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LÍNGUA PORTUGUESA: dicas e exercícios 144

Neste primeiro domingo de agosto/22, continuamos com as...

Dúvidas dos leitores

1ª dúvida:

Lugares haviam ou havia, mas faltava ou faltavam torcedores?

A resposta é:

Lugares havia, mas faltavam torcedores.

Pelo visto, “aulas de concordância havia, mas faltavam alunos”. As regras de concordância mandam o verbo concordar com o sujeito. No caso do verbo faltar, o sujeito é “torcedores”. Como o sujeito está no plural, o verbo deve concordar: “faltavam torcedores”. Quanto ao verbo haver, o problema é outro. O verbo haver, quando usado com o sentido de “existir”, torna-se impessoal, isto é, sem sujeito. Por isso, deve ser usado sempre no singular. Da mesma forma que dizemos “há lugares” (e não “hão” lugares), devemos dizer “havia lugares”, “houve acidentes”, “haverá problemas”…

Faltavam torcedores, mas faltava convidar mais torcedores”. Em “faltavam torcedores”, o verbo deve concordar no plural porque o sujeito (= torcedores) está no plural. No caso de “faltava convidar mais torcedores”, o sujeito do verbo faltar é “convidar mais torcedores”. Trata-se de uma oração devido à presença do verbo convidar. Quando o sujeito de um verbo é uma oração, a concordância deve ser feita no singular: “faltava convidar mais torcedores”; “basta conseguir três mil pontos”; “é necessário convocar onze craques”; “está faltando resolver duas questões”…

2ª dúvida:

Nós não nos víamos haviam ou havia dois anos?

A resposta é:

Nós não nos víamos havia dois anos.

O verbo haver, quando usado em referência a tempo decorrido, é impessoal, ou seja, não há sujeito. Deve, por isso, permanecer numa forma não flexionada. Isso significa que não concorda (= não deve ser usado no plural).

É interessante observar que, no tempo presente, ninguém seria tentado a usar o verbo no plural. Ninguém diria: “Nós não nos vemos hão dois anos”. Todos falam corretamente: “Nós não nos vemos dois anos”.

A mesma regra se aplica ao verbo fazer: “Não nos vemos faz dois anos” e “Não nos víamos fazia dois anos”.

Agora que nós já sabemos que os verbos haver e fazer (= em relação a tempo passado) só devem ser usados no singular, vamos aprender a diferença entre e havia, faz e fazia. Devemos usar ou faz, quando a ideia de tempo passado é em relação ao presente: “Nós não nos vemos (= presente) (ou faz) dois anos”; devemos usar havia ou fazia, quando a ideia de tempo passado é em relação ao passado: “Nós não nos víamos (=p assado) havia (ou fazia) dois anos”.

É interessante observar uma diferença significativa: no primeiro caso, nós continuamos sem nos ver e o nosso último encontro ocorreu dois anos atrás; no segundo caso, significa que entre o penúltimo e o nosso último encontro (= ocorrido em algum tempo no passado) passaram-se dois anos.

3ª dúvida:

É ou são 1h50min?

A resposta é:

É 1h50min.

Plural só a partir das duas: são 2h, são 3h, são 20h… Abaixo de duas é singular: é 1h, é 1h30min, é 0h.

Devemos dizer que “é 1h da tarde” e que “são 13 h”. Não importa se no relógio é a mesma hora. “Uma” é singular, e “treze” é plural. O certo é dizer “é uma e cinquenta, mas são dez para as duas” (é 1h50min = são 10 minutos para as 2h).

Quanto às abreviaturas, é importante lembrar que para “horas” devemos usar simplesmente “h” (minúsculo, sem “s” no plural e sem ponto), e para “minutos”, a abreviatura oficial é “min”. No meio jornalístico, por questão de espaço, também é adotada a seguinte forma: 1h50.

Como se faz a concordância do verbo “ser” em 12h30min? Ou você diz que “são doze horas e trinta minutos” ou então que “é meio-dia e meia”. “Doze horas” é plural (= são doze), mas “meio-dia” é singular (= é meio-dia).

4ª dúvida:

Ainda não se atingiu ou atingiram as metas estabelecidas pelo governo?

A resposta é:

Ainda não se atingiram as metas estabelecidas pelo governo.

Certamente, não é por culpa das nossas regras de concordância verbal que as metas não foram atingidas. A regra é clara: o verbo deve concordar em pessoa e número com o seu sujeito.

No caso, devido à presença da partícula apassivadora “se”, a voz fica passiva, e o sujeito é “quem sofre a ação verbal”, ou seja, “as metas estabelecidas pelo governo”. Assim sendo, o verbo deve concordar no plural: “ainda não se atingiram as metas”. É o mesmo que se dissesse que “as metas não foram atingidas”.

Na frase, “O céu escurece e se ouve os primeiros relâmpagos”, temos dois problemas sérios: um é a falta de concordância e outro é essa estranha história de “ouvir” relâmpagos. Ou “se ouvem os primeiros trovões” ou “se veem os primeiros relâmpagos”.

Quanto à concordância, é interessante observarmos que o plural é obrigatório, pois “os primeiros trovões são ouvidos” ou “os primeiros relâmpagos são vistos”. Trata-se de voz passiva sintética devido à presença da partícula apassivadora “se”.

5ª dúvida:

Tem ou têm acontecido coisas estranhíssimas?

A resposta é:

Têm acontecido coisas estranhíssimas.

Temos, nesse caso, uma dúvida sutil de concordância verbal. A locução verbal “tem acontecido” deve concordar com o seu sujeito (= coisas estranhíssimas). Eu não posso dizer que “aconteceu coisas estranhíssimas”, e sim que “aconteceram coisas estranhíssimas”.

O problema é que o verbo ter merece uma atenção especial: tem (sem acento gráfico) é singular; têm (com acento circunflexo) é plural. Assim sendo, se o sujeito está no plural (= coisas estranhíssimas), o verbo deve concordar no plural: “Têm acontecido coisas estranhíssimas”.

Em “Tem havido coisas estranhíssimas”, o correto é sem acento. Em locuções verbais em que o verbo principal é o haver no sentido de “existir”, a concordância deve ser feita obrigatoriamente no singular. Da mesma forma que “houve coisas estranhíssimas”, “havia coisas estranhíssimas” e “haverá coisas estranhíssimas”, “tem havido, deve haver, poderá haver coisas estranhíssimas”.