As 4.811.338 inscrições confirmadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2025 são, em sua maior parte, de candidatos do Nordeste. Na região, há 1.737.789 inscrições confirmadas, dos quais 587.935 são de concluintes do ensino médio.
O dado consta no Painel Enem 2025, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
A segunda região brasileira com o maior número de inscritos confirmados nesta edição é o Sudeste, com 1.631.563 participantes confirmados, sendo 662.388 concluintes do ensino médio.
Em seguida, aparecem os 561.004 candidatos confirmados do Norte do país, com 193.150 concluintes do ensino médio.
O Sul ocupa a quarta posição em número de candidatos confirmados: 492.876. Do total, 211.433 se formam no ensino médio neste ano.
Por fim, o Centro-Oeste registra 388.106 inscrições confirmadas. Delas, 157.044 são de estudantes que estão no 3º ano do ensino médio.
Estados
Com base no Painel Enem 2025, o Estado com o maior número de inscrições é São Paulo, com 751.648, seguido de Minas Gerais (464.994) e da Bahia (428.019).
Somente o município de São Paulo tem 197.626 inscrições confirmadas. Dessas, 81.179 são de concluintes da educação básica.
As três Unidades da Federação com os menores números de candidatos confirmados são: Amapá, com 33.193; Acre, com 28.962; e Roraima, com 14.162.
Confira o número de inscrições confirmadas por Unidade da Federação:
Unidade federativa
Inscritos no Enem
Acre
28.962
Alagoas
96.488
Amazonas
110.842
Amapá
33.193
Bahia
428.019
Ceará
275.937
Distrito Federal
82.975
Espírito Santo
85.920
Goiás
166.761
Maranhão
211.383
Minas Gerais
464.994
Mato Grosso
80.429
Mato Grosso do Sul
57.941
Pará
289.392
Paraíba
142.050
Pernambuco
272.299
Piauí
120.040
Paraná
195.870
Rio de Janeiro
329.001
Rio Grande do Norte
113.229
Rio Grande do Sul
186.541
Rondônia
46.801
Roraima
14.162
Santa Catarina
110.465
Sergipe
78.344
São Paulo
751.648
Tocantins
37.652
Brasil
4.811.338
Acessibilidade
No Enem 2025, foram aprovadas 116.541 solicitações de atendimento especializado. Pessoas com déficit de atenção constituem o perfil com o maior número de pedidos: 41.732, correspondente a 35,81%.
Em seguida, vêm candidatos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), com 26.051 ou 22,35% das solicitações de atendimento especializado. Os inscritos com baixa visão somam 13.430 pessoas (11,52%). Já 9.741 pessoas com deficiência física (8,36%) farão as provas do Enem.
O exame também disponibilizará 164.864 recursos de acessibilidade. Tempo adicional foi o recurso mais requerido (48.546). Em seguida, estão: auxílio para leitura (25.548); correção diferenciada (24.089); e auxílio para transcrição (17.037).
Perfil dos inscritos
Confira aqui o perfil dos inscritos no Enem 2025. A predominância é de mulheres, pessoas pardas e jovens.
Provas
As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 serão aplicadas nos dias 9 e 16 de novembro de 2025, em quase todo o país.
As exceções são os municípios de Belém, Ananindeua e Marituba, no Pará, devido à realização da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém, de 10 a 21 de novembro.
Nas três cidades paraenses, os candidatos do Enem farão as provas nos dias 30 de novembro e 7 de dezembro.
Aos 42 anos, o artista plástico Daniel Freitas expõe seu trabalho com xilogravuras no 69º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, em Curitiba. As peças, produzidas desde 2004 como parte da série Cordel Urbano, retratam transeuntes, pessoas invisibilizadas e povos originários nas grandes metrópoles brasileiras e suas periferias. Com poucas cores, a arte de Daniel prioriza o amarelo, simbolizando sua condição de fotobia.
“O amarelo é também a cor luz do arco-íris. É a cor que está no meio-dia do círculo cromático. Enquanto artista, me encontrei nessa poética. Por ser albino também e ter os cabelos amarelos claros. Estou trazendo a minha vida, a minha história pra poética do meu trabalho”.
Diagnosticado com baixa visão desde o nascimento, ele tem hoje cerca de 20% de capacidade visual em ambos os olhos. “Não tenho ideia do que seja enxergar mais do que enxergo hoje. Tive um pouco de perda visual atualmente em decorrência da idade, natural, algo que, pra mim, tem pesado um pouco”, contou.
Daniel também foi diagnosticado com nistagmo, condição oftalmológica que causa movimentos rápidos, repetitivos e involuntários dos olhos. “Ainda bem que meu cérebro corrige. Não vejo as coisas balançando. Não me incomoda, não atrapalha. O cérebro é incrível. Ele corrige e se adapta a esse tipo de situação”.
Oficinas e aceitação
A trajetória de Daniel também passa por centros de reabilitação para pessoas com deficiência visual. O trabalho começou em 2009, por meio da Associação de Assistência ao Deficiente Visual Laramara, em São Paulo.
“Tive um projeto aprovado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e a contrapartida era dar oficinas de artes. Resolvi dar a oficina para pessoas que enxergam pouco ou nada. Muito pra poder trabalhar a minha própria aceitação enquanto pessoa com deficiência”, afirmou.
“Tive a sorte de nascer em um ateliê de escultura. Lá, minha baixa visão nunca foi uma barreira. Nunca houve nenhum limite posto. Eu não me via como uma pessoa com deficiência visual. Havia uma negação da minha própria parte. Estando com outras pessoas com deficiência visual e compreendendo um pouco esse universo, me aceito mais, me compreendo mais dentro das minhas limitações e reconheço a minha potência”.
