Neste último domingo de setembro/22, continuamos com as...
Dúvidas dos leitores
1ª dúvida:
O deputado acha de que ou que estas medidas não são necessárias?
A resposta é:
O deputado acha que estas medidas não são necessárias.
Quem acha sempre acha alguma coisa, ou seja, o verbo ACHAR é transitivo direto. Isso significa que a preposição “de” é totalmente desnecessária.
O mesmo vale para “eu penso que” (e não “eu penso de que”), “nós julgamos que” (e não “nós julgamos de que”).
No caso de “o Sampaio chegou à vitória que tanto precisava”, temos o problema ao contrário. Agora, está faltando a preposição “de”, pois quem precisa (= necessitar) sempre precisa “de” alguma coisa. Assim sendo, o correto é “o Sampaio chegou à vitória de que tanto precisava”.
O mesmo ocorre com o verbo GOSTAR. O certo é “Esta é a música de que o povo gosta”, e não “a música que o povo gosta”.
2ª dúvida:
Ele tem muito respeito pelo ou para com o adversário?
A resposta é:
Ele tem muito respeito pelo adversário.
Usar uma preposição já exige cuidados, que dirá usar duas!!! Quem tem respeito tem respeito por alguém ou por alguma coisa. Em geral, a combinação “para com” é desnecessária e pedante: “Ele não teve consideração para com Pedro”. Basta: “Ele não teve consideração com Pedro”.
Exemplo semelhante é a tal história de “chutar por sobre a trave”. Ou “chutou sobre a trave” ou “por cima da trave”.
3ª dúvida:
O técnico da seleção só falou após ao ou após o jogo?
A resposta é:
O técnico da seleção só falou após o jogo.
A presença da preposição “após” dispensa a preposição “a”. É bom lembrar que “ao” é a combinação da preposição A com o artigo definido O. Não há necessidade de usarmos duas preposições juntas.
Outro exemplo errado é “estava perante ao juiz”. O correto é dizer “perante o juiz”.
4ª dúvida:
Uma multidão assistiu ao ou o desfile de todas as escolas?
A resposta é:
Uma multidão assistiu ao desfile de todas as escolas.
O verbo ASSISTIR, no sentido de “ver, presenciar”, é transitivo indireto. Isso significa que o uso da preposição “a” é obrigatório. Se você assiste (= ver), assiste a alguma coisa.
A confusão se deve ao verbo VER, que é transitivo direto. Você vê o desfile, mas assiste ao desfile.
Outro motivo que pode causar confusão é o fato de o verbo ASSISTIR ser transitivo direto quando usado no sentido de “prestar assistência, ajudar, auxiliar”: “O médico assiste o paciente”; “O advogado assiste o cliente”.
5ª dúvida:
Todos anseiam pela chegada do produto no ou ao mercado?
A resposta é:
Todos anseiam pela chegada do produto ao mercado.
Toda chegada sempre se dá “a algum lugar”, e não “em algum lugar”, como se diz coloquialmente. Portanto, em textos formais, devemos dizer que “tudo aconteceu após sua chegada ao Brasil”, e não “após sua chegada no Brasil”.
Segundo o rigor da gramática tradicional, essa regra vale para os verbos que indiquem movimento: chegar, ir, retornar, dirigir-se… Assim sendo, deveríamos dizer: “O advogado ainda não chegou ao escritório”; “Ela não vai mais à sua casa”; “Ele certamente retornará ao lar”.
6ª dúvida:
Andou através ou através de campos e florestas?
A resposta é:
Andou através de campos e florestas.
A locução prepositiva é “através de”. Assim sendo, não devemos usar “através” sem a preposição “de” a seguir.
Na sua origem, “através de” apresenta a ideia de atravessar: “através dos campos”, “através dos séculos”. Hoje em dia, porém, a locução “através de” é muito usada com o sentido de “por meio de, por intermédio de”: “Recebeu a notícia através da internet”; “O gol da vitória foi marcado através de Richarlison”. Há quem aceite, há quem condene.
Se você preferir, pode perfeitamente substituir “através de” pela preposição “por”: “Recebeu a notícia pela internet”; “O gol da vitória foi marcado por Richarlison”.
7ª dúvida:
Foram levá-lo em ou a domicílio?
A resposta é:
Foram levá-lo a domicílio.
Se você leva, leva alguma coisa (= objeto direto) a algum lugar (= adjunto adverbial de lugar). Ninguém leva alguma coisa “em algum lugar”. LEVAR é um verbo que denota “movimento”: ir a algum lugar, chegar a algum lugar, dirigir-se a algum lugar, levar alguém a algum lugar…
Não devemos confundir “levar alguém a algum lugar” com “entregar alguma coisa a alguém em algum lugar”: “Foram entregar o presente (= objeto direto) aos noivos (= objeto indireto) em domicílio (= adjunto adverbial de lugar).
Toda entrega é feita “em” algum lugar: “Fazemos entregas em casa”; “Neste hotel, as entregas devem ser feitas na recepção. Não fazemos entregas no quarto do hóspede”; “Nosso restaurante oferece entregas no seu escritório”.
Assim sendo, o mais coerente é “entregas em domicílio”.
8ª dúvida:
Estamos à ou a disposição para mais esclarecimentos?
A resposta é:
Estamos à disposição para mais esclarecimentos.
O acento grave indicativo da crase se faz necessário porque temos a preposição “a” mais o artigo definido “a”, que antecede o substantivo feminino “disposição”.
A prova de que ocorre a crase (a+a = à) é que, se fosse um substantivo masculino, teríamos “ao” (a+o): “Estamos ao dispor para mais esclarecimentos”.
O acento da crase se tornaria facultativo se, antes do substantivo feminino, houvesse um pronome possessivo: “Estamos a sua disposição ou à sua disposição”.
A novidade, para quem não sabe, é que o uso de artigos definidos antes de pronomes possessivos é facultativo, podemos usar ou não: “Este é meu carro” ou “Este é o meu carro”; “Estamos a seu dispor” ou “Estamos ao seu dispor”.