Skip to content

Lembrando papai… NO VELÓRIO DO MESTRE*

Estamos pensando no NAZARENO. Pensamento de respeito e de veneração. E é Dele que nos vem as grandes lições de solidariedade humana. É Dele que nos vem a vibração cívica dos ensinamentos mais edificantes e mais construtivos. Ditou uma filosofia nova para o mundo, ensinando-nos a amar uns aos outros. É a lição da fraternização dos povos. E, em toda a Sua vida, marcos indeléveis, impagáveis de Sua pregação humanística.  Sua doutrina filosófica. Seu Verbo incandescente condenando os processos materialistas dos governos prepotentes. Dele, a grandiosidade da palavra luminosa despertando, nos homens, o sentido profundo de lutar pela liberdade dos pensamentos mais corajosos, mais amplos, mais liberais contra os processos opressores, humilhantes, usurpadores do Direito e da Justiça, contra um estado de privilégios, de castas, de selecionadas estruturas políticas nascidas e aproveitadas para contar a rebelião do desenvolvimento político, econômico e sociais da época.

Sim. Estamos pensando Nele. Ele que a tudo renunciou para demorar-se entre os homens e plantar a semente da restauração dos hábitos e dos costumes daquele tempo, enfrentando a turba enfurecida dos seus apedrejadores, dos que sentiram a sua palavra e compreenderam que, Nele, havia a resistência para libertar, a liberdade para construir.

Estamos pensando Nele. Ele que curou os doentes, que fez os cegos enxergarem, os surdos ouviram, os paralíticos andarem. Ele que ressuscitou os mortos. Ele que foi buscar, no meio dos humildes pescadores, os seus discípulos, seguidores que foram da Sua Filosofia, dos ensinamentos imorredouros.

Sim. Estamos pensando Nele. Ele que veio dos mistérios dos montes distantes, peregrino das suas renúncias, que atravessou vales, desertos para não faltar ao encontro com João Batista, nas águas do Jordão. Ele que surgiu das noites eternais das suas lutas íntimas, das suas vigílias, iluminado pela luz sagrada de todas as ciências, desceu dos Montes Perdidos ao longe e, com a túnica branca dos apostolados da Fé, veio, com a serenidade dos fortes, ensinar aos homens a Doutrina do Amor que renuncia a tudo para a tudo construir de novo, visando a unificação duma Humanidade que se debatia aos caprichos duma estrutura político-social e econômica prepotente e escravizadora: “Daí de César o que é de César!”

Sim. Estamos pensando Nele. Ele que arrancou do apedrejamento a mulher adúltera, advertindo os seus perseguidores. “Quem não tiver pecados que lhe atire a primeira pedra”. Ele que enfrentou os Doutores da Lei, nas sinagogas, corrigindo as interpretações dos trechos. Ele que expulsou dos vendilhões do Templo – aqui é a casa do Pai –, que ensinou aos homens a enfrentar as dificuldades com a lição da resistência, com o Verbo das parábolas apontando novos rumos para os povos. Ele que enfrentou uma burguesia desenfreada, petulante e agressiva, que alterou todo um sistema governamental desordenado e que se deixou prender para ir até ao Gólgota numa demonstração de coragem, de resignação, de resistência moral, de amor aos seus semelhantes. Ele que, morrendo na Cruz, ressuscitava para a Vida Eterna. E deixava, no Seu Sermão da Montanha, os alicerces construtivos dos seus ensinamentos, a sua Doutrina Filosófica.

Jesus, mais uma vez, não estarei na Vossa Procissão de Senhor Morto. Não. É que eu T’O tenho vivo em mim.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 10 de abril de 1968 (quarta-feira).