Material reciclável
Em suas xilogravuras, Daniel não utiliza madeiras nobres, mas restos de cenário que encontra em caçambas pelas ruas e pedaços de MDF que os amigos guardam porque sabem que servem de matéria-prima expressiva para o artista. “Reutilizo esse material, que normalmente vai pro lixo. Trabalho com ele de novo, ressignificando e dando um novo lugar a ele, que é o espaço da arte”.
Entre os instrumentos utilizados para auxiliar com a baixa visão estão lupas e óculos especificamente projetados para que ourives possam trabalhar em joias. “Uso para trabalhar pequenos detalhes da minha gravura. Sem eles, eu apenas trabalharia contato. Com esse auxílio óptico, consigo ter um resultado e também uma compreensão do que estou gravando ali de forma minuciosa”.
Congresso de Oftalmologia
“Em um lugar repleto de médicos, que estão lidando sempre com diagnósticos muito fechados, muitas vezes, não se tem a compreensão da potência de uma pessoa com deficiência visual. O que ela pode, de fato, atingir ou alcançar dentro de um fazer artístico que é extremamente visual, como o meu trabalho”, destacou Daniel.
“Entendo que a minha forma de me expressar pode, de alguma forma, sensibilizar também os médicos em relação a como eles dão esses diagnósticos, o encaminhamento aos centros de reabilitação, que são pouco conhecidos no Brasil - e os poucos que temos fecham por se acreditar que não há demanda”, concluiu.
Dois símbolos do Rio de Janeiro se juntam e trazem história para o público na exposição 75 Anos do Maracanã: Um senhor estádio a todo vapor, que estreou nesse sábado (30), às 10h, e seguirá até o dia 20 de outubro. A mostra foi instalada no Palácio Tiradentes, onde funcionou a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) até agosto de 2021, quando foi transferida para o prédio do antigo Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj), também no centro do Rio.
A exposição promete emoções que podem vir de memórias ou de aprendizados conforme o público percorrer as obras instaladas. E isso não vale só para os fãs do futebol, conta o colecionador e curador da exposição, Alex Braga, que é dono de 75% do acervo.
"O principal é encontrar, na exposição, uma peça de um show ou de um jogo no Maracanã que você foi com seu pai, e ele não está mais aqui, ou que foi com seu avô, que não está mais aqui. Hoje, você é um adulto. Mas, um dia, seu pai o conduziu para o show de 50 anos de carreira do Roberto Carlos no Maracanã. Às vezes, a pessoa nem gosta de futebol, mas vai se encontrar nesta peça. Ninguém que entra aqui [na exposição] sai no 0x0".
Ao todo, são 430 peças de um acervo raro, que inclui itens como: a cadeira perpétua do estádio da época da sua inauguração, em 1950; a bola utilizada na despedida de Pelé da Seleção Brasileira, em 1971; a medalha do título mundial do Santos; e uma camisa autografada por Garrincha, usada em seu último jogo no estádio, em 1973. Além desses, há tesouros das carreiras de atletas como Zico, Roberto Dinamite, Romário, Renato Gaúcho, Neymar e Maradona.
A exposição também recorda que, nos seus 75 anos, o Maracanã também foi palco para shows e eventos inesquecíveis, entre eles, as visitas do Papa João Paulo II, em 1980 e em 1997; e o show do cantor Frank Sinatra, em 26 de janeiro de 1980.
Das figurinhas às raridades
Uma das pelas que Alex destaca em sua coleção é a camisa da despedida do Garrincha, usada em uma partida festiva, chamada de Jogo da Gratidão, em 1973. Embora fosse nas cores verde e amarela, a camisa não era a oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). No amistoso, os times eram formados por jogadores brasileiros da seleção e estrangeiros que jogavam no Brasil.
“O Fundo Garantia do Atleta Profissional (Fugap) cedeu a camisa para o uniforme específico do jogo, e a seleção brasileira jogou com aquela camisa. [Foram escalados] praticamente todos os jogadores [da seleção da Copa do Mundo] de 1970, com Garrincha no lugar do Jairzinho. Isso foi em 73. Essa camisa é valiosíssima e ainda está autografada pelo Garrincha, que praticamente não dava autógrafos. Ele não gostava”, relatou Alex, lembrando que a comprou há dois anos e meio, de outro colecionador.
A vida de colecionador começou cedo para ele. Alex tinha apenas 7 anos quando se interessou por juntar itens relacionados ao futebol. Em 1978, ano de Copa do Mundo na Argentina, ele morava no bairro de Oswaldo Cruz, zona norte do Rio, onde nasceu e cresceu. A mãe, Maria José, era professora em uma escola municipal e tinha direito a uma cota de amostras grátis de figurinhas de álbuns, que as editoras levavam para distribuir nas escolas.
“Como a gente tinha uma vida financeiramente muito simples, foi o primeiro acesso, o primeiro degrau, ao que era mais barato no mercado de coleção, que é a figurinha de futebol", contou à Agência Brasil. "As minhas primeiras coleções foram aos 7 anos de idade. Dali em diante, eu colecionava coisas acessíveis, e até algumas que não eram do futebol. O hábito de preservar histórias e coisas ligadas ao futebol começou aí”, revelou,
E a mãe não era a única da família que o impulsionou a começar sua coleção. Seu avô, Paulo, quando ia à padaria comprar o pão e o leite do café da manhã, pedia também as tampinhas das garrafas de Coca-Cola, que tinham os rostos dos jogadores da Copa de 1978. Como a família só tinha refrigerantes em aniversários, Alex lembra que ficava feliz quando o avô chegava com um saco cheio de tampinhas para ele.
