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As mulheres possuem menor probabilidade de possuírem aparelhos digitais e terem acesso à “internet” na América Latina. As desigualdades de gênero se estendem no acesso a dispositivos e recursos tecnológicos, reforçando a iniquidade das mulheres na região.

A conclusão é de um relatório lançado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica). O estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Em 23 países analisados, a propriedade de telefones móveis é majoritariamente maior entre homens do que mulheres. As diferenças mais acentuadas ocorrem no Equador, em El Salvador, na Guatemala, em Honduras, em Trindad e Tobago e na Venezuela.

Em cinco dos 23 países estudados, essa tendência se inverte. Isso ocorre na Argentina, no Brasil, no Chile, no Haiti e no Panamá. Na Jamaica, os índices são semelhantes. Na evolução dos índices, as mulheres chegaram a possuir uma possibilidade maior em 2007, mas, desde então, a brecha de gênero favoreceu os homens. Nos últimos anos, esse movimento vinha diminuindo, quando começou a aumentar novamente.

“O hiato digital de gênero vinha sendo, gradualmente, reduzido ao longo do tempo, mas, nos últimos cinco anos, ocorreu aparentemente uma piora. Além disso, características como gênero, situação socioeconômica e localização da residência interagem produzindo múltiplas camadas de desvantagem para as mulheres”, afirmam os autores.

Nesse entrecruzamento de fatores, as mulheres com baixo nível educacional residentes em áreas rurais são as mais afetadas. Esse é o grupo com taxas mais baixas de acesso à “internet”, ficando mais excluído das informações e aplicações disponibilizadas no âmbito da Rede Mundial de Computadores.

O apontamento da desigualdade no uso de tecnologias da informação é justificado pelos autores também como tema relevante uma vez que o acesso ao telefone também possibilita a participação de práticas importantes, sejam elas de comunicação pessoal, interação social ou facilitação da atividade econômica.

Além disso, os responsáveis pelo estudo identificaram, também, uma correlação entre os hiatos digitais e situações de vulnerabilidade, como empregos precários.

Facebook

A pesquisa analisou, também, o acesso à maior rede social do mundo, o Facebook. O uso da plataforma foi considerado alto na região, especialmente na faixa de 20 a 30 anos. Na comparação entre 2018 e 2020, foi registrada uma queda na faixa de jovens abaixo de 25 anos e um aumento entre as pessoas acima desta idade.

Os maiores índices de penetração entre mulheres ocorrem nos países Aruba, Argentina, Equador, México e Uruguai. Em vários países, elas possuem acesso maior do que eles, como Brasil, Argentina, Venezuela, Chile, Suriname e Uruguai.

Para os autores, em um contexto em que a pandemia evidenciou a conectividade como um bem público, o “caminho para a igualdade ainda é longo”, seja na posse de tecnologias digitais seja no acesso à “Internet”.

Para além de cerca de 36% da população ainda não ter acesso à Rede Mundial de Computadores, segundo a União Internacional de Telecomunicações, as diferenças dentro do acesso, como as de gênero, erguem barreiras ainda maiores para um acesso equânime.

“Se as diferenças no acesso às tecnologias da informação e comunicação, em geral, e aos telefones móveis, em particular, não forem abordadas com eficácia, as desigualdades existentes no mundo, como as que ocorrem entre homens e mulheres, poderão ser exacerbadas”, concluem os responsáveis pela pesquisa.

(Fonte: Agência Brasil)

Fechada desde março deste ano por causa da pandemia do novo coronavírus, a Pinacoteca de São Paulo reabre nesta quinta-feira (15), com a exposição OSGEMEOS: Segredos. É a primeira exposição panorâmica da dupla de artistas brasileiros formada pelos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo.

A mostra apresenta 60 trabalhos da dupla, 50 deles inéditos ou nunca exibidos no Brasil, e mais de 100 itens. OSGEMEOS são conhecidos por estampar espaços públicos em diversos países do mundo. Seus grafites, com os personagens amarelos, estão espalhados pelo Brasil, Suécia, Alemanha, Portugal, Austrália e Cuba. Suas obras foram destaque nos telões eletrônicos da Times Square, em Nova York, e na fachada da Tate Modern, em Londres, no Reino Unido. Mas eles também já participaram de mostras internacionais na Alemanha, Canadá, Japão, Itália e no Reino Unido.

A carreira da dupla começou na década de 80, com a chegada da cultura “hip hop” no país. Os trabalhos contam histórias que envolvem fantasia, relações afetivas, questionamentos, sonhos e experiências de vida. A partir da década de 90, suas experimentações – não só em grafite, mas também pintura em telas e esculturas estáticas e cinéticas – ultrapassaram os limites bidimensionais, culminando na construção de um universo próprio que opera entre o sonho e a realidade.

Na Pinacoteca, o duo vai apresentar pinturas, instalações imersivas e sonoras, esculturas, intervenções, desenhos e cadernos de anotações. As obras ocupam as sete salas de exposições temporárias do primeiro andar, além de um dos pátios e do Octógano, onde foi concebida uma instalação especialmente para o espaço. Além disso, o tradicional letreiro na fachada, com o nome da instituição, vai ser substituído temporariamente por um luminoso desenhado especialmente pela dupla.

A exposição vai até 22 de fevereiro de 2021 e tem entrada gratuita até o dia 23 de outubro. Para isso, no entanto, é necessário marcar data e horário de visita pelo “site” do museu. A bilheteria física da Pinacoteca permanecerá fechada neste período da exposição. Por isso, os ingressos só podem ser adquiridos com antecedência pela “internet”.

Protocolo de acesso

Para entrar na Pinacoteca, o visitante terá a sua temperatura aferida. Quem estiver com temperatura superior a 37,2oC ou tiver sintomas de gripe ou resfriado não poderá entrar. O uso de máscara será obrigatório. Não será permitida a retirada de máscaras, nem mesmo para “selfies” ou fotografias. A exposição terá também indicação de sentido de circulação. O museu vai funcionar em horário reduzido, das 14h às 20h. O tempo de permanência no prédio será de, no máximo, uma hora.

(Fonte: Agência Brasil)

A pandemia de covid-19 fez com que professores de todo o país trocassem os quadros e as carteiras escolares pelas telas e pelos aplicativos digitais.

Sete meses após a adoção de medidas de distanciamento social e da interrupção das aulas por causa da emergência sanitária, os professores continuam se reinventando. Nesse período, eles foram obrigados a refazer todas as aulas, passar novos exercícios, escrever apostilas, gravar em vídeo os conteúdos das disciplinas, criar canais próprios em redes sociais, mudar avaliações, fazer busca ativa de alunos e se aproximar das famílias dos estudantes.

