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LEMBRANDO PAPAI… O ÊXITO DE UMA EXPOSIÇÃO*

A exposição de pintura realizada no edifício Emílio Murad pelos artistas maranhenses Maia Ramos, Newton Pavão e A. Garcês e que contou com a presença do jovem escultor Péricles, devemos reafirmar, aqui, que alcançou o êxito previsto.

Sentíamos que haveria, para os expositores, a homenagem cativante dos aplausos, a presença da sociedade maranhense, do povo, dos nossos intelectuais. Contávamos com interesse do público para rever os quadros de Newton Pavão e mais para tomar conhecimento da revelação artística de Maia Ramos e, ao lado deste, o aparecimento de A. Garcês sem esquecermos o jovem Péricles, o “penetra”, introduzido na Exposição e que não a desmereceu recebendo de todos uma atenção toda especial. Mas estava com Maia Ramos a surpresa. É que o balconista da antiga Praia Grande, hoje um progressista no comércio local, era um desconhecido e poucos que sabiam que havia, no sobrinho do inesquecível Maia Ramos, o pintor primoroso, impressionista, dominando bem as cores, criando seus quadros com a força das suas mais íntimas emoções.

Sem estar comprometido com nenhuma escola, há, na pintura de Maia ramos, uma sequência de experiências que dá a ele, dentro das proporções, qualidades indeléveis duma arte sua, impressões pessoais, afastando-o da mecânica simples dum copista vulgar.

Há, na pintura de Maia Ramos, já disseram os entendidos, uma extraordinária concepção artística, a fulguração de um espírito criador, saindo do comum, estando presente, sua maneira própria de sentir e dar aos seus quadros uma mensagem das suas íntimas impressões. Um colorido vivo, magia de cores, noturnos num poema de sensibilidades.

Sabíamos que Maia Ramos ia surpreender. Sabíamos que conquistaria dos críticos, dos intelectuais da terra a apreciação justa, a consagração espontânea, batismo dos pronunciamentos sérios, reconhecendo, nele, o artista talentoso, marcante, uma inteligência admirável.

Leucipo Teixeira, Chagas, A. Azevedo e outros registraram seus comentários enaltecendo o mérito do artista que há em Maia Ramos. Com Leucipo Teixeira: “um pesquisador que busca em experiências que vão do surrealismo ao primitivismo a afirmação de uma forte personalidade a procura da forma pessoal”. De Chagas: “O equilíbrio, a limpeza, o colorido, a força inventiva que se nota nos quadros de Maia Ramos, em muitos dos quais transparece um clima de fantasia, quando não um toque de natureza poética, resultam de uma sensibilidade aliada a um positivo talento que não costumamos esperar de um homem entregue o dia inteiro a atividade comerciais”. De A. Azevedo: “Ramos se apresenta cromático, contrastante, envolvente e rapsódico. A sua palheta se projeta num simbolismo freudiano – cores e figuras animadíssimas”.

Com outros intelectuais, temos ouvido a apreciação animadora. Com muitos, a adjetivação que consagra.

O certo é que Maia Ramos projetou-se. Saiu do seu egoísmo e veio banhar-se de luz, luz do seu ateliê, abandonou o seu mundo fechado, o seu egoísmo e veio banhar-se de luz, luz no arrebatamento das ideias luminosas. Saiu dos seus receios. Temo-lo agora na arrancada para o melhor aperfeiçoamento. Maia Ramos é um apaixonado pela sua arte. Um conhecedor da sua técnica. Não vai fixar-se. Vai expandir-se, vai projetar-se com uma afirmativa mais sua, uma identificação inconfundível.

Há, em Maia Ramos, a imaginação farta para criar, para sentir, para informar, nos seus quadros, um mundo de efeitos, os mais diversos. Fica a exigir dos outros a meditação. A reflexão. Desperta a sensibilidade. Cores que enternecem. Cores que emocionam. Sombras que envolvem. Poesia que realenta. Uma ternura, uma carícia de briga. Uma mensagem de paz. Pensamos assim.

Hoje, na festa do encerramento, sem desmerecer dos outros, dos outros para quem já tivemos o registro das nossas referências, sentimos que deveríamos aqui estar, estar para dar ao Maia Ramos, um dos homenageados que fomos, o exato da nossa alegria, do nosso íntimo contentamento.

Não nos foi fácil convencer o artista a dos noturnos, das cores impressionantes, a necessidade que havia de expor os seus quadros. Mas, antes de nós, havia, junto dele, na tranquilidade do lar, o estímulo da esposa, da companheira amantíssima, da amiga que sempre estava a animá-lo para a realização da Exposição de seus quadros. Com a sra. Maia Ramos, uma inteligência viva, sempre esteve a animação persistente, exigindo de Maia Ramos a revelação de sua arte.

E, nesta homenagem de hoje, para o Maia Ramos, o nosso obrigado. Para todos os componentes do salão de pintura, a homenagem da cidade, do Maranhão, da sociedade maranhense, dos moços, de todos que prestigiaram com a sua presença a mais festiva amostra de arte nestes últimos tempos. O Maranhão está feliz com os seus artistas, com os seus poetas, a gente talento e cultura da terra que não se esquece, mas que se ama sempre.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 21 de dezembro de 1966 (quarta-feira).