“Mais tarde, comecei a comprar peças maiores, se comparadas a figurinhas, bonecos e jogos de botão, e a incrementar mais a coleção, na Feira [de Antiguidades] da Praça XV em 2002”, disse.
O hábito de colecionar passou a ter retorno financeiro quando ele passou vender peças sobre Copa do Mundo, Flamengo e jogadores famosos. “Comecei a fazer renda para bancar uma coleção melhor, porque, na minha profissão, até então, não podia tirar do feijão com arroz para fazer coleção. Hoje, a gente vive em uma realidade diferente. A gente vai avançando a cada ano, tenho uma empresa que vende itens de coleção e tenho o nosso acervo para fazer exposições”, comentou.
Mesmo sendo torcedor do Flamengo, ele contou que, na hora de negociar, o lado rubro-negro fica de fora. “No colecionismo e na preservação da história do futebol, não existe clubismo. Então, eu tenho peças do gol de barriga que o Flamengo levou em 1995, peças do gol do Cocada [ex-jogador do Vasco] em 1988 [na final do Campeonato Carioca contra o Flamengo]. Na coleção, a rivalidade some. Eu compro com o mesmo prazer uma peça do Vasco, do Botafogo, do Fluminense, do Garrincha, que representam história. Ali, não é o flamenguista. Ali, é o cara que é vidrado em coleção e por isso tem o acervo”, apontou.
Polo cultural
No dia da estreia e no dia 12 de outubro, a programação terá também visitas teatralizadas, de hora em hora, sobre a história do Maracanã. Para a diretora de Cultura da Alerj, Fernanda Figueiredo, o Palácio Tiradentes, que já é a sede histórica do legislativo, agora também se consolidou como polo cultural do centro do Rio de Janeiro. Nesse sentido, receber a exposição que marca os 75 anos de histórias do Maracanã é fundamental para ampliar a visitação.
“A gente espera receber mais visitantes, afinal, é uma paixão nacional, o futebol”, disse, agradecendo a parceria com o colecionador Alex Braga. “Quem vier conhecer a história do legislativo durante os meses de setembro e outubro também vai conhecer a história do Maracanã”.
O nome de Palácio Tiradentes do prédio histórico não é apenas uma homenagem ao líder da Inconfidência Mineira. Antes de ter a construção atual no estilo neoclássico, o local foi por três dias, a prisão do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes,
Foi de lá que ele partiu para a sua execução, no dia 21 de abril de 1792. Por este episódio, a construção ganhou seu nome e tem uma escultura dde Tiradentes em sua entrada. Já o estádio, um dos cartões-postais da cidade,
A Fundação Nacional de Artes (Funarte), entidade vinculada ao Ministério da Cultura, está com inscrições abertas para o Prêmio Funarte Mestras e Mestres das Artes 2025, que integra o Programa Funarte Memória das Artes.
O objetivo é reconhecer e valorizar mestras e mestres das artes das cinco regiões do Brasil, que atuem como referência em diferentes campos artísticos, como artes visuais, circo, dança, música ou teatro.
As inscrições são gratuitas e ficam abertas até as 17h59 (horário de Brasília) do dia 29 de setembro de 2025.
Esta segunda edição da premiação tem investimento total de R$ 3 milhões.
Cada mestra ou mestre vinculado a uma proposta contemplada no processo de seleção receberá um prêmio de R$ 100 mil.
A chamada vai premiar, ao todo, 30 mestras e mestres das artes, assegurando a concessão mínima de três prêmios em cada uma das cinco regiões do país.
Do total de recursos destinados a este edital, serão reservados, no mínimo, 20% para concorrentes mestras e mestres negras e negros; 10% para concorrentes mestras e mestres indígenas; 10% para concorrentes mestras e mestres com deficiência.
Pelas regras do edital, que foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) na última sexta-feira (29), as propostas devem ser apresentadas exclusivamente por terceiros, não sendo permitida a candidatura direta por quem pode ser contemplado.
Requisitos
Os participantes devem ter idade igual ou superior a 60 anos, atuação no campo artístico por, no mínimo, dez anos no Brasil, e tenham destacada e contínua trajetória artística.
A referência da mestra ou mestre precisa ser reconhecida por organizações da sociedade civil e da comunidade, com caráter coletivo e institucional, cuja atuação seja relevante para o desenvolvimento das artes brasileiras em seus territórios.
O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo, de 88 anos, morreu na madrugada deste sábado (30) após complicações causadas por um caso grave de pneumonia. Ele estava internado desde o dia 11 de agosto em uma unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. O velório será na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, a partir de meio-dia.
Verissimo deixa a esposa, Lúcia Helena Massa, e três filhos: Pedro, Fernanda e Mariana Verissimo. Ele tinha mal de Parkinson, problemas cardíacos e sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 2021. Um ano depois, recebeu um marca-passo no coração.
Filho do escritor Érico Verissimo, Luis Fernando publicou mais de 80 títulos, entre eles As Mentiras que os Homens Contam, O Popular: Crônicas ou Coisa Parecida, A Grande Mulher Nua e Ed Mort e Outras Histórias.
Foram as crônicas e os contos que o tornaram um dos escritores contemporâneos mais populares no país. O Analista de Bagé, lançado em 1981, teve a primeira edição esgotada em uma semana.
O escritor construiu uma trajetória profissional rica, com atuação em diferentes áreas e produção em vários formatos. Trabalhou como cartunista, tradutor, roteirista, publicitário, revisor, dramaturgo e romancista. Sua obra é marcada pelo bom humor, assertividade e crítica. Além das palavras, foi um amante da música, dedicado à prática do saxofone.