Professores de todas as partes do país, tanto da rede pública quanto da privada, relataram à Agência Brasil as diversas mudanças do período e falaram sobre as novas atribuições e papéis dos docentes, em diferentes modalidades da educação básica, vindas com a pandemia e o ensino remoto.

O suporte da mudança foi a “internet”, mas o episódio não se restringiu a uma revolução digital. Houve uma transformação comportamental dos professores para não perder a conexão com os alunos e manter a aprendizagem.

“A covid-19 antecipou, em uns dez ou quinze anos, o que iria acontecer em sala de aula”, calcula o professor de geografia Daniel Rodrigues Silva Luz Neto, que leciona para o ensino de jovens e adultos no Gama, uma das regiões administrativas do Distrito Federal.

Para não perder alunos, ele entrou em contato com todos, adicionou os números dos estudantes no seu WhatsApp, criou grupos por turma, por onde passa áudios e vídeos com aulas e instruções. Seus alunos fazem as tarefas no caderno, tiram foto, mandam de volta para ele corrigir.

“Tivemos que aprender algo que nunca foi desenvolvido ao longo da nossa vida, que foi encarar a tecnologia a curto prazo”, acrescenta Juanice Pereira dos Santos Silva, professora de biologia e ciências da natureza na educação inclusiva, no Centro de Ensino Especial, também no Gama, onde leciona para alunos que tenham transtorno de espectro autista ou deficiência intelectual ou múltipla, desde os 8 anos de idade até a vida adulta.

A professora usa o quintal e a cozinha de casa como cenários das aulas, grava vídeos em movimento nas ruas para ensinar noções de espacialidade e passar conteúdos de suas matérias.

Ensinar os pais

Aprender, em tempo recorde, a usar ferramentas digitais para ensinar foi o primeiro desafio de Juanice Silva. O segundo foi buscar os alunos para as aulas remotas. “No nosso caso, tivemos não apenas que trazer os alunos. Tivemos que trazer os pais”, lembra a professora destacando que a participação dos responsáveis é necessária, em especial, para os alunos que ela leciona. “Tivemos de criar ‘e-mails’ para os familiares, dar acesso [às plataformas] e treiná-los”.

O trabalho de mobilizar as famílias feito pelos professores da escola de Juanice Silva permite que alunos como Pedro Emanuel Araújo, com Síndrome de Down, mantenha a rotina de acordar cedo, tomar banho, tomar o café e vestir o uniforme do colégio, como faz questão, para assistir às aulas em vídeo e cumprir a tarefa.

A rotina de Pedro é dividida com o pai que, antecipadamente, verifica o material que o filho vai precisar para cada dia da semana e separa na escrivaninha, com o “notebook”.

Segundo a mãe do aluno, Ângela Cristina Moutinho Araújo, em tempos de ensino remoto, o filho melhorou no desempenho de atividades manuais. "Inicialmente, Pedro não sabia fazer os deveres. Com a nossa ajuda [dos pais]. Ele começou a fazer, hoje tira de letra”.

Sem acesso

A dedicação dos professores, o amor dos pais, o computador em casa e o sinal de “internet” permitiram que Pedro Emanuel continuasse a aprender, apesar de estar longe da escola há 7 meses.

Mas essa não é uma realidade para todos os alunos da rede pública que, em geral, não têm acesso facilitado à “internet” ou um computador à disposição. Nesses casos, alguns professores têm optado por criar apostilas impressas e fazer as cópias na escola. Os pais ou os alunos têm que buscar, toda semana, o novo material e deixar na escola os exercícios feitos da apostila passada – o que faz parte da avaliação e das notas dos alunos.

“Sem acesso à tecnologia, eles têm que ir na escola e trabalhar sozinhos”, assinala Eunice Rodrigues Silva, professora de história, e ex-diretora do Centro de Ensino Fundamental 102 Norte, uma escola pública em Brasília que atende, predominantemente, alunos de 11 a 15 anos.

Em tempos de escolas sem aulas presenciais, Eunice Silva considera primordial o acesso à tecnologia e à conexão. “Acessar a ‘internet’ é a forma para encontrar o conhecimento com o professor”, diz ao lembrar que muitos alunos em sua escola não conseguiam aprender plenamente porque não tinham computadores, “tablets” ou “smartphones” em casa.

Para resolver o entrave, Eunice Silva iniciou uma campanha pedindo doação desses aparelhos. Hoje, ainda restam dez alunos estudando exclusivamente com apostila impressa, de um total de 484 estudantes da unidade.

O problema, entretanto, não se soluciona apenas com os equipamentos já que muitos alunos não têm “internet” em casa. “É precário todo o sistema, mas há níveis de precariedade”, descreve. Em sua opinião, a campanha trouxe resultados, mas a escola teve que agir por conta própria por “algo que já deveria ter virado política pública”.

Investindo na própria formação

Atividades pelo computador não foram novidade para a professora de matemática do ensino médio da Escola Estadual Amélio de Carvalho Baís, de Campo Grande (MS), Carolina Moraes Lino. Ela costumava passar deveres “on-line” para os estudantes. Com a pandemia, entretanto, foi a primeira vez que todo o conteúdo precisou ser transportado para as telas.

Sem a sala de aula como suporte, a sala da casa onde mora com o filho de 11 anos se transformou em escola.

“Eu me deparei com situações que me deixaram muito frustrada”, diz, contando das dificuldades de engajar os alunos e de lidar com todas as incertezas que a pandemia trouxe. “Do mesmo jeito que os alunos ficam desmotivados, tenho muitos alunos que não tinham problemas e [desenvolveram quadros de] síndrome do pânico, depressão. Tenho colegas também nessa situação”.

Carolina buscou aperfeiçoar os conhecimentos nos meios digitais, chegou a comprar, com recursos próprios, uma mesa digitalizadora, que permite que ela escreva e resolva as equações necessárias para as aulas de matemática. Ela também precisou organizar o próprio tempo.

“Quando se está em casa se quer fazer tudo ao mesmo tempo: dar aula, lavar a roupa, ver o filho, fazer almoço. Agora, eu consegui me organizar e está sobrando tempo. No começo, não sobrava para nada”.

Os estudantes também precisaram de um tempo. Como a situação era muito incerta, segundo Carolina, eles estavam sempre pensando no retorno às aulas presenciais, sem dar muita importância às aulas remotas.

Recentemente, ela tem notado uma mudança de postura, dado que a suspensão deverá se prolongar.

“Pelo menos na minha escola, todos os nossos alunos, cerca de 400, estudam em período integral, todos têm acesso ao material ou impresso ou pela ‘internet’. [A dificuldade] não está sendo o acesso, mas a desmotivação da entrega das atividades”.

De acordo com pesquisa do Instituto Crescer, 46% dos educadores não sabem avaliar se os alunos estão realmente aprendendo com as aulas “on-line”. Além disso, 57% sentem-se frustrados ao perceber que, por mais que se empenhem, poucos estudantes aproveitam os conteúdos por falta de infraestrutura.

