Neste segundo domingo de outubro/22, continuamos com as...
Dúvidas dos leitores
1ª dúvida:
A reunião só começará após às ou as 10h?
A resposta é:
A reunião só começará após as 10h.
Já sabemos que a presença de uma preposição dispensa o uso de outra. Se temos a preposição “após”, não haverá crase porque não teremos a preposição “a”.
O mesmo ocorre com outras preposições: “Ele está aqui desde as 10h”; “A reunião ficou para as 10h”; “A reunião será entre as 10h e o meio-dia”.
2ª dúvida:
O atacante ficou cara à cara ou cara a cara com o goleiro?
A resposta é:
O atacante ficou cara a cara com o goleiro.
Não ocorre crase em expressões repetidas do tipo “cara a cara, frente a frente, gota a gota, face a face”.
A explicação é simples: o substantivo repetido está usado no seu sentido genérico, ou seja, sem artigo definido. Temos apenas a presença da preposição “a”. A prova disso é que o mesmo ocorre com os substantivos masculinos: “corpo a corpo, lado a lado”.
3ª dúvida:
Espere um instante que o diretor já vai falar consigo ou com você?
A resposta é:
Espere um instante que o diretor já vai falar com você.
“Falar consigo”, rigorosamente, no Brasil, é “falar com si mesmo”. CONSIGO é um pronome reflexivo e devemos evitar usá-lo com o sentido de “com ele”, “com você” ou “contigo”. Isso significa que a expressão CONSIGO MESMO seria redundante. Não é necessário dizer: “Ele levou os dólares consigo mesmo”. Basta: “Ele levou os dólares consigo”.
4ª dúvida:
Eu vi ela ou a vi?
A resposta é:
Eu a vi.
No caso específico da frase “Eu vi ela”, o problema é que, além do cacófato (= vi ela), temos um pronome mal-empregado: ELE(S) e ELA(S) são pronomes pessoais do caso reto e só podem ser usados na função de sujeito. Para complementos verbais, devemos usar os pronomes oblíquos (o, a, os, as, lhe, lhes …).
Frequentemente, pessoas que desejam falar bem cometem alguns equívocos, pois querem corrigir o que está errado e não sabem como. Ouço muito: “Há quanto tempo que não LHE vejo!”. Costumo dizer: “É porque você está vendo muito mal”. Quer saber por quê. Ora, o pronome LHE substitui “objetos indiretos”. Para os “objetos diretos”, devemos usar os pronomes O(S) e A(S). O verbo VER é transitivo direto; o correto, portanto, é “Há muito tempo que não o vejo”.
Resumindo:
ELE(S) e ELA(S) = pronomes pessoais retos = sujeito;
LHE(S) = pronomes pessoais oblíquos = objetos indiretos;
O(S) e A(S) = pronomes pessoais oblíquos = objetos diretos.
5ª dúvida:
Ela trouxe o livro para mim ler ou para eu ler?
A resposta é:
Ela trouxe o livro para eu ler.
É outro vício de nossa linguagem cotidiana. MIM é um pronome pessoal oblíquo, por isso não pode exercer a função de sujeito.
Observe que são duas orações: “Ela trouxe o livro / para eu ler”. A segunda oração é reduzida de infinitivo (= para que eu lesse). Isso significa que o pronome pessoal do caso reto EU é o sujeito do verbo LER.
Se não houvesse o verbo LER, teríamos apenas uma oração cujo sujeito é o pronome ELA. Nesse caso, devemos usar o pronome pessoal do caso oblíquo: “Ela trouxe o livro para MIM”.
Essa regra se aplica a qualquer preposição. Observe os exemplos: “Ela chegou antes DE MIM”, porém “antes DE EU sair”; “Ela fez isso POR MIM”, porém “POR EU estar cansado”.
Assim sendo, responda: o certo é “Não há nada entre EU e você” ou “entre MIM e você”? Quem disse “entre EU e você” respondeu “de ouvido” e “se deu mal”. O correto é “entre MIM e você”.
Observe que não há verbo após o pronome MIM. Isso significa que ele não é sujeito. Por isso, devemos usar o pronome pessoal do caso oblíquo.
Se a resposta não lhe agradou, em vez de usar “entre eu e você” (que está errado) ou “entre mim e você” (que está certo, mas você achou esquisito), diga que “não haverá mais nada entre NÓS”.
Resumindo:
Preposição (de, entre, para, por…) + EU + verbo infinitivo;
Preposição (de, entre, para, por…) + MIM (sem verbo).
6ª dúvida:
Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião com nós ou conosco?
A resposta é:
Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião conosco.
Na 1ª pessoa do plural, o pronome pessoal do caso oblíquo tônico é “conosco”: “Ele quer falar conosco”. Entretanto, devemos usar a forma “com nós” antes de algumas palavras: “Ele quer falar com nós todos”; “Ele deixou a decisão com nós mesmos (= com nós próprios)”; “Ele quer fazer uma reunião com nós dois” (= numerais); “Ele deixou a decisão com nós, que reclamamos da sua proposta”.
No Português falado no Brasil, em vez de “conosco”, ouvimos muito mais o “famoso” com a gente: “Ele falou com a gente”, “Ele saiu com a gente”. Entretanto, em textos formais que exijam uma linguagem mais cuidada, devemos usar “conosco”.
É só imaginar a ata de reunião de uma grande empresa: “Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião com a gente”. Fica muito estranho. Não é uma questão de certo ou errado. É um problema de inadequação.