Em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil, ele contou como iniciou "tarde" na carreira de escritor, após começar a trabalhar na redação do jornal Zero Hora, na década de 1960.
"Até os 30 anos eu não tinha a menor ideia de ser escritor, muito menos jornalista. Eu fiz de tudo, e nada deu certo. Aí quando eu comecei a trabalhar em jornal - e naquela época não precisava de diploma de jornalista - foi quando eu descobri a minha vocação. Sempre li muito, mas nunca tinha escrito nada. Então, eu sou um caso meio atípico", disse.
Com fama de ser um homem calado, Verissimo costumava dizer que não era ele que falava pouco, "os outros é que falam muito". Em 2017, quando tinha chegado aos 80 anos, ele disse em entrevista ao programa Conversa com Rosean Kennedy, da TV Brasil, como gostaria de ser lembrado.
"Gostaria de ser lembrado pelo o que eu fiz, pela minha obra, se é que posso chamar de obra, mas pelos meus livros. E, talvez, pelo solo de um saxofone, um blues de saxofone bem acabado", contou.
Na mesma entrevista ele disse que tinha uma fantasia de ser conhecido e viver apenas da música, que era sua paixão. E aconselhou que a vida não deve ser levada tão a sério.
"No fim, pensando bem, a vida é uma grande piada. Acontece tudo isso com a gente, e a gente morre...que piada, né? Que piada de mau gosto. Mas acho que temos que encarar isso com uma certa resignação, uma certa bonomia [bondade]".
A guitarrada foi reconhecida nessa sexta-feira (29), oficialmente, como uma manifestação da cultura nacional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 15.192 que valoriza a guitarrada como expressão cultural brasileira.
Esse gênero musical instrumental surgiu no Pará, na década de 1970, e é fruto da fusão de ritmos regionais como o carimbó e o siriá, com gêneros de origem caribenha como a cúmbia, o mambo, o merengue e o zouk.
Além disso, também é considerado inspiração para outros ritmos musicais populares aqui no Brasil, como o brega pop e a lambada.
O marco inicial da guitarrada no Brasil é LP “Lambadas das Quebradas”, do paraense Mestre Vieira. E como o próprio nome já diz, é a guitarra que dita a melodia central da manifestação cultural, também conhecida como Lambada Instrumental; as apresentações são comandadas predominantemente por um solista.
Mestre Vieira teve seu trabalho influenciado pelo choro ainda criança. Os primeiros contatos com a guitarra elétrica aconteceram nos anos 70, após ter passado por uma série de instrumentos de corda como bandolim, banjo, cavaquinho, violão e além dos instrumentos de sopro.
Ele gravou 18 discos ao longo da carreira e é considerado por muitos músicos e pesquisadores um dos pilares da música paraense.
Em 2023, a Assembleia Legislativa do Pará já havia aprovado o projeto de lei que define o dia 29 de outubro como 'Dia Estadual da Guitarrada”, a data celebra o aniversário de Mestre Vieira, falecido em fevereiro de 2018, aos 83 anos.
Se há corais nos Céus, um deles acaba de ganhar uma grande voz...
Na noite dessa sexta-feira (29/8/2025), na cidade de Caxias, no Leste Maranhense, espalhou-se uma nota (que não era musical, mas informativa), dizendo que um cantor se “encantara” – morreu. E, com sua morte, não só foi levada a elevada voz de quem morreu: também foi emudecida a nossa...
Mais uma vez, os da “nossa” geração – e, sobretudo, de nosso relacionamento de amizade e conterraneidade –, mais uma vez paga-se o preço da permanência no tempo, que é o não escapar dele.
Nascido em 25 de março de 1951, Raimundo Nonato Ressurreição morre aos74 anos, 5 meses e 4 dias de vida vivida e vívida.
Jeitão tranquilo, bonachão, alegre, nestes últimos dias tentava a recuperação de sua saúde em hospital caxiense. Amigos não tardaram a atender ao primeiro pedido do professor Nonato Ressurreição (entre outras disciplinas, deu aulas de Inglês em escola de Caxias). Ele precisava de doação de sangue, e logo que isso caiu nos grupos e redes sociais muita gente se manifestou, foi ao hemocentro e alguns até postaram fotos confirmando a saudável, humana e humanitária atitude. Nosso amigo comum Irmão Inaldo, responsável pelo conhecido “blog” que leva seu nome, reproduziu “in totum”, em 6/8/2025, o texto e ilustração que fiz, cerrando fileiras, trabalhando juntos, em prol do justo direito de o amigo Ressurreição restabelecer-se e dedicar ainda uma porção de anos em bonomia e afetuosidade para com aqueles que privaram de sua amizade.
Pesarosamente, a partir de ontem, “Ressurreição” deixa de ser um sobrenome humano e torna-se graça divina, que, cremos, (e)levará o querido Conterrâneo a ressurgir nos Céus.
*
Raimundo Ressurreição e eu costumávamos conversar em ambientes tradicionais de Caxias, entre eles o bar do Excelsior Hotel. Foi em um destes encontros que ele, sabendo de meus esforços de divulgação da vida e obra do dramaturgo Ubirajara Fidalgo (Caxias, 1949-Rio de Janeiro, 1986), contou-me que fora amigo dele e relatou passagens de momentos comuns entre eles, dois talentosos caxienses. Quanto eu morava fora de nossa terra natal, ele me alcançava via telefone e falávamos sobre a cidade, sua gente, história e cultura.