Apesar das dificuldades, Carolina busca motivação nos aprendizados ao longo da jornada. “Uma das coisas que me motiva é que sou pessoa curiosa. Poder estar em contato e poder descobrir coisas novas é uma das coisas que me motiva. Além de gostar muito do que eu faço, eu vejo uma possibilidade nessa pandemia, para mim, de me aperfeiçoar mais na parte tecnológica, de descobrir mecanismos, ferramentas novas”, diz.

Habilidades socioemocionais

Além dos conhecimentos necessários para lidar com a tecnologia, a pandemia trouxe também a necessidade de se olhar para habilidades socioemocionais, cujo ensino está previsto, na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que estabelece o que deve ser ofertado em todas as escolas do país. São habilidades como persistência, assertividade, empatia, autoconfiança e tolerância à frustração.

“O desenvolvimento socioemocional dos estudantes é um aspecto fundamental de ser trabalhado de modo intencional na escola se quisermos uma educação que considere o que é viver, conviver, aprender e produzir no século XXI”, diz a especialista em Educação Integral do Instituto Ayrton Senna, Cynthia Sanches.

“Aquela escola que tem como objetivo principal a aprendizagem dos conteúdos das matérias já não é suficiente. Tão importante quanto desenvolver os aspectos cognitivos e interagir com os conhecimentos que a humanidade acumulou ao longo de sua história é o desenvolvimento dos aspectos sociais e emocionais do estudante”, destaca.

A sala como quadra de esporte

A professora de educação física Lizianne Tenório dos Santos tinha acabado de chegar à Escola Claudio Daniel Gama Amorim, em Coruripe (AL), quando as aulas presenciais foram suspensas.

Ela assumiu, este ano, as turmas dos 4º e 5º anos do ensino fundamental e não chegou sequer a conhecer os alunos presencialmente porque a escola estava sendo reformada no início do ano letivo. “Todo o meu contato com eles foi na pandemia, por plataformas de vídeo, por WhatsApp”.

Lizianne não tinha experiência com meios digitais, por isso, recorreu a amigos da área de “marketing” e “design” para saber como se portar diante de uma câmera.

“Comecei a brincar e aprender durante a pandemia e a fazer com que os vídeos pudessem ser atrativos para os alunos, para não ser monótono e chato. Educação física é movimento e se eu trabalhasse de uma forma que não tivesse movimento, eles iam achar ruim. Educação física, para eles, é uma coisa fantástica, ficam contando as horas para ter aula, e eu não poderia deixar de fazer algo prazeroso”.

A professora passou a usar o WhatsApp para trocar vídeos com os estudantes. Ela traz a teoria, contextualiza o assunto e passa exercícios práticos, que devem ser gravados pelos estudantes e enviados de volta.

A casa de Lizianne precisou ser adaptada. Lá, moram três professoras que também estão dando aulas de forma remota. “Uma tem que estar distante da outra para gravar”, diz. “Quando gravo os vídeos para os meninos, eu desarrumo a sala, adapto aquele espaço porque a luz é melhor, e faço ali a minha quadra”.

A motivação vem das trocas com os alunos. “Ouvi de uma aluna: ‘professora, você traz esportes de outros países, esportes diferentes para a gente conhecer e é muito bom’”, conta, orgulhosa.

Amazônia no quintal

Logística e falta de infraestrutura foram os desafios enfrentados pelo professor de biologia Jonailson Xisto para poder chegar até os estudantes das escolas em que leciona, em Barreirinha (AM).

Apesar de estar localizada em área urbana, a Escola Estadual Professora Maria Belém não conta com suporte de rede adequado já que a qualidade da conexão da “internet” na cidade é ruim. Além disso, muitos estudantes não têm “smartphone” ou computadores em casa, o que dificulta as aulas interativas.

Já a Escola Estadual Antônio Belchior Cabral está localizada em uma comunidade ribeirinha, chamada Freguesia, onde o acesso a meios digitais é ainda mais complicado.

“Logo que começou a pandemia, eu cheguei a dizer que eu não estava realizando o trabalho de professor. Em uma turma de 30 alunos, eu conseguia atender, no máximo, cinco alunos, pela dificuldade no interior do Amazonas”, diz.

Segundo ele, muitos dos estudantes vão para a cidade apenas para cursar o ensino médio, mas suas famílias moram no interior, em locais que chegam a estar a sete horas de viagem de barco da zona urbana.

A solução foi recorrer ao WhatsApp para aqueles que conseguiam acesso à “internet”. Para os demais, um grupo de professores se juntou para imprimir apostilas com recursos próprios e levar até os alunos. Xisto conta que a carga de trabalho aumentou já que ele está sempre à disposição dos estudantes.

“O atendimento é intenso. A gente sabe que, para os alunos que moram no interior, não é todo tempo que o sinal pega. Há alunos esforçados que vão para outra comunidade no final de semana, onde pega sinal. Recebo mensagens com dúvidas, às vezes, às 3h, às 20h, 22h. Eu sempre falo que estou disponível”, diz.

Não é apenas na pandemia que os desafios de infraestrutura precisam ser enfrentados. Em 2019, os alunos de Xisto foram premiados no Desafio Criativos da Escola, com o projeto Amazônia, um laboratório natural, que busca driblar a falta de laboratório de ciências na escola usando a própria floresta como local de estudo.

O mesmo projeto foi reinventado na pandemia.

“O nosso quintal é a Amazônia, a gente respira Amazônia. Não posso fazer as aulas formais com os alunos, mas, no quintal, tem muito conhecimento. O aluno pode observar as árvores, os animais. Ele observa o inseto interagindo com a flor, o passarinho com a árvore. Essa foi uma das saídas que a gente encontrou, apesar de não poder trabalhar plenamente como gostaria”.

Apoio aos professores

O ano de 2020 reservou muitos desafios para a educação. A continuidade da aprendizagem, entretanto, não pode depender exclusivamente dos esforços individuais dos professores, afirma o diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Ernesto Faria.

Na avaliação dele, é necessário engajamento de toda a rede de ensino e das unidades federativas para que o ensino seja garantido aos estudantes.

“É necessário conseguir fazer um bom acompanhamento de como o ensino remoto tem se dado, de como as aulas têm acontecido, de quais são as dificuldades que os alunos têm enfrentado, quem tem participado das aulas, feito as atividades e quem não tem feito. Acho que tem que haver um bom modelo de gestão, não passa só pela iniciativa do professor fazer algo inovador ou estar próximo dos alunos”, diz.

“Tem que ser sistemático: o professor passa as informações para o coordenador pedagógico ou diretor, o diretor passa para a secretaria de Educação e aí é possível visualizar se os alunos estão aprendendo ou não estão. Um bom modelo de gestão faz muita diferença num modelo pré-pandemia, acho que segue valendo agora”, acrescenta.

