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Lembrando papai… O DELEGADO E OS JORNALISTAS*

1 – Há muito tempo sem a gente compreender bem o que era aquilo. Uma identificação difícil. Entretanto, lá estavam legalizados os poucos jornalistas. Mas, contra este pouco, havia um muito de “estranhos confrades”. E cá fora, olhando a mistura, os poucos que eram, que estavam atuando na imprensa, escrevendo, produzindo. Mas, lá no tal Sindicato, havia mesmo uma quantidade anulando a presença da qualidade. Existe a turma do trabalho, da profissão, ganhando salário-fome. Era assim. Muito tempo assim, ameaçador e terrivelmente assim.

2 – A Carteira Profissional era fornecida sem cuidados. Uma facilidade para os estranhos e uma dificuldade para os que estavam na função. Uma coisa sórdida. E cá fora, a gente dando de cara com os “correligionários”, os “confrades”! Os “colegas”, os “companheiros”!

3 – Era assim. E a gente de fora, aguentando isto, olhando o penetra, o boi com a marca diferente! E havia a culpa formal contra o Sindicato! Mas o fato é que, quando o “cliente” aparecia, já era munido do “papelório exigido”, a documentação certa, regulamentada, assim parece, pela Delegacia Regional do Trabalho. A culpa, se é que “havia, estava com os donos das empresas jornalísticas, estava com a Delegacia Regional. Entretanto, o “pau cantava” na Direção do Sindicato de Imprensa.

4 – A imoralidade desenvolveu-se. Ampliou-se. Tomou rumos diversos. Estava no auge. Com o dr. Paulo de Oliveira, no que sabemos, houve a primeira reação. Paulo esperneou. Chegou a tomar as primeiras medidas repressoras. Mas o Paulo deixou a vida. E a imoralidade continuava em andamento. Prosseguia. Duma feita, casualmente, alguém nos mostrava a lista dos jornalistas que funcionavam no Sindicato. Enorme. Tanta gente desconhecida. Mas, com os beneficiados, tudo azul, tudo bem. Gozavam de todas as vantagens e nem se apercebiam de que havia, por aí, um processo revolucionário tentando corrigir tudo isto com pintas bem nítidas de “subversivo” e de “corrupção”. Nada. A revolução não iria tomar conhecimento dos “fantasmas” da imprensa indigna!

Mas, para substituir a vaga deixada pelo Paulo Oliveira, veio o poeta e jornalista Clóvis Pereira Ramos. E, logo depois, José Chagas, numa das suas crônicas, apertava o cerco. O dr. Clóvis Ramos passou para a ação imediata. O jornalista Edson Vidigal atarraxou os parafusos numa série de denúncias que atingiram, em cheio, o objetivo: devassa no Sindicato. E a “Operação Limpeza” foi fulminante. O delegado regional investiu. Sereno, inflexível, passou a examinar os processos e a exigir a “duras provas” e intimar, com urgência, a presença dos “bichos” para esclarecer, para firmar a identificação certa. As provas da condição de jornalista, possuindo também carteira do Ministério, estão passando por um reexame total. E, no fim, vão ficar mesmo os autênticos!

5 – Tudo isto com segurança. Com imparcialidade. Com justeza. Nada de concessões. Nada de tolerâncias. Nada de considerações. O que está em “pauta” é corrigir e jogar fora os intrusos que eram muitos, que eram mais dos que de fato são, que estão dentro dos jornais, trabalhando, exercendo a profissão. E o Ministério do Trabalho tem prestigiado o ato da “correção profissional”. Um grupo de trabalho especial está funcionando, revendo tudo, completando a “obra saneadora”.

6 – Aqui, a Delegacia do Trabalho vem dando “duro”. Um trabalho amplo, intensivo, pondo a “casa dos jornalistas” em ordem. Antigamente, a gente ficava surpreendido: “Você é jornalista? E o CARA metia na cara da gente a carteirinha bonita, vistosa! Era assim. Era o esbanjamento. A licenciosidade. E dizem que há por aí a grita. O sujeito que se convenceu, pelo hábito de olhar a carteira, que é mesmo jornalista! Gente criando caso. Na luta para não perder a “facilidade”. Na luta para se convencer a ele mesmo que não é, que nunca foi jornalista! Que diabo!

7 – Mas é justamente com o Clóvis Ramos que está a luta aberta, que está a grandiosidade da ação moralizadora. Não se lhe pode negar isto. E está na hora dos que sendo jornalistas procurarem assegurar a legalidade da profissão. Não há mais o entulho. Está na hora de se entrar para o Sindicato. E é o que vamos fazer.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”,  28 de novembro de 1965 (domingo).