Em 2019 Ressurreição confiou-me os originais de duas obras suas que ele desejava publicar. Antes, pedia-me a leitura de ambas, a revisão linguística, a análise e, “se tiverem mérito” (expressão dele), pedia-me que escrevesse o prefácio ou apresentação de ambas e cuidasse da edição e acompanhamento dos trabalhos gráfico-editoriais até a impressão, acabamento e entrega dos exemplares. Ele próprio pediu um tempo, enquanto deslindaria algo a ver com algo relacionado a alguma coisa legada aos herdeiros por sua mãe, Dona Lurdes.
Os livros são ótimos. Ótimos e necessários. Um deles é “A Música na Cidade de Caxias”. Trata-se da ampliação de um também rico trabalho que Ressurreição assinou no enciclopédico livro “Cartografias Invisíveis – Saberes e Sentires de Caxias”, obra de referência pluriautoral e igualmente indispensável na historiografia da “Princesa do Sertão Maranhense”, lançada há exatos dez anos, em 2015. Em “Nota do Autor” – que Raimundo Ressurreição cuidou logo de enfeixar antes das primeiras páginas do texto principal –, ele escreveu: “A obra que agora iniciamos já foi lançada, em parte, no livro ‘Cartografias Invisíveis – Saberes e Sentires de Caxias’, mas aqui estamos disponibilizando uma obra completa, não que o já editado seja incompleta, não, mas faltaram os pormenores como as viagens ou o que rolava nelas, as pegadinhas praticadas por um músico contra o outro, as brigas, as revanches, a rivalidade de uma banda contra outra, as estratégias dos empresários para catapultar a sua banda e diminuir a concorrente... Como se vê, são muitas as informações que completarão o seu conhecimento sobre o que foi e o que é a ‘A MÚSICA NA CIDADE DE CAXIAS’”.
Das referências (pré-)históricas de 40 mil anos atrás, quando se acredita que é a idade do primeiro instrumento musical – uma espécie de flauta, descoberta na França –, a até a exclusiva e enigmática “aDiretoria” [sic], um ajuntamento de nove (oito – agora, sete – em Caxias, um em Brasília) “experts” e adoradores da Música, a obra musical de Raimundo Ressurreição é um detalhado portfólio de bandas, grupos, conjuntos, seresteiros, “regionais” e outros modos de pessoas, isoladas e/ou coletivamente, fazerem e trazerem até nós sons em harmonia, sejam vozes, sejam instrumentos.
O outro livro é um romance. Muito bom. Chama-se “Redenção”, e o Autor vai logo alertando: “Todos os personagens deste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas ou acontecimentos da vida real é mera coincidência.” Mas não há como não lembrar que os personagens “Lurdes”, “Ricardo” e “Nonato”, entre outros, têm o mesmo nome da mãe, de um irmão e da mãe do Autor, ante o que, como se poderá verificar, outros antropônimos e situações se reconhecerão como nomes e ocorrências e ambientes do “locus” familiar, de amigos e conhecidos, de gentes da cidade e região etc. etc. Tomei a liberdade de sugerir uma outra “pegada”, um “reforço” na redação do parágrafo final do romance, para não esmaecer a sensação literariamente agradável do leitor que se atentará à grande construção prosaica, ficcional, do ainda não conhecido Autor de obras “a solo”, isto é, concebidas e escritas por somente ele, Raimundo Nonato Ressurreição.
Ano passado, 2024, Ressurreição e eu conversamos em sua residência e, entre as alegrias do reencontro e proximidade de ideias e ideais, ele me disse não demorar a decisão de publicar seus livros. Exatamente em um mês de agosto, há seis anos, enviei para o talentoso caxiense o arquivo e cópia de seus trabalhos. Ele iria definir o “momentum”. Um pai sabe a hora de apresentar à sociedade seus filhos de celulose, tinta e talento...
*
Às 21h09 dessa sexta-feira (29/8), a filha Erika agradeceu por mensagem: “Aqui é Erika, filha do Ressurreição. Quero agradecer a todos que oraram pela recuperação dele. Infelizmente, nosso guerreiro não resistiu. Peço orações para que ele descanse em paz junto a nosso Senhor”.
Ex-alunos lamentaram. Lembraram do Ressurreição professor. Outros lembraram do Ressurreição vocalista, como na banda “Os Temíveis”, criada em 1968 e a partir de 1973, com a fusão com o conjunto “Os Naturais”, redenominada “Grupo Som HR”, que tocou músicas e corações até 1989.
Nas redes sociais, outros amigos postaram “links” de músicas que eram do gosto do pesquisador e colecionador musical Nonato Ressurreição. Uma dessas canções é “Have You Ever Seen the Rain?”, trecho inglês da frase que continua com “comin' down on a sunny day?” – algo como “Você já viu a chuva cair em um dia ensolarado?”. (Bom, eu já, e na minha infância diziam: “sol e chuva, casamento da raposa”). Criancices à parte, o que o californiano oitentão John Cameron Fogerty, cantor, guitarrista e compositor, fundador e ex-líder da banda de “country rock” Creedence Clearwater Revival, queria deixar entrever, de modo (en)cantador, era a contradição existente no grupo musical: a banda fazia sucesso em todo o mundo, enquanto os músicos sofriam conflitos interiores... Ou seja, a típica afirmação/constatação de que “sucesso não é sinônimo de felicidade”, ou que “as aparências enganam”. Nada tão humano, tão mundano...
Ressurreição viu chegar à maioridade (18 anos) o Canta Folia, evento criado por uma turma de amigos, entre os quais o próprio Ressurreição e Edivá Moura de Araújo, o Cantarele, dono do bar de mesmo nome, que está há mais 40 anos – desde 1º de junho de 1984 – no mesmo lugar, ao lado da Igreja de São Benedito e Praça Vespasiano Ramos, no centro de Caxias.