Com a perspectiva de que o ensino remoto se estenda para o próximo ano letivo, Faria destaca que será preciso oferecer formação aos profissionais. “Há uma nova realidade de que ensino, tecnologia e trabalho a distância vão se tornar mais presentes e vão se tornar uma necessidade. Há uma pauta formativa que precisa de investimento e precisa de olhar e acho que passa por secretarias [de Educação] maiores, que têm mais estrutura, ajudar a oferecer formação para as secretarias menores”.

No estudo “A Educação Não Pode Esperar”, apresentado em junho, o Iede mapeou desafios e alternativas do ensino público durante a pandemia.

Em todo o mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mais de 180 países determinaram o fechamento de escolas e universidades, afetando 1,5 bilhão de crianças e jovens, o que corresponde a cerca de 90% de todos os estudantes no mundo. Aos poucos as atividades vão sendo retomadas. Os dados mais recentes mostram que cerca de um terço dos estudantes do mundo continuam sendo impactados pela pandemia.

Uso irreversível

O presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Luiz Miguel Martins Garcia, avalia que ainda está em tempo de se adotar uma política de articulação nacional de ação emergencial para garantir as atividades escolares em meio à covid-19, atender quem deixou de aprender, capacitar professores e preparar a acolhida dos alunos quando a pandemia passar.

Ele pondera que, mais do que possível, a ação é necessária, uma vez que o uso de tecnologias para lecionar “é irreversível”.

Já a presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Maria Helena Guimarães, afirma que há recursos públicos disponíveis para equipar escolas e apoiar professores e alunos.

Segundo ela, cerca de R$ 30 bilhões do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), criado em 2000, podem ser usados com essa finalidade.

Para Maria Helena Guimarães, a pandemia fez com que a educação básica vivesse um novo momento, não só no Brasil. Ela acredita que haverá aprofundamento das mudanças após o retorno do funcionamento dos colégios e aposta na adoção do ensino híbrido, no incremento de atividades complementares nas escolas e de ensino por projetos e em mais atividade de pesquisa para os alunos.

Ela alerta, no entanto, que há risco de “acirramento das desigualdades” entre as escolas da rede privada e da rede pública, e que os alunos de colégios particulares devem sair na frente.

Condições distintas

As diferenças entre as condições de trabalho na rede pública e na rede privada fazem parte do cotidiano do professor de geografia Sidnei Felipe da Silva, que leciona em três cidades no litoral norte da Paraíba. Duas escolas são públicas, nas cidades de Mataraca e Marcação, onde também atende alunos da zona rural e de aldeias indígenas. O terceiro emprego é em um cursinho pré-vestibular, no município de Rio Tinto.

Na escola preparatória para exames, que é particular, as aulas são transmitidas das próprias salas que ganharam câmeras e iluminação. “Às 9h, a aula começa, ‘on-line’ e ao vivo, diferentemente do que ocorre nas escolas públicas”, compara. “O dono do cursinho percebeu que, se os professores ficassem dependendo das suas redes domésticas, existia o risco de perdemos conexão, e os alunos ficarem no prejuízo”, conta.

Já para as escolas da rede pública, Sidnei conta que posta a matéria por meio de videoaulas para que o aluno acesse a ‘internet’ “na hora que puder”. Há também aqueles que recebem apenas material impresso com o conteúdo das aulas. E outros com os quais o professor consegue manter contato por WhatsApp.

Saudades

Para conseguir dar melhores aulas nas escolas públicas, Sidnei Felipe fez do quarto de hóspedes de sua casa um pequeno estúdio, criou canal no YouTube e mantém atualizado um “blog” para os seus alunos. “O trabalho triplicou”, observa. O esforço do professor é reconhecido pelos alunos que enviam mensagens carinhosas e de agradecimento.

Apesar do êxito com a educação remota, Sidnei Felipe não abre mão do ensino presencial e do contato com os alunos. “Presencialmente tem o retorno do aluno no instante que a relação ensino e aprendizagem está acontecendo”, defende.

“É justamente no contato em sala de aula que nós conseguimos diagnosticar as necessidades dos alunos. Só assim, é que traçamos estratégias diversificadas para suprir as necessidades da turma”.

Além das razões didáticas, os professores têm um motivo afetivo para esperarem pela volta às aulas dentro das escolas: saudades!

“Nesta semana do professor, o nosso presente vai ser entrar em contato com todos os nossos alunos”, comenta a professora Juanice Silva sobre a mobilização que a escola prepara. Durante os próximos dias, estudantes da escola de ensino especial do DF receberão ligações e videochamadas dos professores para poderem conversar e diminuir um pouco a distância e a falta do convívio escolar.

(Fonte: Agência Brasil)

Foi publicada no “Diário Oficial da União”, dessa quarta-feira (14), a Lei 14.071/20, que traz várias alterações no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A legislação é fruto do PL 3.267/2019, sancionado na terça-feira (13), com vetos, pelo presidente Jair Bolsonaro. De autoria do Poder Executivo, o texto foi relatado pelo deputado federal Juscelino Filho (DEM-MA) e teve sua versão final aprovada pela Câmara dos Deputados no dia 22 de setembro.

“Após 23 anos de existência, nosso Código de Trânsito passou por necessárias adequações. O governo, que apresentou a proposta, e o Congresso Nacional, que aprimorou o texto original, cumpriram seus papéis e contribuíram com esse grande resultado. Destaco, de maneira especial, o trabalho que realizamos no parlamento, sempre ouvindo todos os atores do setor como especialistas, entidades e sociedade civil”, afirmou Juscelino Filho.

Entre as principais mudanças, que passam a valer em 180 dias, a nova versão do CTB determina que a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) será válida por 10 anos para condutores até 50 anos de idade. Para aqueles entre 50 e 70 anos, renovação terá que ser feita a cada cinco anos. E no caso dos acima de 70 anos de idade, a carteira de motorista vai ter validade de três anos.

Outra alteração importante diz respeito ao limite de pontos na habilitação para suspensão do direito de dirigir. Conforme proposto pelo deputado Juscelino Filho, foi criada uma escala de tolerância: 40 pontos de teto para quem não tiver infração gravíssima no período de 12 meses, 30 pontos para quem possuir uma infração dessa natureza, e 20 pontos para quem tiver duas ou mais gravíssimas. Motoristas que exercem atividade profissional terão 40 pontos de limite.

Também consta, na lei, a proibição de substituição de penas privativas de liberdade por penas restritivas de direitos nos crimes de homicídio ou lesão corporal cometidos por motoristas sob efeito de álcool ou substâncias entorpecentes. Em relação ao uso das chamadas cadeirinhas, a obrigatoriedade foi ampliada para crianças de até 10 anos ou 1,45m de altura, e fica mantida a multa para quem transportá-las sem o dispositivo adequado.

