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LÍNGUA PORTUGUESA: dicas e exercícios 138

Neste domingo, continuamos tirando as...

Dúvidas dos leitores

1ª dúvida:

Ela é uma pessoa muito receiosa ou receosa?

A resposta é:

Ela é uma pessoa muito receosa.

A pessoa que tem RECEIO (= com “i”) é RECEOSA (= sem “i”). O verbo “recear” (= sem “i”), no presente do indicativo, fica: eu receio, tu receias, ele receia, nós receamos, vós receais e eles receiam.

É interessante observar que a vogal “i”, formando o ditongo “ei”, só aparece quando a sílaba tônica cai na vogal “e”: receio, receias, receia e receiam; quando a sílaba tônica cai em outra vogal, não aparece a vogal “i”: recear, receamos, receais, receoso, receosa…

Isso ocorre em todos os verbos terminados em “-ear”: passear, cear, saborear, pentear, recrear, estrear, arrear (= pôr os arreios)…

Observe: o passeio e ele passeia, mas nós passeamos e ele está passeando; a ceia, mas nós ceamos e ele ceava; eu saboreio, mas ela saboreou; ela se penteia, mas não gosta do penteado; o recreio, mas nós recreamos e as crianças estão se recreando; a estreia, mas ela estreou; não tem os arreios, mas quer arrear o cavalo; a ideia, mas o ideal…

Não esqueça: se você pisar no freio, você não vai dar uma “freiada”. O certo é dar uma freada. Você freia e fica freando. Pior é “ficar feio”. Se você imagina que vai “enfeiar”, errou feio! O certo é enfear. Se ela está ficando feia, não está “enfeiando”, e sim enfeando. Não resta mais dúvida: o verbo enfear é muito feio.

2ª dúvida:

É preciso que vocês viagem ou viajem hoje mesmo?

A resposta é:

É preciso que vocês viajem hoje mesmo.

A forma verbal VIAJEM deve ser escrita com “j”, porque o verbo “viajar” se escreve com “j”. Se o verbo é viajar, eu viajo, ele viaja, nós viajamos, eles viajam, que eu viaje, que nós viajemos, que eles viajem. Todas as formas verbais devem ser escritas com “j”.

“É preciso que vocês viajem hoje mesmo, e que tenham uma boa viagem”. É isso mesmo. Agora, a VIAGEM se escreve com “g”. A diferença é simples: “viajem” com “j” é verbo; “viagem” com “g” é substantivo.

Isso quer dizer que uma viagem só é boa se for com “g”. O substantivo “viagem       se escreve com “g” como outros substantivos terminados em “–agem”: lavagem, plumagem, contagem, garagem, pesagem, passagem…

3ª dúvida:

Falávamos há cerca de ou acerca de suas ideias?

A resposta é:

Falávamos acerca de suas ideias.

ACERCA DE significa “sobre, a respeito de”. Devemos usar HÁ CERCA DE em dois casos: “Não nos vemos há cerca de dois anos” (faz cerca de dois anos = tempo decorrido); “Há cerca de 80 mil pessoas no estádio” (= existem aproximadamente 80 mil pessoas no estádio).

Existe, ainda, a forma “a cerca de”, que usaremos em três casos: 1º) “Só nos veremos daqui a cerca de 60 dias” (= tempo futuro); 2º) “Estamos a cerca de 20 quilômetros do vilarejo” (= ideia de “distância”); 3º) “A cerca de arame farpado da fazenda foi trocada” (cerca = substantivo).

4ª dúvida:

É preciso que o delegado averigúe ou averigue ou averígue melhor o caso?

A resposta é:

É preciso que o delegado averígue (ou averigue) melhor o caso.

Devemos tomar muito cuidado ao usar os verbos “averiguar” e “apaziguar”. Nas chamadas formas rizotônicas (= sílaba tônica dentro da raiz), a sílaba mais forte é “gu”.

Em Portugal, o correto é pronunciar “eu averiguo” e “eu apaziguo”; no Brasil, a pronúncia preferencial é “averíguo” e “apazíguo” (essa pronúncia e grafia são aceitas pelo Novo Acordo Ortográfico). É por isso que podemos escrever “averíguo” ou “averiguo”, “averígua” ou “averigua”, “apazíguo” ou “apaziguo”, “apazígua” ou “apazigua”… com ou sem acento agudo sobre a vogal “i”.

No presente do subjuntivo, por ser seguido da vogal “e”, havia trema sobre a vogal “u”. Entretanto, nas formas rizotônicas, éramos obrigados a substituir o trema por um acento agudo. Como o trema foi abolido e o acento agudo que substitui o trema também, devemos escrever sem trema nem acento agudo sobre a vogal “u”.

No Brasil, podemos escrever com acento agudo no “i” (paroxítona terminada em ditongo) ou sem acento algum (pronúncia lusitana): que eu averígue, que tu averígues, que ele averígue, que nós averiguemos, que vós averigueis, que eles averíguem; que eu apazígue, que tu apazígues, que ele apazígue, que nós apaziguemos, que vós apazigueis, que eles apazíguem.

5ª dúvida:

Ele chegou atrazado ou atrasado à reunião?

A resposta é:

Ele chegou atrasado à reunião.

A grafia das palavras leva em conta não apenas o lado fonético. O fonema “zê”, por exemplo, pode ser escrito de várias maneiras: com a letra “z” (zebra, azeitona, azar…); com a letra “s” (casa, gasolina, hesitar…); com a letra “x” (exame, êxito, exemplo…).

Isso significa que existe outro componente para explicar a grafia de uma palavra: a etimologia (= estudo da origem das palavras).

Podemos, entretanto, aplicar um raciocínio prático: o da derivação. Se a palavra “gás” se escreve com “s”, as palavras derivadas também deverão ser escritas com “s”: gasolina, gasômetro, gasoso… A palavra atrasado está no mesmo caso: trás, atrás, atrasar e atraso também devem ser escritas com “s”.

Não devemos confundir TRÁS com TRAZ. Se você ficou para trás, ficou com “s”; se você sempre traz os documentos consigo, traz com “z”. A forma verbal “traz”, do verbo “trazer”, deve ser escrita com “z”.

6ª dúvida:

Ele não trabalha tão pouco ou tampouco estuda?

A resposta é:

Ele não trabalha tampouco estuda.

A palavra TANPOUCO é uma conjunção coordenativa aditiva. É sinônimo de “nem”. Se “ele não trabalha tampouco estuda”, significa que “ele não trabalha nem estuda”.

TÃO e POUCO são dois advérbios de intensidade: “Ele estudou tão pouco que foi reprovado”. Portanto, “tão pouco” significa “muito pouco”.

Se “tampouco” significa “nem”, devemos evitar frases como “Ele não trabalha nem tampouco estuda”. “Nem tampouco” é redundante, pois é a repetição de duas conjunções coordenativas aditivas. E frase do tipo “Ele não trabalha e nem estuda” seria incoerente. Ou “ele trabalha e estuda” ou “ele não trabalha nem estuda”.