Raimundo Nonato Ressurreição também foi dedicado servidor público. No início dos anos 2000 era assegurador de disseminação de tecnologia: foi coordenador do Núcleo Tecnológico de Caxias do Programa de Informática do Maranhão (Proinfo), de capacitação de professores e preparação de alunos no variado e inovador mundo da Computação / Informática. Na década de 1980 era um dos diretores regionais da Associação dos Professores do Estado do Maranhão (Apema), entidade que, em 25 de janeiro de 1989, mudou de “status”, transformada no Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica das Redes Públicas Estadual e Municipais do Estado do Maranhão (SINPROESEMMA). Junto com Nonato Ressurreição na diretoria, seus colegas professores Dalva Almeida, Joaquim Ribeiro, Mirian Sousa e Izaura Silva, esta que se transferiu para Imperatriz (MA), onde aposentou-se como professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA).
Do amigo Raimundo Ressurreição guardo o registro de sua última mensagem privada, antes de públicos agradecimentos que ele deixou em grupos de WhatsApp pelo nosso envolvimento em favor da campanha de doação de sangue. Ao saber que em Imperatriz a Academia de Letras decidira dar meu nome à Biblioteca da Entidade, Ressurreição escreveu: “Mais do que merecido; não poderiam escolher e homenagear ninguém mais merecedor, por toda a sua trajetória cultural. Parabéns, meu amigo, Deus continue lhe dando os Louros em vida!”
Professor, pesquisador, colecionador, historiador musical, cantor, romancista, servidor e gestor público, ativista sindical... De Raimundo Ressurreição esses misteres da vida agora são só lembranças e legado ante os mistérios da morte.
Ressurreição, a partir de agora, deixa de ser sobrenome e torna-se realidade supra-humana para aqueles que, como Raimundo Nonato, mudaram de Vida, mas continuam, na Eternidade, torcendo, zelando, orando pelos Familiares e Amigos que ainda resistem neste lado de cá da Existência.
Paz, Luz... e Ressurreição.
* EDMILSON SANCHES
Imagens:
O professor, escritor, historiador musical e cantor Raimundo Ressurreição e suas obras, em pré-diagramação de Edmilson Sanches, a pedido do autor.
A temporada de 2025 do Projeto Arena Alegria será encerrada neste sábado (30), com a realização de uma grande ação gratuita de diversão, cultura e lazer para a comunidade do bairro da Vila Nova, localizado na área Itaqui-Bacanga. A Orla do Bonfim vai se transformar em uma espécie de “circo ao ar livre”, com gincanas, brincadeiras, apresentações de mágica, interação com palhaço e shows para toda a família. As atividades terão início às 16h.
O Arena Alegria é um projeto criado pela produtora cultural Cássia Melo e, em sua quarta edição, conta com os patrocínios do Ministério da Cultura e do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Em 2025, a iniciativa realizou eventos em bairros da região do Itaqui-Bacanga, uma das mais populosas da capital maranhense: Cidade Nova, Vila Embratel e Vila Nova.
"A gente optou por voltar com o Arena Alegria em três praças, em regiões onde o projeto ainda não havia acontecido. São espaços onde pretendemos estimular a ocupação pela comunidade. Nesse momento onde a preocupação dos pais é a exclusividade da tecnologia na vida das crianças, a gente deixa essa mensagem da ocupação de espaços públicos com brincadeiras, reunindo toda a comunidade com interação de forma real das pessoas, não só em redes sociais e em espaços tecnológicos. Queremos que as famílias se divirtam juntas, aproveitem essa oportunidade da melhor maneira possível”, explicou Cássia Melo, idealizadora e diretora-geral do projeto.
Programação para todos
O Arena Alegria é um projeto para todos, onde as crianças e suas famílias poderão participar gratuitamente de várias atividades e acompanhar apresentações culturais. Nos dias dos eventos, a programação terá início às 16h e vai até às 20h, contando com uma série de gincanas e brincadeiras, auxiliadas por uma equipe que ajudará as crianças a desenvolverem suas habilidades nessas atividades coletivas. Uma das principais atrações do projeto, o palhaço mímico Gilson César vai interagir com a garotada durante todo o evento.
Logo após as gincanas, a programação do Arena Alegria terá continuidade com a participação do mágico Viktor Aiko e a apresentação da banda Vagalume, que encerra o dia de muita diversão. A cantora Camila Reis também irá se apresentar na Orla do Bonfim, na Vila Nova. Vale ressaltar que o Arena Alegria terá cadeiras reservadas para idosos e pessoas com mobilidade reduzida, além de intérprete de Libras.
“Acreditamos que o Arena Alegria é um modelo importante para todo o Brasil, propondo e realizando projetos onde se perceba a necessidade social e contribua para essas consciências sobre a ocupação dos locais públicos, estimular famílias a brincar mais com seus filhos, além de gerar emprego e renda. Agradecemos ao patrocínio do Ministério da Cultura e do Instituto Cultural Vale nesse projeto e também os apoios da Secretaria Municipal de Cultura e das instituições ligadas às comunidades. Tenho certeza que encerraremos esta temporada do Arena Alegria com muita animação e energia positiva que vão mudar o coração de muitas pessoas", concluiu Cássia Melo.
Durante o projeto, será realizada, ainda, uma coleta seletiva por parte da empresa RL Serviço Geral para conscientizar as pessoas sobre o descarte correto de lixo. Todo o material recolhido será direcionado para entidades que trabalham com o reuso de materiais. Nesta edição, o projeto contará ainda com o apoio de comunidades parceiras, como a Associação Mulheres Unidas Cidade Nova e o GUME (Grupo de Mulheres Empreendedoras), da Vila Nova.
Todas as informações, atrações e programação da quarta edição do Arena Alegria estão disponíveis no Instagram oficial do projeto (@projetoarenaalegria).