Juscelino Filho destaca que cumpriu o compromisso feito na primeira reunião da Comissão Especial do PL 3.267/2019, quando foi escolhido relator da matéria. “Todas as mudanças foram estudadas e feitas priorizando a proteção à vida, a segurança no trânsito e a redução dos acidentes. De forma responsável, também acatei propostas de desburocratização, modernização e diminuição de custos. Teremos um CTB muito melhor”, disse o deputado.

DNA próprio

Duas importantes novidades do Código de Trânsito foram introduzidas por iniciativa do deputado Juscelino Filho. Uma delas é a criação do Registro Nacional Positivo de Condutores (RNPC), no qual deverão constar os motoristas que não cometerem infração sujeita à pontuação, nos últimos 12 meses. O objetivo é que esse cadastro possibilite que governos e seguradoras, por exemplo, concedam benefícios fiscais, tarifários e na prestação de serviços.

A outra é a criação e manutenção de escolas públicas de trânsito pelos órgãos estaduais e municipais. “Isso precisa ser uma realidade em nosso país. Hoje, existe o Funset, um fundo que arrecada bilhões com multas, e boa parte dos recursos é para educação. As crianças e os adolescentes de hoje serão os motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres do futuro. Temos que investir nessa conscientização”, justificou Juscelino Filho.

Vetos

O PL 3.267/2019 foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro com cinco vetos. Um deles diz respeito à realização de exames de aptidão física e mental apenas por médicos e psicólogos especialistas em trânsito. Também foi vetado o dispositivo que disciplinava o tráfego de motocicletas, motonetas e ciclomotores entre os veículos. A decisão final sobre os vetos cabe ao Congresso Nacional, que irá analisa-los em sessão conjunta da Câmara e do Senado.

(Fonte: Assessoria de comunicação)

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Oi!
Vou direto ao assunto.
Hoje é sábado e...
... que tal construirmos este dia
e um domingo
diferentes?

Venhas até aqui, onde moro.
Não tragas muda de roupa
– não precisaremos dela.
(Em verdade,
não precisaremos de roupa.)

Não traga alimentos
– nós seremos eles.

Traga-te a ti
e te entregues a mim,
que já se entregou a ti
sem que tu percebesses.

E durante o dia e a noite,
e em todos os instantes
falaremos de amor
faremos amor
seremos amor.

Falarei no idioma
de minha língua
que não fala,
mas, fálica,
famélica,
te comerá,
te absorverá,
te sorverá
na intimidade
mais íntima,
mais líquida
e certa
que tens.

Minha língua
te reeducará
fazendo-te
aprender
a desprender
os sons selvagens,
irreproduzíveis,
da selvagem
que és quando,
entregando-te,
dominas-me
e domesticas
o macho – que,
se acreditando possuidor,
é possuído.

E no domingo,
enquanto o Senhor descansa,
Adão – carpindo o caule –
e Eva – regando a flor –
amassam o pão
com o suor do rosto
e do resto do corpo,
e também
com a saliva
e a seiva
e o sangue
e o sêmen,
em imitação
malfeita,
mas humanamente prazerosa,
do gesto divino
da (re)criação,
da (re)produção
de si
em si,
de mim
em ti,
de ti
em mim.

* EDMILSON SANCHES

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Cordel deriva de coração e, talvez por isso, é a mais legítima tendência literária brasileira.

Assemelha-se essa nossa manifestação cultural com a antiga tradição do verso cantado originário da Provença, onde o trovador com seu instrumento, uma espécie de bandolim, com quatro cordas, encantava a castelã nos requintes dos salões em presença de convivas ou nas sacadas de varandas e balcões onde a bem-amada se punha a escutá-lo.

Aqui no Brasil, no Nordeste, em particular, o cantador empunha sua viola e, no acorde de uma nota só, tira seus repentes a partir de um mote ou de um desafio. Geralmente, são versos sextilhados, com rimas entrelaçadas, a 1ª com a 3ª e a 5ª, e a 2ª com a 4ª e a 6ª, e, na maioria das vezes, tendo o fecho de cada estrofe imagens fortes em referência ao tema glosado.

O poeta no cordel dispõe de uma liberdade verdadeira. Há, nessa modalidade literária, uma licença métrica. e esta é feita de ouvido, como se diz, de acordo com o ritmo já impregnado no cérebro do cantador, caindo as rimas nas palavras, quase sempre, tônicas, percebendo-se, às vezes, nas rimas, um toque de quase perfeição, notando-se ainda, em toda incursão do verso, o uso do “enjambement”, que é um recurso poético que o artista se vale em completar, no verso seguinte, o que faltou no anterior. Isso ocorre instintivamente, sem que, para tanto, valha-se seu construtor de algum conhecimento literário ou teoria a respeito.

Para falar em cordel, tive a alegria de ser amigo do poeta Rogaciano Leite, pernambucano de São José do Egito, depois integrante da “Última Hora”, de São Paulo, onde ganhou o Prêmio Esso de Reportagem com o trabalho “O mundo amargo do açúcar”, e um dos maiores repentistas que conheci, de encher o teatro Arthur Azevedo, em São Luís, onde passava tempos a fio a dizer versos com mote solicitado à plateia. E Rogaciano, assim, era aplaudido de pé por um público exigente e de bom gosto como se sabe ter sido a de São Luís naqueles tempos memoráveis. Vi-o algumas vezes em companhia de meu pai (um lusitano do porte espiritual de Fran Paxeco), e ao lado, ainda, de Amaral Raposo, Erasmo Dias, Paulo Nascimento Moraes, José Chagas e outros luminares das letras desta Ilha rebelde e culta. A casa era cheia, e o poeta, no palco, era um ator a exercitar seu dom divino. Rogaciano Leite tinha sido aluno do cego Aderaldo, mestre consagrado e respeitadíssimo nas plagas cordelistas destes brasis afora. Vem daí minha admiração pela poesia de cordel, pelo cantador a tirar na viola aquelas modas que reputo como preciosas dentro do nosso contexto literário, o que não faz a poesia grande para caber dentro de poucas estrofes, mas justamente o contrário, as estrofes pequenas para caberem dentro de tanta poesia e de tanto talento.

Pois bem, fruto dessa estirpe de artista, coloco o poeta, etnólogo, sertanista e também repentista Olímpio Cruz que, sendo um dos sonetistas tão perfeitos quanto Rogaciano, acostumado a tecer as sedas dos alexandrinos, verseja também no cordel, com a mesma desenvoltura dos nossos irmãos das praças de Caruaru ou de Piancó, com ou sem viola, mas com a essência e com o sentimento mais profundo que expressam a emoção do nosso homem simples, do nosso caboclo da caatinga ou do cerrado, do nosso sertanejo, enfim, desse homem que traz consigo na alma o timbre maior de nossa raça.

