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LÍNGUA PORTUGUESA: dicas e exercícios 73

Neste domingo, vamos analisar algumas frases publicadas em jornais que mereceram...

Críticas dos nossos leitores.

1ª) “Polícia Militar não reprime venda de drogas junto à quadra da escola”.

Nosso leitor ficou em dúvida: a Polícia Militar não reprime a venda de drogas na quadra da escola ou nos arredores da quadra.

Concordo com o nosso leitor. A locução JUNTO A pode criar ambiguidade.


A locução JUNTO A rigorosamente significa “ao lado de, perto de”, mas vem sendo muito usada com o sentido de “em ou com”: “Identifique-se junto à portaria” (na portaria); “O problema deve ser resolvido junto à diretoria” (na diretoria ou com a diretoria); “Contraiu um empréstimo junto ao Banco Mundial” (no Banco Mundial).

Em nome da clareza das frases, sugiro o uso das preposições “em” ou “com”: “Identifique-se na portaria”; “O problema deve ser resolvido na (ou com a) diretoria”; “Contraiu um empréstimo no Banco Mundial”.

Só deveríamos usar a locução JUNTO A no seu sentido original (= ao lado de, perto de): “Minha casa fica junto à farmácia”; “Meu carro está estacionado junto ao seu”.

Na frase em questão, entendo que a Polícia Militar não reprime a venda de drogas nos arredores da quadra da escola. E era isso que o repórter verdadeiramente queria dizer.

2ª) “Homem é baleado em Santa Inês e morre.”
Nosso leitor viu redundância na frase.

Discordo. Ser baleado não significa necessariamente que tenha morrido. Ser baleado é ser “atingido por bala mortalmente ou não”.

Em razão disso tudo, podemos concluir que uma pessoa pode ser baleada e sobreviver ou morrer.

3ª) “Assaltante é linchado em bairro de São Luís e sobrevive”.
Leitor quer saber se é possível sobreviver a um linchamento.

Concordo com a crítica do nosso leitor. Se sobreviveu, é porque não foi linchado, foi espancado.

Vejamos o que diz o dicionário Houaiss sobre o verbo LINCHAR: “do inglês to lynch, lei de Lynch (Lynch law – 1838). William Lynch, fazendeiro de Pittsylvania, no Estado da Virgínia (EUA) – séc. XVIII, instituiu um tribunal privado que julgava sumariamente os criminosos em flagrante”.

“Linchar” significa “executar sumariamente, sem julgamento formal, por uma decisão coletiva, o autor de um crime grave”. Executar, nesse caso, significa “matar”.

É importante lembrar que “executar” pode ser usado com vários significados: executar uma tarefa (realizar, efetuar, fazer); executar uma ordem (cumprir); executar o devedor (obrigar a pagar por meio judicial); executar uma canção (tocar instrumento ou cantar música); executar o condenado (tirar a vida em nome da lei); executar o assaltante (matar, assassinar).

Em razão disso tudo, podemos concluir que LINCHAMENTO implica “morte”.

4ª) “O artista, morto em 2018, será homenageado…”
A dúvida do nosso leitor é se o artista morreu (faleceu) ou foi morto (assassinado) em 2018.

Nosso leitor tem razão em parte. A frase é ambígua, mas não se trata de um erro gramatical.

“Morto”, como adjetivo ou substantivo, é “aquele que morreu”. O particípio do verbo MORRER é MORRIDO: “Ele tinha morrido em 2018”.

O problema é que MORTO pode ser o particípio irregular do verbo MATAR, que tem dois particípios: MORTO e MATADO. Nesse caso, devemos aplicar a regra tradicional:

a) Com os verbos TER e HAVER, devemos usar a forma regular: “Ele tinha (ou havia) matado o ladrão”;

b) Com os verbos SER e ESTAR, usamos a forma irregular: “O ladrão foi morto pelo policial”.

O verbo FALECER, embora apresente uma carga mais leve, é sinônimo de MORRER. Assim sendo, FALECIDO é “aquele que morreu”, é sinônimo de MORTO.

Se o artista não foi morto (= assassinado), seria melhor dizer “falecido em 2018”, em nome da clareza da frase.

O problema é que no meio jornalístico existe uma certa aversão ao verbo FALECER. Isso se deve, provavelmente, à sua carga mais suave. É como se fosse um eufemismo usar o verbo FALECER em vez de MORRER. Ninguém diria que “nas nossas estradas, durante o Carnaval, faleceram 27 pessoas”. O desastre pede um verbo de carga mais pesada: “morreram 27 pessoas”.

Teste da semana

Assinale a opção que completa, corretamente, as lacunas das frases abaixo:

1) É preciso levantar __________ moral dos jogadores.

2) Sentiu-se mal, por isso saiu __________ lotação.

3) Comprou __________ gramas de mortadela.

(a) o, do, duzentos;

(b) a, da, duzentas;

(c) o, do, duzentas;

(d) a, da, duzentos;

(e) a, do, duzentas.

Resposta do teste: Letra (a).

MORAL, no sentido de “estado de espírito, ânimo”, LOTAÇÃO, no sentido de “pequeno ônibus”, e GRAMA, como unidade de medida de massa, são substantivos masculinos: o moral, o lotação, duzentos gramas.

MORAL, LOTAÇÃO e GRAMA são substantivos femininos com sentido de “conjunto de princípios” (Ela seguia a moral cristã), “ato ou efeito de lotar” (A lotação do teatro estava esgotada), “relva” (A grama do jardim estava bem cuidada).