca da re/visão dos irmãos Campos (Augusto e Haroldo) em livro de 1964 e, com assentimento do Adriano, dos trabalhos de 1979 e 1986 da professora, escritora tradutora e editora carioca Luíza Leite Bruno Lobo, que, entre outras distinções, em 2018, merecidamente recebeu título de cidadã de Guimarães, terra natal de Sousândrade.
Mas o que o talentoso, produtivo, conhecido e reconhecido escritor cearense Adriano Espínola (in)tentatva era (re)lembrar o trabalho que ele organizou e que o inscreve entre os divulgadores da poesia e da pessoa do guimarantino cosmopolita: sua obra “Sousândrade”, da coleção “Melhores Poemas”, que a Editora Global publica sabe lá Deus a que custo, em um país onde se lê pouco, pouco se lê livros, menos ainda livros de poesia – e só na coleção da Global avultam, ao lado de grandes poetas brasileiros e estrangeiros, os nomes de Gonçalves Dias (por José Carlos Garbuglio), Raimundo Correia (por Telenia Hill) e Nauro Machado (por Hildeberto Barbosa Filho).
Ali mesmo, sob a curiosidade do autor da seleção e do prefácio de “Sousândrade”, reservei – e, depois, adquiri – um exemplar do livro no qual Adriano Espínola tanto investiu em tempo, esforço e talento.
A partir daí conversamos sobre nomes e fatos que nos eram comuns: Dimas Macedo e Napoleão Maia Filho, escritores e meus professores no curso de Direito da Universidade Federal do Ceará, quando morei em Fortaleza; o Luciano Maia e o irmão Virgílio Maia. Todos quatro da Academia Cearense de Letras – o que, segundo o vulgo, ante a predominância do sobrenome ”Maia”, levou alguns a fazerem um trocadilho com o Sodalício: “Academaia” Cearense de Letras...
Lembrei ao Adriano do grande intelectual cearense Nilto Maciel (1945-2014), que, de Brasília, me solicitava colaboração para a periódica “Literatura – Revista do Escritor Brasileiro”, que ele, nascido em Baturité, publicava na capital federal.
Conversamos sobre os Rogacianos Leite, pai e filho, ambos jornalistas e escritores. Conheci o Rogaciano Leite Filho, ou Roga, em Fortaleza. Trabalhamos na assessoria da presidência do Banco do Nordeste, o Rogaciano Filho antes de mim. E conheci Helena Roraima Leite, filha do Rogaciano pai, que tem se devotado à causa das obras paternas e do irmão. Helena Roraima e eu trabalhamos juntos em Brasília, na alta assessoria da presidência do Banco do Nordeste na capital federal. A convite dela, que há anos mora em Madrid (Espanha), fiz a revisão da mais recente edição de “Carne e Alma”, comemorativa do centenário de nascimento do poeta Rogaciano Bezerra Leite (1920-2020).
É quase certo que Adriano Espínola, hoje no Rio de Janeiro, tenha se encontrado com Luciano Maia e Rogaciano Filho nas muitas e (extra)ordinárias noitadas nos bares Estoril e Quina Azul, este último localizado no Benfica, o segundo e último bairro onde morei na capital alencarina, mais ou menos próximo à Faculdade de Direito e à caixa-d’água famosa. Trazendo “um mandato do tempo”, Espínola logo manda um “Aviso”:
“não há lei nem rei
que me afronte:
meu poema é liberdade
minha casa uma ponte”
*
ASCENSIÓN CHANQUÉS
–- A Ascensión Palacios Chanqués é assim como sua arte: sensível, inteligente, bela, múltipla. Artista plástica e escritora (também faz poemas), tanto pinta com letras quanto escreve com pinturas. Ela chega-se a mim, cumprimenta pelo discurso e algo mais. Pergunto-lhe sobre o Troféu Rio 2023, pois ela foi a pessoa escolhida pela UBE-RJ para pensar e materializar o objeto que foi entregue ao poeta maranhense, brasileiro e internacional Salgado Maranhão. Depois – com intervenções aqui e acolá de presentes que vinham manifestar sua (boa) impressão pela minha fala no auditório –, Ascensión e eu conversamos sobre causas e coisas, pessoais inclusive. Ela, por exemplo, quer e não quer mudar-se de vez do Brasil e retornar à sua Espanha querida, onde foi nascida e onde, aposentada, é (otimamente) assistida. Algumas “materialidades” e muitas “sentimentalidades”, o amor a pessoas e ao trabalho, ao que recebeu e ao que doou nos muitos anos no Brasil, em especial no Rio que a adotou, são “coisas” sob análise para a decisão final. Trabalhou na Funarte (a Fundação Nacional de Artes, do Governo Brasileiro), onde fez benfeito o que era para ela fazer. Foi presidente de entidade de artistas visuais no Rio e realizou um trabalho de mérito. Na troca de figurinhas que fizemos, Ascensión, é claro, era o destaque, posto que, a um mesmo tempo tímida e expansiva, sabia dizer, sorrir, analisar, intuir...