O Ministério da Educação (MEC) divulgou, nesta sexta-feira (29), o resultado da lista de espera do processo seletivo do Programa Universidade para Todos (Prouni), referente ao segundo semestre de 2025. Os candidatos podem conferir a lista pelo Portal Único de Acesso ao Ensino Superior, na aba do Prouni.
A lista de espera do Prouni é voltada aos inscritos que não foram selecionados nas chamadas regulares do programa ou que foram reprovados por não formação de turma na instituição de ensino superior escolhida.
A classificação observa a modalidade de concorrência escolhida na inscrição, o curso, turno, local de oferta e instituição de ensino superior.
Próximas etapas
O estudante que estiver na lista de espera deverá comprovar as informações prestadas no momento da inscrição no ProUni, a partir desta sexta-feira (29) até 5 de setembro. A entrega dos documentos do estudante pré-selecionado pode ser feita presencialmente, na faculdade privada, ou por meio eletrônico, diretamente na página da internet da entidade. A instituição deverá emitir documento de comprovação de entrega da documentação ao recebê-la do candidato pré-selecionado.
No prazo de 30 de agosto a 12 de setembro, as instituições de ensino participantes deverão anunciar se o candidato teve o registro reprovado ou aprovado. Neste último caso, deverá ser a emissão do termo de concessão de bolsa.
Vagas e cursos
Para o segundo semestre de 2025, o ProUni ofereceu mais de 211 mil bolsas. Desse total, cerca de 118 mil eram integrais e 93 mil, parciais, que custeiam metade da mensalidade. As bolsas são destinadas a mais de 370 cursos de 887 instituições privadas de ensino superior.
O curso superior de administração teve a maior oferta de oportunidades de bolsas (13.774), sendo 9.275 bolsas integrais e 4.499 parciais. Em seguida, aparecem os cursos de direito, com 13.152 bolsas; pedagogia (11.339 bolsas); e educação física (8.939 bolsas).
Para o curso de medicina, foram ofertadas 1.159 bolsas, sendo 988 integrais e 171 parciais.
Sobre o Prouni
Em 2025, o Prouni comemora 20 anos e contabiliza mais de 3,5 milhões de estudantes beneficiados desde a primeira edição, em 2005. O programa oferece bolsas de estudo parciais (50%) e integrais a estudantes de baixa renda que tenham concluído o ensino médio, preferencialmente, em instituições públicas ou em colégios privados na condição de bolsista. As regras desta edição estão disponíveis no edital.
Além disso, segundo o Censo da Educação Superior de 2023, ao se analisar os efeitos do Prouni na taxa de conclusão de curso superior, verificou-se que 58% dos participantes concluíram a graduação.
Uma pesquisa do Instituto Sonho Grande aponta que estudantes de escolas estaduais com oferta de ensino médio integral (EMI) tiveram desempenho geral no Exame Nacional do ensino Médio (Enem) de 2024 mais alto do que o de alunos de unidades de turno parcial. Para ser considerada como escola com EMI, a carga horária deve ser igual ou superior a sete horas diárias ou 35 horas semanais.
A partir da análise dos microdados da edição de 2024 do exame, que é aplicado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o levantamento revelou que a maior diferença está entre as notas da prova de redação do Enem. Em média, estudantes de escolas que oferecem tempo integral tiveram 12 pontos a mais na prova discursiva, que vai de 0 a 1.000 pontos. A diferença sobe para 27 pontos, quando consideradas as escolas em que 100% das matrículas são na modalidade integral. O desempenho também foi superior na área de matemática e suas tecnologias: cinco pontos a mais em relação a escolas regulares.
Ana Paula
A diretora-executiva do Instituto Sonho Grande, Ana Paula Pereira, defendeu que a maior oferta de educação integral implica em melhores resultados e gera mais oportunidades. “Esses dados vão ao encontro ao que já vínhamos observando em outras pesquisas: estudantes do ensino médio integral aprendem mais, quando comparados aos de tempo parcial”, afirmou em entrevista à Agência Brasil. A entidade atua, em parceria com estados, para melhorar a qualidade de aprendizagem de jovens do ensino médio público brasileiro.
Força no Nordeste
O Censo Escolar 2024 indica que as cinco maiores proporções de alunos em tempo integral matriculados na rede pública de ensino médio estão no Nordeste: Pernambuco (69,6%); Ceará (54,6%); Paraíba (54,5%); Piauí (54,1%) e Sergipe (35,2%). Na outra ponta, o Distrito Federal (6,4%) e Roraima (8,1%) têm as menores proporções.
Na região Nordeste, as escolas que ofertam o integral têm médias mais altas na prova de redação e nas quatro áreas do conhecimento avaliadas no Enem: linguagens, códigos e suas tecnologias, ciências humanas e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias e matemática e suas tecnologias.
A média da nota geral dos estudantes de ensino integral no Enem na região supera a de estudantes de turno parcial em 18 pontos. Na prova de redação, essa diferença é de 48 pontos.
Em Pernambuco, o estudo indica que a performance dos estudantes na prova de redação, no caso das escolas com oferta 100% integral, é 68 pontos mais alta do que os demais. Ana Paula Pereira acredita que o bom rendimento dos estudantes pernambucanos é resultado do pioneirismo da rede estadual na implantação do modelo integral em suas escolas. Atualmente, a política já está consolidada na rede, com grande parte das escolas funcionando em horário ampliado.
Já no Ceará, a diferença aumenta para 134 pontos. Entre as 100 escolas cearenses de ensino médio com maiores notas no Enem 2024, 98 delas contam com oferta de ensino médio integral. Padrão semelhante ao que ocorreu em Pernambuco (89 escolas com EMI) e na Paraíba (84 com EMI).