Neste livro “Relatório Sertanejo – Barra do Corda no Cordel” de Olímpio Cruz, que, agora, é publicado, postumamente, pelas mãos engenhosas do jornalista Nonato Cruz, filho do poeta, conta a história de Barra do Corda, situando famílias e homens numa narrativa inteligentíssima e caricatural, dentro do contexto social, político e econômico da cidade, não só ao tempo da elaboração do trabalho, mas no exercício pretérito, o que nos faz meditar na memória privilegiada que o poeta tinha, fruto também de sua condição de anjo.

Olímpio Cruz, com as mesmas mãos fidalgas de um aristocrata sonetista de salão e sarau, do porte de Maranhão Sobrinho, de Inácio Xavier de Carvalho e de Assis Garrido, tem o poder ou mesmo a magia de se transformar, não mais que de repente, num cantador-violeiro de Feira e Mambembe. Por isso, no que me cabe observar, a marca do gênio se projeta exatamente aí, nessa gama diversificada de aptidões a gravitar genuinamente em torno da poesia, que nada mais é do que o espírito da palavra trabalhada, usada pelo homem por direção de Deus. E Olímpio Cruz, na sua simplicidade santificada, tinha esse registro divino.

Aproveitemos para ouvir o poeta e assuntar o que ele diz nos seguintes versos: “Quando era Treze de Maio / que tinha a dança da punga / Antôe Bode e João Calunga / incomandava as batáia, / vinha os cabra do Naru / e a nêga Maria Pacu / que de vento enchia a saia… / E a nêga veia Teixeira, / muita idosa, cum cem ano / vestida de sete pano, / sentada na pagodeira / tinha os óio cheio d’água, / cacimba que num secou; / nem sei se sodade ou mágoa / dos tempos que já passou ! …”

Assim é o canto do poeta Olímpio Cruz, a timbrar a nossa alma de coisas belas e de saudades que não morrem nunca, as quais se mais parecem com os encantos mágicos e naturais de nossa Barra do Corda, que, por si só, na grandeza da criação, já se nos basta para ser poeta, de qualquer rima ou de qualquer mote.

* Fernando Braga. Prefácio do livro "Relatório Sertanejo:  Barra do Corda no Cordel de Olímpio Cruz"; in "Conversas Vadias", antologia de textos do autor.

– Milla...

– Hummm...

Madrugada sonolenta. A janela traz-me o mesmo olhar de estrelas, imensidão e lua.

Deitada lindamente a amada. Dela tornara-me senhor e nela escrava isaura escravizara meu amor.

Que coisa! Em mil dias mil vezes o amor se fez e liqüefez-me dentro dela. Sêmen sangue suor saliva sexo.

Sabe, neste momento em que acoplo minhas mãos em concha sobre o contorno dos teus seios...

Milla. Mil.

Mil corações valsou ataulfo. Mil lágrimas chorou adelino. Mil mulheres cantou herivelto. Mil. Mil coisas.

Ronronando educadamente, um Mille (o Mille é Uno; fia-te nele) atravessa lá embaixo a madrugada que não descamba. A lua lá em cima acima de nós espia pelas frestas e nos percebe nus. Agora por exemplo tuas ancas se repartem e cada parte me aglutina me deglute amalgama catalisa catalético cataplasma cataclismo. É assim nós dois. Fundimo-nos. Fundimos o que podemos. E mil vezes nós nos podemos quase tudo.

Madrugada sem horas. “Uma chuva chocha e chata chapinha o chão e chacoalha o choco coaxar de coxos sapos”.

Mil. Milla. Mil milhas nós nos andamos nossos corpos. Mil vezes a mastro e vela tuas costas eu litoraneei. Mil vezes tu e eu, nós, milady milord. My Lord! Mil! – a imortalidade da felicidade, a longevidade dos justos. Cada dia da árvore da vida, mil anos. “Mil anos são como um dia”, salmeia a Bíblia. Adão perdeu sua vida de mil anos porque pecou uma vez. Uno. Mille. Pecamos adamicamente mil vezes e, eu e ela, quanto tempo perdemos? Sei lá.

Milla... Esse teu corpo mil-flores que incenso, millefoliu que desfolho, despetalo talho entalho e criminosamente retalho, te entalo, ingresso em teus lugares vazios espaços apertados até tu te sentires completa ocupada lotada. Lotação esgotada. Amar a mil (kama sutra é prefácio perto de nós).

Milla. Una. Mil e um motivos para amar mais uma vez. Mil e uma trapalhadas fez sinhô. Mil e uma noites marchou joão de barro. Mil e uma noites eu conto. Mil. Mil... e uma vez mais dentro de ti. Assim, “aliso espremo vergo tremo martirizo gemo: nervo de Touro em carnes de Virgem”. E tu também de tremes te torces retorces contorces te mexes remexes tu gemes nós gêmeos...

Como uma lava leve neve láctea meu eu líquido te leva ao enlevo e percebo tuas bordas íntimas róseas tua vulva ígnea qual miniatura de vulcão preparando sua erupção e regurgitando de prazer e jorro. Quase morro. E essa calma quase morte que se afoita e se afoga em nossos corpos quase mortos sem fôlego...

As janelas escancaram e deixam passar a brisa açoitada pela chuva. Surpreendida na sua espreita, a lua espiã puxa para si uma nesga de nuvem que passeava plúmea e plúmbea e se esconde, agora corada de vergonha e relâmpagos.

Cá embaixo, na cama, Milla e eu levantamos um brinde igualmente rubro. Depois, liberados os copos, de corpos nas mãos, esperamos o sol, o solene amanhecer.

E, logo mais, manhã cedinho, novamente o amor acontecer...

Ahhhnnn....

* EDMILSON SANCHES

Reabrem, nesta terça-feira (13), os museus e espaços culturais da cidade de São Paulo após seis meses fechados devido à quarentena para evitar a disseminação do coronavírus. Entre os locais que abriram a compra de ingressos e o agendamento de visitações, estão o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Museu de Arte Moderna (MAM) e o Instituto Moreira Salles (IMS). A Pinacoteca vai reabrir a partir de quinta-feira (15).

No Masp, que fica na Avenida Paulista (região central da capital), o destaque é a exposição “Hélio Oiticica: a dança na minha experiência” que apresenta os rumos de pesquisa do artista, com o estudo de elementos rítmicos e coreográficos, até chegar nos “Parangolés”, na década de 1960. A mostra reúne 19 dessas estruturas, pensadas para serem vestidas e usadas pelo público, sendo que 14 são réplicas que podem ser manuseadas pelos visitantes da exposição. A bilheteria física do Masp está fechada, mas os ingressos com horário agendado podem ser adquiridos pela página do museu. O uso de máscara durante a visita é obrigatório e o guarda-volumes está fechado.