Os latinos diziam: “Nomen, omen” – no nome, a sorte, o destino. “Ascensión”, portanto, não é só seu nome, não é apenas o que ela é, mas onde ela está. É sua condição: – sempre em ascensão.
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JORGE VENTURA
– Percebi que um sorridente Jorge Ventura se esticava em sua cadeira e estendia, alma boa, a mão em cumprimento pela recente fala que, no Rio de Janeiro, eu dissera naquele auditório da Sociedade Nacional de Agricultura – entidade, aliás, que tem como presidente de honra um conterrâneo caxiense, o agrônomo, empresário e ex-deputado federal João Christino Cruz (1857-1914), por cujas mãos transitou o projeto de criação do Ministério da Agricultura em 1906.
O jovem sessentão Jorge Ventura, carioca da gema, não me pareceu – ainda bem... – ser “Ele” (personagem e título de um poema dele). Não é “o vilão da história”, nem “a adorável vítima”, muito menos “o miserável da tarde”, ou, dito com “Crueza”, “sou um homem / que peca e execra” (claro que Jorge Ventura é a maior autoridade em si mesmo, sabe de si mais que ninguém... [rs]). O homem de braço estendido e mão espalmada, se não era, conforme seus versos, “nenhum deus”, parecia-me o “memorável homem” “de mil glórias”.
Múltiplo e vário, Jorge Rocha Ventura é jornalista e publicitário, ativista e gestor cultural, ator e autor, roteirista e editor, palestrante e professor. Escritor premiado, textos traduzidos em meia dúzia de línguas mundo adentro. Membro efetivo de conhecidas entidades artístico-culturais, Jorge é presidente da APPERJ, siglônimo para Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro (por mais que, à primeira vista, os termos “profissional” e “poetas” não pareçam “casar-se” muito bem na mesma denominação, há, sim, no Rio de Janeiro, uma entidade assim, dinâmica, que põe, expõe e culturalmente se impõe há nada menos do que 35 anos no Estado fluminense – e não se confunda a APPERJ dos poetas com a APPERJ dos policiais penais).
Em 16 anos, ou 192 meses, de 1999 a 2014, Jorge Ventura realizou pelo menos 850 apresentações poéticas Rio adentro e afora, de janeiro a dezembro, o que, na ponta do lápis e no visor da máquina de calcular, representam mais de quatro apresentações por mês ou, ainda, em média, mais de uma por semana. No mínimo. Ventura é uma máquina de (e)levar poesia...
Jorge Ventura, enfim, com seu undécimo filho de celulose e tinta, lançado este ano – o livro “Outras Urbanas” –, espicha seu olhar de letras e visualidades sobre a realidade urbano-social da cidade da qual ele é filho, agente e usuário. Cidade que ele ama, apesar dos pesos e pesares. Cidade para a qual, como poeta de “Raízes”, certamente dirá e repetirá, linda e lidamente:
“estar aqui
é minha ausência
noutro lugar
estar por lá
não me fará
sair daqui”.
*
LUÍS TURIBA
–- Se um ator não é o papel que representa, um poeta nem sempre é o que sua poesia diz, ou o que ele diz em sua poesia. Intitulando-se “Atento”, Luís Turiba segreda-nos e define-se: “[...] sou / um poeta esforçado [...]”. O verso e a versão dele para o inglês parecem refletir melhor: “[...] I am a hard working poet [...]”, “sou um poeta trabalhador”, um “poeta que dá duro”, dir-se-ia também.
De qualquer modo, tem razão o Turiba. Ele sabe: É preciso esforço para fazer-se poesia. Ao esforço de construir uma embarcação, de edificar uma construção, de elaborar a melhor essência (na perfumaria) ou de preparar-se para a melhor aparência (na dramaturgia)... e à arte-técnica de escrever em versos – a isso e a outras coisonas mais os gregos davam o nome de “poiésis”, poesia (em grego, “criação”, “fabricação”, “construção”). O “poiétes” é o “autor”, “criador”, “fabricante”, “compositor”. Enfim, o que faz. E fazer, no mais das vezes, dá trabalho. Requer esforço. Luís Turiba se mostra até quando tenta se esconder. Não é fácil dar opacidade ao que de talento e brilho é feito.