Em relação ao Ceará, Ana Paula Pereira lembra que o estado também investe há anos na ampliação das jornadas escolares. Para ela, nas duas redes, foi dada prioridade política ao modelo ao longo dos anos. “Os governadores colocaram o integral como agenda central, garantindo planejamento consistente, formação de professores e acompanhamento pedagógico contínuo. Com isso, o modelo deixou de ser uma experiência pontual e se consolidou em larga escala, o que gera impacto coletivo”, avaliou.
Maior participação no Enem
Já o estudo intitulado "Efeitos do Ensino Médio em Tempo Integral sobre os Indicadores Educacionais dos Alunos", dos economistas Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão, realizado em parceria com o Instituto Natura, mostrou que alunos de escolas de ensino médio em tempo integral têm 16,5% mais participação no Enem do que os demais Neste levantamento, que leva em conta dados de 2017 a 2019, as notas dos alunos de escolas de ensino médio em tempo integral também são mais altas do que os estudantes de meio período, principalmente em redação, com 29 pontos a mais.
A superintendente de Políticas Educacionais para o Brasil do Instituto Natura, Maria Slemenson, defende que o ensino médio integral é a política pública em andamento no Brasil que tem mostrado maior potencial de transformação. Ela afirma que o modelo é um caminho promissor para o país avançar na construção de uma sociedade mais próspera e justa.
A diretora do Instituto Sonho Grande destaca que, para além da aprendizagem, estudos indicam que a educação em tempo integral melhora o futuro profissional, uma vez que os alunos destas unidades têm maior chance de entrar no ensino superior e no mercado de trabalho, além de alcançarem salários mais altos e empregos mais qualificados. Há, também, a redução da violência, dos casos de desnutrição, anemia, transtornos de comportamento, gravidez na adolescência e abuso de substâncias, indicam as pesquisas.
"Quando olhamos para esse conjunto de evidências, fica claro que o Ensino Médio Integral não é apenas uma política educacional, mas uma estratégia de desenvolvimento social e econômico para o Brasil", disse.
Desafios
Segundo dados do Censo Escolar, entre 2022 e 2024, considerando todas as etapas da educação básica (educação infantil, ensinos fundamental e médio), houve um aumento no percentual de matrículas em tempo integral de 18,2% para 22,9%.
Mesmo com o crescimento, o resultado ficou abaixo da meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que estabeleceu para 2024 um patamar de 25% das matrículas da educação básica em tempo integral.
Se considerada apenas a evolução da proporção de alunos em tempo integral matriculados no ensino médio, entre 2020 e 2024, o Brasil saltou de 14,1% para 24,2%.
A diretora-executiva do Instituto Sonho Grande, Ana Paula Pereira, apontou os três principais desafios para a consolidação da política de ampliação do ensino integral. O primeiro deles é o financiamento público contínuo - seja por meio de programas federais, como o 'Escola em Tempo Integral', seja por mecanismos como o do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que prevê repasses diferenciados para matrículas em tempo integral.
Outro fator importante apontado pela especialista é a necessidade de apoio direto aos estudantes em situação de maior vulnerabilidade socioeconômica, com benefícios financeiros que estimulem a atração e a permanência dos alunos nas escolas. Ela mencionou o Programa Pé-de-Meia, do Ministério da Educação (MEC), e outras iniciativas estaduais que permitem aos jovens maior dedicação aos estudos.
Por fim, ela explica que as redes estaduais de educação devem planejar e reorganizar suas estruturas para ampliar a oferta de escolas e vagas de forma consistente. Para Ana Paula, a continuidade da expansão depende de governadores e secretários de educação manterem uma agenda estratégica, garantindo consistência ao longo do tempo. "É um processo gradual e cada estado parte de um ponto diferente, com contextos e capacidades distintas".
Escola em tempo integral
O Programa Escola em Tempo Integral, lançado pelo MEC em 2023, tem a meta de registrar, até o fim de 2026, cerca de 3,2 milhões de nova matrículas nesta modalidade de ensino em todas as etapas da educação básica. O objetivo da política pública é promover o desenvolvimento dos estudantes e melhorar os indicadores nacionais de aprendizagem.
Para alcançar o objetivo, o governo federal oferece apoio técnico e financeiro a estados e municípios para a ampliação do tempo integral em todas as etapas da educação básica, com jornada educacional igual ou superior a sete horas diárias ou 35 horas semanais.
A representante do instituto entende que o programa federal é responsável por espalhar a referência de ensino integral pelo país, antes restrita a algumas redes.
"Essas políticas públicas são fundamentais porque dão estabilidade à educação integral, ajudando a transformar o modelo em política de Estado, menos sujeita à descontinuidade. Ao mesmo tempo, posiciona o integral como prioridade nacional e viabiliza a adoção de políticas públicas robustas por redes com diferentes perfis e disponibilidade de recursos", afirmou.
Porém, ela defende que a meta brasileira estabelecida para o ensino em tempo integral para 2035 seja mais ambiciosa. "No mínimo 50% das matrículas na educação em tempo integral e 70% das escolas em tempo integral. E que essa expansão venha acompanhada de duas premissas: alcançar estudantes historicamente mais vulnerabilizados e assegurar diretrizes pedagógicas que garantam o desenvolvimento integral".
A especialista destaca ainda que o modelo deve ir além da simples ampliação da jornada. "A carga horária estendida sem revisão de modelo pedagógico não produz resultados melhores. O foco deve estar em como esse modelo pedagógico cria um ambiente mais acolhedor, no qual o jovem se reconhece e encontra sentido para aprender".