No MAM, localizado no Parque Ibirapuera (zona sul paulistana), reabre hoje com três exposições. Uma traz as obras do artista plástico Antônio Dias que fazem parte da coleção dos próprios trabalhos feita pelo paraibano ao longo da vida. Dias faleceu em 2018 aos 74 anos. Recobrindo as paredes de parte do museu com pau a pique, técnica de construção muito usada no período colonial, a instalação “Roçabarroca”, de Thiago Honório também faz parte dos trabalhos que podem ser vistos a partir de hoje com a reabertura da instituição. Há, ainda, uma exposição feita a partir das escolhas do Clube de Colecionadores de Fotografia do MAM. Os ingressos devem ser comprados de forma antecipada “on-line”.

O IMS, também na Avenida Paulista, abre uma exposição com 170 imagens da fotógrafa chilena Paz Errázuriz, que trabalhou com temas à margem da sociedade, como travestis e pessoa internadas em hospitais psiquiátricos, em plena ditadura de Augusto Pinochet. A partir dos arquivos da instituição, poderá ser visto, ainda, um recorte das 35 mil imagens do arquivo do fotógrafo alemão Peter Scheier, com fotografias feitas entre as décadas de 1940 e 1970, parte na passagem pela revista “O Cruzeiro”. Também em cartaz no instituto está uma mostra com a produção em vídeo da fotógrafa Maureen Bisilliat. A entrada é gratuita mediante agendamento.

Além dos horários marcados e o uso obrigatório de máscaras, os espaços culturais devem receber, no máximo, 60% da capacidade total de visitantes. O público deve estar atento as orientações para evitar aglomerações e manter o distanciamento social, como o tempo máximo de visitação e o fluxo a seguir no percurso das exposições.

(Fonte: Agência Brasil)

Rio Tocantins, por José Lobato

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Há seis anos, em 11/10/2014, o jornalista James Pimentel lançava, no 12º Salão do Livro de Imperatriz (Salimp), sua obra “Histórias de Pescador”, livro-reportagem e trabalho de conclusão de seu curso de Comunicação Social – Jornalismo.

A seu pedido, fiz o texto abaixo, que James aproveitou como prefácio. A honra é minha.

Vida longa ao livro e ao autor. (E. SANCHES)

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Hoje o Rio Tocantins dá mais histórias que peixe.

Pelo menos na parte maranhense que passa por Imperatriz, o outrora caudaloso, piscoso e limpo rio é o lugar permanentemente móvel, a referência líquida e incerta que recebe mais esgotos que anzóis e de onde se extraem mais saudades que alimentos.

Não é de estranhar, portanto, que os principais seres vivos do nosso Tocantins sejam os pescadores – não os peixes. Pescadores sem pescado... mas, pelo menos, com muita coisa e muito causo pra contar.

E quem lhes poderia resgatar e documentar as histórias e estórias, as farturas e agruras, vivências e sofrências? Que novo Cristo meter-se-ia a fisgador de gentes, pescador de pescadores?

Jornalistas e historiadores, sim, podem ser os novos colhedores das gentes das águas.

Um desses – James Pimentel, jornalista –, da mais recente fornada do curso de Comunicação Social do “campus” imperatrizense da Universidade Federal do Maranhão se apresenta aqui, com suas Histórias de Pescador.

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Em agosto de 1864, um decreto estabeleceu que o Rio Tocantins pertencia também ao Estado do Maranhão. A imensa serpente d’água de 2,4 mil quilômetros fazia toca e leito em nossas terras submersas. E às vésperas de completar 150 anos de “maranhensidade” legislativa, estamos mantendo vivo e forte o rio que, à base de hidrogênio e proteína, tanta vida alimentou, tanta força deu, gerou?

Às vésperas do século e meio daquele decreto, que histórias boas temos a contar para o rio que transportou pessoas e permitiu o início da História imperatrizense? Como já escrevi, foi pelo Tocantins, foi com ele e foi nele que tudo começou. O registro de nascimento de Imperatriz não foi escrito à tinta – foi escrito com água. O Tocantins é a grande pia batismal onde a cidade, ontem, fez sua iniciação e, hoje, exige purificação. Esse rio trouxe, há 162 anos, os fundadores da cidade. Ajudou a fazer a cidade. Ajudou a fazer História. Um rio que só é velho porque se renova. Desde 1852, fundação de Imperatriz, o Tocantins foi um rio que passou, e continua, em nossa vida. Um rio que é permanente porque é passageiro. Transitoriamente eterno.

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Foi conversando à beira desse rio e também navegando por sobre suas águas, foi nadando – e, muitas das vezes, se afogando – em um caudal de informações e possibilidades que James Pimentel fez vir à tona este livro.

O jovem e promissor jornalista e escritor soube ancorar, no Cais do Porto não tão (geologicamente) seguro, seu talento de observador de pessoas, coisas e situações e absorvedor de fatos, relatos e emoções. Na busca de material, envolveu-se emocionalmente, padeceu fisicamente – nada que já não fosse esperado e tão próprio do ofício de caçar conversas e notícias.

Os personagens (entre outros, pescadores e burocratas, atravessadores ou intermediários daqueles profissionais e de seus esforços e produtos), sem o saberem e sem procurarem, encontram em James Pimentel alguém que, sem abdicar dos sentimentos próprios – do que não se envergonha o “new journalism” –, soube capturar e documentar os depoimentos. Para isso, utilizou-se de discrição e descrição... e em uma e outro soube/sabe ser eficiente.

Vários são os (bons) exemplos em que Pimentel usa essa arriscada arma de dois gumes que é a redação descritiva – que pode ser fastidiosa ou fastigiosa, tanto pode cansar quanto motivar. Para captar/capturar os elementos, anotá-los e transformá-los em texto contínuo, uniforme, a discrição foi uma “arma” adequada – que ele revela no texto... discretamente.

Histórias de Pescador é um livro-reportagem, esse gênero e suporte que põe mais água (com saber e sabor...) no feijão jornalístico. Afinal, o jornalismo não pode “alimentar” seus, digamos, consumidores apenas com esse “fast-food” dos textos poucos, curtos, como se tivéssemos, nós leitores, apenas dois neurônios (são cem bilhões, viu?).

Aí, com a desculpa de que “as pessoas não têm mais tempo de ler”, certo jornalismo em prática, em especial nas cidades de interior, vai servindo informações em pílulas de mesmo formato, semelhante conteúdo, igual gosto. É dose!... Jornalismo homeopático. Uma sensaboria...