Luiz Artur Toríbio, o Luís Turiba das assinaturas autorais, é esse “cariocano” (carioca pernambucano) que traz no (sobre)nome a inquietude (do artista) e os “ruídos” (do jornalista). Quando um bebê grego nascia e se mostrava inquieto e de choro forte, barulhento, os pais helenos pespegavam-lhe o nome de Thorybios, oriundo do verbo “thórybos”, que, substantivamente, significa “ruído”, “estrondo”, e, adjetivamente, “inquieto”. Pois não é que “colou”, deu certo! Na sua imensa riqueza de artista da palavra, sobretudo, da palavra poética, Luís Turiba expõe e confirma esse desassossego criativo impresso-expresso no mundo literal, vocabular, oracional, frasal. Já o jornalista, por sua vez, deve transformar acontecências em letras (também imagens) encarrilhadas e legíveis, levadas por veículo/meio/órgão para, de preferência, ecoar, estrondar, estrepitar, bombar e ribombar. E fica criado o verbo “turibar”...
Mas, se o Luís Turiba é ou foi esse cara “estrepitoso”, não parece. As vezes que percorremos juntos ruas do Rio, as vezes que nos topamos pelos (e)ventos cariocas, as vezes que dividimos o táxi, as vezes em que nessas vezes nossas vozes se fizeram conversa(s), dele só alcancei a contenção e comedimento (como em diversos de seus versos), a modéstia ou simplicidade... próprias de quem sabe das lonjuras que percorreu e das alturas a que chegou – como nos textos que escreve e (extra)vasa, desde os tempos do jornal “O Globo” e revista “Manchete”, no Rio, e quando pontificou em Brasília, desde 1979, no ativismo cultural-literário-poético e nos jornais “Gazeta Mercantil”, “Jornal do Brasil”, “Correio Braziliense” e Imprensa mineira, entre outros pagos e paragens, sem esquecer os livros e variadas publicações (revistas, por exemplo) cariocas e candangos que Luís Turiba ousou lançar, dirigir, editar desde 1977.
Luís Turiba já se doou muito à Arte e à Cultura, ao Jornalismo e à Literatura. Dezoito anos atrás, chegou a ponto de, domador de lepidópteros, ordenar, com o imperativo poético: “Borboletras, borboletrem!”
Mas, consciente de que o poeta pulsa no homem, e que este é, no máximo, terno, e aquele, no mínimo, eterno, Turiba dá voz e verso ao seu médico do coração:
“o cardiologista dá as cartas
– todo cuidado, meu chapa
ou se sinquadra ou infarta!”
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VAL MELLO
– Você se largaria de uma cidade de clima aprazível, frio, parecendo a Suíça, com casario colonial, lindo cânion de mais de setecentos metros de altura, cachoeiras, artesanato, 170 anos de história e até Festival de Inverno? Val Mello também não – ela traz sua cidade dentro de si.
A escritora, artista plástica, artesã, administradora de empresas Val Mello saiu de Pedro 2º, sua terra natal, a “Suíça Piauiense”, município de 1.544 quilômetros quadrados e cerca de 40 mil habitantes, no Centro-Norte (mais Norte do que Centro) do Piauí.
Depois de nadar um pouco em águas maranhenses, em São Luís, veio navegar fundo e fundear em um rio maior, caudaloso, o Rio de Janeiro, que é mais de 20% menor em área que Pedro 2º e 164 vezes maior em população.
De menina ledora de cartas para o avô, da ouvidora de violeiros com o avô e fazedora de contas (“operações matemáticas”) como “castigo” do avô, dessas letras e palavras e cantos e números, desse convívio antípoda, dessa complementaridade de “contrários”, cresceu na capital carioca e circunvizinhanças a administradora formada e escritora firmada, com um fazer poético-literário consistente, comprometido, refinado. Trabalhado.
Val e eu já nos avizinhamos em uma ou outra nascente de eventos culturais deste Rio de todos os meses. Já éramos vizinhos na geografia, pelas terras – ela, Piauí; eu, Maranhão – onde enterramos umbigos e jogamos dentes de leite sobre telhados chocolate: "Mourão, Mourão, Mourão, / tome este dente podre / e me dê outro são!” (Até na cantiguinha popular de nós meninos, a perfeição inocente do terceto hexassilábico...).
Val já sabe dessa minha manha mania de querer falar bem de uma pobre rica terra, histórico-culturalmente abençoada, potencialmente agraciada e socioeconomicamente deprimida, depauperada. O fausto que se torna falto ante a egoísta mediação de infaustos políticos. Val estava ali, no auditório da SNA, e seu sorriso é acolhimento, compreensão, cumprimento. Ela também está nessa luta e, drummondianamente, luta com palavras, e com suas palavras fala dessa “Penúria”:
“Nas lacunas estomacais
sobrevive todo o erário
dos buchos abastecidos
com a esperança alheia
Toda fome vez sentida
é moeda de barganha
pra quem desconhece o vazio
de uma boca esfomeada
e de um corpo que apanha”.
Tecelã de palavras, artesã de sentidos, Val Mello sabe brincar a brincadeira de adultos que é a metapoesia, que é quando o poema conversa consigo mesmo, como está, em alguns recortes-exemplos, no seu livro “A Síntese do Grito”, deste 2023:
“Nos profetas,
além da fé,
moram os poetas.”
E também, mas não apenas:
“Poemizar a vida
é a forma mais sã de enlouquecer
e a maneira mais louca de se manter sã”.
*
STELLA LEONARDOS
– Falecida aqui no Rio de Janeiro há quatro anos, em 11 de junho de 2019, a escritora, dramaturga e tradutora Stella Leonardos, é claro, não estava presente na entrega do Troféu Rio 2023 para o Salgado Maranhão. Mas, se era ausente para os olhos, estava em lembrança e memória na mente de todos. Até porque a UBE-RJ não se descuidou e colocou nos “cards” ou convites, para o evento do dia 18/12/2023, a frase, em maiúsculas: “CEM ANOS DO NASCIMENTO DE STELLA LEONARDOS”.
Stella Leonardos da Silva Lima Cabassa nasceu onde morreu – sua cidade-capital Rio de Janeiro. Sua chegada ao mundo deu-se no mesmo dia e mês e exatos cem anos depois (1º de agosto de 1923) da data de independência de Caxias, a quadricentenária cidade maranhense, que tantos grandes nomes – Gonçalves Dias, Coelho Netto, Teixeira Mendes, João Mendes de Almeida, Ubirajara Fidalgo, Liene Teixeira, Armando Maranhão, Ferdinand Berredo de Menezes, Teófilo Dias, Elpídio Pereira, Aderson Ferro, Andressa Ramos, Francisco das Chagas Oliveira Luz, Lucy Teixeira, João Christino Cruz, Vespasiano Ramos... – deu ao Brasil, todos pessoas de muitos e enormes talentos, colocados a serviço do Brasil, na Literatura, na Antropologia, na Educação, no Cinema, na Legislação em favor dos mais vulneráveis, no Abolicionismo, no Jornalismo, no Teatro, na Administração Pública, na Música, na Odontologia, na Religião / Espiritualidade, na Farmácia-Bioquímica, na Agricultura / Agronomia, na Botânica, na Política, no Magistério e na Magistratura, na Diplomacia, na Poesia...
A essa cidade (Caxias) essa escritora (Stella Leonardos) também se doou em seus escritos. A notável escritora carioca gostava do Maranhão. Era filha de um maranhense, o engenheiro Antônio Caetano da Silva Lima, casado com Alice Leonardos da Silva Lima, escritora, de descendência grega. Em 1945, Stella se casa com Alejandro José Cabassa Ripol, bioquímico, natural de Porto Rico, estado livre e não incorporado dos Estados Unidos.
Stella Leonardos gostava do Maranhão, repito. Não apenas por ser terra de seu pai; também porque foi argila e argamassa boas para o assentamento, o erguimento e o revestimento de excelentes obras literárias, até hoje entre as mais elevadas de seu condomínio bibliográfico. Do “Romanceiro de Bequimão” (do tido protomártir da Independência do Brasil, Manuel Beckman, 1630-1686) colhem-se estes versos:
“Se passardes por acaso
por São Luís do Maranhão,
amigos, sustai o passo:
sob o solo há um coração.”
“Lá dos antigos sobrados
de azulejo feito a mão
uma saudade em pedaços
me conta do Maranhão.”
Não é sem razão que o “Romanceiro de Bequimão”, de 1979, é dedicado por Stella Leonardos “ao Maranhão – terra de meu pai, pais de meus pais, avós de meus avós”. E ela Stella era pura “maranhensidad” no “Cancioneiro de São Luís”, de 1981, nos poemas longos “Romanceiro de Dom Sebastião” e “Caxias cancionada”, de seu livro “Memoranda”, de 2006, e também em 2013, no “Memorial de Luzia”, obra dedicada à amada de Bequimão.
Talvez Stella Leonardos gostasse de saber que pelo menos três “vultos” de seu querido Maranhão e de sua “cancionada” Caxias – João Christino Cruz, Salgado Maranhão e Edmilson Sanches – estavam, de uma forma ou de outra, em auditório ou no salão, em corpo e/ou alma, brindando ao centenário dela, Stella, e às suas palavras de canto e encanto sobre histórias e amores, glórias e dores do Maranhão – terra de seu pai, dos pais de seus pais, dos avós de seus avós.
*
Um poliedro tem muitas faces.
Um hexaedro tem só seis.
Muitas faces ou poucas, quantas histórias se lhes marcam...
... quanto quotidiano em si dissipam...
... quanto futuro assim antecipam!...
* EDMILSON SANCHES
Fotos:
Adriano Espínola, Ascensión Chanqués, Jorge Ventura, Luís Turiba, Val Mello e Stella Leonardos.