O texto jornalístico e os neurônios estão carecendo de mais plasticidade e menos plastificação. Quase ninguém ousa, pelo menos por estas bandas. Preferem os jornalistas ser usados a ousados. Ninguém arrisca começar a linha inicial do texto de uma reportagem sobre um assassinato (mais um...) com uma prolongada interjeição de dor ou sofrimento:

“Aaaaaaaaiiii!...”

Ou a sequência onomatopaica de tiros disparados:

“Bangue! bangue! bangue!”.

Ou a expressão gráfica do ronco do motor em uma corrida de automóveis:

“Vruuuuuuuuuummmmm!”

Resumiram o texto jornalístico a uma fórmula e a transformaram em trilho, fôrma e forma: a ocorrência (o que), os personagens (quem), o tempo (quando), o modo (como), local, espaço, ambiente (onde), motivo (por que), intenções, consequências (para que). E, com sete elementos, faz-se o Jornalismo e descansa-se como uma divindade dos fatos, um deus do texto que descansa no sétimo dia.

Evidentemente, o que deve sair impresso das máquinas, todo dia, é uma publicação jornalística, não um livro de criatividade literária. Mas, convenhamos, há de haver algo a se somar, a se juntar a esse jornalismo-água – insípido, inodoro, incolor, que escorre e some pelos desvãos neuronais para no instante-dia seguinte nada restar. Nem lembrança.

Este livro-reportagem não é apenas um livro que contém uma reportagem e tampouco é tão só uma reportagem que se imprimiu em forma de livro. O texto é alongado para os padrões tradicionais, usuais, do espaço e do cotidiano dos jornais. O texto, sem pretensão de ser literário, tem literariedade – qualidade que a redação jornalística nem sempre observa ou absorve. O autor é mais que autor: aqui e acolá também é personagem – discreta, mas presente, nominada (diria, “pronominada”, identificada por pronomes).

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Quem tem medo do livro-reportagem? Da grande reportagem? A cultura ocidental, pelo visto, não tem (da oriental não pesquisei exemplos). O Brasil medo também não deveria ter – e temos antiguidade nesta área, como os relatos de Euclides da Cunha no final do século XIX para o jornal “O Estado de S.Paulo”, que se transformaram na citada e felicitada obra “Os Sertões”. E João do Rio. Revista “O Cruzeiro”. E “Realidade”. E...

Livro-reportagem é sobretudo Jornalismo, com o emprego também – por que não? – dos recursos linguísticos, do senso estético da Literatura. Embora quebrando a imposição do lead, porquanto fugindo de uma fórmula eivada de pronomes, advérbios, conjunções..., nem por isso o livro-reportagem abdica da boa prática jornalística: primeiro, informar-se; depois, informar. Só que isso não precisa ser confinado à horizontalidade do papai-mamãe se há a variedade do Kama Sutra...

Já escrevi também que Literatura é ofício com letras. Ainda que use linguagem “média” para comunicar a uma “média” de leitores, o Jornalismo não deve dispensar o uso estético da linguagem escrita e, também, imagética (fotografias, desenhos...).

Há diversos autores – jornalistas e/ou escritores – de livros-reportagem: Gay Talese, Norman Mailer, Tom Wolfe e Truman Capote, “fundadores” do “new journalism”, o novo jornalismo, que, entre características diferenciadoras do jornalismo “tradicional”, apura com mais precisão e retrata com mais beleza literária os fatos. Tenho o livro e o filme, por exemplo, “A Sangue Frio”, obra (literária? jornalística?) de Truman Capote considerada referência em termos de “new journalism”. Ao pesquisar sobre o assassinato de toda uma família nos Estados Unidos, Capote produziu mais de oito mil páginas de anotações e investigou durante cinco anos.

Evidentemente que na cozinha jornalística tanto se servem pratos rápidos (o “fast-food” cotidiano) quanto se preparam as comidas mais elaboradas. Há espaço para isso e algo mais; não deve havê-lo para concepções esculpidas em aço, para o “taken for granted”...

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Li, reli e treli este livro. O autor sabe disso. Sabe dos elogios – e das observações e sugestões – que lhe fiz.

A obra vale a pena ler. É boa de ler. O texto é fluido como as águas do rio a que se refere e de onde já se pescaram muitos peixes e alegrias, e por onde já navegaram incontáveis certezas, e onde, hoje, adernam ou soçobram esperanças, e em cujo cais aportam, fundeiam decepções de pescadores.

Este livro é Jornalismo, é Literatura e é História. Aqui se recuperam e se documentam aspectos da vida de pessoas e instituições, de suas características e comemorações. A Colônia de Pescadores e a Associação dos Barqueiros (e as intrigas institucionais e políticas entre elas e a partir delas, que o autor, discreta mas espertamente, pescou)... As festas dos pescadores para São Pedro e para São João (lamentavelmente descontinuadas)... Reflexos e reflexões.

O imperatrizense James Pimentel termina um livro e mal começa a mostrar o bem que pode fazer a partir da escrita, com o cardápio de teorias e o instrumental das práticas que a Universidade lhe serviu. Orgulha-me ter sabido, com surpresa e satisfação, que James Pimentel foi um dos muitos e esforçados ouvintes que já tive em meio a muitos e esforçados ouvintes de minhas palestras em cursos pré-vestibulares, para onde, em meu solitário ide-e-pregai, sou convidado a ministrar palestras sobre Imperatriz, sobre educação, conhecimento e cultura, sobre motivação pessoal e profissional, sobre orientação vocacional, sobre razões primeiras e fins últimos. Sobretudo sobre tudo.

Parabéns, James Pimentel. Imperatriz o viu nascer.

Agora, a Cidade-Majestade se vê em renascimento pelas mãos – e talento – de seu filho igualmente nobre.

E isto não é história de pescador...

* EDMILSON SANCHES

Um novo projeto de acessibilidade inclusiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a TotoyKids começou a postar, nesta segunda-feira (12), vídeos adaptados no YouTube.

A ação #MúsicaParaTodos envolve artistas que apresentam regravações dos sucessos do canal infantil, a partir de um modelo adaptado para promover total acessibilidade às crianças com deficiência, por meio de produções com audiodescrição, Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) e legenda.

O projeto une inclusão, educação e diversão para reforçar que o lugar de criança é brincando e estudando. Os clássicos do canal passam pela interpretação de Lara Gomes, tradutora e intérprete da linguagem brasileira de sinais, que junto a artistas como MC Soffia, Rodrigo Faro, Maria Viel Faro, Daniel, Wanessa Camargo, Felipe Mafra, Paty, Elba Ramalho, Isa Vaal e Daniela Mercury.

Ganharam uma nova versão clássicos como “Somos Todos Iguais”, “Vírus Aqui Não” e “Sorrir Te Faz Feliz”, que utilizam de maneira educacional o lúdico para dar asas à imaginação dos pequenos, fazendo com que aprendam de maneira leve e construtiva.

(Fonte: Agência Brasil)